Por Lisandra Paraguassú, no Estadão:
Em ano eleitoral, o governo federal está acelerando a inclusão de pelo menos 3,2 milhões de pessoas aos programas sociais. Em alguns casos, a meta estabelecida para 2010 é 70% maior do que todos os benefícios distribuídos em anos anteriores.
Os novos beneficiados dos programas Agente Jovem Adolescente (Desenvolvimento Social) e Segundo Tempo (Esportes) somam, ao lado do Bolsa Família, um contingente de “segurados sociais” equivalente ao total de eleitores dos Estados de Alagoas e Sergipe.
O investimento recorde também alcança o Ministério da Justiça. A construção de presídios, em parceria com os Estados, tem a promessa de receber o que não recebeu em sete anos. No Ministério da Educação serão entregues, em um ano, mais ônibus e barcos de transporte escolar do que nos três anos anteriores (leia reportagens nesta página).
Voltado para os adolescentes que não completaram a escola e são de famílias pobres, o Agente Jovem Adolescente terá, neste ano, um crescimento que nunca teve desde sua criação, em 2008. Serão incluídos mais 383 mil jovens, um aumento de 78% em apenas um ano. No Segundo Tempo, que oferece atividades no contra-turno escolar para crianças e jovens, o crescimento será, apenas neste ano, de 47,6%.
Nos dois casos, os ministérios justificam que os programas deveriam ter crescido muito mais, mas não explicam por que esse crescimento se concentrou justamente no último ano do governo. Por e-mail, a assessoria do Ministério do Desenvolvimento Social explica que a previsão era chegar ao final do governo com 1 milhão de jovens atendidos e, mesmo com a expansão deste ano, a meta não será alcançada.
No Segundo Tempo, o ministro do Esporte, Orlando Silva, diz que o programa ainda precisa crescer mais e que haverá uma tentativa de chegar a 3 milhões de vagas, em convênios, até o final do ano. Silva não vê relação entre a eleição e os novos beneficiados: “Não podemos fazer política pública pensando em eleição. Temos de fazer política pública pensando no benefício da população”.
Ao incremento desses programas sociais soma-se o Bolsa Família que, no ano passado, já havia definido a inclusão de 600 mil novas famílias (o equivalente a 2,4 milhões de pessoas) até junho - prazo máximo permitido pela legislação eleitoral.
Às vésperas de uma campanha presidencial que promete ser acirrada, as ações sociais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva podem não ser automaticamente transformadas em votos para a sua candidata, Dilma Rousseff, mas ajudam a firmar a imagem do governo entre os mais pobres e no interior do País, onde a ministra ainda é pouco conhecida.
O candidato Lula cresceu significativamente entre as eleições de 2002 e 2006, e apenas o Bolsa Família ajudou o presidente a arrebanhar 3% do eleitorado na sua segunda eleição, de acordo com um estudo da Fundação Getúlio Vargas.
Restaurantes. É com essa certeza de retorno eleitoral que o governo está acelerando outros programas sociais. O Agente Jovem Trabalhador, em que jovens entre 18 e 29 anos sem o ensino fundamental completo fazem supletivo e recebem treinamento para o mercado de trabalho, também promete crescer exponencialmente neste ano. Apenas duas capitais, Rio de Janeiro e Curitiba, receberão 7 mil vagas cada. No Estado de Goiás são 20 mil novas vagas neste ano. Em Londrina (PR) e na zona metropolitana de Porto Alegre, mais 4 mil. O Estado tentou obter com o Ministério do Trabalho a estimativa total para o ano, mas, depois de cinco dias de tentativas, não obteve resposta. Aqui