Japão tenta religar eletricidade de usina nuclear

Publicado em 18/03/2011 15:13 e atualizado em 18/03/2011 17:17
Engenheiros japoneses admitiram na sexta-feira que enterrar debaixo de areia e concreto uma usina nuclear danificada pode ser o último recurso para evitar uma liberação catastrófica de radiação. Foi o método empregado em Chernobyl em 1986 para selar vazamentos enormes.

Mas eles ainda tinham a esperança de resolver a crise, conectando um cabo elétrico a dois reatores até o sábado para religar as bombas de água necessárias para resfriar os bastões de combustível nuclear superaquecidos. Trabalhadores também regaram com água o reator 3, o mais crítico dos seis reatores da usina.

Foi a primeira vez em que a empresa que opera a usina reconheceu que seria possível enterrar o grande complexo erguido há 40 anos --um sinal de que medidas isoladas, como atirar água de helicópteros militares sobre o reator ou esforçar-se para religar as bombas de resfriamento, podem não funcionar.

"Não seria impossível encerrar os reatores em uma capa de concreto. Mas nossa prioridade neste momento é tentar primeiro resfriá-los", disse em coletiva de imprensa um funcionário da empresa Tokyo Electric Power Co., que opera a usina.

Enquanto uma semana se completava desde que um terremoto de 9,0 graus e um tsunami de dez metros de altura achataram cidades costeiras e mataram milhares de pessoas, a pior crise nuclear mundial desde Chernobyl e as piores crises humanitárias do Japão desde a Segunda Guerra Mundial pareciam estar longe de encerradas.

Os mortos confirmados pelo terremoto e o tsunami já são cerca de 6.500, e ainda há 10.300 desaparecidos; teme-se que muitos destes estejam mortos.

Cerca de 390 mil pessoas, entre as quais muitos idosos, estão desabrigadas e enfrentam temperaturas de quase 0 grau Celsius em abrigos improvisados nas áreas costeiras do norte do país. Faltam comida, água, medicamentos e combustível para aquecimento.

O governo assinalou que poderia ter sido mais ágil no enfrentamento dos desastres múltiplos.

"Um terremoto e um tsunami de dimensões sem precedentes atingiram o Japão. Em consequência disso, aconteceram coisas que não tinham sido previstas em matéria da reação geral ao desastre", disse em coletiva de imprensa o secretário chefe do gabinete, Yukio Edano.

O Japão elevou a classificação de gravidade da crise nuclear do nível 4 para o nível 5 na escala internacional INES, que tem sete níveis, equiparando-o ao acidente ocorrido na usina nuclear de Three Mile Island, nos EUA, em 1979, embora alguns especialistas considerem que é mais grave que este.

Chernobyl chegou ao nível 7 na escala INES.

Turistas, estrangeiros e muitos japoneses continuam a deixar Tóquio, temendo uma explosão de material radiativo do complexo nuclear situado 240 quilômetros ao norte, embora as autoridades de saúde e a agência de fiscalização nuclear da ONU tenham dito que os níveis de radiação na capital não são prejudiciais à saúde.

Há pouco alívio em vista para cerca de 300 técnicos da usina nuclear que estão trabalhando nos destroços radiativos, usando máscaras, óculos e roupas protetoras especiais com suas costuras fechadas com fita adesiva para impedir a passagem de partículas radiativas.

"Meus olhos se enchem de lágrimas quando penso no trabalho que estão fazendo", disse à Reuters Kazuya Aoki, técnica de segurança da Agência de Segurança Nuclear e Industrial do Japão.

Mesmo que os engenheiros consigam religar o fornecimento de eletricidade à usina Fukushima Daiichi, é possível que as bombas tenham sido muito danificadas pelo terremoto, o tsunami e as explosões subsequentes para conseguirem funcionar.

O primeiro passo será levar a eletricidade às bombas dos reatores 1 e 2, e, possivelmente, o reator 4, até sábado, disse Hidehiko Nishiyama, porta-voz da agência de segurança nuclear japonesa.

Até o domingo o governo espera que a eletricidade chegue às bombas do fortemente danificado reator 3 - ponto focal da crise porque emprega óxidos mistos, ou mox, contendo tanto urânio quanto plutônio, este altamente tóxico.

Indagado sobre a possibilidade de os reatores serem soterrados em areia e concreto, Nishiyama respondeu: "Essa solução está presente em nossa consciência, mas por enquanto estamos focados em resfriar os reatores."

Se os reatores forem enterrados, uma parte do Japão terá acesso proibido a pessoas por décadas. "Não é tão fácil assim", disse Murray Jenex, professor da Universidade Estadual de San Diego, na Califórnia, quando perguntado sobre a chamada opção Chernobyl de enterrar os reatores.

"Os reatores são um pouco como um aparelho de fazer café. Se você deixa o calor ligado, eles fervem até secar e então racham. Colocar concreto em cima disso não tornaria seu aparelho de café mais seguro. Mas, com o tempo, sim, seria possível construir um escudo de concreto e deixar por isso mesmo."

MUITOS CONTINUAM SEM ELETRICIDADE E ÁGUA

A situação dos desabrigados pelo terremoto e o tsunami se agravou depois de uma onda de frio levar neve pesada às áreas mais afetadas.

O fornecimento de água, óleo para aquecimento e combustível está baixo nos centros de desabrigados, onde muitos sobreviventes aguardam embrulhados em cobertores. Faltam remédios para muitos idosos. A comida é racionada. Funcionários dos serviços de resgate informam que há falta aguda de combustível para seus veículos.

O governo disse na sexta-feira que analisa a possibilidade de transferir alguns dos desabrigados para partes do país não atingidas pela devastação.

Quase 320 mil famílias no norte do país continuavam sem eletricidade na sexta-feira à tarde, sob frio congelante, disseram as autoridades, e, segundo o governo, ainda falta água corrente para pelo menos 1,6 milhão de famílias.

O governo ordenou que todas as pessoas residentes em um raio de 20 quilômetros da usina nuclear danificada abandonem suas casas e aconselhou as pessoas que vivem em um raio de até 30 quilômetros a não saírem de suas casas.

A embaixada dos EUA em Tóquio exortou cidadãos residentes em um raio de 80 quilômetros da usina a deixarem a região ou ficarem dentro de casa "como precaução", e o Ministério do Exterior britânico pediu a seus cidadãos que "estudem a possibilidade de deixar a região". Outros países já pediram a seus cidadãos no Japão que deixem o país ou se desloquem para o sul do país.
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Fonte:
Reuters

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1 comentário

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Para os que desconhecem a gravidade do assunto atômico, uma reação nuclear é irreversivel ou seja, depois de iniciada não tem como ser interrompida. O que não podia ter acontecido lá no Japão é 'faltar' energia para girar as bombas que movimentam não só a água de refrigeração mas também a agua que se transforma em vapor pelo calor para tocar as turbinas que produzem energia elétrica. Deviam ter colocado no minimo duas linhas subterraneas, bem flexiveis, de cabos alternativos para levar energia de fora para lá... Mas não, a energia alternativa (emergencia) era provida com motores diesel... que se apagaram com a água do tsunami, uma coisa que deveria ter sido prevista. ENTROU ÁGUA PELO FILTRO DE AR, acredita! A dúvida é se os motores elétricos continuam intactos, funcionando... Eles bem que podiam ter feito um atêrro de no minimo 20 metros de altura, tão fácil, para constuir esta Usina e outras coisas mais... Morros para aplainar é o que mais tem por lá... Devido à alta radiação, os operarios permanecem somente 15 a 20 minutos trabalhando e são trocados por outros "descontaminados".

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