Hillary ou Trump: Pouco muda para o agronegócio brasileiro

Publicado em 04/11/2016 12:16 e atualizado em 04/11/2016 13:02
Impactos da corrida presidencial e seu resultado ainda são pontuais e limitados

O nervosismo tomou conta das expectativas para a eleição presidencial nos Estados Unidos que acontece no próximo dia 8 de novembro. Para suceder Barack Obama, disputam a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump em uma corrida apertada. Os efeitos do embate e de seu resultado, entretanto, ainda são limitados para o produtor rural brasileiro. O assunto, no entanto, exige atenção já que trata-se do cargo político mais importante do mundo. 

Por enquanto, além da disputa, o que se aquece são as especulações. Ao vencer, Trump traz incerteza e algum nervosismo ao mercado, segundo explicam especialistas. Caso Hillary assuma, o que se espera é uma manutenção do atual quadro norte-americano, embora a estabilidade não seja sempre boa. 

"Mas, essas especulações todas podem ir por água abaixo quando o resultado chegar. Será preciso acompanhar qual será o reflexo dessa manutenção caso Hillary ganhe ou qual será o impacto de uma mudança tão radical caso o vencedor seja Trump. Em todos estes anos em que democratas e republicanos se revezaram no comando dos Estados Unidos, embora em lados opostos, as mudanças - principalmente nas políticas externas - não eram tão acentuadas, e agora podem ser", explica o economista e analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais, Camilo Motter. 

Além disso, o executivo lembra ainda que os efeitos das propostas do republicano precisariam estar efetivamente ativas para que os efeitos começassem a ser sentidos, o que deverá acontecer no longo prazo. São mudanças bastante profundas, que precisarão passar pelas casas do Congresso americano e poderiam encontrar alguma resistência. 

Assim, a opinião de Steve Cachia, diretor da Cerealpar e consultor do Kordin Grain Terminal, de Malta, na Europa, é semelhante. "O fato é que, quem seja a entrar, não haverá impacto para o agronegócio brasileiro no curto ou médio prazo. Isso porque acredito que, apesar dos preços sobre pressão da oferta abundante, ainda estamos em um mercado de demanda. Então, eu estaria mais preocupado com os acontecimentos na China e, em nível menor, Índia do que nos Estados Unidos", diz. 

Paralelamente, ainda como explica o executivo, são apenas os efeitos pontuais, como as reações dos mercados financeiros e a postura dos fundos de investimento e também a flutuação do dólar. "Mas, no final, o que vai definir nossos produtos agro para exportação é mais o que está acontecendo nos países compradores e importadores desses nossos produtos", complementa Cachia. 

E o diretor da Cerealpar reforça. "Uma vez conhecido o resultado, o mercado se acalma. Claro que se for o Trump, pode haver um momento mais longo até ficarem mais claras as primeiras medidas, mas existem ciclos. E independente de quem ganha, existem padrões. Os mercados não gostam de incertezas", afirma. 

Para Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, grandes reviravoltas estão ainda longe de acontecer nos Estados Unidos. "Quando há uma mudança radical, com uma troca de partidos, saem os democratas, que têm uma linha mais social, dos benefícios, de apoio, e entra um partido mais da produtividade, eficiência, menor imposto, menos governo e mais iniciativa privada que eu acredito que acabe até sendo benéfico para os Estados Unidos que já passou por dois governos do Obama", acredita.

Entretanto, lembra que sendo Trump o candidato dos republicanos o caso é um pouco mais complicado, já que lhe falta apoio até mesmo dentro do seu próprio partido. "Ele foi um candidato que, desde o começo, foi contrário dos tradicionais republicamos. E o mercado tem medo que ele pode não ter o apoio do Congresso para apoiar medidas, administrar bem os Estados Unidos", diz o consultor.  

O que pode acontecer para o Brasil?

As propostas de Donald Trump para a economia norte-americana carregam algum protecionismo e um nacionalismo que há um tempo não se via. Assim, ainda como explica Camilo Motter, sua vitória poderia comprometer alguns acordos - bi e multilaterais - e reduzir subsídios, alternado os rumos da comercialização internacional de produtos.

"Ao fechar um pouco mais a economia americana, o Brasil poderia ser prejudicado em relação a alguns acordos. Por outro lado, poderia encontrar mais espaço em determinados mercados que seriam 'deixados' pelos Estados Unidos e onde também temos competitividade", diz o analista da Granoeste. 

Os atritos que o candidato poderia causar com alguns de seus parceiros comerciais, portanto, causam especulações e alguma preocupação. Como explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, a China é um exemplo claro. 

"Os EUA importam muitas coisas da China e uma das coisas que ele prega é a volta da industrialização norte-americana eu foi para a China. Mas a relação comercial dos países é mútua, porque a China também compra muito nos EUA, é a maior compradora da soja americana, e ele não pode desperdiçar isso. Então, há essas demandas e não há como quebrar esses negócios que já fluem há muitos anos. Então, alguma coisa que ele comece a mexer, ele pode acabar beneficiando o Brasil, já que os chineses compram tudo nos EUA - soja, milho, carnes, trigo -  e qualquer obstáculo que possa haver por lá, deve se voltar para comprar mais aqui na América do Sul", diz. 

Em um artigo em seu blog no Infomoney, o executivo da Cimo Capital, Cid Oliveira, afirma que a disputa de 2016 pode ser tão impressionante como a de 2000, quando concorreram à presidência norte-americana George W. Bush e Al Gore. "Independente de quem ganhe as eleições, os resultados serão disputadíssimos e provavelmente questionados. Isto certamente trará volatilidade ao mercado financeiro", diz. 

No entanto, com sua visão tida como "fora do padrão", Oliveira traz à luz as oportunidades que uma vitória de Trump poderia gerar. 

"Os possíveis efeitos de uma eventual vitória de Trump nos mercados de risco locais (bolsa, juros e câmbio) são claramente negativos para o curto prazo. Para quem está com um alto nível de risco alocado pode ser um bom momento de colocar os ganhos no bolso e esperar melhor momento de entrada.  Pode ser uma tremenda oportunidade para quem queira alocar capital atrás do tema de recuperação econômica, recomposição fiscal e redução dejuros no Brasil se houver uma correção abrupta e severa no curto prazo", diz.

Câmbio

Sobre o dólar e o futuro de sua movimentação frente às eleições norte-americanas ainda carregam a máxima de que seus efeitos são pontuais e vão acompanhar, principalmente, os desdobramentos dos últimos dias e o caminhar das pesquisas. 

"Agora o mercado vai se voltar para as eleições norte-americanas", disse o gestor do departamento de câmbio da corretora Gradual Investimentos, Hamilton Bernal à agência de notícias Reuters.

Os executivos, entretanto, explicam ainda que apesar de inicialmente pontuais, a vitória de Donald Trump sobre o andamento da moeda americana poderia ser mais intenso do que, por exemplo, o Brexit - a saída do Reino Unido da União Europeia - sobre a libra esterlina. Embora a atitude tenha sido uma surpresa e fez a moeda inglesa despencar, o papel político e econômico dos EUA no quadro global é muito mais intenso e abrangente. 

"As moedas da América Latina parecem mais vulneráveis que as demais", disse Georgette Boele, estrategista do ABN Anro Bank em Amsterdam em entrevista à agência internacional Bloomberg.

Na contramão, na medida em que Hillary se torna presidente dos Estados Unidos, as expectativas - também iniciais - é de que a moeda norte-americana possa recuperar seu caminho já conhecido frente à brasileira. 

Leia mais:

>> Como Donald Trump pode afetar o mercado brasileiro

>> Guia da eleição dos EUA: confira o impacto de uma vitória de Hillary ou de Trump para os mercados  

Se você é 'anti-imperialista', torça pela vitória de Donald Trump

por DEMÉTRIO MAGNOLI, na FOLHA DE S. PAULO

"E se Donald Trump vencer?" –a pergunta passou a fazer sentido na semana derradeira da campanha presidencial. Hillary Clinton segue favorita, porém o impossível tornou-se apenas improvável. De qualquer forma, não custa imaginar: como seriam os EUA e o mundo com um presidente Donald na Casa Branca?

Esqueça o aviso ritual dos sábios de plantão. Certamente, candidatos abusam, exageram e mentem. Mas, lá como aqui, o discurso de campanha é uma bússola razoável do rumo que seguem quando chegam ao Palácio.

Num certo ponto, Trump prometeu deportar 11 milhões de imigrantes indocumentados, o que requer um Estado totalitário. Ele dividirá esse número por dois ou três –o suficiente para rasgar o tecido social americano, provocando cisões irreparáveis. Se você é antiamericano, torça pelo Donald: a coesão nacional americana sofrerá sob seu governo.

O célebre muro será erguido, inclusive para amansar os nativistas fanáticos que se decepcionarão com a violação do compromisso de deportação geral. Como o governo mexicano obviamente não financiará o monumento à xenofobia, Trump será forçado a salvar a própria face restringindo as remessas de rendas dos imigrantes a seus familiares no outro lado da fronteira.

O ataque às liberdades econômicas internas se combinará com um inédito acirramento das tensões diplomáticas com o país vizinho. Se você é "anti-imperialista", torça pelo Donald: ele girará o México na direção da América Latina.

Trump extraiu as consequências mais radicais do discurso protecionista. Ele honrará a garantia que ofereceu a seus eleitores de explodir o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), repelir a projetada Parceria Transpacífico (TPP), suspender as negociações de um acordo de comércio e investimentos com a União Europeia e estabelecer tarifas punitivas sobre importações de produtos chineses.

Seriam duros golpes não só contra a economia americana, mas também contra a ordem aberta da globalização, já vergada pelo "brexit". As bolsas desabam pelo mundo quando as pesquisas sustentam a hipótese de vitória do republicano. Torça pelo Donald, se você é um "antiglobalista".

Três quartos de século atrás, com Franklin D. Roosevelt e a Segunda Guerra Mundial, os EUA cortaram o fio do seu tradicional isolacionismo. Trump recuperou o fio partido, assegurando que a superpotência só se envolverá no exterior para eliminar ameaças diretas à segurança interna. Na sua ofensiva política contra o internacionalismo, evidenciou absoluto desprezo pela ONU, qualificou a Otan como uma aliança "anacrônica", recusou-se a condenar a agressão russa na Ucrânia e elogiou a operação militar de Moscou na guerra regional síria.

No meio disso, adulou Vladimir Putin, "meu brilhante amigo", emitindo sinais incompreensíveis aos aliados dos EUA na Europa. Torça pelo Donald, se você simpatiza com o "putinismo".

O programa nuclear da Coreia do Norte é problema dos japoneses e sul-coreanos, não dos EUA, declarou Trump. O acordo nuclear com o Irã deve ser desfeito, insistiu várias vezes o candidato republicano.
Lavando suas mãos no Extremo Oriente e no Oriente Médio, a superpotência estimularia a proliferação dos arsenais nucleares.

A estabilidade geopolítica europeia é problema dos europeus, não dos EUA, vociferou Trump, dando de ombros para as tensões militares entre a Rússia e a Otan no mares Negro e Báltico.

Renunciando a seu engajamento no Velho Mundo, a superpotência ofereceria um simulacro de credibilidade ao sonho putinista de restauração da Grande Rússia.

Se você almeja o desmoronamento da "Pax Americana" ou da "hegemonia do Ocidente", torça pelo Donald.

A insurreição neonacionalista, nativista e populista corporificada por Trump triunfará ou será derrotada pelos cidadãos americanos. Mas, nesta terça, decide-se muito mais que o futuro próximo dos EUA. 

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Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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