FPA cobra revisão de proposta da Conabio e alerta para impactos econômicos de lista de espécies exóticas

Publicado em 23/10/2025 08:14
Bancada aponta falta de base científica na minuta do Ministério do Meio Ambiente e defende equilíbrio entre preservação ambiental e produção agropecuária

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) manifestou oposição, nesta quarta-feira (22), durante sessão da Comissão de Agricultura (CAPADR) da Câmara dos Deputados, à minuta de resolução da Comissão Nacional da Biodiversidade (Conabio), vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). A proposta prevê a publicação de uma lista nacional de espécies exóticas invasoras, incluindo cultivos amplamente disseminados e de alta relevância econômica para o Brasil — entre elas, tilápia, eucalipto, pinus, manga, goiaba e jaca.

O presidente da bancada, deputado Pedro Lupion (PP-PR), afirmou que a proposta revela “desconexão com a realidade da agropecuária brasileira”. O parlamentar criticou o relatório apresentado pela Conabio, que considera espécies de grande importância produtiva como potenciais ameaças ambientais.

“A lista inclui diversas espécies amplamente cultivadas e produzidas no país, com enorme relevância econômica, e que, pasmem, foram classificadas de forma totalmente desconectada da realidade da agropecuária brasileira”, afirmou Lupion.

Ele destacou a gravidade da inclusão da tilápia na lista de espécies exóticas invasoras. “O caso mais emblemático é o da tilápia. Representantes da Associação Brasileira de Produtores de Tilápia e do setor da pesca estão aqui hoje e sabem da importância dessa proteína para o Brasil. Falo também como paranaense: 70% da tilápia produzida no país vem do Paraná. E agora ela foi incluída nessa lista como espécie exótica e invasora”, disse.

Lupion alertou que a medida pode inviabilizar toda a cadeia produtiva, já que a Portaria do Ibama nº 145-N/1998 proíbe a reintrodução de espécies aquáticas classificadas como invasoras.

“Se essa lógica for levada adiante, estaremos proibindo a produção de tilápia no Brasil. Isso é um absurdo. É trabalhar contra o próprio país”, completou.

O parlamentar lembrou que a tilápia brasileira é exportada para o mundo inteiro — comercializada como St. Peter em restaurantes de Nova York — e que grande parte dessa produção é resultado do trabalho de cooperativas.

Setores produtivos ameaçados

O presidente da FPA também citou outras espécies contempladas na minuta que, segundo ele, poderiam sofrer restrições injustificadas.

“A lista inclui também o camarão vannamei, muito cultivado no Ceará e no Rio Grande do Norte, além de espécies agrícolas fundamentais como goiaba, jaca, manga, e até eucalipto e pinus — bases da indústria de papel, madeira e celulose”, afirmou.

Para Lupion, a proposta ameaça investimentos bilionários em estados como Mato Grosso do Sul e Paraná e desconsidera o papel estratégico dessas culturas na economia nacional.

“Até a braquiária, base da nossa pecuária de corte e leite, foi incluída. É uma demonstração de total desconexão com o país real”, criticou.

O ex-presidente da FPA, deputado Sérgio Souza (MDB-PR), também reforçou as críticas à proposta e alertou para as consequências econômicas.

“O que se pretende agora é fazer um zoneamento para identificar onde espécies como o pinus estão sendo plantadas, permitindo o cultivo apenas em determinadas regiões do país e proibindo em outras. Isso pode afetar regiões com alto potencial produtivo e limitar atividades econômicas importantes”, disse.

Souza defendeu a tilapicultura como atividade sustentável e segura. “A tilápia é originária da África e da Ásia, mas está totalmente adaptada às nossas condições. Não é uma espécie predatória, convive de forma equilibrada com as nativas e não representa risco ambiental. Incluir a tilápia numa lista de restrição é tecnicamente equivocado e ambientalmente infundado”, destacou.

Segundo o parlamentar, a medida “vai na contramão da geração de emprego, renda e desenvolvimento regional”, especialmente no Paraná, onde o cultivo é incentivado por cooperativas como Copacol e C.Vale.

O deputado José Medeiros (PL-MT) classificou a proposta como “uma das mais graves já apresentadas pelo Ministério do Meio Ambiente”.

“Essa medida é um ‘ovo da serpente’ muito perigoso, que ameaça setores inteiros da produção, inclusive o do eucalipto, essencial para a geração de biomassa e, consequentemente, para a produção de etanol”, afirmou Medeiros.

A deputada Marussa Boldrin (MDB-GO) também manifestou apreensão com os impactos da proposta sobre a agricultura e a aquicultura. “Vejo com muita preocupação a iniciativa do Ministério do Meio Ambiente em incluir como espécie invasora plantas e animais que sustentam milhares de famílias, como a mangueira, a goiabeira, o eucalipto e até a tilápia”, disse.

Ela lembrou que Goiás é o 7º maior produtor de tilápia do Brasil, com crescimento contínuo da atividade. “A produção cresceu para quase 12 mil toneladas em 2022 e atingiu 12,5 mil toneladas em 2023, impulsionada pelo trabalho do produtor rural, pelos fatores climáticos e pelo apoio de políticas públicas”, explicou.

“Defendemos uma política ambiental responsável, construída com ciência, diálogo e equilíbrio. Produzir e preservar não são caminhos opostos, são partes do mesmo compromisso com o Brasil que dá certo”, completou.

Pedido de revisão e diálogo interministerial

O deputado Evair de Melo (PP-ES) reforçou o alerta e destacou a necessidade de maior integração entre os ministérios.

“É inimaginável que, em pleno 2025, ainda exista dentro do Ministério do Meio Ambiente uma política discriminatória contra o eucalipto — uma cultura consolidada há décadas no Brasil e de enorme importância econômica. O mesmo vale para o pinus, essencial para a fabricação de móveis e exportações”, afirmou.

Posição do MAPA e defesa da aquicultura

O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) também manifestou preocupação com a proposta, apontando falta de base científica e de diálogo interinstitucional. De acordo com a Nota Técnica nº 46/2025, a metodologia utilizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) foi limitada e não considerou plenamente as competências do ministério sobre espécies de interesse agropecuário, florestal e pesqueiro.

As principais entidades da aquicultura nacional — Peixe BR, Peixe MG e Aquamat — também se posicionaram contra a proposta. Segundo elas, a inclusão da tilápia e do camarão branco do Pacífico (Penaeus vannamei) pode causar prejuízos significativos ao setor, afetar até 89% da cadeia produtiva e gerar a perda de empregos.

FPA pede suspensão da votação

A deliberação sobre a minuta da Conabio está prevista para 8 de dezembro. A FPA defende a suspensão da votação e a criação de um grupo técnico interministerial com participação dos Ministérios da Agricultura, da Pesca e das entidades produtivas para reavaliar a proposta com base científica.

“Precisamos proteger quem produz no Brasil. A conservação ambiental e a produção agropecuária não são agendas excludentes, são complementares. O desafio é garantir equilíbrio entre sustentabilidade e desenvolvimento”, concluiu o presidente da FPA, Pedro Lupion.

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Fonte:
FPA

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2 comentários

  • Henrique Afonso Schmitt blumenau - SC

    Ridícula a proposta da CONABIO!!! Demonstra apenas o quanto há de despreparo nas pessoas contratadas pelos órgãos públicos. Eu, pessoalmente, concluí que esta proposta da CONABIO, demonstra que ela não sabe nada de Brasil...não sabe nada de economia...não sabe nada de NADA!!!

    UM DESPREZO COMPLETO PELA NAÇÃO BRASILEIRA!!!

    ELEITOR! VÁ PRESTANDO ATENÇÃO NOS SINAIS QUE VEM DO PODER PÚBLICO!

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  • LEANDRO M GRANELLA GETÚLIO VARGAS - RS

    A Tilápia trouxe para a mesa da família brasileira, uma proteína saudável e amplamente recomendada, e o MMA está indo contra a saúde da poputação !!!

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    • CARLO MELONI sao paulo - SP

      o MMA impregnado de ideologia esquerdista, combate tudo o que e' eficiente com esta lista de especie exoticas----Tilapía, eucalipto etc

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    • CARLO MELONI sao paulo - SP

      Ja' pensou se eles classificarem o Nelore como especie exotica?

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    • CARLO MELONI sao paulo - SP

      A cana de açucar tambem e' EXOTICA----Mas Cuba criou sistemas produtivos altamente eficientes na epoca que fornecia açucar para a Uniao Sovietica----Com isso quero dizer que os nossos esquerdistas com essas teoria gerada por professores universitarios sao mais imbecis que os cubanos

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    • Aloísio Brito Unaí - MG

      É preciso ter muito cuidado com essa espécie exótica em nossos rios. Somos país tropical, paraíso para a tilápia. Portanto, é necessário alertar, todo cuidado é pouco. Vejam os exemplos de tantos outros países com infestações/pragas em seus rios, como carpas e tilápias. Ha uma grande diferença em controlar peixes em bacias hidrográficas. Se javali é difícil de controlar, imaginem a tilápia… muito pior. Olhem as abelhas europeias e africanas, problema sério. Gado é mais fácil de se controlar. Todo cuidado é pouco. Devemos produzir, mas com muito cuidado. Produzam também barramandis, peixes excepcionais na carne e rusticidade.

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    • Adilson Garcia Miranda São Paulo - SP

      o Sr, Meloni esta certo. O MMA assim como a maioria das instituições, estão aparelhadas pelo esquerdismo. O raciocínio dessa ideologia, não é lógico e racional, mas sim, sem noção, alienado, fora da realidade, ou utópico. O esquerdismo é uma doença, pois até nos apelidou de Ogro Negócio. Eles são capazes de afirmar que o Traficante é vítima do Usuário. Também que o MST e os Índios são vítimas do produtor. Narrativa boa mesmo, é a do Tagliaferro e a do Hugo Carvajal.

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    • CARLO MELONI sao paulo - SP

      Sr Adilson a ultima e' do peru' , quem for do MST nao precisa prestar exame do ENEM para ingressar em faculdade de medicina

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