“Hamas usa mídia como escudo”, diz Israel sobre ataque a prédio de agências
O major Roni Kaplan, porta-voz da IDF (Forças de Defesa de Israel), afirmou que o ataque ao prédio na Faixa de Gaza que abrigava as agências de notícias AP (Associated Press), dos Estados Unidos, e Al Jazeera, do Catar, foi necessário “porque Hamas [grupo palestino] usa a mídia como escudo”.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo publicada nesse sábado (15.mai), mesmo dia do ataque, ele declarou que os jornalistas foram alertados e não correram perigo durante a operação.
“No edifício funcionava um comando conjunto da Jihad Islâmica e do Hamas. Essa é exatamente a intenção desse tipo de organização: ficar no meio da imprensa”, falou o major.
“Mas antes de atingirmos o edifício, onde o Hamas organizava informações usadas para atacar Israel e tinha maquinário para fabricar armas, ligamos para a Associated Press e para Al Jazeera e pedimos que evacuassem o prédio.”
Em comunicado emitido depois do ataque, o CEO da AP, Gary Pruitt, disse que não havia “nenhuma indicação de que o Hamas estava no prédio ou ativo nele”.
“Isso é algo que verificamos ativamente com o melhor de nossa capacidade. Nunca colocaríamos conscientemente nossos jornalistas em risco.”
Esse é o 3º prédio de empresas jornalísticas que é derrubado pelo governo de Israel. Na 5ª feira (13.mai), 2 edifícios foram destruídos por um bombardeio aéreo. Nos locais funcionavam as redações de mais de 12 veículos de comunicação locais, segundo o CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas).
Ao ser questionado se não há um uso desproporcional de forças por parte de Israel, Kaplan disse que “é desproporcional por parte do Hamas”.
“Se o Hamas conseguisse fazer o que tenta, estaria assassinando milhares de pessoas. A diferença está nos resultados, que tem a ver com os investimentos de Israel em defesa e sua capacidade de contra-ataques militares. O Hamas ataca civis, Israel não tem intenção de matar civis, de jeito nenhum. Operamos com o máximo de precauções para impedir danos a civis.”, diz Israel sobre ataque a prédio de agências.
O conflito seguiu pela madrugada deste domingo (16.mai). Segundo a Reuters, Israel bombardeou a casa do chefe do Hamas em Gaza. O Ministério da Saúde de Gaza disse que os ataques desta madrugada deixaram 23 pessoas mortas.
O gabinete de segurança de Israel deve se reunir neste domingo (16.mai) para discutir os rumos do conflito. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou em um discurso televisionado na noite de sábado (15.mai) que a operação ainda estava “no meio”.
Segundo ele, a “operação continuará enquanto for necessário”.
O major Roni Kaplan negou que a divulgação de que o exército havia invadido a Faixa de Gaza tenha sido uma estratégia militar, como afirmou a imprensa local. Na 5ª feira (13.mai), a IDF enviou releases à imprensa e divulgou no Twitter que suas tropas realizavam operações “dentro de Gaza”.
Algumas horas depois, as próprias Forças Armadas, desmentiram a invasão.
“O porta-voz [Jonathan] Conricus é meu superior, alguém que conheço há ao menos 20 anos. Naquele momento, Jonathan e eu estávamos olhando para o computador, vendo que a divisão 162, que tem duas brigadas de infantaria, estava se aproximando da fronteira. Não se enxergava bem, e pensamos que já estava dentro. Ele disse isso aos jornalistas. Ele errou. E foi divulgada uma carta de desculpas”, falou Kaplan.
O major declarou ainda que a ação “não foi uma forma de usar a imprensa como mecanismo de lutar contra o Hamas, de maneira nenhuma”.
“Dizer a verdade à imprensa é tudo o que temos”, falou.
Israel derruba 3º prédio de empresas jornalísticas em Gaza
8 crianças mortas neste sábado; 139 pessoas mortas nesta semana
Um bombardeio do Exército de Israel derrubou mais um prédio em Gaza neste sábado (15.mai.2021). O local era a sede israelense das agências de notícias AP (Associated Press), dos Estados Unidos, e Al Jazeera, do Catar. Todos os ocupantes do prédio de 12 andares foram informados 1 hora antes do bombardeio para que saíssem do local.
Esse é o 3º prédio de empresas jornalísticas que é derrubado pelo governo de Israel. Na 5ª feira (13.mai), 2 edifícios foram destruídos por um bombardeio aéreo. Nos locais funcionavam as redações de mais de 12 veículos de comunicação locais, segundo o CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas).
A justificativa do governo de Israel para o ataque à AP e à Al Jazeera foi de que, supostamente, o prédio abrigava recursos militares do Hamas, grupo islâmico que comanda Gaza. Não há relatos de jornalistas mortos ou feridos.
Ainda durante a madrugada deste sábado (15.mai.2021), outro ataque israelense na região matou 10 pessoas da mesma família palestina. Entre as vítimas estavam 8 crianças.
Desde que a tensão se intensificou na região, na 2ª feira (10.mai), pelo menos 139 pessoas morreram em Gaza. Dessas, 39 eram crianças. Israel, por outro lado, teve 9 mortos, incluindo 2 crianças. Os dados são de agências de notícias e entidades médicas que atuam na região.
O presidente da AP, Gary Pruitt, publicou um comunicado em que afirmou que os trabalhadores da empresa estão “chocados e horrorizados” com a ação dos militares israelenses. Ele afirmou também que o Exército sabe que o prédio era a redação da AP.
“Este é um desenvolvimento incrivelmente perturbador. Evitamos por pouco uma terrível perda de vidas”, disse Pruitt. “Uma dúzia de jornalistas e freelancers da AP estava dentro do prédio e, felizmente, fomos capazes de evacuá-los a tempo“.
O diretor-geral da Al-Jazeera, Mostefa Souag, também emitiu um comunicado. “O objetivo deste crime hediondo é silenciar a mídia e esconder a carnificina e o sofrimento indescritível do povo de Gaza“, afirmou. Ele também disse que o ataque foi um crime de guerra e uma clara violação dos direitos humanos.
“O ataque ao prédio que hospeda instituições de mídia internacionais tem como objetivo silenciar a verdade matando o mensageiro. Jornalismo não é crime.“