O PEDÁGIO DO PT - VIAGEM AO CORAÇÃO DE UM ESQUEMA CORRUPTO

Publicado em 14/03/2010 19:19

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Além de desviar dinheiro da Bancoop, o tesoureiro do partido arrecadava dinheiro para o caixa do mensalão cobrando propina


Por Alexandre Oltramari e Diego Escosteguy

Fotos Wladimir de Souza/Diário de São Paulo e Sérgio Lima/Folha Imagem
O ELO PERDIDO DO MENSALÃO
O corretor de câmbio Lúcio Funaro prestou seis depoimentos sigilosos à Procuradoria-Geral da República, nos quais narrou como funcionava a arrecadação de propina petista nos fundos de pensão: “Ele (João Vaccari, á dir.) cobra 12% de comissão para o partido”

O novo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é uma peça mais fundamental do que parece nos esquemas de arrecadação financeira do partido. Investigado pelo promotor José Carlos Blat por suspeita de estelionato, apropriação indébita, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha no caso dos desvios da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), Vaccari é também personagem, ainda oculto, do maior e mais escandaloso caso de corrupção da história recente do Brasil: o mensalão - o milionário esquema de desvio de dinheiro público usado para abastecer campanhas eleitorais do PT e corromper parlamentares no Congresso. O mensalão produziu quarenta réus ora em julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Entre eles não está Vaccari. Ele parecia bagrinho no esquema. Pelo que se descobriu agora, é um peixão. Em 2003, enquanto cuidava das finanças da Bancoop, João Vaccari acumulava a função de administrador informal da relação entre o PT e os fundos de pensão das empresas estatais, bancos e corretoras. Ele tocava o negócio de uma maneira bem peculiar: cobrando propina. Propina que podia ser de 6%, de 10% ou até de 15%, dependendo do cliente e do tamanho do negócio. Uma investigação sigilosa da Procuradoria-Geral da República revela, porém, que 12% era o número mágico para o tesoureiro - o porcentual do pedágio que ele fixava como comissão para quem estivesse interessado em se associar ao partido para saquear os cofres públicos.

A revelação do elo de João Vaccari com o escândalo que produziu um terremoto no governo federal está em uma série de depoimentos prestados pelo corretor Lúcio Bolonha Funaro, considerado um dos maiores especialistas em cometer fraudes financeiras do país.
(…)
Entre 2003 e 2004, os três bancos citados pelo corretor - BMG, Rural e Santos - receberam 600 milhões de reais dos fundos de pensão controlados pelo PT. Apenas os cinco fundos sob a influência do tesoureiro aplicaram 182 milhões de reais em títulos do Rural e do BMG, os principais financiadores do mensalão, em 2004. É um volume 600% maior que o do ano anterior e 1 650% maior que o de 2002, antes de o PT chegar ao governo. As investigações da polícia revelaram que os dois bancos “emprestaram” 55 milhões de reais ao PT. É o equivalente a 14,1% do que receberam em investimentos - portanto, dentro da margem de propina que Funaro acusa o partido de cobrar (entre 6% e 15%). Mas, para os petistas, isso deve ser somente uma coincidência… 
Aqui

Leia na reportagem completa detalhes das operações, como o corretor se aproximou de Vaccari, quem fez os contatos e como funcionava o esquema.


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CARTA AO LEITOR - As desculpas clássicas


Os corruptos da política pegos em flagrante delito em todos os tempos e latitudes não costumam dar o braço a torcer facilmente. Reconhecer o erro e prontificar-se a ser punido nunca são, é óbvio, as opções escolhidas. A reação imediata deles é recorrer à combinação de características que, em grande parte, os levou a fazer sucesso na atividade. A saber: o dom da retórica, o poder de dissimulação, a forte autoestima, a noção de que as versões podem valer mais do que os fatos e a certeza maquiavélica de que se honra e honestidade regessem o mundo eles próprios não teriam chegado aonde chegaram.

A vida pública brasileira tem sido palco constante desses exercícios de cinismo. Isso vem se repetindo previsivelmente desde a semana passada, quando VEJA revelou que caminha para o desfecho o inquérito em que João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, cotado para a mesma função na campanha presidencial de Dilma Rousseff, é acusado de numerosos crimes – entre eles o desvio de dinheiro público e privado para a formação de caixa dois eleitoral.

Bastou a capa de VEJA chegar à casa dos assinantes e às bancas para que Vaccari e seus correligionários sacassem do bolso do colete as redondilhas já tornadas clássicas nos escândalos dos sete anos de governo petista. Diante das provas dos crimes compiladas pela promotoria e reveladas pela revista, os envolvidos saíram-se com as seguintes desculpas:

- O assunto é velho e foi requentado.
- A motivação é eleitoreira.
- A culpa é da imprensa.
- Nossos adversários fazem a mesma coisa.
- No Brasil só se dá destaque a notícia ruim.

Doravante VEJA vai listar as desculpas dadas por corruptos pegos com a boca na botija nas categorias acima. A revista convida os leitores que encontrarem outras dessas pérolas a compartilhar seus achados no site VEJA.com.

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Por Reinaldo Azevedo

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BANCOOP - CHEQUES À MODA PETISTA

sábado, 13 de março de 2010 | 6:23

VEJA obteve imagens de cheques que mostram a suspeitíssima movimentação
bancária da Bancoop. O primeiro, no valor de 50 000 reais, além de exibir a
palavra “saque” no verso, traz o código SQ21, que tem o mesmo significado
(saque) e se repete na maioria dos cheques emitidos pela Bancoop para
ela mesma. O segundo destina-se à empresa Caso Sistemas de Segurança,
do “aloprado” Freud Godoy, e pertence a uma série que até agora já soma
1,5 milhão de reais. O terceiro mostra repasse da Germany para o PT,
em ano de eleição. A Germany, empresa de ex-dirigentes da Bancoop, tinha
como único cliente a própria cooperativa

Clique para ampliar
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Por Reinaldo Azevedo

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BANCOOP - COMO FUNCIONA O ESQUEMA DE NOTA FRIA

sábado, 13 de março de 2010 | 6:21

Empreitadas-fantasma

Fernando Schneider

“Entre 2001 e 2004, eu dei 15 000 reais em notas frias à Bancoop. Diziam com todas as letras que o dinheiro era para as campanhas do Lula e da Marta.”
Empreiteiro “João”, que prestou serviços à Bancoop

Um empreiteiro de 46 anos que prestou serviços à Bancoop por dez anos repetiu à repórter Laura Diniz as acusações que passou oficialmente ao promotor do caso Bancoop. O empreiteiro conta como emitiu notas frias a pedido dos diretores da cooperativa, e ouviu que o dinheiro desviado seria destinado às campanhas de Lula à Presidência, em 2002, e de Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo, em 2004

Qual foi a primeira vez que a Bancoop pediu notas frias ao senhor?
Quando o Lula era candidato a presidente. O Ricardo (o engenheiro Ricardo Luiz do Carmo, responsável pelas construções da Bancoop) dizia que eram para a campanha. Nunca me forçaram a nada, mas, se você não fizesse isso, se queimava. A primeira nota fria que dei foi de 2 000 reais por um serviço que não fiz em um prédio no Jabaquara. A Bancoop precisava assinar a nota para liberar o pagamento. Quando era fria, liberavam de um dia para o outro. Notas normais demoravam de dez a quinze dias para sair. Aqui


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LULA INAUGURA OBRA INACABADA E SUSPEITA


Por Evandro Fadel, no Estadão:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se antecipou ontem às críticas da oposição e tratou de justificar sua presença na inauguração de uma obra não totalmente concluída na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, e também questionada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), sob suspeita de superfaturamento. Acompanhado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência, Lula destacou que investigações não devem afetar a criação de empregos.. Aqui

“Eu fiz uma brincadeira esses dias, um fato que eu não sabia. Eu disse que nesta época do ano tem gente inaugurando até maquete”, declarou Lula, enquanto os ouvintes riam. “Não sabia que o governador de São Paulo ia inaugurar uma maquete e ficou como se eu soubesse, mas eu não sabia, eu falei porque isso faz parte da cultura política do País.”

Nesta semana, o governador paulista e provável candidato do PSDB à Presidência, José Serra, esteve em Santos, onde participou de evento para apresentar a maquete de uma ponte entre a cidade e o Guarujá.

Lula destacou que sua presença ontem era importante porque “quem engorda os porcos são os olhos do dono” e destacou a criação de 15 mil empregos agora e 25 mil até junho ou julho. Relatou que recentemente soube que milhares de trabalhadores seriam dispensados, com o corte nos repasses por suspeita de irregularidades. “O Tribunal de Contas da União mandou à Comissão de Orçamento do Congresso um aviso de que tinha suspeita de irregularidade nas obras e tinham que ser suspensas”, comentou.

O pente-fino do TCU atingiu vários projetos da Petrobrás - a Repar, a Refinaria Abreu e Lima (PE), a construção do terminal de escoamento de Barra do Riacho (ES) e o complexo petroquímico do Rio. Lula disse que decidiu vetar a recomendação do órgão e liberar as verbas orçamentárias na certeza de que teria apoio dos governadores. “Fui convencido a vetar no Orçamento a parte que acusava a Petrobrás”, destacou.

Ele ainda ressaltou que não é contra investigar. “Se tem de fazer investigação, que se faça. Se tem de apurar, que seja apurado, mas não vamos deixar que trabalhadores fiquem desempregados porque alguém suspeita que alguma coisa está acontecendo”, criticou


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Refinaria tem 90% do custo sob suspeita de irregularidades


Por Roberto Almeida, no Estadão:
O Tribunal de Contas da União (TCU) justificou seu pedido de paralisação das obras na Refinaria Presidente Getúlio Vargas com base em indícios de irregularidades encontrados em 19 contratos. O montante sob suspeita é de R$ 8,664 bilhões, ou 90% do custo total da reforma da refinaria, que, de acordo com a Petrobrás, chega a US$ 5,4 bi, ou R$ 9,55 bi.

Os números fazem parte do Fiscobras 2009, relatório divulgado pelo TCU em 29 de setembro do ano passado. Segundo o órgão, não houve avanços desde então para que as supostas irregularidades fossem sanadas. São casos de sobrepreço, restrição à competitividade em licitações e projetos deficientes ou desatualizados. A Petrobrás nega as irregularidades.

Ontem, em Araucária (PR), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou partes da obra que estão na mira do TCU. Como por exemplo a reforma de uma subestação de energia e a construção de outra, ao custo de R$ 109 milhões, e a construção de um Centro Integrado de Controle, para otimizar a automação da refinaria, no valor de R$ 41,8 milhões.

Tanto nas subestações como no centro de controle, o órgão de fiscalização apontou para sobrepreço, projeto deficiente ou desatualizado e restrição à competitividade na licitação, entre outros problemas.

Chamam a atenção, porém, contratos bilionários que também estão sob suspeita. Entre os 19 apontados pelo TCU, há um no valor de R$ 1,821 bilhão para a construção de uma unidade de gasolina e outros dois na casa dos R$ 2 bi para fornecimento de equipamentos materiais e serviços. Todos com problemas, de acordo com o órgão de fiscalização. Aqui


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Site da Bancoop - Seria cômico se não fosse cínico


Por Clarissa Oliveira, no Estadão:
Ao acessar o site da Bancoop, associados que tentam digerir as denúncias do Ministério Público Estadual sobre supostos desvios para campanhas do PT se deparam com uma janela pop-up contendo a mensagem: “Dez razões para negociar.” Com isso, a entidade tenta convencer os cooperados a quitar débitos referentes a unidades que adquiriram, mas, em muitos casos, não receberam.

A primeira vantagem apresentada pela cooperativa é a possibilidade de se livrar de juros e multas aplicados no caso de inadimplência. “Se sua unidade é em um empreendimento concluído, você poderá quitar suas pendências sem juros e sem multa”, diz o primeiro item da lista.

No meio da relação de razões, algumas chamam a atenção. O item de número 7 destaca a possibilidade de o cooperado ver seu “nome livre de processos”. “Com a adesão ao plano de negociação, os processos judiciais em andamento serão baixados.” Outra que salta aos olhos é “Segurança para a sua família”. “Ao aderir à negociação, se você optar pelo pagamento à vista, terá o termo de quitação financeira e de obrigações, e se seu empreendimento estiver averbado terá a escritura liberada, o que dá garantia ao seu patrimônio. Se você optar pelo parcelamento, também poderá escriturar o imóvel com alienação fiduciária”, diz a mensagem. “Sua família ficará segura com a posse definitiva do imóvel.”

O site da Bancoop destaca ainda a possibilidade de parcelamento dos débitos e a valorização do patrimônio. “A negociação é a mostra de que a quitação está em curso e, com isso, o imóvel também se valoriza e deixa de haver riscos de reintegração.” Investe também na tese de que o processo facilita a vida dos cooperados interessados em se desfazer dos imóveis. Afinal, tendo em mãos a escritura, a venda é simplificada. E fala sobre facilidade na hora de averbar a construção e da chance de melhorar “o fluxo de caixa da cooperativa e dos empreendimentos em construção”.

Ao encerrar a lista, a Bancoop promete a melhoria da “qualidade de vida” de seus cooperados. “Garanta a posse de fato e de direito do imóvel, não tenha mais dores de cabeça nem perca mais tempo.” E finaliza a lista com uma mensagem ainda mais otimista. “Ano novo, vida nova. Deixe todos os problemas para trás e inicie 2010 com tudo solucionado.”

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CAPA DE VEJA: VEM AÍ UMA BOMBA!!!


Sabem aquele passarinho que, de vez em quando, pousa (Emir Sader escreveria “posa”) na minha janela? Então… Ele me diz que a capa da VEJA desta semana não deixa tijolo sobre tijolo…Tijolos, entendem? Daqueles com que alguns erguem edifícios de moradia, e outros, edifícios de safadeza.

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Por Reinaldo Azevedo

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TSE PRECISA DECIDIR SE TEM BIRUTA OU BIRUTAS

sexta-feira, 12 de março de 2010 | 21:01

Na Folha Online. Comento em seguida:
O ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Aldir Passarinho julgou improcedente ação que acusava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) de propaganda antecipada.

Nesse caso, DEM, PSDB e PPS afirmavam que, durante inauguração em Teófilo Otoni (MG), Lula discursou em favor de sua “candidata de fato”. Lula disse que faria sua sucessora “para dar continuidade ao que nós estamos fazendo. Porque este país não pode retroceder. Este país não pode voltar para trás como se fosse um caranguejo”.

Para os partidos, a viagem foi feita para fazer propaganda para a ministra. Passarinho entende que os fatos não configuram propaganda antecipada. Segundo ele, não houve pedido de votos direta ou indiretamente.

O ministro afirma que o nome da ministra não foi citado pelo presidente no discurso. Para ela, a presença da ministra em uma inauguração é inerente ao cargo que ocupa.

Outro caso
Ontem, o ministro Felix Fischer aceitou a acusação de propaganda eleitoral antecipada contra Lula e Dilma e votou pelo pagamento de multa no valor de R$ 5 mil, para cada um.

O voto foi apresentado no julgamento de recurso protocolado pela oposição contra decisão do ministro auxiliar Joelson Dias que havia considerado improcedente a acusação. O julgamento, contudo, não foi concluído por um pedido de vista do ministro Fernando Gonçalves.

Os partidos DEM, PPS e PSDB se basearam nos discursos proferidos por Lula e Dilma na inauguração da barragem Setúbal, em Minas Gerais, em 19 de janeiro de 2010, ao fazerem a acusação de propaganda antecipada. A propaganda eleitoral é permitida apenas a partir de 5 de julho.

Segundo a ação, o presidente afirmou, no discurso, que é importante que o governo inaugure o “máximo de obras possível” até o fim de março para “mostrar quem foram as pessoas que ajudaram a fazer as coisas nesse país”.

O voto do ministro Joelson Dias pelo não recebimento do recurso foi acompanhado dos ministros Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia. Felix Fischer, por sua vez, pediu vista e apresentou um voto divergente.

“Até três meses antes do pleito, autoridades podem participar de inaugurações, mas não podem incutir um candidato no imaginário do eleitor. Ainda que não haja pedido explícito de voto, trata-se de propaganda disfarçada”, opinou Fischer.

Comento
Lula disse que faria a sua sucessora “para dar continuidade ao que nós [o governo] estamos fazendo.” E emendou: “Porque este país não pode retroceder; este país não pode voltar para trás como se fosse um caranguejo”. E o ministro do TSE não vê aí campanha eleitoral.

Gostaria de saber o que excelentíssimo considera “campanha”. Se as palavras ainda têm aquele sentido que lhes reserva o noticiário, o que vai acima é não só campanha antecipada como é também terrorismo eleitoral. Não só Lula diz que sua candidata é a mais adequada para levar adiante a sua obra — e faz isso fora do ambiente e do tempo em que isso é permitido — como sugere que a eleição de um adversário seria um retrocesso.

Vai ver, para o ministro, ou Lula diz “Vote em Dilma” ou, então, não é campanha. E lembrarei sempre: este é o tribunal que foi implacável com prefeitos e governadores. O TSE precisa decidir se tem biruta. Ou birutas.

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Por Reinaldo Azevedo

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A MORTE DE GLAUCO

sexta-feira, 12 de março de 2010 | 20:15

Lamento, de verdade!, a morte do cartunista Glauco e de seu filho, Raoni. É evidente que os quadrinhos e mesmo a crônica jornalística perdem um crítico agudo, engraçado, que tinha um talento muito especial para ironizar costumes, especialmente os das comunidades que eu ousaria chamar de “hiper-urbanas”, típicas das metrópoles que perdem sua identidade e se tornam cidades do mundo. E ainda que não tivesse talento nenhum: trata-se de um episódio chocante, lamentável.

Não tenho a intenção de polemizar. O que parece evidente é que a tragédia acontece no âmbito da “igreja” fundada pelo cartunista, Céu de Maria, ligada ao consumo ritualístico do daime. E essa questão merece, creio, ser devidamente tratada.  Neste ponto, alguém poderia dizer para provocar o escrevinhador católico: “E quantas pessoas o crucifixo já matou? Você não pode suportar algumas mortes atribuídas ao daime?”

Não estou em busca de culpados — o responsável, tudo indica, já foi identificado. Mas há um fato que qualquer apuração jornalística poderá constatar, quando tivermos vencido a fase da consternação. O daime está atraindo — e seus ritualistas têm aceitado — pessoas com sérios desvios de comportamento, especialmente viciados em outras drogas, que procuram consumir a substância para atingir, sei lá, a “elevação” que as outras substâncias provocariam, porém sem os malefícios.

A turma do protesto releia antes de gritar: não estou afirmando que todos os adeptos da “religião” são consumidores de drogas ilícitas. Estou afirmando que esses grupos estão atraindo muitos viciados. Isso é fato. Não só isso: infelizmente, distúrbios psíquicos — que não se curam com milagres; nesse caso, Deus nos presenteou com os fármacos adequados — são vistos, às vezes, como falta de iluminação. Atravessando-se certo umbral da percepção, viria a paz…

O assassino de Glauco e de seu filho, tudo indica, se não era um doente, estava doente. A natureza do mal, não sei.  Consta que queria que o líder religioso asseverasse à sua família que era Jesus Cristo. Os adeptos do daime utilizam em seus rituais e em sua, vá lá, metafísica elementos oriundos do cristianismo de raiz popular. A transubstanciação cristã — ou católica — é bem outra e não conduz a nenhuma alteração de consciência. A apropriação de elementos cristãos em rituais dessa natureza não poderia ser mais arbitrária e infundada. Mas não vou debater isso, não.

Acho que é preciso pensar a tragédia com mais cuidado. O Conselho Nacional Antidrogas liberou o consumo do daime para fins ritualísticos. Ninguém tem o direito de ter dúvidas se acho isso um bom ou um mau caminho, dado o que escreve habitualmente sobre drogas. Mas o que interessa agora é recomendar prudência. Os que acreditam nas virtudes do daime como algo que eleva a consciência devem ter claro que ele não cura certas doenças psíquicas. A depender do caso, e poderá atestá-lo qualquer psiquiatra, o mal pode se agravar.

Tenho a impressão de que aí está a origem da tragédia que colheu a família Villas-Boas. E todos nós devemos lamentar profundamente o ocorrido. Mas sem dourar a pílula; sem dourar o daime. Os místicos advertem, muitas vezes, quando se debatem certos assuntos: “É melhor não mexer com essas coisas”, sugerindo que um mundo espiritual, mágico talvez, possa reservar surpresas terríveis, o famoso “desconhecido”. Católicos tendem a ser racionalistas. Não temo nunca o que vai além do homem, o outro mundo. Temo só o que está NOhomem. Ele é a fonte de toda a maravilha e de todo horror. E é bom que as religiões todas, a minha e a de qualquer um, tenham noções dos seus limites.

Talvez o daime permita sensações que o Prozac, o Zyban ou Zoloft jamais proporcionarão. Mas será sempre um erro supor que uma infusão, a hóstia consagrada ou o amuleto de um pastor possam tomar o lugar daqueles remédios e do saber que os trouxe à luz.

Que Glauco e seu filho descansem em paz. E que os vivos escolham a razão que liberta.

PS: O advogado da família, Ricardo Handro, que se diz amigo de Glauco há 12 anos, deve explicações. Está na cara que sua versão para o crime, com entrevista gravada e tudo, era fantasiosa. Àquela altura, já havia conversado com outras pessoas da família e tinha condições plenas de saber o que tinha acontecido. Um profissional como ele sabe que uma versão descolada dos fatos atrapalha a investigação e poderia colaborar para manter o assassino impune.

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Por Reinaldo Azevedo

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LULA AGORA VIROU “O DONO DO PIB”

sexta-feira, 12 de março de 2010 | 16:03

Leiam o que segue. Volto em seguida:

Por Evandro Fadel, da Agência Estado:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, 12), em Curitiba, que fez questão de participar da inauguração da primeira etapa de obras de modernização e ampliação da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), apesar de não estar totalmente pronta (foram inauguradas três de 19 unidades), por ela ser importante em razão de estar gerando mais de 15 mil empregos e que deve chegar a 25 mil em junho. Foi a mesma justificativa que deu, em discurso, para vetar a retirada de obras da Petrobrás do orçamento da União. A orientação tinha sido dada pelo Tribunal de Contas da União. Segundo ele, as quatro obras colocadas sob suspeição pelo TCU representam 27 mil empregos.

“Se tem que fazer investigação, que se faça, se tem que apurar que se apure, mas não vamos deixar que trabalhadores, que brasileiros que estão levando pão para casa fiquem desempregados porque alguém suspeita que alguma coisa está acontecendo”, disse. Ele também afirmou que “tem gente que não se tocou que esse país mudou”. “Mudou porque nós aprendemos a gostar de nós”, ressaltou.

Lula também comentou o anúncio, anteontem, do PIB de 2009, que ficou negativo. “Eu vi a cara de algumas pessoas na televisão falando do PIB. Alguns, vi até a ponta de um sorriso: finalmente, finalmente nós pegamos o Lula porque o PIB dele não cresceu. Hoje, fazem comparação até com Marechal Deodoro da Fonseca”, destacou. Logo depois, ressaltou que o País passou incólume pela crise do ano passado. Lula ainda destacou que, quando citou político que inaugura até maquete em ano eleitoral, não sabia que o governador de São Paulo o tinha feito.

O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), enfrentou vaias quando foi iniciar seu discurso e, no final, xingou os manifestantes. “Confesso a vocês que não entendi a ridícula vaia que alguns palhaços tentaram me colocar no começo de minha exposição.”

Comento
1 : O “que se investigue” de Lula quer dizer: “Parem de encher o meu saco; as obras geram emprego. E, se geram emprego, que importância tem a corrupção”? Ele já é o presidente que mais atacou os órgãos de apuração de irregularidades até hoje. Estamos diante da modernização da máxima “rouba, mas faz?”. Com sotaque social, a frase fica assim: “Rouba, mas faz e gera empregos”.

2: De novo, o ataque à imprensa. Olhem quem fala em usar o passado para medir o presente… O que quer dizer “nunca antes nestepaiz?” De resto, “PIB de Lula” uma ova! Lula não tem PIB. O PT, ao contrário, um contumaz “inchador” da máquina pública, é um comedor de PIB, não um gerador.

3: Quanto a Requião, dizer o quê? Independentemente de quem ele é do que ele pensa, não é do PT. E os não-petistas sempre serão vaiados pela claque convocada pelo Planalto.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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