Na FOLHA: Governo segura divulgação de dados que podem afetar campanha de Dilma
Por decisão do governo federal, o país chegará ao segundo turno da eleição presidencial no domingo sem ter dados atualizados sobre o desempenho dos alunos em português e matemática e a arrecadação de tributos, estatísticas potencialmente negativas para a campanha da presidente Dilma Rousseff.
Como a Folha informou, também só serão divulgados depois da eleição dados sobre o desmatamento e um novo estudo sobre o contingente de pobres e de miseráveis.
Avaliações independentes ou informações oficiais já publicadas sinalizam que os indicadores mostrarão piora nessas duas áreas.
Diferentes instituições do governo Dilma Rousseff responsáveis por esses dados apontam questões técnicas, administrativas ou legais para explicar o que houve.
No caso da educação, tradicionalmente até agosto são apresentados os resultados de um exame nacional aplicado, a cada dois anos, a mais de 7 milhões de alunos.
Em setembro, o Ministério da Educação divulgou indicador que usa como base a prova de 2013 e a taxa de aprovação dos alunos --o Ideb--, sem mostrar qual foi o resultado em cada âmbito.
Assim, não é possível saber como está o nível atual dos estudantes brasileiros em português e matemática.
Por meio de dados secundários do próprio ministério, é possível estimar que os estudantes do ensino médio tiveram notas piores na prova nacional, mas menor reprovação nas escolas.
Os colégios nesse nível de ensino são mantidos majoritariamente pelos Estados, mas cabe à União induzir melhorias no sistema.
Já os alunos do ensino fundamental devem ter obtido desempenho positivo nas duas matérias.
Associação de funcionários do Inep (órgão que organiza a prova) divulgou carta pedindo autonomia ao órgão e "proteção frente a demandas de caráter privado".
O professor da USP Ocimar Alavarse, especialista em avaliações educacionais, afirma que o intervalo entre a aplicação da prova (novembro de 2013) e a divulgação dos resultados (provavelmente novembro de 2014) "limita a análise" dos dados.
ECONOMIA
Outra informação que será divulgada apenas após as eleições é o resultado da arrecadação de tributos em setembro. Mantida a tendência recente, a arrecadação será menor do que a esperada pela gestão Dilma.
O anúncio normalmente ocorre até o dia 25. Em abril, maio e junho, porém, foi feito após essa data (nos dias 27, 26 e 28, respectivamente).
Na aferição do desmatamento da Amazônia, cujos resultados são divulgados todo mês, apenas em novembro serão publicados os dados de agosto e setembro.
Segundo análise da ONG de pesquisa Imazon, a taxa subiu 191% se comparado os bimestres de 2013 e 2014.
Outra divulgação postergada foi o estudo do Ipea que analisará o número de miseráveis no país. Um diretor chegou a pedir afastamento devido à decisão.
Segundo pesquisa do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), houve, no ano passado, pequeno aumento no número de indigentes. A informação já foi usada pelo tucano Aécio Neves em sua campanha.
ANÁLISE DE ELIANE CANTANHÊDE
Otimismo ao quadrado
BRASÍLIA - É improvável que os otimistas com a economia no governo Dilma tenham saltado 12 pontos (de 32% para 44%) em um mês. Primeiro, porque não há nada de novo para reforçar essa percepção. Segundo, porque, ao contrário, continuam jorrando dados negativos.
O crescimento deve ser inferior a 1%, o que não deixa o Brasil exatamente bem na foto nem na América Latina nem entre os emergentes. E, na própria terça (21), chegaram duas novas más notícias: a inflação acima não só da meta, mas do próprio teto da meta, além do rebaixamento da nota de crédito da Petrobras.
Na avaliação do analista de pesquisas Antonio Lavareda, esse pulo nos índices não reflete um súbito rasgo de otimismo com Dilma e com os dois derradeiros meses desse governo. É muito tarde para dizer que "daqui pra frente, tudo será diferente". Reflete, sim, uma expectativa favorável tanto dos eleitores de Dilma quanto dos de Aécio. Os dois grupos acham que o seu candidato vai vencer e, portanto, a economia vai melhorar "nos próximos meses".
Pelo Datafolha, 50% dos eleitores de Dilma e 43% dos de Aécio acreditam na melhora da economia --provavelmente, a partir da posse do novo governo, em janeiro. Haveria, assim, uma "soma de otimismos", segundo Lavareda. Ou, numa outra forma, "todos estão [por ora] felizes".
O mais curioso é que a percepção da melhora na economia em 2015 não encontra respaldo na mais elementar análise da realidade. Dê Dilma ou dê Aécio, será um ano muito difícil, de ajustes, para retomar o crescimento, a meta de inflação, o controle fiscal, o equilíbrio das contas externas. E só a partir de 2016... A coisa não está boa. Ou Dilma não teria demitido o ministro da Fazenda no meio da campanha...
O otimismo dos eleitores, pois, nem é exatamente com a economia, mas sim com a possibilidade de vitória do seu (sua) candidato(a) domingo. Aí... as pesquisas dão indícios importantes, mas não adivinham.
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