FHC diz que porta para Haddad enferrujou; petista diz que história cobra

Publicado em 17/10/2018 21:53

SÃO PAULO (Reuters) - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta quarta-feira que a porta para o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, enferrujou, e o petista rebateu afirmando que a história cobrará esse posicionamento.

"A história nos cobra pelos nossos posicionamentos, nem sempre à vista, às vezes a prazo", disse Haddad a jornalistas após evento com lideranças evangélicas ao ser questionado sobre a declaração de Fernando Henrique.

O petista disse que muitos democratas se manifestaram em favor de sua candidatura, inclusive alguns ex-ministros do tucano.

"Nem todos vão atuar da maneira como eu gostaria, como eu sugeriria para uma pessoa com a formação que ele tem", afirmou Haddad, acrescentando que o PSDB traiu o seu próprio candidato presidencial, Geraldo Alckmin, já no primeiro turno.

Mais cedo, Fernando Henrique, que é presidente de honra do PSDB e governou o país entre 1995 e 2002, disse a jornalista que "a porta está enferrujada e acho que a fechadura enguiçou".

"Acho que a população hoje, cada um, vota à vontade. O peso que os partidos, os líderes possam ter é relativo. Acho que as pessoas estão tomando posição independentemente de apoiar, deixar de apoiar, e é muito difícil tomar uma decisão neste momento diferente de dizer: 'olha, cada um vai fazer o que achar melhor'. Vai coincidir com o que eu penso? Não sei, acho que não", completou.

Em entrevista publicada no último domingo, o tucano disse que havia uma porta para conversar com Haddad no segundo turno da eleição presidencial, enquanto com o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, havia um muro.

Indagado sobre a criação de uma frente democrática a favor de Haddad, ideia que foi defendida pela campanha petista, Fernando Henrique fez a avaliação de que os eleitores não votam mais em frentes. Ressaltou, no entanto, que quem quer que vença a eleição no dia 28 de outubro, será necessária uma coesão nacional.

"Depois que (a porta) emperra fica difícil. Você fica pensando 'meu Deus, por que agora?'", disse o tucano, que é alvo histórico de críticas do PT, que o sucedeu na Presidência com Luiz Inácio Lula da Silva, atualmente preso em Curitiba cumprindo pena por corrupção e lavagem de dinheiro.

"Ganhe quem ganhar --é aquilo que eu disse aqui-- o Brasil vai precisar de coesão. Não dá para governar meio a meio, você precisa ter algo em comum. Aí sim, nós vamos ter que ter portas abertas para poder conversar e avançar juntos", disse o tucano.

Em evento com evangélicos, Haddad sinaliza que deixará "temas sensíveis" para Congresso

SÃO PAULO (Reuters) - O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, sinalizou nesta terça-feira que deixará "temas sensíveis", como aborto e descriminalização das drogas, para o Congresso e disse que o Executivo deve respeitar os valores das pessoas.

"O Poder Executivo tem limitações que devem ser respeitadas. Um presidente não pode ser eleito para impor o seu ponto de vista sobre as coisas", afirmou Haddad durante um encontro com lideranças evangélicas em São Paulo.

Segundo o petista, houve um amadurecimento em torno destes temas relevantes e o "Executivo tem que ter a sabedoria de respeitar os valores das pessoas e garantir que esses valores possam ser expressados".

"O presidente não pode tudo e uma das coisas que ele não pode é impor valores, quaisquer que sejam. Ele tem que efetivamente criar as condições para que a sociedade discuta, se aprimore, se desenvolva e que abrace os melhores valores e melhores princípios", disse o candidato.

Haddad, que se apresentou como cristão e neto de um líder religioso libanês, recebeu de representantes de igrejas presentes cartas que oficializaram o apoio à candidatura.

Antes do início do encontro, o PT divulgou nas redes sociais uma carta de Haddad ao povo evangélico, na qual diz que, para chegar aos segundo turno, teve de superar uma campanha baseada em mentiras, preconceitos e especulações.

Na carta, que traz versículos bíblicos, e em sua fala à plateia de religiosos, Haddad disse que é preciso combater a mentira e afastou boatos plantados contra sua candidatura, dizendo que essa estratégia é usada contra o PT há muitos anos.

"Esses boatos, rumores, atravessaram uma arena em que não é possível debater, não é possível discutir e muitas vezes a Justiça demora a acontecer, porque nem o TSE tem os mecanismos para conter essa onda difamatória que está sendo feita nas redes sociais", disse Haddad.

AMAZÔNIA

Haddad disse que, caso seu adversário na corrida pelo Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro (PSL), seja eleito, será o começo do fim da Amazônia.

"Todos os especialistas em meio ambiente dizem que o meu adversário tem uma proposta que compromete a sustentabilidade da Amazônia", afirmou Haddad

"Não tem nenhum compromisso com os protocolos assumidos pelo Brasil, no ponto de vista da sustentabilidade. As metas acordadas pelo Brasil ele já disse que não vai cumprir e ele está fazendo um acordo com a pior parte do agronegócio", disse Haddad sobre seu adversário.

O programa do PT, segundo ele, está muito bem posicionado com relação ao meio ambiente e sua proposta para a Amazônia é atingir o desmatamento zero por meio da regulação da terra.

Depois de criticar PT, Cid Gomes grava vídeo de apoio a Haddad

BRASÍLIA (Reuters) - Depois de criticar duramente o PT em um evento em Fortaleza, no domingo, o senador eleito pelo Ceará Cid Gomes, irmão do ex-presidenciável do PDT, Ciro Gomes, distribuiu nessa quarta-feira um vídeo pelas redes sociais defendendo o voto no candidato petista, Fernando Haddad.

"Com tudo o que penso e diante de tudo que falei, não é correto o que fez o outro candidato usando imagens minhas editadas sem minha autorização. Que não fique nenhuma dúvida: neste segundo turno, Haddad é o melhor para o Brasil. Votarei no Haddad no dia 28", diz o vídeo de menos de 30 segundos que Cid distribuiu em suas redes sociais.

Na segunda à noite, em um ato em defesa da candidatura de Haddad, Cid Gomes foi convidado a falar e disse que apoiava e gostava de Haddad, mas o PT deveria fazer um mea culpa e "admitir as besteiras que fez". Provocado por um militante, que negou a necessidade de uma admissão de culpa, Cid se irritou e subiu o tom.

"Isso é o PT, e o PT desse jeito merece perder, pra rimar, só pra rimar. Babaca, vai perder a eleição. É isso aí, é esse sentimento que vai perder a eleição", respondeu.

O candidato adversário, Jair Bolsonaro (PSL), aproveitou a fala de Cid e a colocou já na terça em seu programa eleitoral. A campanha de Ciro Gomes entrou no Tribunal Superior Eleitoral pedindo a retirada, mas os vídeos já foram usados diversas vezes.

A fala de Cid foi tratada pelo PT como o enterro da ideia de que seria possível, como Haddad gostaria, formar uma frente democrática contra Bolsonaro, obtendo um apoio amplo. Haddad gostaria de ver Ciro Gomes em seu palanque, mas o ex-candidato do PDT viajou para o exterior.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que chegou a dizer que haveria "uma porta" para Haddad, afirmou nesta quarta que a porta enferrujou e que a fechadura enguiçou.

Em entrevista, Haddad admitiu a decepção. "Nem todos vão atuar da maneira como eu gostaria, como eu sugeriria para uma pessoa com a formação que ele tem", disse, referindo-se a FHC.

"A história nos cobra pelos nossos posicionamentos, nem sempre à vista, às vezes a prazo", acrescentou. [nL2N1WX1GD]

A dificuldade de obter apoios concretos de outros partidos e personalidades de peso na política deixaram o comando da campanha de Haddad em busca de um rumo para os próximos 10 dias, até a data do segundo turno da eleição. O candidato tem centrado sua busca de apoio em grupos específicos da sociedade, como sindicalistas, professores, artistas.

Haddad volta ao Nordeste para tentar recuperar otimismo, mas campanha admite crise de ideias para bater Bolsonaro

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - Depois de duas semanas concentrado em São Paulo, em entrevistas e atos fechados, o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, vai voltar às ruas este final de semana, em uma viagem ao Nordeste, para tentar recuperar o otimismo que desapareceu da campanha nos últimos dias e dar um rumo à campanha, que passa por uma crise de identidade.

Fontes ouvidas pela Reuters admitem que, depois do fracasso da criação de uma frente democrática em torno de Haddad, o comando da campanha ainda tenta encontrar um rumo para reverter a enorme distância entre Haddad e seu adversário no segundo turno, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro.

Pesquisa Ibope divulgada na segunda-feira mostrou o presidenciável do PSL com 59 por cento dos votos válidos, contra 41 por cento do petista.

A volta ao Nordeste, onde Haddad teve quase todas suas vitórias no primeiro turno, atende a um pedido dos governadores e senadores eleitos na região. No sábado e domingo, Haddad deve ir a Juazeiro do Norte (CE), São Luiz, Teresina, Natal e Recife. Na sexta, irá ao Rio de Janeiro.

A ideia é trazer de volta o tom das ruas à campanha, e o otimismo de reunir centenas ou milhares de apoiadores em eventos, o que o PT não tem mais feito. De acordo com o senador Humberto Costa, ainda há votos a serem recuperados na região, de pessoas que se abstiveram, de candidatos que não estão mais concorrendo, e até de eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que podem não ter identificado Haddad como seu candidato no primeiro turno.

"Tem que voltar ao Nordeste, até como defensiva. Temos que reagir e a reação se faz primeiro com os teus, com o núcleo duro da militância para dar moral à tropa. Não vai se fazer isso só pela TV", disse à Reuters uma fonte que acompanha as conversas internas a campanha. "Em parte tem que fazer o que fez ontem, com a Frente Brasil Popular, e com o Nordeste, onde tem a força. Tem que partir de onde tem esse núcleo duro de apoio."

A ideia de que Haddad deveria viajar menos nesse segundo turno foi dada pelo senador eleito Jaques Wagner, que se associou ao comando da campanha depois do primeiro turno.

Wagner avaliava que Haddad deveria se concentrar em gravar programas, dar entrevistas e fazer conversas políticas para a formação de uma frente democrática, já que o segundo turno é curto --menos de três semanas-- e viagens tomam tempo. A estratégia, no entanto, não deu certo.

DIVISÕES

Fontes ouvidas pela Reuters admitem que o clima interno na campanha não é bom e não há um rumo claro do que deve ser feito. Troca de acusações sobre o fracasso dos números, que mantém Haddad muito atrás de Bolsonaro, já começaram.

"A verdade é que hoje não se sabe o que fazer. Precisaria de um fato extraordinário, mas não se sabe de onde viria isso", disse uma das fontes.

Outra fonte avalia que o partido errou ao tentar compor uma frente democrática contra Bolsonaro impondo um clima de obrigação de apoio a Haddad.

"A ideia de uma frente democrática ficou desgastada e foi incorretamente conduzida. Não podemos assediar moralmente ninguém para ter que provar que é democrata", disse a fonte. "Acabaram transformando a pauta democrática em uma pauta negativa para nós, uma coisa um pouco prepotente."

Fontes lembram as declarações da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, afirmando que quem fosse democrata tinha a obrigação de apoiar Haddad. A fala foi vista como míope por aliados, afirmações que não consideravam a resistência ao PT que existe na sociedade.

"A verdade é que se fecharam em copas, um pequeno grupo excluindo todos os outros, e isso dificulta qualquer colaboração", disse uma das fontes.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
Reuters

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário