Dilma reitera que ajustes são necessários; é recebida com vaias em evento em SP

Publicado em 10/03/2015 14:25

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SÃO PAULO (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira que o Brasil passa por um momento difícil e as medidas de ajuste nas contas públicas são necessárias, mas ponderou que "nem de longe" o país passa por uma crise como as do passado que paralisavam a economia.

Na cerimônia de abertura da nova edição do Salão Internacional da Construção, em São Paulo, Dilma reconheceu uma desaceleração do setor e da economia como um todo.

A presidente foi vaiada na chegada ao evento por trabalhadores e expositores durante visita à feira, que ainda não havia sido aberta para visitação. As manifestações ocorreram dois dias depois de ela também ter sido alvo de panelaço durante pronunciamento à nação na TV.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Dilma foi recebida com vaias e gritos de "fora Dilma" e "fora PT". A equipe da presidente chegou a modificar o trajeto da petista na tentativa de afastá-la dos expositores e trabalhadores, mas não conseguiu. Enquanto passeava pelos estandes, a presidente foi hostilizada e ouviu gritos de "PT ladrão!" e "Eu não voto no PT".

Dilma reiterou, no discurso desta terça, que as medidas de ajuste anunciadas pelo governo não vão interromper investimentos em infraestrutura. A presidente disse que anunciará em breve a 3ª fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e novas concessões em infraestrutura.

"Nem de longe estamos vivendo uma crise das dimensões que alguns dizem que nós estamos vivendo. Nós passamos por problemas conjunturais, estritamente conjunturais, porque nossos fundamentos hoje são sólidos", afirmou, reconhecendo, no entanto, a necessidade do ajuste.

"Nós temos de fazer correções e ajustes e eles são necessários", disse. "Mas essas correções e ajustes têm propósitos muito claros. Eles reforçam ainda mais os fundamentos econômicos do país e constróem novas condições para retomada tanto do crescimento quanto do emprego. O ajuste não é um fim em si."

O ajuste fiscal proposto pelo governo visa a atingir uma meta de superávit primário de 1,2 por cento do Produto Interno Bruto e, para isso, estão sendo feitos cortes orçamentários e mudanças em regras de benefícios trabalhistas e previdenciários e sendo reduzidas desonerações tributárias para vários setores da economia.

Essas mudanças têm sofrido resistência no Congresso e por parte das centrais sindicais, e a tensão enfrentada pela presidente na base governista e o escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras podem gerar ainda mais obstáculos para o ajuste fiscal proposto pela equipe econômica.

Em seu discurso, Dilma também voltou a assegurar que as medidas não vão afetar programas como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.

"As dificuldades que existem e as medidas, tanto tributárias como de correção que nós estamos tomando para superá-las, não vão comprometer as conquistas sociais... tampouco vão fazer o país parar ou comprometer o futuro do país", afirmou.

NA FOLHA

Antes de falar, a presidente ouviu as preocupações do setor com a economia e com os impactos do escândalo de corrupção na Petrobras. Sem citar diretamente a Lava Jato, o presidente da Associação Brasileira dos Materiais de Construção, Walter Cover, disse que é preciso punir quem merece ser punido, mas também buscar uma solução "institucional" para não paralisar pequenas e médias empresas.

"Não estão vendendo por falta de confiança do recebimento [de pagamento do governo]", ele afirmou.

Jorge Araújo/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff durante visita ao Salão Internacional da Construção, em São Paulo. Ela foi vaiada por expositores e trabalhadores na chegada ao evento.
A presidente Dilma Rousseff durante visita ao Salão Internacional da Construção, em São Paulo. Ela foi vaiada por expositores e trabalhadores na chegada ao evento.

Foi de Cover o discurso mais crítico à atual conjuntura. Ele disse que o empresariado apoia o ajuste nas contas de forma "pragmática", mas que é "absolutamente necessário" que ao lado dessas medidas o governo busque soluções para aumentar a produtividade e a competitividade no país.

Em resposta, Dilma voltou a dizer que o país vive os reflexos da crise internacional e que absorveu os problemas da economia até o limite, dando subsídios a Estados e investimentos e desonerando setores.

"O ajuste não é um fim em si mesmo. Ele assegura a retomada da economia e do emprego", garantiu.

No site veja.com.br:

Dilma vai à Feira da Construção Civil, colide com outra vaia e bate em retirada

O jornalista Celso Arnaldo Araújo enviou o vídeo com o seguinte recado:

É Dilma chegando hoje cedo a uma feira internacional de construção em São Paulo, antes da abertura ao público. Ao entrar no raio de visão de um grupo de funcionários do evento, acompanhado do séquito de autoridades, madame dá de cara com uma muralha de vaias e apupos. Imediatamente fecha a carranca e, ato contínuo, faz meia volta – simples assim. A construção dessa vaia concreta é o começo de um novo projeto do governo Dilma, talvez o último: Minha cara, minha vaia.

DILMA VAIADA EM SP – Presidente, não é só por Vossa Excelência. É pelo PT! E o meu desafio a Lula

A presidente Dilma Rousseff deve estar cercada de lulistas radicais, que querem destruí-la, ridicularizá-la. Só isso explica que, dois dias depois do panelaço, ela tenha decidido visitar o 21º Salão Internacional da Construção, no parque de exposições do Anhembi, em São Paulo. Chegou no fim da manhã, antes ainda da abertura ao público. Certamente foi uma recomendação da segurança. Naquela hora, só estavam lá expositores e trabalhadores. O resultado foi este.

Como se pode ouvir, uma vaia vexaminosa. E, à diferença do que disse o PT sobre o panelaço, ali não estavam apenas os, como é mesmo?, “coxinhas”. Não! Ali estava o… povo!

É, presidente… O povo decidiu cobrar a fatura, não é? Vossa excelência teve a chance de alertar a população, há menos de cinco meses, de que a situação do país era difícil e de que viria uma fase de sacrifícios pela frente. A governanta conhece, né?, aquele papo de “sangue, suor e lágrimas”. Vá lá: o sangue, a gente poderia dispensar. As lágrimas, também, né? Pra que chorar? O diabo, presidente, é que há, a cada dia, menos motivos para suar. O seu modelo de eterna felicidade está começando a caçar também os empregos. No discurso que Dilma fez aos expositores, que ocuparam metade do salão neste ano em razão da crise no setor, ela admitiu dificuldades e coisa e tal. Não me diga!

Sim, as vaias eram para a presidente, inequivocamente. Mas aqui vai o meu desafio: que Lula visite a mesma feira e faça um teste de popularidade. E o Babalorixá de Banânia poderá constatar que não é só por Dilma que o povo põe a boca no trombone. Ele não aguenta mais é o PT mesmo, né?

Os companheiros chamam isso de “discurso do ódio”. Têm razão:
– ódio à ladroagem;
– ódio à rapinagem na Petrobras;
– ódio à impunidade;
– ódio ao estelionato eleitoral;
– ódio ao cinismo.

No mais, vocês sabem, esse povo é só amor.

 

Análise da mídia, por Nelson de Sá: Redes de TV tratam de esfriar o panelaço das redes sociais

O panelaço foi convocado via WhatsApp a partir de sexta, avançou por Facebook e outras redes sociais até o domingo, mas só ocupou as redes de televisão na segunda. E com enunciados e comentários buscando evitar ampliar a radicalização.

Desde a manhã, a Globo reproduziu vídeos gravados em todo o país, anotando porém serem "protestos em alguns bairros de algumas cidades", bairros como Morumbi, Barra da Tijuca, Ipanema.

Em suma, comentou Renata Lo Prete no "Bom Dia Brasil", "esse protesto nem de longe foi uniforme, aconteceu em alguns bairros, não aconteceu em outros". De qualquer maneira, "seria um erro do governo reduzir essa diferença a uma disputa entre ricos e pobres".

Fim da tarde e a Bandeirantes trazia o apresentador policial José Luiz Datena esbravejando sobre o panelaço: "Eleição é armadilha para idiotas. No Brasil, nós somos todos idiotas". Já o âncora Ricardo Boechat, abrindo o "Jornal da Band", questionou um eventual impeachment de Dilma, dizendo nada haver contra ela e alertando que em seu lugar entraria "o Michel Temer, do PMDB".

No "SBT Brasil", entre sorrisos irônicos da apresentadora Rachel Sheherazade, mas sem opinião, o comentarista Kennedy Alencar disse que o governo está preocupado que o panelaço estimule o protesto do próximo domingo, que agora "pode ser o primeiro ato de vários".

Com menos atenção do que os outros telejornais, o principal noticiário do país, o "Jornal Nacional", deixou o panelaço em terceiro plano –destacando antes de mais nada, na voz do editor-chefe William Bonner, que "Políticos citados na lista dos investigados na Operação Lava Jato se defendem no Congresso". Em seguida, "Supremo divulga novos trechos das delações", mencionando José Dirceu e Sérgio Cabral.

E só então, pela voz de Renata Vasconcellos, a escalada da Globo foi lembrar, em tom muito contido, que "o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff e o panelaço provocam reações do governo e da oposição". 

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Fonte:
Reuters + Folha

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