Dólar fecha em alta em sessão de grande volatilidade; sobe 1,73% na semana

Publicado em 15/05/2020 17:14 e atualizado em 17/05/2020 04:30

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Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar mais uma vez teve uma sessão de intensa volatilidade no mercado brasileiro, fechando em alta moderada nesta sexta-feira depois de oscilar entre firmes perdas e ganhos, evidência do grau de incerteza do mercado sobre o cenário para o país. A cotação voltou a subir na semana.

A moeda negociada no mercado à vista encerrou o dia em alta de 0,33%, a 5,8392 reais na venda. A moeda oscilou entre valorização de 0,86% (para 5,8700 reais) e queda de 1,03% (a 5,7600 reais), num pregão sem intervenções do Banco Central.

Na B3, o dólar futuro mostrava acréscimo de 0,49%, a 5,8530 reais, às 17h10.

O dólar chegou a esboçar queda mais cedo, especialmente entre 10h e 11h, mas as mínimas perto de 5,76 atraíram compras.

A divisa encontrou fôlego adicional por volta de 12h, logo após o Ministério da Saúde comunicar que Nelson Teich havia pedido demissão do cargo de ministro, menos de um mês após assumir a pasta e na segunda troca de comando do ministério em meio ao avanço da pandemia do novo coronavírus pelo país.

Analistas citam com frequência que uma virada positiva para o real só tende a acontecer quando a economia começar a dar sinais de melhora. Contudo, a escalada da disseminação do coronavírus no país e o imbróglio político em Brasília têm afastado cada vez mais esse cenário, o que mina a expectativa de fluxo cambial --ou seja, prejudicando o cenário para ingresso de dólares.

"A retomada da economia, ao nosso ver, segue condicionada à redução do número de novos casos de Covid-19 e de mortes associadas à doença, e incertezas sobre imunização e disseminação do vírus devem seguir presentes na ausência de medicação ou vacina eficazes", disse o Bradesco em nota.

Na semana, o dólar subiu 1,73%. A moeda norte-americana avança 7,38% em maio e dispara 45,51% em 2020. O real tem o pior desempenho no ano entre as principais moedas globais.

Gráfico: Variação percentual do real ante dólar e do índice MSCI de moedas emergentes em 2020:

"As incertezas sobre as economias local e internacional e a redução do diferencial de juros são alguns dos elementos que ajudam a explicar a desvalorização da nossa moeda em relação ao dólar, mais forte que a dos pares", completou o Bradesco.

A alta do dólar nesta sessão também teve respaldo do exterior, onde prevaleceram novas preocupações sobre os rumos da pandemia e aumentadas tensões comerciais entre EUA e China.

No fim da tarde, o dólar subia contra a maior parte de seus principais rivais, com destaque para os ganhos frente à divisa neozelandesa, à libra esterlina e ao rand sul-africano.

Dólar tem nova alta com Teich e exterior e vai a R$ 5,83 - Estadão

O pedido de demissão do ministro da Saúde, Nelson Teich, e a nova rodada de indicadores ruins, principalmente nos Estados Unidos, que registrou em abril a pior queda da história nas vendas do varejo, provocaram um dia de volatilidade no câmbio. O dólar acabou fechando a sexta-feira, 15, com valorização e acumulou alta de 1,70% na semana, terminando o dia em R$ 5,8390.

Pela manhã, a moeda americana caía e chegou, na mínima, a recuar para R$ 5,76. Com a saída de Teich, que aumentou a já grande incerteza política no País, o dólar passou a subir. No mês, a moeda acumula valorização de 7,36% e no ano, de 45%, com o real registrando o pior desempenho internacional ante a moeda americana nos dois períodos.

Um dos temores dos agentes é que o crescente risco político dificulte ainda mais a retomada da fraca atividade econômica. Hoje, o Banco Central divulgou que o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) teve queda 5,90% no mês passado, quando os efeitos da covid-19 sobre a economia se intensificaram. .

"É difícil ver o risco político diminuindo no curto prazo", avalia o economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson, ao falar da saída de Teich. Para ele, o ministro sai em meio à visão "amplamente criticada" de Bolsonaro sobre como lidar com a pandemia do coronavírus.

Neste ambiente, Jakcson ressalta que os ativos locais acabam embutindo um prêmio pela turbulência política. Além da saída de Teich, continua a causar cautela nas mesas de operação o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril. "Preocupações sobre a crise política não param de crescer", acrescenta Jackson. A Capital Economics projeta queda de 5,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil este ano.

Para a consultoria americana de risco político Eurasia, a saída de Teich vai aumentar a percepção na opinião pública de má gestão do Planalto da crise do coronavírus. Do ponto de vista político, os níveis de aprovação do governo podem ser muito mais afetados pelo colapso do sistema de saúde do que pela investigação de interferência política na Polícia Federal, afirmam os analistas de Brasil da consultoria. "A demissão de Teich reforça nossa visão de riscos crescentes vindos da fraca resposta do governo à pandemia."

No exterior, o dólar subiu ante a maioria dos emergentes, após dados fracos do varejo e da produção industrial americana em abril, além de preocupações com as relações entre a Casa Branca e Pequim e ainda o avanço da pandemia de coronavírus no país, que segundo o jornal The Wall Street Journal já é uma das principais causas de morte por lá. "A esperança de uma recuperação em V da economia americana está diminuindo", afirmam os economistas da LPL Financial. As vendas no varejo caíram 16,4% em abril, enquanto Wall Street esperava recuo de 12%.

Dólar pode testar os R$ 6,30 no curto prazo e caminho para produtor pode ser o hedge cambial

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Entrevista com André Perfeito - Economista Chefe - Necton sobre o Dólar

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Os juros baixos, a pressão sobre os preços das commodities e o desalinho no cenário político brasileiro têm se mostrado como os principais combustíveis para o contínuo avanço do dólar frente ao real. A avaliação é do economista chefe da Necton, André Perfeito, em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta sexta-feira (15), onde projeta que a divisa possa chegar aos R$ 6,00, continuar subindo e ainda alcançar os R$ 6,30 já nas próximas semanas. 

"Quando os juros caem, e tudo indica que a Selic possa chegar aos 2%, isso sugere que o real fica menos atrativo. Por que colocar dinheiro em um país onde a economia está fraca e em um país que paga pouco juros?", explica Perfeito. "E politicamente o Brasil está em um período bastante conturbado. É verdade que o presidente tem total controle da situação, mas a situação não está tranquila (...) e isso gera uma distração para enfrentar uma crise", completa. 

Segundo ele, o que mais pesa politicamente ainda é o desalinho entre o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto. Uma relação mais amena que começou a aparecer no final desta quinta-feira (14) entre o presidente Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, já foi bem recebida pelo mercado, que precisará ver um alinhamento melhor entre os poderes no Brasil. 

O economista afirma ainda que o Banco Central deverá continuar cortando as taxas de juros, mas afirma que essa medida, sozinha, ainda é insuficiente para equalizar o mercado e conter a escalada do dólar. Assim, não só  o dólar pode alcançar os R$ 6,30, como pode subir ainda mais. 

"E temos motivos não só para o real ficar fraco, mas para o dólar subir", acredita. Entre eles, as relações entre China e Estados Unidos podendo, novamente, tomar um caminho negativo é um deles, bem como os impactos da pandemia do coronavírus e de seus desdobramentos sobre a economia global.

Assim, Perfeito orienta os produtores rurais a buscarem fazer uso das ferramentas disponíveis para protegerem sua renda, entre elas, o hedge cambial. 

O QUE PODERIA FAZER O DÓLAR RECUAR?

Na análise do economista, o dólar deverá estar na casa dos R$ 5,90 no final do ano, distante do estimado pelo mercado, que é o patamar de R$ 5,00, como mostra o último boletim Focus. 

E entre os fatores que poderiam promover uma baixa da moeda americana seria uma retomada dos mercados de capital, a balança comercial brasileira melhorar muito e os juros podem cair ainda mais no exterior e podem gerar uma atratividade maior para o Brasil, além da crise política possa ser ao menos pacificada. 

"Isso tudo pode acontecer, mas acho difícil que aconteça no curto prazo", afirma Perfeito. 

RECUPERAÇÃO DA ECONOMIA E O AGRO BR

A normalidade, na análise do economista chefe da Necton, ainda está distante, e por isso, a recuperação das economias mundial e nacional ainda está distante e incerta. Todavia, Perfeito explica que o agronegócio terá função determinante na amenização do atual cenário. 

"O setor agrícola agora terá uma contribuição ainda maior na melhoria do quadro macroeconômico e também insititucional. Gosto muito da ministra Tereza Cristina, que no meio dessa questão toda está quieta, tocando o barco dela, fazendo um trabalho excepcional (...) O papel é absolutamente fundamental da agricultura e cabe ao agronegócio ter este pensamento estratégico também com o Brasil", conclui. 

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Fonte:
Reuters/Estadão Conteúdo/NA

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