Dólar sobe 3% ante o real e renova máximas desde 2008

Publicado em 27/10/2014 05:04 e atualizado em 27/10/2014 11:19
PRESSÃO NA ECONOMIA - Reeleita, Dilma tem o desafio de vencer descrédito de investidores para ampliar investimento em meio a um cenário internacional ainda nebuloso, por VINICIUS TORRES FREIRE, COLUNISTA DA FOLHA.

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Por Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparava cerca de 3 por cento nesta segunda-feira, indo acima de 2,50 reais e voltando às máximas desde 2008, após a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) deixar os investidores apreensivos com o futuro da política econômica do país.

Às 12h09, a moeda norte-americana subia 2,80 por cento, a 2,5258 reais na venda. Na máxima, chegou a avançar 4,21 por cento, a 2,5605 reais, maior nível intradia desde 5 de dezembro de 2008, quando atingiu 2,6190 reais.

Segundo operadores, as elevadas cotações desta sessão atraíram fluxo de exportadores no fim desta manhã, levando o dólar a reduzir em parte a alta.

Na sexta-feira, a divisa norte-americana havia caído 2,26 por cento em meio a rumores de que o desempenho nas urnas do candidato Aécio Neves (PSDB), derrotado por Dilma no domingo, seria melhor.

"O mercado está operando no escuro", afirmou o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira. "Nós sabemos quem é o presidente, mas agora queremos saber quem é o ministro da Fazenda e como de fato vai ser esse próximo governo. Só aí vai dar para saber onde o dólar vai se acomodar".

Dilma, cuja política econômica é alvo de críticas nos mercados financeiros, foi reeleita no domingo com o eleitorado mais dividido desde a redemocratização do país.

Apesar de a presidente ter acenado com o diálogo, investidores mostravam-se céticos. Segundo analistas, os mercados financeiros devem continuar voláteis até que ela dê sinais concretos de que está disposta a mudar a política econômica.

Em seu discurso após a reeleição na noite passada, a presidente disse que faria "ações locais, em especial na economia, para retomar o nosso ritmo de crescimento".

De acordo com analistas, o mercado já havia parcialmente precificado a vitória de Dilma ao levar o dólar da casa de 2,20 a 2,50 reais de setembro para cá, e que a divisa deve continuar por volta de 2,55 reais até que fique mais claro como será o próximo governo.

"Se houver um ministro menos favorável ao mercado, o real vai se desvalorizar ainda mais. E se o ministro agradar o mercado, o câmbio pode se acomodar", afirmou o operador de câmbio de um importante banco nacional.

Segundo publicou a Reuters na véspera, Dilma quer manter Alexandre Tombini à frente do Banco Central e deve convidar o empresário Josué Gomes para assumir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No ministério da Fazenda, os nomes que ela trabalha são do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do ex-secretário-executivo da Fazenda, Nelson Barbosa.

Operadores consultados pela Reuters preferem Barbosa a Mercadante e querem saber, também, se o atual secretário do Tesouro, Arno Augustin, será substituído.

"Está muito cedo. O mercado tem que aguardar as próximas notícias e as próximas sinalizações, mas, por enquanto, está pessimista", afirmou o operador da corretora B&T Marcos Trabbold, que acredita que o BC pode fazer leilões adicionais de swaps cambiais se a volatilidade ficar excessiva.

Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de até 4 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares, pelas atuações diárias. Foram vendidos 3,1 mil contratos para 1º de junho e 900 contratos para 1º de setembro de 2015, com volume equivalente a 197,2 milhões de dólares.

O BC também vendeu a oferta total de até 8 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em 3 de novembro. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 85 por cento do lote total, equivalente a 8,84 bilhões de dólares.

O contrato de dólar futuro para novembro subia cerca de 1,75 por cento nesta sessão. Segundo analistas, o movimento era mais fraco, frente ao mercado à vista, porque o derivativo já havia reduzido as perdas após o fechamento do dólar pronto na sexta-feira e pela aproximação do vencimento do contrato futuro.

 

ELEIÇÕES 2014/FOLHA DE S. PAULO:

Pressão na economia

Reeleita, Dilma tem o desafio de vencer descrédito de investidores para ampliar investimento em meio a um cenário internacional ainda nebuloso

VINICIUS TORRES FREIRECOLUNISTA DA FOLHA

A presidente reeleita, Dilma Rousseff, não deu indicação explícita de como vai conduzir a economia. Por meio das críticas extremas que fez a seus adversários durante a campanha, pareceu indicar de modo implícito que não pretende fazer mudança alguma. Mas a pressão por novidades parte mesmo do entorno da presidente.

A pressão parte de Lula. De economistas próximos do petismo ou ex-integrantes de governos petistas. A presidente terá dificuldade de nomear uma equipe econômica com credibilidade e que aceite continuar o programa dilmiano nos mesmos termos de 2011-2014. O que resultará da resistência de Dilma e dessas pressões é mistério até para quem trabalhou na equipe econômica do primeiro mandato.

A presidente muito se queixou dos efeitos da crise mundial sobre a economia em seu governo. As melhorias previstas para os próximos anos não favorecerão o Brasil no estado em que está. Sem mudanças domésticas, haverá o risco de correção abrupta.

As mudanças de curto prazo, aquelas necessárias só para estabilizar a economia em crescimento de baixo a moderado, envolvem a contenção provisória da alta do consumo. O instrumento será alguma combinação de redução de gasto público, aumento de impostos e alta de juros.

O peso do "ajuste" pode ser distribuído de modo socialmente mais ou menos justo. Mas implica contenção do consumo, de salários. Não é preciso talhar gastos de programas sociais. Mas, por um tempo, eles terão de crescer mais devagar ou quase nada.

CRISE MUNDIAL

A economia global deve andar mais rápido nos próximos cinco anos. Ainda assim, há risco de a transição para dias melhores ser acidentada. E o crescimento estará longe do ritmo anterior à crise de 2008; o balanço dos motores da economia mundial será diferente, pois os grandes "emergentes" crescerão mais devagar, como a China.

O andar da carruagem global não determina o ritmo do Brasil, embora o influencie. A influência será tanto mais nociva quanto mais a economia permanecer "frágil". Ainda que ventos não sejam muito contrários, sem mudança o país terá dificuldade de sair da quase-estagnação.

A fim de se fortalecer, o país terá de passar por uma transição, voluntária e organizada, ou turbulenta imposta pelo "mercado". "Mercado" significa apenas os credores do governo e do país.

O crescimento menos rápido de "emergentes" tende a reduzir os preços de nossas exportações (de ferro, comida etc.). Caso o crescimento americano se firme e Europa e Japão não desandem, haverá mudança na política monetária internacional. Ou seja, haverá menos capital barato sobrando no mundo.

A baixa relativa do preço das mercadorias que vendemos e o crédito mais escasso tendem a evidenciar mais um sintoma de nossos problemas: excesso de consumo.

O Brasil consome mais que produz. Compra no exterior esses bens e serviços que faltam. Isto é, tem deficit em conta-corrente. Para financiá-lo, precisa de empréstimos e/ou investimentos do exterior, "em dólar". Dentro de certos limites e se a economia cresce bem, o deficit é financiável de modo tranquilo.

Em meados de 2005, o Brasil tinha um raro superavit em conta-corrente, de 1,9% do PIB. Em setembro passado, o deficit chegou a 3,7% do PIB. Uma brutal inversão de 5,6% do PIB.

FRAGILIZAÇÃO

O país ainda financia com certa tranquilidade o deficit, que, em outros tempos, prenunciaria crise (seca de crédito, desvalorização da moeda, recessão, visita ao FMI). Não foi assim agora porque a economia tem estado mais arrumada: dívida pública ainda controlada, grandes reservas internacionais (dinheiro no caixa "em dólar").

Mas a economia se desarranjou aos poucos nos últimos cinco anos. Passou a crescer quase nada (quem não cresce não tem como pagar dívidas).

O país não cresce porque a produtividade não aumenta, porque há pouco investimento e porque o país agrega agora menos gente a sua força de trabalho. O investimento privado caiu; o governo gastou mais, mas não investiu mais em "obras". O consumo cresceu ainda bem, embora em velocidade decrescente; a produção estagnou.

Em parte, o crescimento do consumo foi bancado por excesso de gasto do governo (mais dívida, via gasto direto ou redução de impostos) e por meio de crédito artificialmente barato dos grandes públicos. Tais excessos se evidenciam em deficit externo e inflação persistente.

O novo cenário mundial pode dificultar o financiamento do deficit externo. O Brasil enfrentará tal situação com menos instrumentos de reação: se não pode baixar juros (dada a inflação), o governo não tem como gastar mais. De resto, o governo sofre de descrédito por maquiar os números das contas públicas, fazer pouco-caso de reformas e intervir de modo contraproducente na economia.

Em caso de descrédito agudo, o "ajuste" será imposto pela indisposição dos credores de financiar tais desequilíbrios: a moeda vai se desvalorizar, a inflação será mais pressionada, o juro subirá, os salários reais cairão. A alternativa ao ajuste voluntário é permanecer na quase-estagnação (crescer até 2% ao ano), à espera de uma arrumação de casa imposta de fora, caótica e perigosa.

VINICIUS MOTA

Contenha-se, presidente

SÃO PAULO - O Brasil desta década, em vários aspectos, é quase outra nação se for comparado ao do início dos anos 2000. Cada US$ 100 do PIB de 2002 se tornaram US$ 190.

Para cada R$ 100 que o governo federal gastava na época, desembolsa R$ 200 agora. Para cada 100 pessoas empregadas, hoje há 130.

Se fosse um país, o mercado de trabalho brasileiro, de quase 100 milhões de indivíduos, seria maior que qualquer nação da Europa. O crédito explodiu, o consumo foi catapultado, a atividade empresarial foi catalisada e o empreendedorismo floresceu. Multiplicou-se o acesso à informação.

Estão matriculados na faculdade 180 brasileiros para cada 100 há dez anos. O ensino básico atinge picos de universalização, e melhora o desempenho no principal teste mundial de conhecimento, apesar de os alunos ainda mostrarem domínio sofrível dos principais conteúdos.

Foram às urnas neste pleito 120 eleitores para cada 100 que compareceram ao escrutínio de 2002, expansão de 20 milhões de almas.

O Brasil mudou de escala. Deu um salto quântico para outra realidade, embora esteja ainda muito distante do portal do desenvolvimento, humano e econômico.

Deve ser difícil para o PT e a presidente reeleita, Dilma Rousseff, reconhecer que a maior parte do crédito pelo notável avanço é da sociedade, e não do governo. A riqueza que levou a esse salto surgiu da labuta diária de homens e mulheres, e as determinantes de sua partilha foram cimentadas na constituição da democracia ao longo de 30 anos.

Que a vitória apertadíssima deste domingo e as condições agrestes de governo que se apresentam sirvam de alerta para a necessidade de contenção no exercício da Presidência. O presidente da República no Brasil pode muito, mas não pode tudo. A presidente Dilma, dado o contexto econômico e político em que se reelegeu, poderá menos.

ELIO GASPARI

Um mandato inédito

Em 2002, na versão 1.0, Romanée-Conti; em 2014, na 2.0, a suíte do Copa, com direito a mordomo

Os eleitores deram ao PT um mandato inédito na história nacional. Um mesmo partido ficará no poder nacional por 16 anos sucessivos. A doutora Dilma reelegeu-se num cenário de dificuldades econômicas e políticas igualmente inéditas. Lula recebeu de Fernando Henrique Cardoso um país onde se restabelecera o valor da moeda. Ela recebe dela mesma uma economia travada. Tendo percebido o tamanho da encrenca, em setembro anunciou a substituição do ministro Guido Mantega. Por quem, não disse. Para quê, muito menos.

A dificuldade política será maior. As petrorroubalheiras devolveram o PT ao pesadelo do mensalão. Em 2005 o comissariado blindou-se e desde então fabrica teorias mistificadoras, como a do caixa dois, ou propostas diversionistas como a da necessidade de uma reforma política. Pode-se precisar de todas as reformas do mundo, mas o que resolve mesmo é a remessa dos ladrões para a cadeia. O Supremo Tribunal Federal deu esse passo, formando a bancada da Papuda. Foi a presença de Marcos Valério na prisão que levou o "amigo Paulinho" a preferir a colaboração à omertà mafiosa.

Dilma teve uma atitude dissonante em relação às condenações do mensalão. Protegeu-se sob o manto do respeito constitucional às decisões do Judiciário. No debate da TV Globo, quando Aécio Neves perguntou-lhe se achou "adequada" e pena imposta ao comissário José Dirceu, tergiversou. Poderia ter seguido na mesma linha: a decisão da Justiça não deve ser discutida. Emitiu um péssimo sinal para quem sabe que as petrorroubalheiras tomarão conta da agenda política por muito tempo.

Será muito difícil, e sobretudo arriscado, tentar jogar o que vem por aí para baixo do tapete. Ou a doutora parte para a faxina, cortando na carne, ou seu governo vai se transformar num amestrador de pulgas, de crise em crise, de vazamento em vazamento, até desembocar nas inevitáveis condenações.

O comissariado acreditou na mágica e tolerou o contubérnio do PT com o PP paranaense do deputado José Janene. A proteção dada aos mensaleiros amparou o doutor e ele patrocinou a indicação do "amigo Paulinho" para uma diretoria da Petrobras. Ligando-se ao operador Alberto Youssef, herdeiro dos contatos de Janene depois que ele morreu, juntaram-se aos petropetistas e a grandes empresas. O resultado está aí.

Em 2002, depois do debate da TV Globo, Lula foi para um restaurante do Rio e comemorou seu desempenho tomando de uma garrafa de vinho Romanée-Conti que custava R$ 9.600. A conta ficou para Duda Mendonça, o marqueteiro da ocasião. Quem achou a cena esquisita pareceu um elitista que não queria dar a um ex-metalúrgico emergente o direito de tomar vinho caro. Duda confessou que fazia suas mágicas com o ervanário do mensalão. Passaram-se doze anos e os repórteres Cleo Guimarães e Marco Grillo mostraram que, na semana passada, Lula esteve em São Gonçalo, onde disse que "a elite brasileira não queria que pobre estudasse". Seguiu da Baixada Fluminense para a avenida Atlântica e hospedou-se no Copacabana Palace, subindo para a suíte 601, de 300 metros quadrados, com direito a mordomo. Outros sete apartamentos estavam reservados para sua comitiva.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    A mentira sempre leva vantagem sobre a verdade, a verdade possui apenas um vestido, enquanto a mentira possui vàrios. O discurso de Dilma deve ser entendido ao contràrio, não literalmente e sim com um pouco de engenho... vou exemplificar, quando ela disse no discurso de hoje que irà precisar do empresariado para que possa transformar o Brasil em um Paìs de solidariedade, o que ela quis dizer? Que empresários trabalhem sem lucro? Ou com prejuízo e pensando que estão levando o Paìs à frente por solidariedade? Reforma política para acabar com a corrupção? Ou plebiscito como símbolo de modernidade e inovação tecnológica? Atè quando ela fala da responsabilidade em seus ombros, ela falseia, pois sabe que a laranja està sò o bagaço, e de sua irresponsabilidade em pedir, agora, ajuda aos que acusou de querer destruir os pobres! Então quando diz que irà ajudar os pobres, o que de fato acontecerà è que estes passarão pelas mais severas necessidades. Espero ter conseguido expressar como o discurso de Dilma deve ser entendido ao contràrio, para que se possa vislumbrar um sentido naquilo que ela afirma. “Um tolo joga uma pedra em um poço, e cem sábios não conseguem move-la.” Provèrbio árabe.

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