EUA vão cobrar tarifas sobre mais US$ 200 bi em importações chinesas

Publicado em 10/07/2018 20:48
Reuters/Estadão

WASHINGTON - O governo americano anunciou nesta terça-feira que começou a definir uma lista de US$ 200 bilhões em produtos de exportação chineses que começarão a ser tarifados, possivelmente, a partir de setembro, depois que esforços para negociar uma solução para a disputa comercial não resultaram em um acordo.

Segundo a Reuters, o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, disse que os Estados Unidos vão impor tarifas de 10 por cento sobre outras importações chinesas. Lighthizer disse que a medida é uma resposta à imposição de tarifas da China sobre US$ 34 bilhões de produtos exportados pelos EUA e às ameaças de tarifas sobre outros US$ 16 bilhões.

"Isso foi feito sem qualquer base legal ou justificativa internacional", disse  Lighthizer em comunicado, de acordo com o Financial Times.

O Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) divulgou a proposta de tarifar 6.031 tipos de produtos da China em 10%. A lista inclui produtos agropecuários, materiais de construção, mineração, componentes de bens de consumo. Segundo o USTR, o processo de seleção de bens chineses levou em conta prováveis impactos sobre consumidores dos EUA.

A proposta de sobretarifação de 10% é mais um capítulo da guerra comercial entre os dois países. No dia 18 de junho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já havia anunciado que havia pedido ao USTR que identificasse US$ 200 bilhões em produtos chineses a serem alvo dessa barreira. Naquela madrugada, a China passou a classificar a briga tarifária como "guerra comercial".

A divulgação da lista de produtos ocorre cinco dias depois das tarifas de 25% sobre US$ 50 bilhões em produtos da China serem efetivadas sobre importadores americanos. O prazo final de contestações da proposta de nova barreira pelos empresários termina em 30 de agosto.

As compras desses bens pelos importadores americanos somam US$ 200 bilhões anuais. A ação seria a mais recente na escalada de disputas entre as duas maiores economias do mundo. 

Trump disse na semana passada que os Estados Unidos podem impor tarifas sobre até 500 bilhões de dólares em importações chinesas - grosso modo o valor total de importações da China pelos EUA no ano passado.

Etapas

Nas contas de Trump, o total de barreiras contra produtos chineses pode chegar a US$ 550 bilhões. No início do ano, foram implementadas tarifas sobre máquinas de lavar e painéis solares, que tiveram a China como um dos principais alvos. Além disso, entre março e maio, o aço e o alumínio chineses também foram tarifados pelos Estados Unidos.

Pequim respondeu impondo barreiras a produtos americanas e, com isso, o governo americano anunciou, no mês passado, que colocaria tarifa de 10% sobre mais US$ 200 bilhões em produtos chineses que ainda seriam especificados. Trump ainda ameaçou: “Se nos retaliarem de novo, mais US$ 200 bilhões seriam tarifados”. O presidente cumpriu a ameaça com o anúncio feito ontem.

Autoridades dos EUA disseram que a “guerra comercial” tem o objetivo de forçar a China a parar de roubar propriedade intelectual americana e abandonar políticas comerciais que efetivamente forçam as companhias americanas a entregarem seus segredos comerciais em troca da abertura do mercado chinês. “Essas práticas são uma ameaça ao futuro da nossa economia”, diz Lighthizer. 

O USTR informou que vai aceitar comentários públicos e fará também consultas públicas sobre a medida até 20 e 23 de agosto antes de tomar uma decisão final no dia 31, segundo um funcionário sênior que falou sob a condição de anonimato.

Membros do Congresso americano têm questionado a política comercial agressiva de Trump, advertindo que impor tarifas às importações eleva os preços para os consumidores americanos e deixa produtores agrícolas e indústrias expostas a retaliações. “O anúncio de hoje (ontem) é imprudente”, disse o presidente de Finanças do Senado, Orrin Hatch. “Não podemos fechar os olhos para as práticas mercantilistas da China, mas esta ação fica aquém de uma estratégia que dará à administração dos Estados Unidos alavancagem nas negociações com a China para manter a longo prazo a saúde e a prosperidade da economia americana.” 

Resposta

Pequim prometeu responder a qualquer ação comercial dos Estados Unidos. Mas a China só comprou cerca de US$ 135 bilhões em bens americanos no ano passado, o que significa que os produtos americanos não devem ser tarifados antes do último movimento de Trump. Espera-se que as autoridades chinesas retaliem de outras formas, atingindo empresas americanas na China com inspeções não planejadas, atrasos na aprovação de transações financeiras e outras dores de cabeça administrativas.

“O governo Trump está apostando que forçará a China a recuar”, disse Edward Alden, membro sênior do Conselho de Relações Exteriores. “Isso é quase certamente um grave erro de cálculo. A China é muito mais propensa a encontrar outras maneiras de reagir da mesma maneira.” / (Mais informações no jornal O Estado de S. Paulo).

Oficial da ONU alerta para os riscos das sanções unilaterais feitas pelos EUA, diz CRI (agência de rádio internacional da China)

No domingo o CRI, serviço de rádio internacional do governo chines, trouxe informações sobre retaliação

"As sanções unilaterais dos Estados Unidos contra outros parceiros comerciais poderão resultar em consequências graves, sendo um ato imprudente. A afirmação foi feita nesta segunda-feira (7) pelo oficial responsável pelos assuntos econômicos da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Liang Guoyong, ao conceder uma entrevista à agência de notícias chinesa Xinhua.

O mecanismo multilateral, que tem como núcleo a Organização Mundial do Comércio, já fornece um espaço adequado para as remediações e resoluções das disputas comerciais. As sanções comerciais contra outros países com base no direito interno são unilaterais e injustas, o que viola as regras internacionais.

Liang Guoyong advertiu que as sanções comerciais dos EUA poderão abalar a base do mecanismo multilateral e causar maiores divergências" (CRI)..

EDITORIAL da CRI

"A China espera que nenhum país atire “flechas” pelas costas"

Desde este mês de julho, a guerra comercial lançada pelo governo de Trump tem causado não raramente forte oposição de um grande número de países. A China foi forçada, a partir do dia 6 deste mês, a impor tarifas sobre produtos dos EUA no valor de US$ 34 bilhões, depois de o Canadá também ter aplicado tarifas sobre bens norte-americanos em um valor de US$ 12,6 bilhões e o México ter lançado sua segunda rodada de combate à política tarifária dos EUA. No mesmo dia, a Rússia anunciou que vai impor tarifas sobre alguns bens norte-americanos.

Prevê-se que mais países serão envolvidos nesta guerra comercial que se refere aos interesses de todos os países do mundo. Sob este contexto, as pessoas que aplicam a “política de apaziguamento” devem ser cautelosas, uma vez que sua ação provocará a perda de seus interesses.

De acordo com dados sobre o emprego em junho, divulgados no dia 6 deste mês pelos EUA, o país adicionou um total de 210,3 mil postos de trabalho. O setor de manufatura foi o que mais contratou. Trump afirmou no mesmo dia que todos os países esperam alcançar um acordo com os EUA, pelo qual as questões pertinentes serão resolvidas. Alguns avaliam que o país será o ganhador desta guerra, mas isso seria realmente a verdade?

Assim como ocorre em muitas situações no mundo, com o passar do tempo, as pessoas se esquecem do motivo original que levou à ação. Portanto, é possível que elas se esqueçam de quem realmente começou essa guerra comercial. Porém, às vezes é necessário que as pessoas mantenham um assunto na memória, mesmo que representem um “rancor” necessário.

Esta guerra foi lançada pelos EUA. Tanto Canadá e México quanto a China têm a mesma força na oposição ao comportamento norte-americano. “Guardar rancor” não significa recusar a reconciliação, mas sim que a situação precisa ser resolvida por aquele que deu início ao problema.

Não existem “transeuntes” e “espectadores” nesta guerra comercial. Cada pessoa envolvida é protagonista e combatente. A agência japonesa Nikkei Asian Review publicou no dia 7 um comentário, lembrando que a guerra comercial lançada pelo presidente norte-americano Edgar Hoover deixou uma lição histórica. Em 1930, ele ignorou a oposição de mais de mil economistas e impôs tarifas sobre produtos importados de outros países, levando países europeus a adotarem medidas de oposição.

O artigo japonês adverte que a guerra comercial levará a economia global a entrar em recessão, e conclama os países em desenvolvimento a persuadir o governo de Trump a reconhecer a importância do sistema de livre comércio. O texto também pede que empresas do Japão e da Europa cooperem com as dos EUA para se oporem à política de protecionismo do governo de Trump.

O chanceler chinês, Wang Yi, afirmou no dia 5 de julho, em uma coletiva de imprensa, que a resistência da China ao protecionismo comercial visa não apenas salvaguardar seus interesses, como também manter o benefício comum de todos os países do mundo, incluindo os da União Europeia.

A China espera que nenhum país atire “flechas” pelas costas. No contexto da globalização, a guerra comercial foi lançada por um lado, e as outras partes devem assumir juntas suas responsabilidades. Assim, serão capazes de persistir no princípio de benefício comum, esforçando-se pela redução do impacto do unilateralismo e do protecionismo sobre a recuperação e o desenvolvimento econômico mundial.

 

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Fonte:
Reuters/NA/Estadão

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2 comentários

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Veja como os fatos são contrários às ações dos governantes... Nesta data o jornal Xinhua coloca em manchete a notícia que a Tesla, fabricante de carros elétricos norte americana, vai construir uma fábrica na cidade de Xangai. Segundo o acordo, com o governo municipal de Xangai, a fábrica terá uma capacidade de produzir 500.000 carros elétricos por ano.

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  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Vou fazer uma comparação lúdica...

    Imagine uma arena onde existem 193 bichos, o mesmo número de países do mundo. Fazendo uma distribuição aleatória, onde os bichos escolhidos é, mais ou menos equivalente à realidade de importância no mundo global; 100 são pequenos camundongos, 50 são gatos, 30 são cachorros, 11 são lobos e DOIS são leões (acho que a "soma" dá os 193?). Em um certo momento esses DOIS leões começam uma luta de vida ou morte.

    Imagine, nessa arena não tem meio de fuga, ou seja, TODOS, os bichos são obrigados a se manterem no local onde a luta se desenrola. Imagine quantas patadas e mordidas erradas que vão acontecer no desenrolar dessa luta. Qual será a matança dos bichos menores? Quantos vão ficar aleijados pelos golpes recebidos sem querer?

    É "senhores" a globalização veio para ficar! Só nos resta perguntar, quantos ficarão para contar a estória?

    Na (péssima) visão de um velho matuto: Os EUA tentam usar o seu poder de maior consumidor mundial, para evitar que a China se torne um país de alta renda, aplicando tarifas "extras" em seus produtos comercializados com seu país. São os DOIS leões da arena.

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