Com subsídio ao milho, múltis elevam embarques do Brasil

Publicado em 06/09/2010 08:33 e atualizado em 06/09/2010 16:47
As principais multinacionais do agronegócio, conhecidas pela sigla ABCD, arremataram mais de 60 por cento dos contratos negociados em leilões de um programa do governo brasileiro que subsidia o transporte de milho e que vem sendo utilizado para impulsionar as exportações do grão do país.

Os embarques do milho nacional, que vinham patinando nos últimos meses, aumentaram mais de quatro vezes em agosto ante julho para 1,19 milhão de toneladas, com as tradings começando a tirar proveito do subsídio num momento do ano em que as exportações de soja (mais lucrativa) sazonalmente perdem força, liberando espaço nos portos para o cereal.

Segundo dados compilados no website da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), as subsidiárias brasileiras da ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus arremataram contratos para subvenção ao frete de um volume de 6,5 milhões de toneladas do cereal, de um total negociado de 10,6 milhões de toneladas.

Com a atuação dessas quatro importantes multinacionais nos leilões, somada à participação de outras tradings como a Multigrain e a Noble e também de companhias de capital nacional, como a Amaggi, as vendas externas de milho devem manter o bom ritmo de agosto nos próximos meses.

Para os chamados leilões de PEP (Prêmio para o Escoamento do Produto), como é conhecido o subsídio, governo destinou desde maio cerca de 700 milhões de reais, mais que o dobro dos 322 milhões de reais gastos com o programa no ano passado.

Tais recursos são a única maneira de viabilizar as exportações de milho, segundo produtores e exportadores, diante dos atuais custos logísticos e da taxa de câmbio no Brasil.

"Tem alguns problemas que não estão resolvidos (para exportar milho), o primeiro deles é o da logística. Se para a soja pesa imagine para o milho, que tem a metade do preço da soja e vai pagar o mesmo frete... o segundo problema é câmbio", disse à Reuters o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes.

Ele explicou que o produtor brasileiro, com um real valorizado frente ao dólar no Brasil, acaba tendo um desconto maior no preço do que concorrentes como os argentinos, que contam com um câmbio mais favorável a exportações. E, sem o PEP, as vendas externas não ocorriam nessa conjuntura. O Brasil, que tem figurado entre os três maiores exportadores de milho do mundo, exportou 3,4 milhões de toneladas no acumulado do ano até agosto, contra 3,9 milhões no mesmo período de 2009. O mercado acredita que até o final de 2010 as vendas externas do país atinjam de 8 a 10 milhões de toneladas, contra 7,7 milhões de toneladas em 2009, com o reforço do PEP.

"A preocupação é se vamos conseguir mandar tudo isso em tempo hábil. O Brasil tem problemas logísticos, e se não tomar cuidado, vamos acabar perdendo para os EUA. Em novembro, os americanos já estarão com produto da safra nova disponível", avaliou o analista da AgraFNP, Aedson Pereira, temendo que a competição do maior exportador mundial afeta as previsões.

Reforço no subsídio

O governo reforçou os leilões de PEP este ano por conta dos preços baixos no mercado interno, em meio a estoques abundantes do grão no país. Por meio do programa, a Conab exige que os compradores dos contratos (tradings e indústrias) paguem um preço mínimo aos agricultores, que assim conseguem cobrir ao menos os custos de produção.

Só pagando um piso aos produtores, os participantes dos leilões podem efetivamente receber o prêmio do governo, que em média ficou em torno de 80 reais por tonelada -o valor varia de acordo com a operação -foram realizadas dez desde maio-, a região produtora e com o deságio verificado no leilão.

A maior parte dos contratos do programa foi arrematada pela Bunge, que ganhou nos leilões papéis em um volume equivalente a mais de 3 milhões de toneladas.

A também gigante do agronegócio Cargill conquistou contratos para transportar o equivalente a 1,4 milhão de toneladas, seguida pela Louis Dreyfus (1 milhão de toneladas) e ADM (745 mil toneladas).

Tradings que arremataram prêmios de regiões mais distantes de portos exportadores, como o Mato Grosso, deverão receber valores mais elevados, mas terão custos proporcionalmente mais altos, uma vez que os fretes daquelas áreas também são mais altos.

Segundo o executivo da Anec, que representa as tradings, embora as companhias tenham participado ativamente dos leilões, não devem ter grandes benefícios financeiros, pois os prêmios disputados nas operações sofreram deságios significativos, justamente pela grande demanda. "Diria que os leilões foram fantásticos", observou João Birkhan, coordenador do Centro-Grãos, órgão ligado aos produtores de Mato Grosso, lembrando que o milho não é a principal cultura no Estado, mas é muito importante para a rotação de cultura e para o plantio direto da soja.

O governo brasileiro, tradicionalmente um questionador de subsídios agrícolas, não admite que na essência o programa tem o objetivo alavancar as exportações.

Procuradas, autoridades não estavam disponíveis para comentar. Mas costumam dizer que o governo não pode se responsabilizar pelo destino do produto negociado nos leilões pelas regras, o arrematante do PEP, para efetivamente ganhar o prêmio, é obrigado somente a escoar o grão para regiões geralmente distantes da área produtora.

Os participantes dos leilões têm até o final de fevereiro de 2011 para comprovar o escoamento do produto e receber seus prêmios.
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Fonte:
Reuters

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1 comentário

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Pelos editais de Aviso, o milho pode ser destinado a qualquer lugar do mundo, exceto para os Estados que compõem as Regiões Sul, Sudeste (exceto norte de Minas Gerais e os Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro, para onde o

    escoamento será permitido) e Centro Oeste, e os Estados da Bahia, Maranhão, Pará, Piauí,Rondônia e Tocantins. Se o preço do Mercado Interno ficar mais alto, as multinacionais podem perfeitamente realocar o destino até o prazo final de escoamento que vai até março de 2011.

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