Não é a chuva que deve ir para a cadeia, por Marcos Sá Corrêa

Publicado em 14/01/2011 13:56 e atualizado em 14/01/2011 17:14
Artigo de Marcos Sá Corrêa

Das surpresas do clima, quem pode falar por todos os políticos com conhecimento de causa são os faraós egípcios. Eles, como o ex-presidente Lula, agiam como enviados do céu à Terra. E, ao contrário do ex-presidente Lula, não falam desde que saíram de cena, a não ser por intermédio de escribas e hieróglifos.

Mas, como encarnações do Sol, se o Sol fracassava lá em cima, eram arrancados do trono cá embaixo, surrados e cuspidos no fundo do Nilo. Tudo porque o rio deixava de inundar o delta que nutria seu reino agrícola. Lá, o regime político mudava conforme o regime do rio. Tornava-se violento e insurreto até o Nilo voltar à normalidade, irrigando uma nova dinastia.

As vítimas dessas tragédias políticas e climáticas não tinham, na época, como saber que as cheias do Nilo eram regidas pelas chuvas de monção do Sudeste Asiático, que por sua vez dependiam de ventos conjurados pela temperatura das águas no Oceano Pacífico, do outro lado da terra, na costa da América do Sul, um lugar mais distante que o Sol do cotidiano egípcio.

O culpado da desordem era um fenômeno natural que só entrou há duas décadas no noticiário internacional, com o nome de El Niño. Mas deixar o clima fazer seus estragos à solta, em Tebas ou Mênfis, tinha custo político, porque da regularidade do rio dependiam vidas humanas. O preço era injusto, cruel e exorbitante. Como é injusto, e talvez seja também cruel e exorbitante, que hoje não se processe no Brasil, por homicídio culposo, o político que patrocina baixas evitáveis e supérfluas em encostas carcomidas e vales entulhados por ocupações criminosas.

No dia em que um prefeito, olhando as nuvens no horizonte, enxergar a mais remota possibilidade de ir para a cadeia pelas mortes que poderia impedir e incentivou, as cidades brasileiras deixariam aos poucos de ser quase todas, como são, feias, vulneráveis e decrépitas. De graça ou com o dinheiro virtual do PAC, os políticos não consertarão nunca a desordem que os elege.

Não adianta ameaçá-los com ações contra o Estado ou a administração pública, porque o Estado e a administração pública, na hora de pagar a conta, somos nós, os contribuintes. O remédio é responsabilizar homens públicos como pessoas físicas pelos crimes que cometem contra a vida. Às vezes em série, como acaba de acontecer na região serrana do Rio de Janeiro.

O resto é conversa fiada. Ou, pior, papo de verão em voo de helicóptero, que nessas ocasiões poupa às autoridades até o incômodo de sujar os sapatos na lama. Pobres faraós. O longo e virtuoso o caminho civilizatório que nos separa de seu linchamento está nos levando de volta à impunidade anárquica das entressafras dinásticas, quando a favelização lambia até as suntuosas muralhas de Luxor.

Linchar um político não é a mesma coisa que malhar seus projetos. E os brasileiros estão perdendo mais uma chance de bater com força no projeto de lei número 1876/99, que o deputado Aldo Rabelo transfigurou, para enquadrar o Código Florestal nos princípios do fato consumado. Ele reduz à metade as áreas de preservação em margens de rio, dispensa da reserva legal propriedades pequenas ou médias e consolida os desmatamentos ilegais. Nunca foi tão fácil saber aonde ele quer chegar, folheando as fotografias aéreas das avalanches em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Dá para ver nas imagens o que havia antes nos pontos mais atingidos. É o que o novo Código Florestal vai produzir no campo. Mais disso.

Veja o comentário de José Augusto Baldassari Filho sobre o artigo acima:

Caro João Batista,
 
Peço à você alertar urgentemente nossas  instituições representativas,os produtores rurais e a sociedade como um todo,quanto às colocações  ao referido artigo. Acho que não vai ficar só nisto.
Isto será usado à  exaustão.  O articulista-ambientalista já usa a catástrofe fluminense para
confundir a sociedade em relação às necessárias mudanças do"Código Florestal"  e aproveita também  a  oportunidade para tentar novamente desqualificar  o"Relatório"do Deputado Aldo Rebelo. Sabemos que o que acontece em zonas urbanas,é bem  diferente do que ocorre em
zonas rurais e isto precisa ser prontamente  rebatido, explicado e divulgado por nossas instituições. É interessante notar que autoridades,ambientalistas,as inúmeras ongs ,criam  as maiores
celeumas ambientais quanto ao plantio técnico de culturas (café, macieiras, parreirais) em morros, já o criminoso"plantio de seres humanos"nestes  locais,ano apos ano, catástrofe após catástrofe são plenamente ignorados por estas  mesmas pessoas, basta ver o agora acontecido.  

Atenciosamente José Augusto Baldassari Fº.

PS:Discordo especificamente do ultimo  parágrafo. O restante procede, deixando de lado  o"intróito"egípcio. 

SC aprova Código Ambiental Estadual

Santa Catarina é um    estado formado por pequenas propriedades rurais muito bem exploradas    onde em sua maior parte, prevalece o sistema de integração entre os    produtores e agroindustria. É importante observar o percentual de matas    existentes no Estado,40% da área total.Por isto é necessário que o Código Florestal na sua    nova formatação, leve em consideração as peculiaridades de cada região pois sem isto continuaremos na mesma,muita confusão e nenhum resultado. Quando se discute especificamente o caso das APPs em SC é bom não misturar as APPs rurais com as APPs urbanas onde ocorreram os desastres nacionalmente    conhecidos,desastres estes provocados pela ocupação inapropriadas de áreas urbanas,o
 que sempre ocorreu e ocorre em todo o país,com a ausência e conivência do poder publico que deveria por força de lei coibir esta prática,aliás podemos esperar que nas    próximas"águas"estas
tragédias,lamentavelmente já tradicionais, irão se repetir,quase sempre nas áreas habitadas em morros.Vide Sta.Catarina, região serrana do Est.do Rio de Janeiro,Belo    Horizonte,etc.   Seria
importante que o    MP,estadual e federal, já iniciassem um trabalho de proteção, removendo    estas populações destas áreas perigosas, evitando com isto mais tragédias anunciadas.   Hoje o grande problema ambiental se encontra nas cidades e em seus entornos.

Sobre isto, veja o que diz Baldassari:

A notícia em anexo, vinda de Santa.Catarina, é importante no sentido de que o produtor rural e suas lideranças estão abandonando a passividade diante dos exageros e arbitrariedades
cometidos em nome de uma duvidosa defesa do meio ambiente.

Observem que o Estado de Santa Catarina tem em torno de 41% de sua área total coberta por      vegetação natural e mais de 168.000 hectares de matas ciliares.

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Fonte:
Estadão.com

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5 comentários

  • Paulo Renato Coelho Sinop - MT

    Tudo, mas tudo mesmo é conversa fiada, se não tomarmos a providencia drástica de pararmos com o plantío, pois só assim mostraremos nossa força para as autoridades, pois do contrário continuará sempre como está. O homem do campo que sustenta este país é criminalizado, hostilizado, vilipendiado, escarnecido, portamto, chega de blá blá blá, e vamos à luta, mostremos nossa força! Não é assim que os homens conseguem tingir os seus objetivos? Comecemos um movimento...ainda que minúsculo em seu inicio...levantemos do nosso sono...defendamos nossos direitos. Por ex. exijamos a aprovação do novo código florestal, com pena de não seguirmos em frente com o próximo plantío. A Argentina suspendeu a comercialização por alguns dias, é assim que pode se começar, ainda que esta seja uma medida muito tímida.

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Não se omita, manifeste-se! Se você quer protestar contra esta afirmação de "O Eco" que disse que se o Código Florestal estivesse aprovado, "tragédias" como essa do Rio de Janeiro se repetiriam muito mais e seriam ainda piores, proteste! Querem atribuir a culpa daquilo aos agricultores? Proteste já, aqui: http://www.oeco.com.br/marcos-sa-correa/24717-nao-e-a-chuva-que-deve-ir-para-a-cadeia

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  • Waldir Sversutti Maringá - PR

    TRAGÉDIAS E " MAIS DISSO "

    O Sr Marcos de Sá Correia começa por confundir o campo, onde se produz alimentos e não tragédias, com montanhas, onde vem sendo produzido turismo e votos, e dá prova de sua ignorância do que acontece realmente no campo, quando afirma que o Novo Código Florestal vai produzir “mais disso”. Mais disso, o quê ?

    Quando foi que o campo produziu alguma tragédia, onde e quando? Se for capaz manifeste-se. Os produtores agropecuários do Brasil, alem de alimentos, tem produzido muita paciência, que lhes permitem, ao longo dos últimos anos, agüentarem calados até aqui, tantas asneiras como essa.

    Os descasos são, principalmente no caso das ocupações irregulares das escarpas e montanhas, além das autoridades constituídas, que permitem as construções, mesmo nas montanhas mais íngremes, até mesmo abaixo de pedras imensas, que podem rolar a qualquer momento, como a mostrada pela Globo, sendo vigiada pela moradora amedrontada, permitem o corte desses terrenos, sem atinar para a composição deles e as suas conseqüências, de todas as entidades civis dos locais onde ocorrem essas tragédias, por absoluta inercia e falta de medidas preventivas.

    Os descasos, são também de jornalistas como esse, que preferem entrarem na onda contumaz das ONGs ambientalistas para afrontarem os produtores rurais, deixando de apontar os males dessas ocupações irregulares, as vezers criminosas até, pois criminoso são os pais que levam seus filhos para morarem nessas perigosíssimas encostas, nos leitos dos rios ou a entrarem em barcos frágeis sem coletes salva-vidas, sem que eles tenham aprendido a nadar, alguns exemplos de irresponsabilidades, entre o festival de besteiras e tragédias que assolam o país.

    Preocupe-se, pois, com as intoleráveis transgressões do meio ambiente nas cidades...com o destino dmo lixo que produzem, Não vi artigo desse jornalista criticando antes o ””mais disso””” Construir no leito dos rios e abaixo das pedras montanha acima, certamente nunca o preocupou. O produtor rural, com pouquíssimas exceções, não planta a torto e a direito nos terrenos íngremes. Da parte dele nunca houve e jamais vai haver “” mais disso" nem um pouco menos disso, óra bolas, toma jeito.

    WALDIR SVERSUTTI

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  • Gerson Luiz Bandeira Assis Chateaubriand - PR

    O que eu tenho visto nas imagens da tv, Sr. Marcos Sá Corrêa, são pessoas sendo mortas por deslizamentos de terras em encostas sub-urbanizadas, na maioria das vezes ocupadas de forma ilegal, com o apoio de políticos irresponsáveis, corruptos e paternalistas! Nós, que somos agricultores, temos vocação pra produção de alimentos, passamos nossos dias e noites cuidando de nossas propriedades, pois é nosso bem e nosso meio de sobrevivência! Não venha me dizer que sou responsável por essas mortes! Não aceito esse ônus! Credite a quem realmente é responsável!

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Estou perplexo diante das afirmações contidas na noticia "Não é a chuva que deve ir para a cadeia" que tem como Fonte Estadão.com e comentada pelo Sr Baldassari este pessoal tem que ser chamado às falas nem que seja judicialmente. Alô pessoal do Meio Ambiente da CNA. A reportagem do Canal Rural tem que entrevistar estes editorialistas e informá-los da profunda decepção da classe rural sobre o que eles [Estadão] pensam do Projeto relatado pelo Dep Aldo Rebelo quando nossa maior reclamação sempre foi o fato de que o Código não é de Meio Ambiente sim, apenas "florestal", A RIGOR para os agricultores. Gente não se omita. Meta a Boca no Trombone, só faltava esta, se dependesse dos agricultores a tragédia carioca seria bem pior....

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