Ibovespa fecha em queda forte com cenário de juros altos à frente
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em forte queda nesta quinta-feira, após três altas seguidas, pressionado pela decisão do Banco Central de acelerar o ritmo de alta da Selic e sinalizar uma política monetária ainda mais restritiva.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 2,74%, a 126.042,21 pontos, tendo marcado 125.828,56 pontos na mínima e 129.587,08 pontos na máxima do dia, com apenas uma ação da sua composição no azul,
O volume financeiro somou 26,89 bilhões de reais.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a Selic em 1 ponto percentual, a 12,25% ao ano, na véspera e sinalizou mais dois aumentos da mesma magnitude à frente, citando "um cenário mais adverso para a convergência da inflação".
Economistas avaliaram o movimento como um "choque de credibilidade" e uma tentativa do BC para "domar" as expectativas de inflação, que pioraram nas últimas semanas, com alguns ajustando suas previsões para o final do ciclo de alta.
Tal cenário complica ainda mais o ambiente para a renda variável, uma vez que desestimula a alocação de recursos em ativos de risco, como é o caso de ações.
O efeito benigno da decisão na taxa de câmbio foi efêmero, com o dólar recuando pela manhã, mas voltando a se valorizar ante o real à tarde, fechando a 6,0128 reais (+0,90%). Nos DIs, os vencimentos mais longos tampouco mostraram alívio.
"O mercado está cético", disse o diretor de investimentos da Reach Capital, Ricardo Campos, citando ainda o efeito negativo no mercado das declarações de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será candidato à reeleição em 2026.
De acordo com Campos, investidores estão olhando a tendência de crescimento da dívida/PIB e presumindo cada vez mais que o governo não fará um ajuste fiscal relevante e pode precisar gastar mais para manter o ritmo do crescimento econômico.
"É a preocupação com uma trajetória explosiva da dívida que explica reações aos noticiários envolvendo o futuro do presidente, dadas as suas sinalizações nesse tema", explicou.
Campos acrescentou que a reação negativa ao posicionamento "mais hawkish possível que o BC poderia ter assumido" é explicada pela incerteza sobre o efeito da política monetária se ela não vier acompanhada de um ajuste fiscal.
"E em momentos de dúvidas, o dólar acaba sendo a porta de saída."
Na visão do chefe da área de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, o mercado está descontando o silêncio e a demora do governo e do Congresso sobre o andamento do pacote de corte de gastos.
"A política monetária não vai conseguir resolver tudo sozinha se não tiver a parte do fiscal."
DESTAQUES
- VALE ON caiu 2,89%, mesmo com o avanço do futuro do minério de ferro na China, tendo como pano de fundo relatório do Morgan Stanley cortando recomendação das ações para "equal-weight", em meio a incertezas sobre oferta/demanda e preços, além de efeitos do acordo sobre o desastre em Mariana (MG) na geração do fluxo de caixa livre da mineradora.
- PETROBRAS PN fechou negociada em baixa de 1,79%, em dia de quedas modestas dos preços do petróleo no exterior. A estatal disse que assinou contratos de 16,5 bilhões de reais para construção e afretamento de 12 embarcações de apoio, do tipo PSV, que serão utilizadas em operações de logística de exploração e produção de petróleo e gás.
- ITAÚ UNIBANCO PN recuou 2,49%, enquanto BRADESCO PN perdeu 3,46%, BANCO DO BRASIL ON caiu 1,43% e SANTANDER BRASIL UNIT encerrou em queda de 3,56%, dado o potencial desaquecimento da economia com uma política monetária mais restritiva e seus efeitos no mercado de crédito, entre outros reflexos.
- AMBEV ON perdeu 5,07%, após aprovar 10,5 bilhões de reais em remuneração a acionistas, bem como a alteração na frequência de distribuição de proventos -- hoje anual -- para períodos potencialmente menores. Para o Itaú BBA, a Ambev está se movendo na direção certa em termos de alocação de capital, mas em um ritmo mais lento do que alguns previam.
- GPA ON desabou 11,02%, acompanhado por CARREFOUR BRASIL ON, que tombou 8,59%, e ASSAÍ ON, que recuou 6,34%, dado o cenário de juros mais elevados, que tende a ser desfavorável para o setor de varejo, de consumo cíclico. O índice do setor de consumo fechou em queda de 2,42%. PETZ ON caiu 10,55%.
- HAPVIDA ON subiu 1,12%, no terceiro pregão seguido no azul, sendo a única alta do Ibovespa nesta quinta-feira. Analistas do UBS BB reiteraram a recomendação de compra para as ações, mas cortaram o preço-alvo de 5,50 reais para 4,70 reais. Na segunda-feira, os papéis fecharam em uma mínima desde abril de 2023.
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