Cacau: Preços devem continuar subindo, mas até quando demanda será resiliente apesar da inflação?

Publicado em 31/01/2024 12:31 e atualizado em 31/01/2024 15:20
No Brasil, investimentos têm sido realizados para aumentar produtividade, mas clima é o maior desafio do setor

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A produção de cacau mundial passa por um momento complexo: Agricultores na maior origem produtora do mundo enfrentam problemas climáticos até migram para outras atividades, apesar da intensa valorização nos preços. Os números de produção comprovam a oferta restrita. No ano passado, Costa do Marfim produziu 36% a menos e Gana registrou uma baixa de 50,6%. 

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O cenário é de aperto da oferta, mas ainda de demanda firme, apesar de dados mais recentes indicarem que Ásia e Europa registraram queda no processamento de cacau no ano passado. Na Europa a queda foi de 2,12% em comparação com o ciclo anterior e o volume de moagem ficou em 1,44 milhão de toneladas, de acordo com dados da Associação Europeia do Cacau. 

Os números mais recentes da Associação do Cacau na Ásia indicou queda de 5% no processamento em 2023 quando comparado com o mesmo período em 2022. A indústria registrou moagem de 858,7 mil toneladas no último ano. 

 

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Apesar dos números chamarem atenção, Leonardo Rossetti, da StoneX Brasil afirma que ainda ficam acima do que era projetado pelo mercado, já que mesmo com a inflação elevada, o consumo se manteve nos principais polos consumidores, sobretudo na Europa, principal termômetro deste mercado. 

"A queda no processamento poderia ser ainda mais expressiva, mas o consumo se mantém mais resiliente do que era esperado. Para este momento, podemos considerar que os preços continuarão subindo. Os problemas na produção não são fáceis de se resolver", afirma o analista. 

Rossetti explica ainda que é preciso monitorar a demanda porque repasses significativos já foram feitos ao consumidor final na Europa - que ainda sofre com a alta inflação. Desde o início da crise financeira, a inflação do chocolate alcançou 12%, enquanto a do cacau e chocolate em pó atingiu níveis de 16%. 

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"A partir de agora a gente pode ver um "platô" nessa demanda, podendo até ter uma leve desaceleração, mas ainda aquém do que poderia ser. A grande dúvida é saber até quando o consumidor vai conseguir manter esses "pequenos luxos". 2024 pode sim ter correção nos preços, mas a tendência ainda é de alta", afirma. 

O analista pontua ainda que na África, além dos problemas enfrentados com o clima, sem matéria-prima os produtores quase não aproveitam o momento de valorização nos preços e tomam a decisão de migrar para outras culturas. Por lá, a produção de borracha tem se mostrado mais atrativo, o que aumenta os problemas na maior origem produtora de cacau do mundo. 

No Oeste Africano — principal região produtora de cacau — produtores locais relataram, no último ano, inundações nas lavouras, além da ocorrência de El Niño a partir do segundo semestre, fenômeno climático que tende a deixar o clima mais quente e seco na Costa do Marfim e Gana, os líderes globais na produção cacaueira. Adicionalmente, os cacaueiros na região têm passado por um processo de envelhecimento, o que contribui para limitar a produtividade em algumas áreas. 

MAS E O BRASIL?

No Brasil, o setor é otimista para os próximos anos e os preços também decolaram acompanhando os terminais de Nova York e Londres. O levantamento realizado pela StoneX Brasil mostra, inclusive, que no último ano enquanto Nova York registrou alta de 10%, na Bahia as cotações avançaram 12,2%. 

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O país está se movimentando para avançar em produtividade e recuperar algum espaço no mercado internacional e encontra suporte em investimentos realizados por multinacionais. O cultivo de cacau vem sendo implementado em áreas de outros produtos, como grãos, por exemplo, para ajudar na recuperação do solo. 

Em 2023 o Brasil totalizou o ano com 220 mil toneladas, alta de 7% em relação ao ano de 2022 quando a produção foi de 205 mil toneladas. Já a industrialização de cacau no País, em 2023, teve um crescimento de 12%, frente aos números de 2022, o melhor número dos últimos cinco anos, alcançando o volume de mais de 253 mil toneladas de amêndoas de cacau. 

“Nos últimos anos tivemos um crescimento constante da produção de amêndoas de cacau no Brasil, reflexo dos diversos investimentos que estão sendo realizados por diferentes atores da cadeia, com foco na melhoria da produtividade e nas novas áreas produtivas”, explica a presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi.

O grande desafio, de acordo com lideranças do setor, é aumentar a produtividade das lavouras em produção. Assim como na África, o clima é um grande gargalo a ser enfrentado pelo produtor. Durante todo ano de 2023 as chuvas ficaram abaixo da média no Sul da Bahia, consequentemente a umidade do solo também está abaixo do ideal. 

"O Brasil teve um clima muito ruim para essa última safra. O país tem todas as iniciativas, melhores tratos culturais, mas temos o El Niño que traz impactos fortes ali naquela região", explica o analista. A expectativa é que com o fenômeno climático perdendo força nos próximos meses, a retomada das chuvas seja positiva para recuperação do solo baiano. 

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Recebimento por estado no Brasil em 2023 

A Bahia foi responsável por 61,9% do volume total de amêndoas nacionais recebidas pela indústria processadora em 2023, totalizando 136 mil toneladas. Em comparação com o ano anterior, quando o volume fornecido pelo estado foi de 139 mil toneladas, houve um recuo de aproximadamente 2,4%. O volume fornecido pelo estado é expressivo e positivo, especialmente quando consideradas as condições climáticas adversas dos últimos meses, em virtude do fenômeno El Niño.

O Pará, por sua vez, foi responsável por 33,7% do volume recebido, totalizando 74 mil toneladas, crescimento de 31,3% na comparação com o ano anterior, quando o recebimento foi de 56 mil toneladas. Espírito Santo (7.568 toneladas), Rondônia (1.888 toneladas) e outros estados (177 toneladas) foram responsáveis por 4,4% do volume total recebido no ano de 2023.

*Com informações da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC)

 

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Por:
Virgínia Alves | Instagram: @imvirginiaalves
Fonte:
Notícias Agrícolas

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