Após a condenação, Marina defende impugnação da candidatura de Lula

Publicado em 29/01/2018 07:11
Reuters diz que, sem Lula, Marina e Ciro serão os maiores beneficiários

Em entrevista ao jornal Valor, Marina Silva defendeu a impugnação da candidatura de Lula caso sejam indeferidos os recursos ao julgamento que manteve sua condenação em segunda instância, informa o Valor.

“Não apenas a este, mas a qualquer outro julgamento, defendemos os princípios da Ficha Limpa”, disse a pré-candidata da Rede.

Para Marina, passado o julgamento de Lula “é fundamental que se tenha andamento os demais processos, como é o caso do senador Aécio Neves”.

PT e PSDB estão unidos para acabar com a Lava Jato, diz Marina

Os “partidos tradicionais de esquerda e de direita” estão unidos para acabar com a Lava Jato.

Foi o que disse Marina Silva neste sábado, em Belo Horizonte, segundo o Valor.

“PT e PSDB, que nunca estão unidos, se uniram nesse propósito. Tanto que juntos apresentaram a ‘lei do abuso da autoridade’, para tentar intimidar a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal, tentaram apresentar o projeto de lei para anistiar o caixa dois, se mantêm firmes na defesa do foro privilegiado, o que é uma afronta ao povo brasileiro.”

Marina rebate críticas a posições “pouco claras”

Marina Silva defendeu-se das críticas de seus adversários de que suas posições políticas seriam pouco claras, registra o Valor.

“Esta é uma percepção autoritária. Os partidos tradicionais de direita e de esquerda não defendem a Lava Jato, e eu defendo a Lava Jato. Defendem o foro privilegiado, e eu sou contra. Tentaram aprovar a anistia para o caixa dois, e eu fui contra. Isso é ter uma posição diferente ou não ter posição?”

Isso é um pouco mais claro que o marinês tradicional.

Marina Silva também se mostrou favorável à reforma da Previdência, mas questionou a legitimidade de Michel Temer para empreendê-la, segundo o Valor.

“Sou a favor (da reforma da Previdência), mas desde que não venha a prejudicar os mais frágeis. Que se combata os privilégios e que se faça uma atualização para encontrar um caminho para o problema grave do déficit da Previdência. Mas Temer não tem credibilidade, popularidade ou legitimidade. Ele não está mandatado para fazer, porque nem ele, nem Dilma, colocaram isso em seu programa de governo.”

Ambições liberadas

POR MERVAL PEREIRA, em O GLOBO

A virtual inelegibilidade do ex-presidente Lula, que depende apenas de tempo, não de interpretações jurídicas sobre a Lei da Ficha Limpa, que é inequívoca, está levando a que as forças partidárias comecem a remontar suas alianças políticas para a eleição presidencial de 2018, fazendo com que saiam do armário ambições até agora reservadas, como candidaturas de partidos historicamente caudatários do PT, ou como a de Marina Silva da Rede, que está perdendo a cerimônia em relação ao partido que ajudou a fundar e a suas lideranças, inclusive Lula, a quem sempre preservou.

Até mesmo o PSDB ensaia passos mais ousados, como o seu presidente e candidato oficial à presidência da República, governador Geraldo Alckmin, sugerir que o partido pode deixar de ter um candidato próprio ao governo do Estado para apoiar seu vice Marcio França, do PSB, em troca do apoio nacional dos socialistas à sua candidatura.

O PSB, que já apoiara o candidato do PSDB na última eleição presidencial, voltaria a estar longe do PT de Lula, especialmente diante do impasse jurídico existente. Se não der certo essa manobra, que é de difícil execução pois os tucanos governam São Paulo há 20 anos e não querem abrir mão disso, o PSB pode apoiar o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa, sem pensar em uma aliança que já foi histórica.

O mesmo acontece com o PDT, que já tem seu candidato próprio, o ex-governador e ministro Ciro Gomes. PCdoB já lançou Manuela DAvila e o PSOL pode lançar Boulos, o líder do MTST, que já começou a atacar Marina Silva por sua postura de apoiar a inelegibilidade de Lula caso seja confirmado o veredicto do TRF-4 após os embargos nos tribunais superiores.

Ela ontem rebateu, com ênfase não habitual, as críticas de que não teria posições políticas claras. “Esta é uma percepção autoritária. Os partidos tradicionais de direita e de esquerda não defendem a Lava Jato, e eu defendo a Lava Jato. Defendem o foro privilegiado, e eu sou contra. Tentaram aprovar a anistia para o caixa dois, e eu fui contra. Isso é ter uma posição diferente ou não ter posição? – contestou.

(...) “PT e PSDB, que nunca estão unidos, se uniram nesse propósito. Tanto que juntos apresentaram a ‘lei do abuso da autoridade’, para tentar intimidar a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal, tentaram apresentar o projeto de lei para anistiar o caixa dois, se mantêm firmes na defesa do foro privilegiado, o que é uma afronta ao povo brasileiro.”.

 Para não deixar dúvidas no ar, Marina colocou no mesmo patamar PT e PSDB, classificando com exagero os sociais-democratas de “direita”, e defendeu que, após o julgamento de Lula “é fundamental que tenham andamento os demais processos”, citando especificamente o do senador Aécio Neves”, a quem apoiou na eleição anterior.

Marina, no entanto, continua mantendo proximidade com economistas ligados historicamente ao PSDB do Plano Real, mas que se desiludiram ultimamente com o partido. É o caso de André Lara Resende, que já esteve mais próximo da candidata da Rede e voltou a ser contatado agora, por insistência de Marina, que teve um encontro com ele na semana passada em São Paulo.

Outros economistas tucanos apoiam candidatos fora do partido, como Arminio Fraga, que segue conversando com o apresentador Luciano Huck, que pode voltar à disputa pelo PPS, mas Pérsio Arida será o coordenador da candidatura de Geraldo Alckmin.

A possibilidade de que Marina Silva aumente sua força eleitoral com a saída de Lula faz com que ela se torne alvo de petistas e outros grupos de esquerda.  O pré-candidato do PSOL à Presidência da República, Guilherme Boulos postou recentemente em seu perfil no Facebook um print de Marina Silva em que ela diz apoiar o trabalho da justiça e as investigações da Operação Lava-Jato, insinuando que estaria ao lado dos adversários da esquerda.

Apoiadores de Marina responderam, também pelo Facebook, lembrando características da candidata que serão destacadas na campanha: mulher, negra, índia, nortista e filha de seringueiros. Que não responde por nenhum processo na Justiça, que não fez fortuna na política e cujos familiares permanecem tendo uma vida simples e dedicada ao trabalho honesto.

Com apoios à esquerda, de ex-companheiros que, como ela, se desiludiram com o PT, e nos tucanos, também em crise de identidade, Marina defende que a campanha seja feita à base de ideias e programas. É uma boa proposta, mas resta saber qual será o seu programa. Temas delicados, como a reforma da Previdência, terão que ser debatidos, e certamente não são populares.

Reuters diz que, sem Lula, Marina e Ciro serão os maiores beneficiários

SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O PT manterá a estratégia de insistir na candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência e não tratará publicamente de possíveis alternativas enquanto houver chance de Lula entrar na disputa.

Na avaliação de analistas ouvidos pela Reuters, o partido seguirá nesta estratégia mesmo após a confirmação da condenação de Lula na segunda instância nesta semana para manter sua base mobilizada no discurso de que Lula e o PT são perseguidos, garantir a exposição midiática do partido e aumentar as chances de transferência de voto do ex-presidente ao nome alternativo que vier a ser lançado.

Contribui também para esta estratégia petista o fato de o partido não ter nomes competitivos para assumir de imediato a candidatura no lugar de Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto para o Palácio do Planalto nas eleições de outubro deste ano.

Para os analistas, caso confirmada a inelegibilidade de Lula, os maiores beneficiários de seus votos devem ser candidatos de centro-esquerda, como Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes, como já apontaram, aliás, pesquisas de intenção de voto em cenários com e sem a presença de Lula.

Vice-líder nas pesquisas, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que deverá se filiar ao PSL para disputar o Planalto, é visto pelos analistas como prejudicado pela ausência de Lula na eleição.

"Eleição sem Lula para o Bolsonaro é ruim, porque ele vai bater em quem?", disse Souza.

"O Bolsonaro só tem tijolos dentro da bolsa e para arremessar os tijolos ele precisa de uma vidraça. A única vidraça consistente é o Lula", acrescentou.

DISCURSO NÃO MUDA

"O discurso não é muito diferente deste que a gente está vendo agora, o de apontar o caráter político da decisão, é isso que eles vão seguir dizendo, apontar que foi uma vitória no tapetão, vamos dizer assim, e não admitir a possibilidade de Plano B enquanto não esgotar as possibilidades de recurso", disse o cientista político da Fundação Getulio Vargas Claudio Couto.

"Até onde a vista alcança, acho que segue essa mesma lógica daqui para frente... Se o Lula vier a ser preso, é possível que você tenha uma mudança nessa orientação."

Para Couto, os dois nomes que têm sido apontados como alternativas a Lula dentro do PT --do ex-governador da Bahia Jaques Wagner e do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad-- não têm "punch" para entrar na disputa presidencial para valer.

Ele avalia, ainda, que a alternativa mais pragmática para o PT seria o apoio da legenda a um candidato de outro partido, com Ciro Gomes (PDT) como nome mais provável, mas reconhece, ao mesmo tempo, que essa opção não é da tradição do PT.

Para o analista político e professor da Universidade Católica de Brasília Creomar de Souza, as eleições deste ano implicam para o PT a luta pela sobrevivência do partido, que já se enfraqueceu bastante na eleição municipal de 2016.

"O PT na verdade nessa eleição, em algum sentido, ele não joga apenas a questão do Lula. Ele joga a própria sobrevivência, porque o partido tem um risco de encolhimento muito grande", disse Souza, lembrando que o partido terá de tentar manter uma bancada federal grande, mesmo diante das dificuldades, diante de novas regras para as eleições seguintes à deste ano que limitam acesso a recursos como os fundos eleitoral e partidário.

"Dentro dessa estratégia, a saída que o PT encontrou foi construir uma narrativa baseada na ideia de que há um determinado grau de confronto, que o Lula é vítima de uma grande perseguição política, e de que o PT em algum sentido continua sendo o único partido que de fato compreende as necessidades da sociedade brasileira e, sobretudo, dos mais pobres", acrescentou.

A manutenção desse discurso serve também para manter uma intensa mobilização da base petista e ainda elevar as chances de Lula transferir seu capital eleitoral ao escolhido pelo PT para substituí-lo na disputa.

"A gente acha que a estratégia que o PT vai seguir é ir até o final com o Lula. Porque essa é a estratégia que mais maximiza a capacidade de transferência de votos dele", disse o analista sênior do Eurasia Group para o Brasil Silvio Cascione.

"Se o partido decide lançar um Plano B desde já, a capacidade de transferência de voto já fica prejudicada, o nome que for colocado em evidência já fica mais vulnerável para ataques. A expectativa nossa é que o PT siga enquanto puder com o Lula", acrescentou.

Nessa linha, lideranças petistas voltaram a reiterar que não existe Plano B e que Lula será o candidato da legenda em outubro.

Apesar da crescente probabilidade de Lula não poder disputar a eleição, lideranças partidárias afirmam acreditar na reversão da decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região que manteve a condenação de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro no caso envolvendo o tríplex no Guarujá (SP).

O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), disse que não tem plano B. "Nosso candidato lidera em todas as pesquisas, e é o melhor nome para o país. Aceitar uma hipótese de plano B é aceitar a criminalização do Lula e aceitar uma eleição fraudulenta", disse.

Pimenta ressaltou que a estratégia do partido é registrar a candidatura de Lula até o dia 15 de agosto e que nem sequer cogita pensar no fato de que o ex-presidente possa ser preso antes dessa data.

Os fantasmas do PT, por JOÃO DOMINGOS, no ESTADÃO

O medo de um fracasso do PT nas eleições de outubro está por trás da ameaça de radicalização de dirigentes do partido e das frases ditas por eles nos últimos dias com boa dose de fanfarronice. Gleisi Hoffmann, presidente do partido, afirmou que, para prender Lula, será preciso matar gente; o senador Lindbergh Farias (RJ) disse que não adianta lutar no campo institucional, que a luta tem de ser nas ruas, numa desobediência cidadã e civil; Luiz Marinho, presidente do PT de São Paulo, previu que o partido pode perder o controle sobre as massas, “já que Lula é uma liderança extremamente popular e está sendo brutalmente perseguido”. 

Gleisi e Lindbergh têm formação marxista-leninista. Caso os problemas de Lula com a Justiça resultassem na revolta das massas e nas condições para a revolução brasileira, já a estariam liderando. Mas não. Preferem insistir no dogma de que Lula é intocável para proferir discursos sectários. Como marxistas-leninistas deveriam se lembrar de que essa ciência política rejeita dogmas e abomina o sectarismo. 

Nem o PT nem os defensores de Lula que militam em outros partidos têm condição de reunir uma massa razoável para defender o ex-presidente. Segundo os organizadores da manifestação de quarta-feira, em Porto Alegre, no dia do julgamento do recurso de Lula pelo TRF-4, 70 mil pessoas compareceram ao ato. É muito pouco. E olha que quem organiza protestos costuma duplicar ou triplicar o número de presentes.

Recordemos os protestos de rua de 2013, que levaram, esses sim, mais de um milhão de pessoas para a Avenida Paulista, para ficar em São Paulo. A reação da presidente cassada Dilma Rousseff foi imediata. Ela convocou os governadores ao Palácio do Planalto e anunciou cinco eixos de reformas, um deles para combater a corrupção. De fato, em 2 de agosto de 2013, um mês e pouco depois da ocupação das ruas, Dilma sancionou a Lei 12.850/13, também conhecida como “Lei da Delação Premiada”. Essa lei, nem é preciso dizer, hoje é amaldiçoada por muita gente de vários partidos políticos, entre eles o PT.

As massas com as quais o PT conta são aquelas de sempre, em torno de movimentos sociais e sindicais bem organizados, como o MST e a CUT. Mesmo assim, insuficientes para fazer, por exemplo, uma greve geral. As últimas tentativas não deram certo, mesmo as que foram pensadas para combater as reformas trabalhista e da Previdência, bem objetivas. A adesão maior foi de funcionários públicos, onde está boa parte dos eleitores petistas. E greve geral sem que o transporte público seja paralisado não pode querer ser assim chamada. 

Quando os dirigentes petistas demonstram medo de enfrentar uma eleição sem Lula, eles estão cobertos de razão. Uma coisa é o PT com Lula. Outra, é o PT sem Lula. O teto de votos do ex-presidente hoje está entre 30% e 35%, enquanto que o do PT, sozinho, não passa de 20%. O que leva a um dilema: se Lula apoiar um petista para a disputa presidencial, esse candidato poderá chegar a 20%, o que pode ser insuficiente para a passagem ao segundo turno. Mas, se Lula apoiar alguém de outro partido, é provável que ele transfira para ele todos os votos do PT que, somados aos que o candidato teria em seu eleitorado próprio, poderá tornar o segundo turno possível. 

Só que essa fórmula pode dar certo para o candidato a presidente. Mas, de forma nenhuma, garantirá a eleição de grandes bancadas petistas para o Senado e para a Câmara. Quem vota em Lula, ou em algum nome que ele defender, não vota necessariamente em candidatos a deputado ou a senador do PT.

O culto à personalidade do morto

Por Claudir Franciatto, publicado pelo Instituto Liberal

Há quase 30 anos, um filme passou meio despercebido pelos cinemas brasileiros, e é injustamente desprezado até por cinéfilos. Trata-se de uma comédia muito inteligente e, quem conseguir assisti-lo atualmente pelo streaming, com certeza vai se divertir muito. Trata-se de Um Morto Muito Louco (Weekend at Bernie´s, 1989), dirigido por Ted Kotcheff, cujo roteiro nos permite acompanhar a aventura insólita de dois jovens. Interpretados com brilhantismo por Andrew McCarthy e Jonathan Silverman, eles são convidados para passar um fim de semana na suntuosa mansão de Bernie Lomax, seu chefe, na pele do ator Terry Kiser.

Bem, em resumo, Bernie é morto pela máfia quando eles estavam na casa e, ingênuos e assustados, com medo de levar a culpa, decidem simplesmente que seu anfitrião não morreu. Durante toda a história, eles mantêm o cadáver sob seu controle, como se o corpo ainda tivesse vida. Manipulam-no como uma marionete. É surreal e hilariante, pois ninguém percebe a construção burlesca e até cumprimentam Bernie que, sob a ação das hábeis mãos dos adolescentes, até responde com acenos da cabeça e das mãos.

Essa divertida comédia me veio à cabeça ontem, logo após a confirmação da condenação de Luiz Inácio Lula da Silva, em tribunal de segunda instância, por unanimidade dos votos dos magistrados. Isso torna sua prisão inevitável e garante sua iminente inelegibilidade. Sendo essa apenas a primeira das demais condenações que, indubitavelmente, surgirão na esteira das quase uma dezena de ações acusatórias que pesam sobre seus septuagenários ombros.

Ou seja, temos aí um morto, politicamente falando. Só que seu capital eleitoral – conquistado parte acidentalmente e parte por estratégia populista bem implementada -, que teimosamente fica ali na casa dos 30 por cento, faz dele um títere nos discursos dos petistas que insistem: o morto ainda está vivo. Fosse eu um chargista, desenharia Gleisi Hoffmann de um lado e Guilherme Boulos de outro tentando carregar o corpo e manter a farsa de um cadáver que anda, senta e ainda cumprimenta as pessoas.

Por falta de ideias que efetivamente se sustentem na prática, a esquerda brasileira transformou seus 13 anos de poder num atestado de fracasso. O conjunto de evidências probatórias não deixa a qualquer julgador outra escolha senão, por convicção indestrutível,  condenar Lula. Só não vê isso quem se envenena gravemente com a seiva da ideologia, como o caso do ex liberal Reinaldo Azevedo, gritante fantoche do juiz Gilmar Mendes. Quando aos militantes esquerdistas, só lhes resta o culto à personalidade. Eles só têm Lula. E Lula está morto. O fascismo, em qualquer que seja sua tonalidade ideológica, só sobrevive por algum tempo. E à base de dar ao seu líder o caráter messiânico e divinatório. A América Latina foi ensinada a esperar esse salvador. O eterno sebastianismo da cultura política patrimonialista de nosso continente.

Desde que Nikita Khrushchov, em 1956, denunciou os crimes de Stalin em seu chamado Discurso Secreto – mas cujo título oficial era Sobre o Culto à Personalidade – percebemos com mais clareza como esse vício totalitário vem se repetindo ao longo da história. Adolf Hitler, Benito Mussolini, Mao Tsé-Tung, Fidel Castro, Nicolae  Ceauşescu, Rafael Trujillo, Kim Il-sung e Kim Jong-il são apenas alguns exemplos, resvalando no “pai dos pobres” e amante do fascismo Getúlio Vargas.

Ainda hoje temos guardadas na retina as imagens do povo arrancando os quadros e estátuas de culto a Saddan Hussein. Numa outra obra cinematográfica que me vem à mente, Adeus, Lenin! (Good bye, Lenin!) um filme alemão de 2003 dirigido por Wolfgang Becker, um filho tem que esconder da mãe, na banda oriental do país, que o muro caiu, o socialismo acabou, e tenta distrai-la quando se vislumbra pela janela uma estátua de Lenin sendo carregada para se juntar aos entulhos do muro derrubado.

Por isso, nós liberais devemos estar atentos para relativizar a disputa pela presidência da República. Muito mais importantes serão as bancadas verdadeiramente liberais que conseguirmos alçar aos parlamentos em todos os níveis. A repetição dos discursos, a aprovação de matérias de interesse de uma sociedade mais livre, os debates entre liberais e conservadores mantendo a esquerda e suas ideias mesopotâmicas relegadas à inexpressividade que merecem.

O fato de ainda não termos um candidato à presidência é um ótimo sinal. Jamais cairemos na esparrela na qual estão metidos os fãs do concurso bolsonarista. Estão a um passo do culto à personalidade e, se a candidatura fracassar, só lhes restará copiar do PT com a farsa do “morto muito louco”.

Sobre o autor: Claudir Franciatto é jornalista e escritor.

O PT diante da esfinge, por DEMETRIO MAGNOLI, na FOLHA

A nota do PT, divulgada logo após a condenação unânime de Lula pelo TRF-4, caracteriza o resultado como "uma farsa judicial", fruto do "engajamento político-partidário de setores do sistema judicial, orquestrado pela Rede Globo", os "mesmos setores que promoveram o golpe do impeachment".

O partido compromete-se a "lutar em defesa da democracia", "principalmente nas ruas". Desde que nasceu, o PT equilibra-se sobre uma disjuntiva: partido da ruptura, para consumo interno; partido da ordem, para consumo externo. A tensão chega agora a um grau extremo, insustentável. Finalmente, diante da esfinge mítica, o PT terá que decifrar seu enigma existencial.

As democracias, com seus rituais eleitorais periódicos, tendem a expurgar os partidos da ruptura para as franjas do cenário político. Desde cedo, o PT circundou o túnel do isolamento, definindo-se como partido institucional. O discurso de ruptura, jamais descartado, retrocedeu à trincheira dos eventos de militância. A dualidade discursiva atingiu o ápice depois que Lula subiu a rampa do Planalto.

De um lado, o presidente congraçava-se com o alto empresariado e com os personagens icônicos da tradição patrimonialista nacional. De outro, os congressos do PT imprimiam resoluções cada vez mais radicais, pontuadas por termos como "elite" (e, logo, "elite branca"), "imperialismo" e "socialismo".

A loucura obedecia a um método: conservar o monopólio petista sobre a esquerda do espectro político. A estratégia funcionou eficientemente, salgando o solo no qual o PSOL tentou lançar suas sementes. Na hora do impeachment, a duplicidade adquiriu as tonalidades da hipocrisia escancarada, mas sobreviveu ao teste de fogo. A deposição legal de Dilma Rousseff foi declarada um "golpe" e o PT prometeu resistir nas ruas, eletrizando a base social de esquerda.

Na sequência, a alma institucional restaurou seu primado e o partido reinstituiu sua política de amplas alianças eleitorais, que inclui os "golpistas" do MDB e do "centrão". A militância engoliu em seco, assim como os intelectuais "companheiros de viagem". O partido da ordem conhece perfeitamente suas prioridades. A valsa, porém, não mais se repetirá.

A dupla alma petista organiza-se ao redor de Lula, o venerado caudilho que abraça tanto um Maduro quanto um Odebrecht.

A eliminação judicial da figura nuclear implode o instável equilíbrio do edifício partidário. Como substituir Lula na cédula presidencial sem destruir a mística que preserva o monopólio sobre a esquerda? Cabeça humana, corpo leonino, a esfinge encara o PT, exigindo uma resposta nítida: ordem ou ruptura?

Uma coisa é José Dirceu; outra, é Lula. O partido abandonou alegremente o primeiro, em nome do imperativo da ordem, que se identifica com a insaciável ambição de poder do segundo -e com as valiosas carreiras políticas dos quadros petistas. O segundo, contudo, confunde-se com o próprio partido -ou, na linguagem lulista, com nada menos que o "povo brasileiro".

O manual do marketing eleitoral reza que o nome de Lula deve permanecer numa cédula fictícia, aureolado pela denúncia da "farsa judicial", até o momento derradeiro da substituição inevitável. Mas como fazer a transição do discurso da ruptura ao da ordem, entregando o cetro a um Jaques Wagner (ou, pior, a um Ciro Gomes), sem
fragmentar o campo da esquerda?

O espectro da prisão de Lula complica ainda mais o artifício. No rastro do impeachment, Guilherme Boulos cumpriu, como culpado útil, a missão teatral de incendiar a militância de esquerda, arando o terreno para a reinstalação do discurso lulista da ordem eleitoral.

Agora, junto com o PSOL tem a oportunidade de deflagrar sua campanha presidencial combatendo "nas ruas" a "farsa judicial" dos "golpistas de sempre".

Depois de Lula, o PT não pode mais enganar a si mesmo. É a hora da esfinge. 

Com a estrela na lapela - e condenado a 12 anos e 1 mes

Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal

Não posso deixar de dividir com os leitores do IL minha satisfação com o julgamento do recurso do ex-presidente, mandatário, monarca extra-oficial do Brasil e baluarte da baixeza atrevida Luiz Inácio Lula da Silva, no TRF-4 que, pelo placar unânime de 3 x 0, confirmou a sentença contra ele em segunda instância e aumentou sua pena para doze anos.

Cresci assistindo a esse senhor transitar da quase unanimidade nacional à execração, depois do processo de devastação do país que comandou. Desde que me entendo por cidadão minimamente consciente, não me recordo de um Brasil em que sua figura não tenha sido protagonista. Desde o começo, porém, um protagonista infame, imoral e inescrupuloso, cuja única proposta é estabelecer um império criminoso do bolivarianismo na América Latina sob patrocínio da cleptocracia lulopetista brasileira.

Tivemos um lamentável histórico de larápios e populistas que conseguiram escapar das teias da justiça humana – um deles, inclusive, um ditador que não sofreu qualquer castigo pela sua tirania e, pela via do suicídio, imortalizou-se como falso herói, deixando seus apaniguados e herdeiros em posição privilegiada para se manterem no poder. Desta vez, a história há de ser diferente e o Brasil decente há de triunfar.

Neste capítulo de decadência de sua aventura maligna – e glorioso para a sociedade brasileira em seu esforço por fazer com que a lei, nada mais do que a lei, seja para todos -, Lula teve seu estilo político perfeitamente diagnosticado pelos desembargadores, ainda que seu mérito fosse a questão específica do tríplex e não toda a abrangência do assalto lulopetista à pátria.

Leandro Paulsen, por exemplo, asseverou que “a eleição e assunção ao cargo não põem o eleito acima do bem e do mal, não lhe permitem buscar fins nem agir por meios que não sejam os legais”. Justíssimo. Porém, o que mais nos chamou a atenção foi a declaração do desembargador Victor Luiz dos Santos Laus:

“Sua Excelência (Lula), em algum momento, perdeu o rumo, passou a confundir suas atribuições de primeiro mandatário talvez com aquelas que no passado lhe conferiam as de presidente partidário”.

Em primeiro lugar, importa deixar claro que, em verdade, Lula não “perdeu rumo” nenhum. Esta é a sua natureza e a de seus próceres, sem que tenha havido qualquer desvio. Sua substância corrupta e totalitária é-lhes inerente ao projeto que desenvolveram e implantaram. Contudo, Laus tem toda razão ao frisar que Lula e sua gente nunca pretenderam representar a nacionalidade. O partido, os “movimentos sociais”, o “exército da estrela vermelha”, são o único “povo” que verdadeiramente importa, não o brasileiro. Essa separação nunca entrou na cabeça do ex-presidente.

Felicitei-me em recordar um dos primeiríssimos artigos que publiquei neste Instituto Liberal, na tentativa de participar, de alguma forma, ainda que modesta, desses esforços por construir um Brasil melhor e arejar as ideias circulantes. O título era justamente “A estrela na lapela”, no não tão distante 2014. De lá para cá, nada mudou nesse aspecto, a ponto de o mesmo conceito aparecer hoje no julgamento.

Contei naquele texto algo que li no livro 18 dias, de autoria de Matias Spektor. Relembro: “O que nos interessa é um fato curioso que Spektor afirma ter acontecido na reunião da equipe diplomática da presidência dos EUA. Bush teria se virado para o assessor de assuntos latino-americanos, John Maisto, e indagado: ‘E aquela estrela vermelha? Você viu aquilo na lapela dele (de Lula)?’, perguntou o presidente a Maisto. ‘É o emblema do partido’, respondeu o assessor. ‘Eu sei que é o emblema do partido!’, exclamou Bush. ‘Mas agora ele é o presidente do Brasil, não do partido’.”

A percepção algo óbvia de Bush, para Lula e os petistas, longe está da obviedade – e nisso reside a nossa tragédia. Disse à época, e tomo a liberdade de repetir: “A estrela vermelha na lapela é um detalhe muito pequeno? Podemos concordar em responder afirmativamente. Mas insignificante? Jamais. Pouco importa o que achemos de Bush, o questionamento que ele fez é provavelmente a mais perfeita síntese da confusão original de nossa esquerda mais canhota (…).

Eles não são capazes de distinguir seu partido, seu grupo, seu ‘coletivo’, da nação – ou melhor, da sociedade. Não compreendem a diversidade do povo, não a toleram, não concebem a discussão e a divergência de opiniões. A sociedade é o partido, a sociedade é a ideologia – e por esse símbolo de um sonho irrealizável, instrumentalizado pela corrupção e pelos interesses pessoais das lideranças, mas nutrido sinceramente pelos ‘idiotas úteis’, tudo vale. Mais por ele que pela bandeira nacional.”

Continua valendo tudo. Agora, Guilherme Boulos grasna ao microfone que seu pessoal vai “incendiar” e “ir para cima” se “pensarem em colocar um dedo” no condenado pela justiça. Gleisi Hoffman fala em ser necessário “matar gente” para prendê-lo. José Dirceu, em substituir palavra por revolta nas ruas. Emídio de Souza, tesoureiro do PT, em pressionar a justiça para que ela, por medo, seja “comedida”. As coisas só pioraram na retórica agora que, desprovidos do controle direto do Executivo e prestes a ver seu último grande símbolo retirado de cena, eles estão ganindo de desespero e querem fazer o cidadão de bem de refém.

Como eles dizem, não passarão. A justiça não foi “comedida”. A lei se impõe. A estrela na lapela está agora condenada – condenada pela lei, condenada pela História. Porém, quanto a esta última condenação, ainda cabe recurso relevante. Quem controlar a narrativa terá a vitória. Por isso, enquanto celebramos o grande triunfo deste 24 de janeiro, precisamos lembrar que ainda temos muito trabalho pela frente. Primeiro, para desfraldar a bandeira dos fatos e não cessar de dizer quem realmente é Luiz Inácio Lula da Silva. Enfatizo: o vilão não pode ser lembrado como herói, como outros o foram. Para cada livro que escreverem difundindo a mentira, precisamos escrever muitos mais documentando a verdade.

Segundo, para demonstrar, pela renovação de mentalidade e de práticas, as qualidades da alternativa que oferecemos para o Brasil. Como concluí naquele artigo, “Bush poderia ter visto apenas uma estrela na lapela. Viu mais, decerto sem saber; viu um símbolo profético de um futuro cujo peso sentimos agora. Mais do que tirar a estrela da lapela, hoje é preciso cortar o elo que a mescla criminosamente com o Estado e, principalmente, com o monopólio de toda a virtude”.

Lula, se não acrescentar novo capítulo à sua vergonha fugindo para algum país chefiado por alguma ditadura camarada, irá para a cadeia. A batalha política e simbólica não há de cessar. Porém, agora estamos aqui. Impedimos, com o impeachment de Dilma, que o Brasil se transformasse em uma ditadura como a Venezuela. Não nos esqueçamos do poder que nós temos – essa é a lição mais importante que tiramos no dia de hoje e devemos, cada um de nós, levar para o resto da vida.

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Fonte:
Reuters/Estadão/Folha/GazetadoPo

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1 comentário

  • Alexandre Carvalho Venda Nova do Imigrante - ES

    Isso é sério? Ciro Gomes e Marina Silva serão beneficiados com a impugnação da candidatura do molusco? Agora - para angariar eleitores - Marina Silva "defende" a impugnação da candidatura do Lula caso sua sentença seja confirmada, após os embargos de declaração. Pessoal: temos que não reeleger ninguém que está aí no poder há anos não fazendo nada, só prometendo e não tendo o compromisso de cumprir! Fora essa corja de bandidos de colarinho branco! Fora políticos de carreira!

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