Crise derruba PIB potencial do Brasil e dificulta saída da recessão

Publicado em 16/11/2016 12:41

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Por Luiz Guilherme Gerbelli

SÃO PAULO (Reuters) - A crise econômica derrubou o Produto Interno Bruto (PIB) potencial do Brasil, o que deve deixar a recuperação esperada para 2017 mais lenta e com alguns economistas já colocando um sinal de alerta para o risco de o país estar próximo de um terceiro ano seguido de recessão.

Para analistas consultados pela Reuters, o PIB potencial do Brasil --ou seja, aquilo que o país pode crescer sem gerar desequilíbrios, como inflação-- recuou para apenas 1 por cento, sobretudo por causa do baque que os investimentos sofreram na recessão.

O número atual está muito abaixo da capacidade de crescimento que já foi exibida pela economia brasileira. Entre 2004 e 2010, ficou perto de 4 por cento.

"Nos anos recentes, houve uma redução bastante drástica do PIB potencial tanto por causa do declínio consistente da produtividade como pela destruição de capital", afirma o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Julio Mereb, para quem o PIB potencial do país é de 1 por cento.

"A nossa projeção para o PIB de 2017 é de avanço de apenas de 0,6 por cento, justamente por incorporar essa expectativa de retomada lenta e gradual", diz Mereb.

No terceiro trimestre, os investimentos na economia brasileira recuaram para o menor patamar desde o segundo trimestre 2009, de acordo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).

Os investimentos no Brasil estão em queda desde 2014. Nos governos dos ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, houve uma série de investimentos direcionados para setores específicos e para as empresas que ficaram conhecidas como "campeãs nacionais", mas o fracasso dessa política tem obrigado o país a rever a sua estratégia.

"Os investimentos só vão voltar com um ambiente regulatório bem definido que, de fato, seja estimulante", afirmou o coordenador do Grupo de Estudos de Conjuntura do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Júnior, que vê o PIB potencial do Brasil a 1 por cento.

"Para o futuro, concessões e privatizações são fundamentais para a infraestrutura do país devido a crise fiscal atual", diz o economista do Ipea.

OTIMISMO FRUSTRADO

A dificuldade de reação da economia brasileira para o ano que vem fica evidente pela piora nas projeções para o crescimento econômico do Brasil, com analistas até mesmo vendo que o país não terá expansão, flertando com a recessão que vem dominando há dois anos.

Nessa onda mais pessimista, o banco Fator estima que a economia brasileira deve ficar estagnada no ano que vem e o seu economista-chefe, José Francisco Gonçalves, não descarta recessão.

O Bradesco e o Bank of America reduziram o crescimento esperado para PIB de 2017 para 1 por cento, de 1,5 por cento. O banco Fibria diminuiu para 1,3 por cento, abaixo de 2,1 por cento calculado anteriormente.

"A retomada mais lenta da economia responde a um cenário de endividamento ainda elevado das empresas e certa frustração com o mercado de trabalho", escreveram os economistas do Bradesco em relatório.

Em 2015, o PIB brasileiro recuou 3,8 por cento e, segundo pesquisa Focus do Banco Central, que ouve semanalmente uma centena de economistas, a projeção para 2016 é de que a economia vá encolher 3,37 por cento. Para 2017, ainda segundo o levantamento, as contas são de que o país crescerá 1,13 por cento, mas têm sido reduzidas semana após semana.

O próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou nos últimos dias que a economia brasileira deve avançar apenas 1 por cento no que vem.

A fraqueza na recuperação passou a se somar às incertezas provocadas com a eleição surpreendente do republicano Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos e diante do discurso de campanha radical e imprevisível.

O republicano é considerado uma incógnita para os economistas e, por ora, há pouca clareza de qual será a política econômica a ser adotada por ele.

A consultoria MacroSector estima avanço de apenas 0,8 por cento para o Brasil 2017, mas vê risco de o país crescer menos do que isso diante das incertezas na economia mundial.

"O que a gente não sabe é o tamanho da turbulência que virá pela frente com a vitória do Trump. Turbulência mais forte se traduz em juro alto lá fora e aqui", afirma o sócio-diretor da MacroSector Consultores, Fábio Silveira.

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Fonte:
Reuters

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1 comentário

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Para entender perfeitamente por que o Brasil não sai do "partidor" para retomada do crescimento econômico, basta ouvir a perfeita análise do Prof. Stephen Kanitz que insiste há anos em afirmar que nossas autoridades e mentores em geral ERRAM no diagnóstico sobre o Brasil. No vídeo de 5 minutos gravado hoje ele mostra a flagrante constatação de que os agentes econômicos produtivos simplesmente estão SEM Capital de Giro e pior, não há sequer linha de financiamento instituida para financiá-lo. Tanta "otoridade" envolvida e nenhuma se apercebe de um diagnóstico Correto.

    Daí a sua "máxima" > ´O maior erro que se pode cometer na vida é procurar soluções certas para os problemas errados.´ 5 minutos: https://www.youtube.com/watch?v=UMXc95bTdZc

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      MUITO PALAVREADO SO' PARA ARRANJAR DINHEIRO EMPRESTADO----QUANTA DIFERENÇA COM A CULTURA JAPONESA QUE EDUCA AS PESSOAS A TER ORGULHO PROPRIO E NAO PEDIR NADA EMPRESTADO, NEM SEQUER UM ALICATE ----DA RAIVA DE CONVIVER COM UMA SOCIEDADE DE PEDINTES

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Sr. Meloni, qual o problema em pedir dinheiro emprestado ao mercado? Crime cometem politicos e apaniguados quando pegam emprestado dinheiro público, usando de prerrogativas dos cargos, e nunca mais pagam. O povo, essa gente desprezada pelos luminares da sociedade e que é roubado por esses mesmos luminares tem que pegar emprestado para comprar um carro por que os politicos em geral e seus empresários favoritos cobram metade do valor de qualquer mercadoria adquirida e usam o dinheiro para mandar suas putas fazer turismo pelo mundo. Os mesmos que interferem no mercado de capitais, que tornam o financiamento das empresas via bolsa de valores inviável, e que fazem com que os ignorantes considerem a bolsa um cassino, um antro de marginais. Os maiores pedintes são as autoridades brasileiras, não o povo, basta ver declarações de ministros que não sabem fazer outra coisa a não ser pedir dinheiro público, e como não baste, ainda vão ao exterior pedir esmola à outros países em troca de subserviência.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Sr Rodrigo e' uma questao de mentalidade ------juros de emprestimo pessoal no Brasil 431% ao ano paises em segundo lugar 43% ao ano------Este e' o quadro que mostra o descalabro------Nao existe poupança , gasta-se tudo, amanha nos vamos ver onde podemos arranjar dinheiro em algum lugar------O Rio e' o exemplo mais claro, mas em geral o Brasil e' todo assim-------

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Sr. Meloni, ele está falando de empréstimos para empresas que precisam formar estoques, para iniciar a produção de alguma mercadoria, não tem como negar que sem estoques ninguém produz nada.

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