Petróleo: Brasil foi pego no contra-pé e deve crescer menos

Publicado em 25/12/2014 06:25
PIB global acelera em 2015; risco são os Brics -- China, Rússia e Brasil representam entrave para maior expansão do mundo; economia dos emergentes preocupa para o fim de 2015 (por FÁBIO ALVES - de O ESTADO DE S. PAULO, na edição desta 5a.-feira, 25/12/12014).

Os analistas internacionais estão um pouco mais otimistas em relação ao crescimento da economia mundial em 2015 em comparação com este ano, mas alertam: China, Rússia e Brasil representam o maior risco para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) global, além de uma possível reação negativa ao início da alta de juros nos Estados Unidos.

O Deutsche Bank, por exemplo, revisou sua projeção de crescimento do PIB global em 2015 de 3,9% para 3,6% em razão de piora na sua estimativa para as economias da China, Rússia e Brasil. Os analistas do banco alemão projetam um avanço de 7% do PIB chinês em 2015, mas veem uma expansão de 6,7% em 2016. Para o Brasil, a previsão de crescimento é de 0,7% em 2015. Já o PIB russo deverá contrair 0,9% no ano que vem. Mesmo assim, a economia mundial terá um desempenho melhor do que o esperado para 2014, quando o Deutsche Bank prevê uma expansão de 3,2%.

Segundo o economista-chefe da consultoria americana IHS, Nariman Behravesh, o PIB mundial vai crescer 3% ou pouco mais em 2015, depois de três anos parado ao redor de 2,5%. Para ele, o Brasil vai ter um crescimento “decepcionante” em 2015, enquanto a Rússia registrará contração e o PIB chinês irá se desacelerar mais ainda, para 6,5% no ano que vem.

Maxim Zmeyev /Reuters

Perigo russo: no início do mês, o BC russo foi forçado a subir os juros básicos de 10,5% para 17% após o rublo desabar. 

“A economia mundial vai chegar ao final de 2015 numa situação moderadamente melhor do que em 2014, mas essa melhora não será observada em todos os países”, disse ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o economista sênior da consultoria Oxford Economics, Adam Slater. Ele estima que o PIB mundial avance de 2,6% neste ano para 2,8% em 2015.

Em média, as economias desenvolvidas devem registrar uma aceleração do crescimento do PIB em 2015, em particular os Estados Unidos, segundo Slater. Já os países emergentes devem ser a maior fonte de preocupação, diante das incertezas que pairam sobre várias dessas economias, disse o economista inglês. “Estamos bem pessimistas em relação à Rússia e com a contínua queda no preço do petróleo, as economias de outros países emergentes grandes produtores de petróleo podem desacelerar em 2015”, explicou.

 

Contração russa. Slater estima uma contração de 3% do PIB russo no ano que vem como reflexo da queda no preço do petróleo e das sanções econômicas por conta da crise com a Ucrânia. Para o Brasil, o economista da Oxford Economics vê um crescimento de apenas 0,7% em 2015 uma vez que o País "terá de lidar com taxas de juros mais elevadas e sérios problemas estruturais, incluindo elevado endividamento dos consumidores".

No início do mês, o BC russo foi forçado a subir os juros básicos de 10,5% para 17% depois de uma megadesvalorização da moeda russa, o rublo, frente ao dólar, o que levou muitos analistas a prever uma recessão ainda mais forte para o país em 2015.

Já a China, segundo Slater, deve crescer apenas 6,5% em 2015, mas o risco é de uma expansão menor ainda como parte do esforço das autoridades chinesas de resolver os desequilíbrios gerados na economia nos últimos anos, como o superaquecimento dos investimentos no mercado imobiliário.

“A China, por muitos anos, contribuiu mais com o crescimento da economia mundial e uma desaceleração da sua expansão do PIB terá impacto substancial sobre vários outros países”, explicou o economista-chefe internacional do banco ING, Rob Carnell. Ele espera um crescimento de 7,1% do PIB chinês em 2015, mas o risco para a economia mundial é que a expansão chinesa caia abaixo do patamar de 7%.

Os analistas do banco Credit Suisse resumem a expectativa para 2015 numa melhora do crescimento mundial pontuado pelo início em meados do ano do aperto monetário nos EUA pelo Federal Reserve.

“O risco de o crescimento global permanecer devagar é elevado e uma falta de melhora significativa para além da economia dos EUA pode levar a uma forte valorização do dólar e uma significativa reorientação dos fluxos de capitais”, alertaram Neville Hill e James Sweeney, do Credit Suisse, em recente relatório enviado a clientes. Entre os riscos, eles citam as incertezas geopolíticas, a volatilidade nos preços do petróleo e a desaceleração da economia chinesa.

O Credit Suisse prevê que o PIB mundial irá acelerar de 2,6% em 2014 para 2,9% em 2015, puxado pela expansão da economia americana, cujo PIB subirá de 2,2% para 3,1% no mesmo período. Já a China, segundo os analistas do banco suíço, crescerá apenas 6,8% em 2015.

 

Efeito EUA. Sendo a maior economia do planeta, o que acontecerá com os Estados Unidos em 2015 poderia ter impacto muito maior sobre o PIB mundial, mas os analistas internacionais estão confiantes de que a recuperação americana finalmente ganhou tração.

“Uma aquecida economia americana será o principal motor do crescimento global em 2015”, afirmam os economistas da Fitch Ratings em nota enviada a clientes. Eles estimam que o PIB mundial avançará 2,9% em 2015, com os Estados Unidos crescendo 3,1%.

Os economistas da corretora japonesa Nomura Securities esperam que o Fed eleve os juros básicos para entre 1,50% e 1,75% até o último trimestre de 2016, em comparação com o nível atual de zero e 0,25%.

Se a expectativa em relação aos EUA é de uma recuperação robusta, o mesmo não se pode esperar para a zona do euro e o Japão, apesar da expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão (BoJ) adotem estímulos monetários mais agressivos em 2015 para reanimar o crescimento econômico e evitar a deflação.

A Nomura Securities projeta um crescimento de 0,8% para o PIB japonês em 2015, enquanto a zona do euro deverá ter expansão de apenas 0,9%. Já a Fitch Ratings classifica a recuperação econômica da zona do euro como “frágil” e prevê um crescimento de 1,1% em 2015.

 

Mundo cresce mais com queda do petróleo, aponta FMI

Estudo da entidade mostrou que economia global pode expandir entre 0,3% e 0,7% a mais em 2015, com efeitos mais positivos nos países importadores

Com queda do preço do petróleo, PIB também pode crescer entre 0,4% e 0,8% a mais em 2016

Com queda do preço do petróleo, PIB também pode crescer entre 0,4% e 0,8% a mais em 2016 (Alex Slobodkin/iStock/Getty Images/VEJA)

Uma simulação do Fundo Monetário Internacional (FMI) sinaliza que a forte queda dos preços do petróleo pode fazer a economia mundial crescer mais em 2015 e 2016, de acordo com um estudo divulgado na segunda-feira. O Produto Interno Bruto (PIB) do mundo pode se expandir de 0,3% a 0,7% a mais no ano que vem quando comparado a um cenário em que o barril da commodity não estivesse em queda. Para 2016, o PIB pode crescer de 0,4% a 0,8% a mais. A expectativa, com base no comportamento dos preços futuros da commodity, é que os baixos preços do petróleo persistam e as cotações sigam abaixo dos níveis alcançados no passado recente, ressalta o relatório publicado em um blog do FMI.

O economista-chefe, Olivier Blanchard, e o chefe responsável pela área de pesquisas com commodities, Rabah Arezki, autores do estudo, destacam que a queda do petróleo, de quase 50% desde junho, afetou a todos, dos países exportadores do produto aos importadores, governos, petroleiras, empresas prestadoras de serviços para o setor e consumidores. "Há ainda considerável incerteza sobre a evolução da oferta e da demanda (por petróleo)", destaca o estudo, citando que tanto a procura como a oferta têm contribuído para explicar a queda das cotações nas últimas semanas. No caso da oferta, houve um aumento principalmente por causa da recuperação mais rápida que o esperado da produção em campos da Líbia e a produção no Iraque sendo pouco afetada pelos conflitos no país.

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Importadores - No geral, os economistas do FMI afirmam que os importadores de petróleo, sobretudo entre os emergentes, se beneficiarão dos menores gastos com a compra do produto, o que deve ajudar a melhorar as contas externas, gerar maior renda disponível para as famílias e menor custo com insumos. Já os exportadores terão menos receitas com as vendas externas, o que vai colocar pressão nas contas externas e fiscais. "Os riscos para a estabilidade financeira cresceram, mas permanecem limitados", afirma o estudo, destacando que a maior pressão nas moedas ficou limitada aos exportadores de petróleo, sobretudo Rússia, Venezuela e Nigéria. "Dado a interconexão dos mercados financeiros, estes desenvolvimentos pedem crescente vigilância."

Na zona do euro e Japão, regiões que vêm crescendo menos que o esperado e com demanda fraca pela commodity, as diretrizes futuras dos bancos centrais serão cruciais para ancorar as expectativas de inflação no curto e médio prazo, destaca o FMI. Os dois economistas do FMI também fizeram simulações do impacto da queda do petróleo em alguns países. Nos Estados Unidos, o PIB pode crescer entre 0,2% a 0,5% a mais no ano que vem quando comparado ao cenário base, ou seja, sem a queda dos preços do petróleo. Na China, a expansão pode ser de 0,4% a 0,7% a mais. Em 2016, os EUA poderiam ter expansão adicional de até 0,6%, enquanto o PIB da China pode crescer até 0,9% a mais.

Exportadores - Nos países exportadores o impacto geral é negativo, mas mesmo entre estes mercados deve ocorrer diferenciação, destaca o FMI, porque uns dependem mais das receitas do produto do que outros. Na Rússia, 50% das receitas do governo vêm das vendas de petróleo, por isso o impacto negativo mais acentuado no país. Uma das consequências será a deterioração de indicadores fiscais, além de piora dos números das empresas do setor de petróleo, que terão que rever planos para os próximos anos.

(Com Estadão Conteúdo)

 

 

Sem medo de um choque do petróleo

Queda nos preços do barril do óleo vai afetar economia dos Estados Unidos, mas o choque pode ser positivo 

Getty Images
Preço do barril de petróleo caiu atualmente para menos de US$ 70

NOVA YORK - O boom americano do petróleo pode estar prestes a perder parte da força.

O retorno das perfurações nos Estados Unidos, responsável por um aumento na produção diária de aproximadamente 60% desde meados de 2011, foi abastecido pelo alto preço do barril, que tornou lucrativo o caro processo de extração do petróleo preso em depósitos de xisto e outras rochas. Mas os dias dos hidrocarbonetos a US$ 100 chegaram ao fim, por enquanto. Com o mundo atualmente produzindo mais petróleo do que é capaz de consumir, o preço do barril caiu rapidamente para menos de US$ 70. A OPEP poderia ter reduzido sua produção para aliviar a fartura, mas optou recentemente por não fazê-lo em meio a boatos de que a Arábia Saudita estaria preparando uma "guerra de preços" com o objetivo" de proteger sua fatia de mercado ao tirar da concorrência os produtores do Texas e da Dakota do Norte.

Ninguém sabe exatamente até que ponto os preços podem cair antes de a maior parte do petróleo de xisto, que pode corresponder a até 55% da produção americana, deixar de ser lucrativo. O processo de fragmentação da rocha e o emprego da perfuração horizontal para recuperar o petróleo é caro - muito mais do que a perfuração convencional - mas, graças a novas técnicas, alguns acreditam que os novos poços podem gerar lucro com os preços na casa dos US$ 25 por barril. Isso levou os analistas a concluírem que a produção vai continuar aumentando, independentemente do que fizer a OPEP.

Mas já há sinais dos impactos dessa queda. Na terça feira, a Reuters informou que o número de licenças para novos poços emitidas nos EUA teve queda de 40% no mês passado. Se a queda continuar e os preços baixos acabarem com a lucratividade da exploração do petróleo, isso pode significar que os EUA logo estarão produzindo um pouco menos (como os poço de xisto não duram muito, as empresas precisam perfurar novos poços constantemente para manter a produção em alta).

Isso seria má notícia para os estados que prosperam com a indústria do petróleo ou para os trabalhadores que rumaram para esse ramo (especialmente se estiverem reunidos nas sujas cidadezinhas que cresceram com a atividade, com apartamentos tão caros quanto os de Manhattan e uma escassez de mulheres, apenas para participarem do negócio). Mas, se estamos mesmo prestes a ver um choque, talvez isso não seja algo tão ruim para o país como um todo, ou mesmo para a saúde da indústria do petróleo no longo prazo.

Afinal, o baixo preço do petróleo traz muitos benefícios. O mais óbvio: a gasolina a baixo preço, atualmente com média inferior a US$ 3 por galão na maior parte do país, e em queda. De acordo com análise do Goldman Sachs citada pelo Wall Street Journal, a queda no preço da gasolina já correspondeu a um corte de impostos de aproximadamente US$ 75 bilhões para o consumidor. E como escreve Matt O'Brien no Washington Post, o combustível barato também deve aliviar as preocupações com a inflação, diminuindo a pressão para que o Federal Reserve Aumente os juros e esfrie nossa economia já morna (o Banco Central não deveria se preocupar com o preço do petróleo, mas, como explica O'Brien, na realidade ele o faz).

Talvez nos perguntemos: a economia não sofreria um pouco se as empresas produzirem e venderem menos petróleo? Bem, sim, se a produção de petróleo começar a cair, isso vai tirar uma pequena fatia do PIB. Mas isso deve ser facilmente equilibrado conforme os consumidores gastarem o dinheiro poupado abastecendo seus carros. Enquanto regra, um dólar na conta bancaria de uma família vale mais para a economia do que um dólar na conta de uma empresa do petróleo, pois é maior a chance de ser gasto rapidamente, e menor a chance de ir para as mãos de um investidor estrangeiro. Pesados todos os fatores, o petróleo mais barato provavelmente significaria um crescimento um pouco mais rápido para a economia americana.

Um período de preços baixos também pode ajudar a transformar positivamente a indústria americana das perfurações, diz Michelle Foss, economista chefe para o setor energético da Universidade do Texas no Bureau de Geologia Econômica de Austin. No momento, o grupo de empresas pequenas e médias que usaram a fragmentação hidráulica para enriquecer não é conhecido por sua eficiência nem capacidade estratégica. Como disse um executivo em 2010, os primeiros dias do boom foram impulsionados principalmente pela "força bruta e ignorância" conforme as perfuradoras tentavam tirar o petróleo do chão o mais rápido possível. Essa abordagem levou a muitos poços de estrutura deficiente que logo secaram, e ao esforço desperdiçado na fragmentação de depósitos de baixo potencial produtivo. Quando o preço do petróleo era alto, a indústria podia se dar o luxo do descuido. Mas, com a queda nos preços, ela será obrigada a melhorar seus métodos. Isso pode ser bom para o meio ambiente. A fragmentação hidráulica envolve a injeção de uma mistura tóxica de água, produtos químicos e areia nos depósitos de xisto para quebrá-los, e quanto menos o líquido for usado, menos problemas são criados. Uma indústria mais cautelosa também pode ser boa para os investidores, que veriam menos dinheiro desperdiçado em poços ruins.

"Não me preocupo com os ciclos (de preços baixos)", diz Michelle. "Acho que os ciclos são na verdade bons para limpar a arena, fortalecendo os participantes de melhor desempenho e fazendo os mal sucedidos procurarem algo melhor para fazer, revelando também aquilo que é necessário para funcionar nesse ramo."

Isso é importante, porque os preços baixos que estamos vendo agora dificilmente durarão para sempre. Se a produção nos EUA ficar estável ou cair, isso deve naturalmente fazer o preço do barril aumentar. Também devemos esperar que os preços aumentem quando a Europa se recuperar dos problemas econômicos atuais, ou se o crescimento da China retomar o ritmo. E sempre existe a possibilidade de uma grande conflagração no Oriente Médio, que pode levar o mercado a altas súbitas. Mas, independentemente do motivo, devemos esperar que os preços voltem a subir e, quando isso ocorrer, a produção nos EUA vai provavelmente voltar a crescer.

Não que isso possa trazer uma repetição do boom que acabamos de ver. "Digamos que o preço do petróleo continue baixo por alguns anos, e então volte para US$ 100", diz James Hamilton, economista e especialista em petróleo da Universidade da Califórnia em San Diego. "Creio que veríamos a produção aumentar novamente, mas não no mesmo ritmo que vimos nos anos mais recentes." Por que mais lentidão? Os investidores podem se mostrar cautelosos após um choque.

Mas isso não seria tão ruim, se o resultado for financiamento canalizado para os produtores mais inteligentes e eficientes que souberem sobreviver numa era de preços baixos. Essa rodada do boom do xisto pode estar próxima do fim. Mas o petróleo continuará ali se precisarmos dele.

 

Melhor para os chineses

por CELSO MING

O produto brasileiro tenderá a ficar mais caro porque enfrentará uma energia elétrica mais cara; Enquanto isso, os industrializados da China, dos EUA, do Japão e da Europa ficarão mais baratos

Um dos efeitos positivos da derrubada dos preços internacionais do petróleo é o substancial barateamento dos custos da energia nos países avançados. É o que está sendo saudado como fator de aceleração da recuperação da economia mundial que, em última análise, deverá beneficiar também o Brasil.

No entanto, com as enormes distorções que ainda prevalecem por aqui, este tende a ser novo fator de perda de competitividade da indústria. Apenas o repasse dos atrasos tarifários deverá aumentar os custos da energia elétrica para a indústria em 27,3%, só em 2015 (veja o gráfico).

EnergiaCusto2016

Assim, o produto brasileiro tenderá a ficar mais caro também porque enfrentará uma energia elétrica mais cara. Enquanto isso, os industrializados da China, dos Estados Unidos, do Japão e da Europa ficarão mais baratos porque contarão com uma redução dos preços da energia elétrica de 20% a 30%, e não com um aumento, como no Brasil.

A indústria nacional já vinha enfrentando custos desproporcionalmente mais altos com carga tributária, infraestrutura, juros e tantas coisas mais. Agora, é obrigada a engolir essas tarifas progressivamente mais altas de energia elétrica, justamente quando o resto do mundo está sendo beneficiado pela queda acentuada de preços.

O impacto sobre a indústria é tanto mais alto quanto maior for o peso da energia elétrica na estrutura de custos. Os setores eletrointensivos, como metalurgia de não ferrosos, química básica, vidro e cerâmica, estão seriamente ameaçados. Há ainda a petroquímica, que já vinha trabalhando com nafta, sua principal matéria-prima, a custos muito maiores do que os do mercado externo.

A desvantagem não provém apenas da energia elétrica, mas, também, dos combustíveis. Em princípio, os preços da gasolina e do óleo diesel teriam agora de cair, como acontece com o querosene de aviação que a Petrobrás está fornecendo a cotações equivalentes às do mercado mundial. Mas ninguém no governo admite a redução dos preços dos combustíveis agora, porque entende que, de alguma forma, tem de compensar a Petrobrás pelas perdas ao longo de todos esses anos, quando as tarifas ficaram represadas para cumprir a discutível política de preços destinada a conter a inflação.

Quanto maior a dependência do frete a óleo diesel, maior também o impacto sobre a indústria brasileira produzido por preços mais altos dos combustíveis do que os vigentes no mercado internacional. E esse impacto ficaria ainda maior se for confirmada a decisão do governo de voltar a onerar os combustíveis com a Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico, a Cide.

Atenção importadores: pode estar valendo a pena importar combustíveis, especialmente gasolina e óleo diesel, e repassá-los a preços substancialmente mais altos ao mercado interno, ainda que mais baixos do que aqueles que estão sendo cobrados pela Petrobrás.

Aí estão distorções que decorrem dos graves erros na condução da política de energia elétrica e dos combustíveis, que agora vão criando uma tempestade perfeita. Se o governo quer mesmo dar condições de competitividade à indústria, tem de mudar muita coisa.

 

Finanças pessoais (em veja.com)

Brasileiros terão de poupar mais em 2015; conheça sete alternativas para conter gastos

Cortar supérfluos e evitar o cheque especial será fundamental para sobreviver aos reajustes na economia e encerrar os próximos meses fora do vermelho

Marília Carrera
Com o fraco desempenho da poupança, renda fixa é recomendação para proteger o dinheiro

Com o fraco desempenho da poupança, renda fixa é recomendação para proteger o dinheiro (Fabio Heizenreder/VEJA)

Especialistas avaliam que 2015 será um ano difícil para o bolso dos brasileiros. Em meio ao aumento generalizado da inflação, das taxas de juros e dos impostos, o conselho é evitar gastos desnecessários, ficar longe de dívidas e poupar o máximo possível para não encerrar os próximos doze meses no vermelho. "Além da inflação e dos ajustes já esperados para a economia, o mercado de trabalho também permanece incerto. As pessoas têm de estar preparadas para despesas mais pesadas”, afirma o educador financeiro da SPC Brasil, José Vignoli. 

Estimativas de economistas consultados pelo Banco Central apontaram pela primeira vez que ainflação deverá estourar o teto da meta em 2015. De acordo com o Boletim Focus divulgado na segunda-feira, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá encerrar o próximo ano em 6,54%, acima do teto anual de 4,5% com margem de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. Inúmeras trapalhadas do governo no campo econômico, como os repasses bilionários para distribuidoras de energia, também devem contribuir para dificultar o orçamento das famílias. “Ano que vem será ainda mais difícil para as pessoas que não criaram poupança quando a economia estava uma maravilha. Quem se acostumou a gastar, a tomar crédito e a usar o cheque especial com muita facilidade não aguentará o tranco se não houver disciplina."

Investimentos – Com o fraco desempenho da poupança ao longo dos últimos meses, a renda fixa pode ser uma opção mais segura para os consumidores que quiserem economizar. “É recomendável que as pessoas procurem alternativas para proteger o dinheiro, porque o rendimento da caderneta de poupança ficou abaixo da inflação no ano que se passou. Renda fixa é com certeza uma das indicações mais confiáveis”, diz o especialista em investimentos do Banco Ourinvest, Mauro Calil. Ele recomenda separar 70% do salário para despesas e poupar ou aplicar os outros 30%. Em caso de financiamentos, o ideal é utilizar no máximo 20% do dinheiro. 

caderneta de poupança registrou uma captação líquida (diferença entre depósitos e saques) de 2,53 bilhões de reais em novembro, o pior resultado para o mês desde 2011. No acumulado do ano, a captação líquida ficou em 18,60 bilhões de reais, saldo 69% menor do que o observado em igual período de 2013. Ainda com a elevação da taxa básica de juros (Selic) para 11,75% ao ano, os fundos de renda fixa ficaram mais atrativos do que a caderneta de poupança. De acordo com estudo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), fundos de renda fixa com taxas de administração de até 1% ao ano rendem mais do que a poupança independente do prazo de resgate.

Se a palavra da vez é poupar, o início do ano é uma ótima oportunidade para rever começar a rever contas, cancelar serviços desnecessários, e reservar uma parte do salário para um sonho ou para a aposentadoria. "Um outro ponto de vista pode ser olhar as dificuldades do próximo ano como oportunidades. Em vez de comprar, o consumidor será levado a poupar, investir suas economias com mais segurança e até fazer um pé-de-meia para contar com uma renda extra", diz a consultora especializada em finanças, Allessandra Ferreira. Anotar gastos, evitar cheque especial e renegociar dívidas estão entre as orientações para poupar dinheiro em 2015.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo + VEJA

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