Retrospectiva 2010: Câmbio prejudicou exportadores

Publicado em 27/12/2010 16:45
Indústrias nacionais ficaram em desvantagem

O dólar caiu e a economia brasileira cresceu. Apesar de parecer uma boa notícia, em 2010 o câmbio prejudicou exportadores e incentivou as importações, deixando indústrias nacionais em desvantagem.

A concorrência com os estrangeiros no mercado interno aumentou. A economia brasileira cresceu 8,4% entre janeiro e setembro na comparação com o mesmo período de 2009, devendo fechar 2010 com um crescimento de pelo menos 7,5%. O país está entre os melhores para se investir e também especular. Este ano, o Banco Central mexeu três vezes nos juros. A Selic em janeiro estava a 8,75% ao ano e agora termina 2010 em 10,75%. A taxa é uma das maiores do mundo e atrai o estrangeiro que toma dinheiro barato lá fora para obter bons rendimentos no Brasil, em uma operação que geralmente começa e termina no mesmo dia.

– Esses investidores vêm com dinheiro para o Brasil, e, ao mesmo tempo, o Brasil tem taxa de juros multo alta. Então, ele vem tanto como investimento produtivo para aproveitar do mercado interno quanto para aproveitar as taxas de juros mais altas – explica o economista André Sacconato.
 
Os juros altos tendem a controlar a inflação, pois, internamente, o custo dos empréstimos aumenta, o consumo diminui e os preços caem. Porém, ao estimular a entrada de capital estrangeiro no país, a oferta de dólares fez a moeda americana cair também. Chegou a valer R$ 1,88 em maio, ficando em R$ 1,65 quase cinco meses depois. A indústria foi a primeira a sentir os impactos. É o caso da fábrica da AGCO na grande São Paulo. A fabricante de máquinas agrícolas exporta 30% da produção.
 
– O maior impacto negativo que nós tivemos já, isso vem ocorrendo há algum tempo, é justamente nas exportações. Eu diria que não é só na questão de máquinas agrícolas, mas na economia como um todo, é a perda da competitividade do produto brasileiro lá fora –  diz o diretor de produtos da AGCO, Jak Torreta Jr.
 
A indústria também teve que concorrer com os importados. Como ficou mais barato comprar o produto fabricado no Exterior, as importações de máquinas e implementos agrícolas aumentaram em 50%.

– Nós deixamos o nosso mercado bastante favorável à concorrência internacional. Nós estamos abrindo, permitindo que tenha um flanco aberto contra o setor de máquinas nacional, não só agrícola como todo tipo de máquina – afirma o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria do setor (Abimaq), Celso Casale.

O governo federal reagiu. A cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no mercado de renda fixa subiu duas vezes este ano. Foi de 2% para 4% e de 4% para 6% em menos de um mês. Medidas complementares também foram tomadas, como um aumento de imposto sobre a margem cobrada nas operações com derivativos. Não foi suficiente para conter os especuladores. O dólar continuou em queda no Brasil, acompanhando uma tendência internacional.

– Nós estamos efetivamente interligados. Então, você tem hoje os bancos que emprestam para a Irlanda, que tomam o dinheiro da Alemanha, que toma dinheiro dos Estados Unidos. Enfim, é uma cadeia – defende o gerente de câmbio da Pioneer Corretora, João Medeiros Filho.

Enquanto isso, os exportadores tentam conciliar o dólar baixo com o aumento nos custos de produção. Para as processadoras de suco de laranja, que dependem do mercado externo, os lucros estão menores.

– Nós teríamos que conseguir transferir tudo isso para o produto final. No nosso caso, não é tão simples assim, porque nós exportamos tudo o que produzimos e temos uma limitação de consumo lá fora – diz o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus BR), Christian Lohbauer.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
Canal Rural

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário