Ronaldo Caiado: "A oposição não pode tirar o pé do acelerador"

Publicado em 02/11/2014 18:50 e atualizado em 03/11/2014 08:38
Em Veja.com o senador eleito pelo DEM afirma que é preciso manter a militância ativa pelos próximos quatro anos – e não 'renascer' às vésperas da eleição de 2018

O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) foi um dos oposicionistas que mais deram trabalho ao governo durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). Agora, eleito para o Senado, o parlamentar diz que, se não mantiver uma militância ativa nas ruas, os partidos de oposição ao PT vão fracassar novamente nas eleições de 2018. Em entrevista ao site de VEJA, Caiado também ataca a proposta de reforma política do PT.

O senhor confia na proposta de reforma política feita pela presidente Dilma com consulta popular? A presidente Dilma é incapaz de separar o que seria um referendo de um plebiscito. Não se propõe plebiscito em matérias complexas, e sim sobre um tema único: aborto ou porte de armas, por exemplo. Cem por cento das pessoas são a favor da reforma política. Mas, quando você começa a redigir o primeiro parágrafo da reforma, são tantas variantes que, nessa hora, quebra-se a possibilidade de fazer uma consulta à população. Esse é um assunto técnico, para aqueles que se debruçaram sobre o tema. Agora a presidente disse que aceita um referendo também. Pelo menos foi um sinal de honestidade intelectual.

O senhor acredita que o PT quer usar a reforma política para concentrar poder? O que a presidente está querendo não é uma reforma política. É o que ela queria no decreto dos conselhos populares, que nós derrotamos: cada vez mais diminuir a força do Legislativo, cada vez mais realçar o Executivo pela lei. Esse processo vai se deteriorando porque as forças políticas de oposição não se veem em condições de igualdade para disputar uma campanha eleitoral. Além disso, existe o aparato de militância. O que fizeram com a Petrobras, que era um orgulho nacional, uma referência na pesquisa em termos de exploração de petróleo em águas profundas? Hoje é um cabide de emprego para fazer corrupção. Não é diferente na Eletrobras, nos fundos de pensão, no Banco do Brasil, na Caixa Econômica e assim sucessivamente. E nos ministérios, que estão transferidos para o controle de alguns partidos.

No segundo governo Lula, o senhor foi relator de uma tentativa infrutífera de reforma política. O que deveria ser prioridade agora? Eu elegeria como ponto principal o fim da reeleição. Ninguém melhor do que a presidente para agora, que já teve o benefício da reeleição, dizer assim: a partir de hoje eu apoiarei a emenda constitucional que tira o direito de reeleição ao presidente, aos governadores e prefeitos. Dizem: “Mas foi o Fernando Henrique que propôs”. Vamos reconhecer que aquilo que nós erramos nós temos que corrigir. Nós não sabíamos que o processo iria se deteriorar como tal. Na época do Fernando Henrique, não se via o envolvimento da máquina, usar telemarketing para fazer campanha, usar os Correios para distribuir material pra a presidente, não se via comissionado dizer que amanhã, se ele perdesse, você não teria os programas sociais do governo. O fim da reeleição permitiria também mudanças em outras áreas: o número de candidatos, o tempo de rádio e televisão influenciado pela cooptação dos partidos políticos, tipos de financiamento.

O sistema atual é injusto com partidos de oposição? Sim. É preciso atacar o que está provocando uma deterioração da representatividade e do processo democrático. Nunca se viu tamanho curral eleitoral e tamanho comportamento de coronelismo como você viu nessa eleição. Não sei se os coronéis não eram muito mais complacentes com aqueles que votavam contra do que o PT é hoje. Eles pregam uma tese divisionista: negro contra branco, índio contra produtor, Nordeste contra Sul e Sudeste. É uma loucura.

O senhor teme que, com a volta de Lula em 2018, o PT possa ficar 24 anos no poder? Sem dúvida. Sei da nossa responsabilidade. Nós temos que respeitar as normas da democracia, mas eu posso lhe garantir que, se o nosso candidato tivesse sido eleito, o Brasil seria fomentado por eles com milhões de pessoas nas ruas: sem-terra, sem-teto, de qualquer ala de CUT ou desses segmentos que hoje vivem na dependência da estrutura de governo. Tentariam inviabilizar a nova gestão. Então, quando a presidente conclama a unidade, sendo que durante toda a campanha ela pregou o revide, a revanche, o divisionismo, o apartheid social, todo o tipo de confronto e não de argumentos, é um negócio deprimente.

O que a oposição pode fazer diferente nos próximos quatro anos? Nós temos que fazer oposição aqui no plenário da Câmara ou do Senado com preparo, com grandes debates, desmistificando o governo. Mas isso é insuficiente. Nós não podemos perder esse momento de afloramento das pessoas espontaneamente foram para as ruas e espontaneamente declararam apoio ao Aécio Neves. O apoio era a uma ideia. Essa ideia hoje anti-PT é uma ideia real no Brasil. Nós não podemos desativar o processo político nesses quatro anos, senão, não sobreviveremos em 2018. Nossa militância tem de tomar conhecimento da necessidade de estar na discussão político-eleitoral e buscar adesão à tese em que o Brasil pode ter outro modelo de governo: um governo aberto para outros países desenvolvidos do mundo, não ficar com essa política rasteira de Bolívia, Venezuela, Argentina, porque isso só faz deteriorar a nossa imagem. Nesse processo de quatro anos nós não podemos tirar o pé do acelerador. Nós temos que criar uma militância que tenha um preparo intelectual para debater. Não vai ter essa anestesia de hoje até a eleição. A oposição não vai renascer em 2018 às vésperas da eleição.

Antes de ser candidato, Aécio Neves foi criticado por ser um oposicionista pouco incisivo no Senado. Isso ajuda a explicar a derrota? Sinceramente, cada um tem o seu estilo. Não podemos cobrar nada dele porque ele mostrou uma capacidade ímpar de suportar todos os momentos mais difíceis da campanha e chegou ao segundo turno.

Fala-se em fusão do DEM com o PSDB ou com partidos menores. Isso vai acontecer? O DEM tem consciência que primeiro nós precisamos tentar buscar aglutinar forças. Existe um ponto que não pode ser discutido: ser oposição ao governo. Não se discute. A partir daí, todas as composições podem ser feitas. Quanto mais nós pulverizarmos os partidos mais nós vamos fazer o jogo do Executivo. Vou ser bem claro: não é que essa tese não esteja sendo pensada. Mas entre pensar e concluir esse processo é complexo. Você sabe as decisões que o TSE deu quando era para atender ao PSD. Depois, quando há uma fusão as pessoas que não concordam podem sair do partido.

A fusão pode ser inclusive com o PSDB ou apenas com partidos menores, para manter a identidade do DEM? Esse fato já está resolvido. Nós não teremos nenhuma fusão com o PSDB. Isso é matéria vencida, já.

Quando a fusão deve ocorrer? Vamos trabalhar isso neste momento. Porque haverá eleição da Mesa Diretora e discussão sobre as comissões. Iniciamos essa conversa na terça-feira e agora estamos a desenvolvendo para saber o que pode ser possível ser levado adiante.

O que o eleitor pode esperar do senhor no Senado? Estamos vivendo um dos momentos mais delicados da política nacional. Fiquei muito assustado com a maneira como o governo colocou essa campanha na rua, gerando um clima de enfrentamento. Acredito que o Senado Federal terá uma importância para colocar limitadores nessas ações do Executivo, fazer valer as suas prerrogativas ao arguir ministros, diretores das agências reguladoras, saber de que maneira o dinheiro brasileiro está sendo usado nesses empréstimos que são feitos, não admitir esse comportamento de sigilo, como sendo algo de interesse nacional quando o dinheiro é da população brasileira não se pode carimbá-lo de sigiloso. Estarei numa luta frontal para não aceitarmos essa maneira de governar da presidente Dilma. Vou lutar para aumentar o financiamento da saúde. E temos a discussão na área da segurança pública. Meu Estado hoje é o quarto mais violento do Brasil, e a população está toda encarcerada por conta de bandido que está impondo toque de recolher lá em Goiás.

O senhor defende mudanças no Código Penal? Lógico. Precisamos fazer discussões profundas, assumir a redução da maioridade penal, ampliar três vezes mais a pena do receptador em relação a quem praticou o roubo, porque são esses receptadores que fomentam essa formação dessas quadrilhas e desses assaltos todos que estão sendo praticados hoje. E nós precisamos construir mais penitenciárias no Brasil. Só meu Estado tem 21.000 mandados de prisão que não são cumpridos.

O senhor foi pré-candidato ao governo de Goiás neste ano, e chegou a cogitar uma candidatura à Presidência da República, como em 1989. Em 2018, o senhor pensa em disputar um cargo no Executivo? Não seria sincero da minha parte dizer que não almejo um dia disputar um cargo majoritário de governador ou de presidente da República. Mas para isso é preciso se credenciar. Se você não retribui em qualidade ou em resultado para a população e para seu Estado você também não é digno de continuar reivindicando cargo. É com esse espírito que eu faço política. Não tenho outro interesse em outra coisa na minha vida.

Ronaldo Caiado


O deputado federal Ronaldo Caiado: no Senado, oposição seguirá firme (Beto Oliveira/Agência Câmara/VEJA)

'Quando a presidente conclama a unidade, sendo que durante toda a campanha ela pregou o revide, a revanche, o divisionismo, o apartheid social, todo o tipo de confronto e não de argumentos, é um negócio deprimente'

Governo

Na nova equipe de Dilma, o velho loteamento

Reeleita, a presidente começa a montar sua nova equipe com reedição dos "três porquinhos", substituto de Mantega e nomes indicados por aliados

Gabriel Castro, de Brasília
Em 5 de setembro, quando Marina Silva ainda ameaçava seriamente a reeleição de Dilma Rousseff e a Bolsa de Valores tornava evidente a desconfiança do mercado com o programa do PT, a presidente e então candidata deu o primeiro sinal de que faria mudanças significativas em sua equipe no segundo mandato: "Eleição nova, governo novo, equipe nova", disse ela em entrevista. Na ocasião, o que estava em pauta era a possibilidade de demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Hoje, com a saída anunciada, Mantega é um raro caso de ministro demitido que segue no cargo. Resta escolher o sucessor – e decidir em quantas das outras 38 pastas haverá trocas.

Dilma está de folga na Base de Aratu, na Bahia. Quando retornar de viagem, a presidente deve se reunir com aliados para fazer um balanço das eleições. O vice-presidente, Michel Temer, também aguarda um posicionamento da chefe do Executivo para conversar com os aliados sobre a divisão dos cargos. A próxima semana deve ser a hora de avaliar quem se empenhou pela reeleição e quem, na avaliação do governo, não se comprometeu com a aliança.

Como é comum em casos de reeleição, não haverá uma equipe de transição. As trocas na equipe devem ser anunciadas ainda neste ano. A crise econômica e a ameça de crise política não permitem que Dilma espere o início do segundo mandato para anunciar os novos nomes. Hoje, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está com os dias contados para deixar o cargo. E boa parte dos ministérios é comandada por interinos, já que os titulares deixaram o cargo para disputar as eleições.

Muitos nomes citados como eventuais ministros da presidente são tentativas, do PT e de outros partidos, de emplacar um nome na equipe de Dilma; além disso, a própria presidente costuma surpreender ao escolher seus ministros. Dito isso, é inevitável que as especulações ganhem corpo.

Durante a campanha de 2010, Dilma apelidou de "três porquinhos" o grupo de auxiliares mais próximos a ela: José Eduardo Cardozo, hoje ministro da Justiça, Fernando Pimentel, eleito governador de Minas Gerais e seu ex-ministro, e José Eduardo Dutra, então presidente do PT. Agora, o trio é outro: Miguel Rossetto, ministro do Desenvolvimento Agrário, Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, e Aloízio Mercadante, ministro da Casa Civil. Os três devem estar em postos-chave da administração no próximo mandato: ou na área econômica, ou na "cozinha" da presidente. O mesmo vale para Giles Azevedo, o discreto chefe de gabinete da petista.

Nelson Barbosa, ex-secretário executivo da Fazenda, está ao lado de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, e de Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, na lista de cotados para o Ministério da Fazenda. Mas Aloizio Mercadante é uma alternativa. Esta escolha é a mais sensível para Dilma, porque dela depende o sucesso do governo no esforço para escapar da crise e tirar a economia da estagnação. Os três primeiros nomes foram sugeridos pelo ex-presidente Lula. Mercadante seria uma escolha pessoal da presidente.

Aliados – Feita a avaliação sobre o papel dos aliados na campanha, o PMDB tem mais a perder: em estados importantes como o Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, o partido caminhou com a oposição. Por outro lado, Dilma depende dos peemedebistas para governar. O partido tem hoje cinco ministérios: Agricultura, Previdência, Minas e Energia, Turismo e Aviação Civil. Para a Agricultura, a candidata mais forte é Kátia Abreu. O atual ocupante do cargo, Neri Geller, é da conta dos peemedebistas da Câmara. Se ele perder o posto para a senadora, os deputados devem cobrar a nomeação de um representante para outra pasta. Henrique Eduardo Alves chegou a ser cotado para assumir para a Previdência Social, hoje comandada pelo senador peemedebista Garibaldi Alves. Mas ele não deve aceitar a nomeação.

Na pasta das Minas e Energia, o desgastado ministro Edison Lobão não deve sobreviver à reforma. O titular do Turismo é Vinícius Lage, um técnico apadrinhado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). A permanência dele também é incerta.

Ainda insatisfeitos pela forma como o PT agiu em alguns estados durante as eleições, os peemedebistas dizem que cabe ao governo dar o primeiro passo nas conversas: "Não estamos tratando disso agora, até porque não cabe. A origem (da negociação) está do outro lado", diz o líder do PMDB, Eduardo Cunha, nome da sigla para presidir a Câmara no ano que vem. A cúpula do PMDB deve se reunir na semana que vem para traçar uma estratégia comum daqui por diante, o que passa por uma maneira mais "organizada" de decidir quais nomes estarão no governo.

No segundo mandato, a aliança de Dilma tem algumas diferenças em relação a 2011, quando tomou posse pela primeira vez. O PSB está fora do governo. Quase todos os partidos aliados tiveram algum tipo de cisão: parte do PMDB, PP, PR e PDT apoiaram Aécio Neves na disputa. Por outro lado, dois novos partidos entraram na briga pela divisão do bolo: PSD e Pros.

O PSD já tem a pasta da Micro e Pequena Empresa, de peso simbólico e orçamento quase inexistente. Agora que o partido fez parte da coligação presidencial de Dilma, deve ser contemplado com um ministério. O candidato natural é o presidente da sigla, Gilberto Kassab, um sem-mandato que se esforçou para colocar o partido na aliança petista apesar das defecções em alguns estados. Ele é cotado para o Ministério das Cidades. O líder do PSD na Câmara, Moreira Mendes (RO), diz que o cargo está à altura do partido, que, entre os partidos aliados, tem a maior bancada depois de PT e PMDB. Mas pede mais: "É um ministério importante, relevante, e está à altura do PSD. Mas acho pouco. É preciso ter um espaço proporcional ao tamanho do partido", diz ele.

No Pros, o único nome em jogo é o de Cid Gomes, ex-governador do Ceará. Ele deixou o PSB justamente para manter seu apoio à reeleição de Dilma, e agora pode ser premiado com o Ministério das Cidades. O PCdoB, que tradicionalmente comanda o Ministério do Esporte, deve continuar tendo seu espaço com Aldo Rebelo – a sigla tem interesse na pasta pelas Olimpíadas de 2006 no Rio de Janeiro. O mesmo vale para o PDT, que comanda o Ministério do Trabalho. O PR tem nas mãos o Ministério dos Transportes e é outra sigla que tem sido beneficiada com o direito de nomear ministros de forma quase autônoma. Governo novo, equipe nova, mas métodos velhos.

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Fonte:
Veja.com

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1 comentário

  • jandir fausto bombardelli toledo - PR

    O Ronaldo Caiado deixou claro que não está preocupado com o Brasil, só está preocupado com as eleições de 2018, eles votam contra mesmo os projetos sendo bons para o Brasil e a população brasileira, somente pensando nas próximas eleições, políticos "pelegos" como este tem de ser varrido da política brasileira.

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