Caos Logístico: Montanhas de milho a céu aberto obrigam produtor a vender mesmo com pressão da colheita
Por mais um ano, diante dos imensos desafios e gargalos logísticos que o Brasil ainda vive, as imagens de milho "a céu aberto" preocupam mais uma vez. A colheita da segunda safra, hoje a principal temporada do país, segue avançando e retomou seu ritmo depois de algumas semanas mais lenta em função de adversidade climática. Assim, não preocupam só as condições de armazenagem - e também a falta dela nas principais regiões produtoras, em especial no Centro-Oeste - como também a reação dos preços neste cenário.
Há 10 dias, o Notícias Agrícolas voltou a noticiar sobre o déficit de armazenagem no Brasil, que já alcança 120 milhões de toneladas, mantendo o setor em total estado de alerta e sinalizando, novamente, perdas que podem ser bilionárias. Para agravar ainda mais o quadro, no Plano Safra 2025/26 anunciado na última terça-feira, 1º de julho, o PCA (Programa de Construção de Armazéns) chegou com uma taxa de juros de 8,5%.
A taxa foi considerada elevada para que pudesse estimular novos investimentos, como explicou o presidente da Abramilho e da CSEAG (Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos), Paulo Bertolini.
"Estamos vivendo um ciclo de perdas que a cultura do milho vem acompanhando, apesar de termos um potencial fantástico de produção. E graças às usinas de etanol, a situação do produtor de milho não é pior do que está sendo. Temos preços achatados, essa segunda safra começa e avança sob chuva no Mato Grosso e este milho estava sendo armazenado a céu aberto, como todos os anos, é recorrente. A segunda safra de milho acontece em um momento em que os silos ainda estão cheios de soja, o que faz com que o milho fique a céu aberto, correndo todo esse risco. E esse ano ocorreu a chuva", relata.
E além dos silos em si, explica Bertolini, há uma estrutura ainda mais complexa que também é necessária e precisa crescer que recebe os grãos, seca-os, classifica-os e transporta-os, precisando de investimento e um olhar apurado.
"E neste momento, por falta de armazém, o produtor meio que 'tenta se ver livre' da sua produção, com todo mundo ofertando junto neste momento, e os preços, obviamente, desabam. De outro lado, já que o agricultor não tem armazém, a indústria se vê obrigada a investir em armazenagem - que não é o negócio dela - e carregar esse estoque. E aí ela precisa comprar barato sua matéria-prima para justificar o carrego desse estoque durante um ano inteiro pagando juros de, no mínimo 15%, que é o valor da nossa Selic", complementa o presidente da Abramilho.
Segundo explica Gilberto Leal, head de commodities da Granel Corretora, neste cenário, o mercado doméstico, no interior do país, os negócios estão menos intensos, "de lado", com os preços estando pressionados, apesar de alguma recuperação dos indicativos nesta quinta-feira (3). Essa retomada, todavia, se dá "em uma curva mais longa, no setembro, principalmente, testando os R$ 43,00, R$ 44,00, preço exportação".
A diferença do frete entre agora e para setembro ainda deixa o mercado alerta, buscando compreender como estas posições podem ser cobertas e alinhadas.
Além disso, tem sido frequente em Mato Grosso os relatos de produtores que tem algo como 50% a 60% de sua produção de milho já comercializada, ao passo em que estão depositando o saldo restante em silo bags. "E isso acontece porque o milho a R$ 40,00 para ser entregue de imeadiato, no spot, se tem algo como R$ 4,00 a R$ 5,00 de recepção, e começar a pagar uma quinzena de armazenagem. Então, o produtor opta pelo bag, que tem um custo operacional mais baixo", diz Leal.
Assim, o que se observa agora é um farmer selling bem tímido, com negócios acontecendo a conta-gotas, com uma pressão logística mais acentuada, já impactando, inclusive os custos de fretes, o que acaba por atingir também, consequentemente, o mercado da soja que ainda precisa ser comercializada.
"Nesta semana, uma empresa no Terminal de Rondonópolis cortou todas as cotas de soja e estão focando 100% no milho até sexta-feira e os fretes estão começando a subir. Os produtores estão optando por vender mesmo por questão de espaço, um produtor que precisa de fluxo de caixa mais no curto prazo. A grande maioria está optando por entregar seus contratos já fixados, vendidos em um melhor momento de mercado e ver o que vai fazer mais a frente", complementa o corretor.
3 comentários

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Henrique Afonso Schmitt blumenau - SC
Este governo não faz nada, além de confusão, e não deixa fazer. Se toda a infraestrutura de armazenagem e escoamento (rod. ferrovias, hidrovias, portos...) não for resolvida rapidamente, o país vai continuar caminhando para a miséria. Mas parece que isto não é importante para este governo. LAMENTÁVEL!!!
Sergio Aquiles Bellotto Palmital - SP
produtor rural precisa se organizar, produzir custa caro ,antes de produzir precisa saber onde e como vai armazenar, estas imagens de milho a céu aberto serve pra pressionar o mercado comprador, q vê uma oportunidade de comprar barato, não adianta cobrar governos,precisa os agricultores se nao consegue sozinho construir armazéns em associações ou cooperativas
ROGER AUGUSTO RODRIGUES Cuiabá - MT
Mais um desserviço prestado ao Agro do MT. Um absurdo que se repete todo ano. Essas fotos prejudicam demais o setor. Lamentável…