Na FOLHA: Governo endurece o discurso, mas caminhoneiros mantêm greve

Publicado em 27/02/2015 05:24
Estratégia dos caminhoneiros é migrar para as estradas estaduais

O governo endureceu o discurso contra os caminhoneiros em greve e começou a adotar procedimentos para cobrar até R$ 10 mil por hora dos que continuarem bloqueando estradas. Mas até o começo da noite desta quinta, havia 88 interdições em estradas federais em seis Estados --na quarta, eram 81 na mesma quantidade de Estados. O Controle da Policia Rodoviária Federal informou, no entanto (pelo Jornal Nacional) que seriam 79 pontos de interdição em 5 Estados.

Uma parte dos caminhoneiros, principalmente na Região Sul, diz que não vai deixar as estradas, mantendo a paralisação.

Líderes da categoria em Santa Catarina, no Paraná, no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso e no Espírito Santo disseram discordar das medidas propostas  pelo Governo Dilma e afirmaram que não se sentiram representados no encontro de 4a.-feira em Brasília.

"Não houve indicações estaduais por parte dos caminhoneiros, foi manipulação", diz Gilson Pedro Pelicioli, um dos líderes do movimento em Lucas do Rio Verde (MT).

Diante da negativa do governo em baixar o preço do combustível, o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Ijuí (RS), Carlos Litti, deixou a reunião em Brasília e recuou-se a assinar a ata.

"Há um esforço do governo em resolver os problemas, mas o que impacta, de verdade, é o preço do diesel. Essa era a principal demanda, e ela não foi atendida", afirmou Litti.

INQUÉRITO

Na noite desta quinta, a Secretaria-Geral da Presidência da República, que está concentrando as negociações com representantes do setor, informou que não haverá novas propostas do governo para os grevistas.

O ministro da Justiça JDCardozo afirmou ter pedido à Polícia Federal a abertura de inquérito policial para apurar crimes cometidos ao longo dos protestos, inclusive a suspeita de que empresas estão por trás das manifestações.

A estratégia de endurecer com os caminhoneiros pode ter pouco efeito. Como as liminares para os desbloqueios são nas estradas federais, os caminhoneiros dizem que estão migrando os protestos para os trechos estaduais. "Vamos continuar migrando", diz Tobias Brombilla, representante de Seberi (RS).

 

PERGUNTAS AINDA SEM RESPOSTAS

1 Quem pagará a conta da isenção de pedágio para eixo suspenso do caminhão?

2 O governo conversou com o BNDES e com a Petrobras antes de negociar com os caminhoneiros?

3 O governo sinalizou que suspenderá por um ano o pagamento dos empréstimos do BNDES para compra de caminhões. Serão cobrados juros neste período?

4 Se for decidido que não incidirão juros, qual será a perda e quem pagará a conta?

5 Qual o número de contratantes de empréstimo que serão beneficiados?

6 O governo prometeu que o preço do diesel não será reajustado nos próximos seis meses. A medida não contraria a afirmação de que a estatal passaria a ter política independente de formação de preços de combustíveis?

 

Na reuters: Representante de caminhoneiros diz que adesão à proposta do governo 'não foi boa'

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, admitiu nesta quinta-feira que "não foi boa" a aceitação dos caminhoneiros ao acordo apresentado na quarta-feira pelo governo federal, uma vez que os dois principais pleitos da categoria, a redução do diesel e o aumento do frete, não foram contemplados.

"A Petrobras informou que o diesel não subiria por seis meses, mas isso não animou a categoria", disse Bueno, que é um dos representantes dos caminhoneiros que participou na quarta-feira da negociação do acordo com o governo, que prevê a manutenção do atual preço do diesel, a sanção integral da nova lei dos caminhoneiros e a carência de 12 meses em financiamentos para a compra de caminhões.

Segundo ele, houve desmobilização do movimento em algumas regiões, mas não é possível aferir qual foi, proporcionalmente, a aceitação ao acordo.

"Houve uma desmobilização, mas a gente percebeu que retornaram (os protestos) em alguns pontos", disse.

Propostas para o fim da greve dos caminhoneiros são inviáveis, diz setor

A maior parte das medidas oferecidas pelo governo para os caminhoneiros desbloquearem as estradas é difícil de ser implementada, dizem especialistas e integrantes do setor consultados pela Folha.

O principal entrave está na criação de uma tabela referencial de fretes, que levaria a preços mínimos pelo serviço. Hoje, esse valor muda de acordo com a oferta e a demanda pelo transporte.

"O mercado de frete rodoviário é muito próximo à concorrência perfeita. Será muito difícil estipular um valor mínimo", diz Thiago Péra, coordenador do grupo de pesquisa e extensão em logística agroindustrial da Esalq-USP.

Uma experiência recente em Mato Grosso exemplifica a dificuldade no tabelamento. No início deste ano, a ATC (Associação de Transportes de Cargas de Mato Grosso) criou um balizador referencial de fretes, com valores mínimos para as principais rotas.

Não deu certo. Empresas transportadoras que já tinham contrato com as tradings realizaram o transporte pelos preços já acordados anteriormente, e outros transportadores, ociosos, acabaram reduzindo os seus valores abaixo da tabela.

Segundo Péra, dificuldades em fiscalizar o cumprimento da tabela também torna inviável o tabelamento.

"O contratante também tem de estar de acordo com isso", lembra. E não é o caso.

As tradings, responsáveis pelo transporte de grãos, foram totalmente contrárias ao tabelamento em Mato Grosso, assim como os produtores, que são os mais prejudicados com essa prática.

"Quanto maior é o frete, menor é a rentabilidade do produtor", diz Edeon Vaz Ferreira, do Movimento Pró-logística da Aprosoja. Ao fazer o pagamento aos agricultores, as tradings descontam o valor do frete. Por isso, em momentos de queda no preço das commodities, fica mais difícil a negociação.

  Editoria de Arte/Folhapress  
 

SONO

A isenção da cobrança de pedágio por eixo suspenso, prevista no projeto de lei que propõe mudanças na lei do caminhoneiro, também é de difícil implementação.

A ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias) diz que os caminhões não poderão mais usar o pagamento eletrônico nos pedágios, exigindo paradas constantes nas cabines para verificação dos eixos.

Segundo a entidade, isso acarretará em aumento do tempo de viagem dos motoristas e demais usuários.

Além disso, a ampliação da jornada dos motoristas aumenta o risco de acidentes, segundo Marco Túlio Mello, especialista em sono e professor da Universidade Federal de Minas Gerais.

"O mais preocupante é a autorização para dirigir cinco horas e meia sem parar. Para que não se perca a atenção, é recomendado descanso a cada três horas", diz o especialista que faz pesquisas com motoristas desde 1993. 

 

Fretes estão 14% abaixo do custo mínimo do serviço, diz entidade

O preço pago pelas empresas que querem transportar sua mercadoria pelo país aos caminhoneiros e companhias transportadoras de carga está pelo menos 14% abaixo do custo mínimo para se fazer esse serviço.

É o que aponta pesquisa divulgada nesta quinta-feira pela NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística), entidade que agrega empresas que têm frotas de caminhão para transporte.

Chamado índice de defasagem do frete, o valor vem aumentando nos últimos anos. Conforme a Folha mostrou em setembro de 2014, a defasagem na época era de 9,7% e havia subido dois pontos percentuais em menos de um ano.

A defasagem do preço do frete é apontada como o motivo da paralisação dos caminhoneiros em todo o país, iniciada na semana passada.

Os caminhoneiros pedem que o governo reduza o preço do combustível, do pedágio e aumentem a permissão para eles dirigirem por mais tempo como forma de melhorar justamente os ganhos com o trabalho.

Esse índice da NTC&Logística considera todos os custos que uma empresa transportadora tem para realizar o serviço, incluindo mão de obra, diesel, compra e reposição de equipamentos, entre outros. E aponta qual seria o valor mínimo que as empresas deveriam receber dos clientes para fazer o serviço.

Depois é feita uma sondagem com companhias do setor para saber qual valor médio real que elas estão cobrando dos clientes para fazer o transporte. A diferença entre um valor e outro é considerada a defasagem.

REAJUSTES

O aumento da defasagem se deu por causa dos recentes reajustes nos custos das tarifas públicas e, principalmente, do diesel. Segundo a pesquisa, o combustível deverá subir 8% num período de menos de seis meses. Para distâncias acima de 400 km, o custo do frete deverá ficar ente 2% e 3% maior somente pelo aumento do diesel.

Como o índice de defasagem é de janeiro de 2015, ele ainda não capturou todo o impacto do aumento do diesel deste ano e a defasagem atual é ainda maior que os 14% medidos no mês passado.

Outro fator que colabora para o déficit é queda da atividade econômica. Com mais caminhões disponíveis para fazer o transporte, as empresas transportadoras e caminhoneiros autônomos não conseguem repassar os aumentos de custo aos chamados embarcadores ou donos da carga.

Para se ter uma ideia, o custo médio do transporte cresceu 4% nos 12 meses anteriores a janeiro, contra um crescimento do IPCA de 7%. Segundo a associação, outro custo que vem subindo é com a segurança devido ao aumento dos roubos de carga

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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