Pompeo visita imigrantes venezuelanos em Roraima para pressionar Maduro

Publicado em 18/09/2020 20:47 e atualizado em 20/09/2020 05:52

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(Reuters) - O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, se reuniu com imigrantes venezuelanos em um centro de refugiados na capital de Roraima, nesta sexta-feira, na terceira parada de uma viagem a países sul-americanos para aumentar a pressão pela destituição do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Pompeo culpou Maduro por uma "crise criada pelo homem" de proporções sem precedentes na Venezuela e chamou o presidente venezuelano de "traficante de drogas" em comentários a repórteres em uma base militar em Boa Vista.

“Eles (venezuelanos) querem o que todos os seres humanos querem --dignidade. Eles querem uma Venezuela democrática, pacífica e soberana para chamar de lar, onde eles e seus filhos possam encontrar trabalho e viver com essa dignidade. Nós --Estados Unidos e Brasil-- os apoiamos", disse Pompeo.

Segundo ele, os EUA estavam anunciando mais 348 milhões de dólares para ajudar os refugiados venezuelanos, incluindo 30 milhões aos que estão no Brasil, elevando a contribuição total dos EUA para mais de 1,2 bilhão de dólares.

Pompeo também visitou um refeitório que atende imigrantes com o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. Há duas semanas, o governo do presidente Jair Bolsonaro declarou os diplomatas de Maduro "persona non grata", mas não os expulsou do país.

Pompeo elogiou os esforços humanitários do Brasil para receber 250.000 venezuelanos que cruzaram a fronteira, alguns dos mais de 5 milhões que deixaram seu país devido à turbulência política e econômica.

A fronteira brasileira com a Venezuela está fechada desde 18 de março devido à pandemia de coronavírus, e o fluxo de imigrantes que chega ao Brasil caiu de uma média de 600 por dia para poucos venezuelanos que fazem trilhas para entrar no país.

Pompeo visitou a Guiana e o Suriname antes do Brasil e segue nesta sexta-feira para a Colômbia, todos vizinhos da Venezuela.

A viagem ocorre num momento em que os esforços internacionais para promover uma mudança democrática na Venezuela parecem ter estagnado e Maduro sustentou seu controle no poder.

A embaixada da China no Suriname acusou Pompeo nesta sexta-feira de "difamar" Pequim, depois que o principal diplomata de Washington criticou as práticas de negócios das empresas chinesas durante a primeira parada de sua viagem à América do Sul.

A visita de Pompeo foi duramente criticada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

"A visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, nesta sexta-feira, às instalações da Operação Acolhida, em Roraima, junto à fronteira com a Venezuela, no momento em que faltam apenas 46 dias para a eleição presidencial norte-americana, não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa", disse Maia em nota.

O ex-presidente Luiz Inácio da Silva foi outro a criticar a presença de Pompeo em Roraima. Para Lula, o secretário de Estado norte-americano esteve no Brasil apenas para "fazer provocação à Venezuela".

"A Venezuela tem um presidente que foi eleito, gostemos ou não gostemos dele. Quem tem que cuidar do Maduro é o povo da Venezuela, o eleitor venezuelano, não o Mike Pompeo, nem os Estados Unidos, que precisam parar com essa mania de querer ser xerife do mundo", declarou Lula em entrevista à Reuters.

Maia diz que visita de Pompeo não condiz com boa prática diplomática; Ernesto Araújo rebate

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BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou na sexta-feira que a visita do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, a local próximo da fronteira com a Venezuela não condiz com a "boa prática diplomática".

Neste sábado, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, procurou rebater as declarações do deputado.

Para o presidente da Câmara, a presença de Pompeo em instalações de operação de acolhimento a migrantes venezuelanos em Roraima afronta a herança da diplomacia brasileira de "altivez" e convívio pacífico com os países vizinhos.

"A visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, nesta sexta-feira, às instalações da Operação Acolhida, em Roraima, junto à fronteira com a Venezuela, no momento em que faltam apenas 46 dias para a eleição presidencial norte-americana, não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa", disse Maia em nota.

O deputado afirmou ter a obrigação, como presidente da Câmara, de reiterar os princípios listados pela Constituição que orientam as relações internacionais do país, como a independência nacional, a autodeterminação dos povos, a não-intervenção e a defesa da paz.

Em nota, Araújo afirmou que as declarações de Maia baseiam-se em "informações insuficientes e interpretações equivocadas".

Defendendo a parceria entre Brasil e Estados Unidos, que estão entre os países que reconhecem o líder de oposição Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela e não o presidente Nicolás Maduro, Araújo afirmou que "o povo brasileiro preza pela sua própria segurança, e a persistência na Venezuela de um regime aliado ao narcotráfico, terrorismo e crime organizado ameaça permanentemente essa segurança".

"Não há 'autonomia e altivez' em ignorar o sofrimento do povo venezuelano ou em negligenciar a segurança do povo brasileiro", acrescentou o chanceler.

"Buscar a paz não significa acovardar-se diante de tiranos e criminosos. A independência nacional não significa rejeitar parcerias que nos ajudem a defender nossos interesses mais urgentes e nossos valores mais caros", disse ainda Araújo.

Dezenas de milhares de venezuelanos cruzaram a fronteira do Estado brasileiro de Roraima nos últimos anos, fugindo da turbulência econômica e política em seu país.

A economia da Venezuela tem estado em declínio e há ondas periódicas de protestos contra o governo Maduro, de esquerda.

O governo de Roraima declarou o fluxo de imigração como uma crise social e pediu ao governo federal do Brasil para fechar a fronteira, o que não ocorreu por razões humanitárias.

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Fonte:
Reuters

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