Inflação da China ainda não é temível, segundo empresas
As razões variam, mas se resumem em um ponto essencial: os custos na China podem estar subindo, mas o crescimento econômico do país --e, portanto, as vendas-- devem compensar com folga as desvantagens.
"A inflação é uma preocupação, mas nós acreditamos que o gasto com tecnologia continuará", disse Amit Midha, presidente da Dell para a China e o sul da Ásia, no Reuters China Investment Summit.
"A China deveria ser parte da desaceleração global. Mas venha cá: não há desaceleração aqui."
A inflação na China acelerou nos últimos meses. Em novembro, a alta dos preços atingiu 5,1%, o maior nível em 28 meses, pressionando para a criação de mais medidas de contenção pelo governo.
A disparada da inflação veio com o crescimento forte da economia chinesa, com o PIB (Produto Interno Bruto) de 2010 estimado em 10%.
Esse crescimento elevou a renda do consumidor junto com os preços, impulsionando uma onda de gastos que pode ampliar a receita das empresas nos próximos anos.
A Acer, segunda maior vendedora de computadores do mundo, projeta que sua receita na China deve mais que dobrar no ano que vem, totalizando US$ 2,5 bilhões. A General Motors, que vendeu 2,17 milhões de carros nos primeiros 11 meses do ano, espera que as vendas na China excedam 2,5 milhões de veículos em 2011.
A apreciação gradual do yuan --uma das ferramentas que, segundo economistas, precisa ser mais usada para combater a inflação-- também pode ajudar as empresas que operam no país, pois ampliaria o poder de consumo dos chineses e valorizaria os ganhos locais em yuans frente ao dólar e ao euro.
INFLAÇÃO
A China declarou em 13 de dezembro que irá implementar uma política fiscal "ativa" e uma política monetária "prudente" no próximo ano. Semana passada, a política tinha sido definida como "apropriadamente flexível" pelo governo do Partido Comunista.
A política fiscal será utilizada para manter crescimento estável e melhorar a estrutura da economia, segundo documento. "A prioridade é lidar com as relações entre manter um crescimento econômico estável e relativamente rápido, a reestruturação econômico e lidar com as expectativas da inflação", afirma o texto. "A reestruturação econômica estratégica será acelerada e estabilizar o nível dos preços terá uma posição mais proeminente".
Neste sábado, a China anunciou uma inflação de mais de 5%, a mais alta desde o estouro da crise financeira de 2008. A alta mostrou sinais de que não se restringe aos preços de alimentos, aumentando a pressão para que o governo adote políticas mais rigorosas.
O índice dos preços ao consumo, principal indicador da inflação, aumentou em novembro 5,1% ao ano, ante 4,4% em outubro, segundo o BNS (Escritório Nacional de Estatísticas). Para os 11 primeiros meses do ano, o aumento em relação ao mesmo período de 2009 é de 3,2%, acima da meta de 3% concedida pelo governo.
A inflação é um dos principais motivos de descontentamento social entre a população, por isso o governo chinês ordenou controles temporários de preços, aumento da produção agrícola e criadora de gado e limitação dos custos energéticos.
A mudança de estratégia, aliada à apreensão com a inflação, deve levar a aumentos mais agressivos das taxas de juros e maiores restrições a empréstimos, dizem analistas.
Pequim está tentando promover o consumo doméstico a fim de reduzir a dependência das exportações.
A liderança que assinou a nota prometeu estabelecer um teto para a liquidez no sistema bancário, alimentado por fluxos de capital crescentes, e direcionar mais empréstimos para a economia real, de acordo com a mídia oficial.
Outros índices econômicos em pauta no sábado devem ter dado ao governo chinês a confiança para intensificar os controles, uma vez que os sinais indicam um impulso de crescimento impressionante na segunda maior economia do mundo.
Na sexta-feira (10), o banco central aumentou os depósitos compulsórios dos bancos terceira vez em um mês para aparar os excessos de capital na economia. A alta da inflação sugeriu que uma ação mais resoluta era necessária.
"As atuais medidas de controles macros são um pouco relaxadas. A chave é observar como serão implementadas no começo do ano que vem", disse Dong Xian'an, economista-chefe da Industrial Securities, em Pequim.