Cadeia citrícola concorda em criar o Consecitrus

Publicado em 26/10/2010 06:48
Foi assinado ontem na sede da Secretaria da Agricultura de São Paulo, na zona sul da capital, o protocolo de intenções que cria o Consecitrus, conselho formado por representantes de citricultores e de indústrias de suco de laranja que tem por objetivo harmonizar as relações na cadeia produtiva.

Segundo seus arquitetos, o conselho será o ambiente para a discussão de parâmetros para as negociações de preços de fornecimento da fruta para a fabricação da bebida e de questões estratégicas como a queda da demanda global pela commodity e as ameaças fitossanitárias aos pomares.

"O Consecitrus é um marco histórico na citricultura e certamente mudará os rumos do segmento", afirmou João Sampaio, secretário da Agricultura do Estado e principal articulador das negociações. Citricultores e indústrias tentavam sentar na mesma mesa há anos, sem sucesso.

"É um caminho novo", disse Christian Lohbauer, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Sucos Cítricos (CitrusBR). A entidade foi criada em junho de 2009 por Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Louis Dreyfus, as maiores exportadoras de suco de laranja do mundo.

As três primeiras são nacionais, enquanto a LD tem origem francesa. Todas administram seus negócios a partir de São Paulo, que responde por mais de 80% dos embarques de suco de laranja do Brasil - que, por sua vez, domina 85% das exportações mundiais da commodity.

Em 2010, essas exportações deverão somar US$ 2 bilhões, segundo Marcos Fava Neves, professor da FEA/USP e coordenador do estudo "O retrato da Citricultura Brasileira", lançado na semana passada.

As três entidades que representam citricultores também aprovaram a criação do Consecitrus, ainda que todas (SRB, Associtrus e Faesp) tenham ponderado, como a CitrusBR, que é agora que começa a parte difícil do processo - já com a primeira reunião marcada para o dia 8.

Segundo Gastão Crocco, da Sociedade Rural Brasileira (SRB), o segmento mostrou maturidade ao criar o Conseciturs. Para Douglas Kowarick, da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), é uma chance de equilibrar forças e distribuir melhor a renda na área, enquanto Marco Antonio dos Santos, da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), afirmou esperar que os citricultores tenham mais segurança diante das oscilações de preços.

Apesar de simbólico em uma cadeia produtiva marcada pela erosão de suas relações nas últimas décadas, o protocolo assinado ontem deixou para depois, por falta de consenso no momento, questões que podem condenar o Consecitrus a nunca sair do campo das promessas.

Decisões aparentemente simples como a divisão de forças entre as entidades de citricultores, e entre essas e a CitrusBR nas futuras negociações, permanecem indefinidas. Divergências sobre os parâmetros que nortearão as negociações de preços, que chegaram a ameaçar o próprio protocolo de intenções, também terão de continuar a ser debatidos.

"Há muito trabalho pela frente", repetiram Lohbauer, Santos, Crocco e Kowarik. "É um embrião que vai crescer e amadurecer à medida que a cadeia produtiva acreditar nele", afirmou Carlos Viacava, diretor da Cutrale - que segue líder nas exportações de suco enquanto as autoridades de defesa da concorrência avaliam o processo de fusão entre Citrosuco e Citrovita, anunciado neste ano.

Nesse amadurecimento, o futuro das investigações das autoridades antitruste sobre a suposta formação de cartel entre as indústrias também será vital.

Para João Sampaio, que pode deixar a Secretaria da Agricultura de São Paulo no fim do ano, apesar de o governo continuar com o PSDB, esses e outros obstáculos podem ser superados no Consecitrus porque a cadeia tomou consciência de que ele é a melhor opção para o futuro.

A conjuntura é adversa porque, com a demanda por suco de laranja em baixa, aumentos das cotações internacionais do suco - e, portanto, dos preços pagos pelas indústrias pela fruta - passaram a depender quase que exclusivamente de problemas na oferta do produto, como acontece atualmente. Daí a união de forças.

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Fonte:
Valor Econômico

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