China bate recordes de aquisições de empresas estrangeiras de alimentos

Publicado em 25/06/2014 16:04 e atualizado em 03/03/2020 22:18

O apetite da segunda maior economia do mundo por alimentos não tem limites: além de encabeçar a lista dos maiores compradores mundiais de commodities agrícolas e pecuárias, como soja, milho e carnes, a China agora acelera suas compras de empresas multinacionais produtoras de alimentos. 

De acordo como site britânico Financial Times, o ritmo das aquisições está batendo recordes em 2014, como reflexo do crescimento da classe média chinesa e de sua preferência por uma dieta mais rica e ocidental. 

As fusões e aquisições de empresas de alimentos e bebidas responderam por 17% das compras corporativas da China este ano, quase alcançando os 20% das compras no setor de energia, que tradicionalmente é o maior gerador de negócios no país, de acordo com a agência de notícias Reuters.

As compras de empresas do setor alimentício aumentaram depois que a chinesa Shuanghui International, conhecida como WH Group, comprou a norte-americana Smithfield Foods, que então era a maior processadora de carne suína do mundo. O negócio foi fechado por US$ 7 bilhões e é considerada a maior aquisição já feita por uma empresa da China. 

Novos alvos de compras
Empresas chinesas já sinalizam interesse em comprar outras grandes empresas como a Hollick, produtora de vinho da Austrália, e a Tnuva, empresa israelense líder na produção de queijo e outros produtos alimentícios. Empresas de comércio e distribuição de matérias-primas agrícolas também estão na mira dos chineses.

Yang Zhizhong, presidente da Nomura China, empresa do setor de vendas em varejo e atacado, confirma o interesse pelas aquisições. “Existe uma tendência crescente de investimentos chineses em empresas estrangeiras do setor de consumo... Este setor deve continuar crescendo em um ritmo muito mais rápido que os outros”.

A China está rapidamente deixando de ser um país exportador, com economia consumidora de energia, recursos naturais e infraestrutura para ser um país movimentado por sua classe consumidora. 

Dieta mais rica
Em relatório especial sobre as mudanças no padrão de consumo na China, o Banco Mundial informou que, nas últimas três décadas, a dieta chinesa foi “drasticamente melhorada”.   

Cada chinês está comendo, em média, 40% mais calorias ao dia que em 1980, com uma mudança para uma dieta mais abundante, que não se restringe aos produtos básicos de sobrevivência. 

“Ao longo das próximas duas décadas, o consumo de alimentos per-capita continuará crescendo rapidamente, com uma aceleração mais acentuada na próxima década, devido ao aumento da renda média da população”, informou o Banco Mundial.

O aumento de renda também está levando a uma demanda por alimentos de maior qualidade e procedência segura – o que muitas marcas ocidentais têm visto como uma oportunidade – depois de escândalos no país, envolvendo alimentos contaminados. 

Wan Long, presidente do WH Group, afirmou que a Smithfield se destaca por seus protocolos de segurança que permitem fornecer produtos de alta qualidade, que são cada vez mais preferidos pela população chinesa. 

Yang, da Nomura China, acrescenta que “ao passo que a classe média chinesa eleva seu padrão de consumo, sua preferência por bens e serviços se torna mais sofisticada. O fornecimento local não é suficiente, portanto eles precisam buscar produtos fora da China. A segurança alimentar tem sido uma questão essencial para o país. Como capital abundante, a China prefere comprar empresas, do que simplesmente importar produtos”. 

Capital estatal
Muitas das empresas chinesas que estão adquirindo companhias estrangeiras têm capital estatal, como a trader de grãos Cofco, que recentemente investiu US$ 1,5 bilhão para adquirir uma fatia majoritária da empresa Noble Group, baseada em Singapura, no setor de açúcar, soja e trigo.

Outro grupo de compradores pertence aos governos locais. É o caso da Bright Food, propriedade do governo municipal de Shanghai, que já comprou a empresa britânica Weetabix e que no mês passado pagou quase US$ 1 bilhão por uma fatia da israelense Tnuva.

Visão estrategista
Apesar do aceleramento das aquisições, as compras feitas pelas empresas chinesas são altamente seletivas. “As companhias chinesas estão procurando oportunidades que fazem grande sentido estratégico”, afirmou Camillo Greco, chefe do setor de M&A (fusões e aquisições), da JP Morgan, com atuação na Europa, Oriente Médio e África. 

“Eles estão adquirindo empresas que possuem tecnologias e competências que eles não possuem para desenvolverem sua própria marca na China”, completou Greco. 

A Bright Foods informou que procura se desenvolver no setor de modernização agrícola, um dos motivos de seu interesse na Tnuva, de Israel. A empresa pretende investir na produção de laticínios, açúcar, adoçantes e bebidas. 

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Gráfico mostra o crescimento da demanda chinesa por bens de consumo nos últimos anos, em bilhões de dólares. Vermelho: setor agrícola e alimentício; Amarelo: setor de energia. Fonte: Thomson Reuters

Empresas adquiridas
O site britânico Legal Week listou algumas das empresas multinacionais que foram adquiridas por companhias chinesas e outras que estão na mira de investidores. Entre as adquiridas estão a Synlait, da Nova Zelândia, produtora de laticínios e a Manassen Foods, da Austrália, produtora de cereais. 

A Bright Foods, de Shanghai, tenta comprar a francesa Yoplait, produtora de iogurtes, e a United Biscuits, do Reino Unido, que produz biscoitos e petiscos famosos como os Twiglets, MCVitie's biscuits e Jacob's Cream Crackers.  


Informações: Financial Times, LegalWeek

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Por:
Fernanda Bellei
Fonte:
Notícias Agrícolas

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