No Valor: Bolsas e câmbio foram da euforia à depressão na segunda-feira

Publicado em 02/08/2011 08:50
A semana começou com um pregão de grande instabilidade nos mercados locais e externo. O tom positivo que se construiu na noite de domingo, depois que o presidente Barack Obama anunciou um acordo para a elevação do teto do endividamento federal, bateu de frente com dados de menor crescimento nos Estados Unidos e com renovadas preocupações com o endividamento de países europeus.

O resultado disso foi um começo de pregão de firme alta nas bolsas e queda do dólar, que logo foi revertido para acentuada venda de ações e compra de moeda americana. O tom negativo perdeu fôlego no decorrer da tarde, mas os índices de ações ainda fecharam em baixa e o dólar ganhou do euro e de outros rivais. A moeda americana perdeu, no entanto, para o iene e para o franco suíço.

O Dow Jones saiu de uma alta de mais de 1% para uma queda de mais de 1% depois que o índice de atividade industrial caiu para 50,9% em julho, queda superior à prevista e menor leitura desde julho de 2009.

Os dados se somam ao fraco crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre e reforçam o quadro de que o momento econômico nos EUA é bem mais fraco do que o previsto. Ainda na semana vão sair importantes dados sobre o mercado de trabalho.

No fim da jornada, o Dow Jones mostrava leve baixa de 0,09%, a 12.132 pontos. Essa foi a sétima queda consecutiva. O S&P 500 recuou 0,41%, a 1.286 pontos. O Nasdaq cedeu 0,43%, a 2.744 pontos.

No mercado de moedas, a amplitude de preços também foi extremada. O Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, caiu 0,23% e subiu mais de 1%, antes de fechar no meio do caminho, com alta de cerca de 0,70%.

Tal magnitude de variação também foi observada no euro. A moeda comum perdeu 0,87%, a US$ 1,425, depois de cair a US$ 1,41 e subir a US$ 1,44. Além de fazer contraposição ao dólar, a venda de euro se acentuou conforme cresceram os custos de financiamento de Itália e Espanha.

No mercado de matérias-primas, o barril de petróleo do tipo WTI perdeu 0,9%, para US$ 94,89. O índice de commodities CRB cedeu 0,20%.

Bovespa

Não dá para dizer que o mercado acionário brasileiro começou agosto com o pé direito. Depois de perder 5,7% em julho, era de se esperar que uma recuperação, mesmo que de curto prazo, ajudasse a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) neste começo de mês.

Os investidores, entretanto, não pensaram assim. Com o mercado inseguro com o ritmo de crescimento da economia mundial, o entusiasmo com o acordo político americano para evitar um default durou muito pouco.

Foi exatamente esse o tom refletido na Bolsa. O Ibovespa chegou a subir 1,2% na máxima do dia e a cair mais de 1% na mínima, fechando com desvalorização de 0,49%, aos 58.535 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 5,204 bilhões.

Eduardo Oliveira, da equipe de análise da Um Investimentos, assinala que o mercado segue temeroso com a nota dos Estados Unidos, que poderá ser rebaixada mesmo com o sucesso político do acordo. "O corte no déficit ainda está muito aquém do que as agências classificam como positivo”, disse.

Câmbio

Como nas bolsas, a semana abriu com grande variação de preços no câmbio local e externo. Por aqui, a formação de preço mimetizou o câmbio internacional, mas durante boa parte do pregão o movimento de alta foi bem menos acentuado do que o registrado lá fora.

No mercado à vista, o dólar matinha alta de cerca de 0,50%, mesmo com o dólar subindo cerca de 1% ante seus principais rivais. O mesmo foi válido, durante boa parte do pregão, para o dólar futuro. No entanto, no fim do pregão, o que se registrou foi exatamente contrário, as compras se aceleraram no mercado futuro de dólar, enquanto perderam força no quadro externo.

No fim do dia, o dólar comercial apontava apreciação de 0,57%, a R$ 1,563 na venda. A moeda fez mínima a R$ 1,547 (queda de 0,45%) e fez máxima a R$ 1,566 (alta de 0,77%).

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar pronto ganhou 0,64%, para R$ 1,5615. O volume caiu de US$ 69 milhões na sexta-feira passada para US$ 12,5 milhões no pregão de segunda-feira.

No mercado futuro, o dólar para setembro registrava valorização de 1,18%, a R$ 1,5795, antes do ajuste final, depois de cair a R$ 1,558.

Segundo operadores locais e externos, a reação mais tímida do dólar por aqui enquanto os preços disparavam lá fora pode ser atribuída às medidas anunciadas pelo governo para tentar conter a valorização do real na semana passada.

Como o governo taxou quem quiser ampliar a posição vendida em dólar, o agente não sai da venda para a compra de moeda, pois, se tiver de refazer posição vendida, será tributado.

Conforme notou um operador, o mercado segue “manco”. Só há liquidez na perna que vende dólar à vista e compra futuro, na ponta contrária, de compra dólar à vista e venda de futuro, a liquidez segue restrita.

Para o analista de câmbio da BGC Liquidez, Mário Paiva, o clima do mercado ainda está bastante pesado, tanto pelo noticiário envolvendo os EUA quanto pelos problemas de endividamento da Europa.

Essas notícias somam instabilidade aos negócios, mas, para Paiva, não mudam o viés de baixa no preço da moeda americana. “A oferta de dólar continua muito maior do que a demanda no mundo todo”, explicou.

Juros futuros

Os contratos futuros de longo prazo tiveram uma das maiores quedas diárias do ano na segunda-feira. A formação de preço seguiu o quadro externo, onde novos indicadores sugerem um ambiente de crescimento econômico menor do que o antecipado.

Dentro desse ambiente, a taxa de retorno dos títulos americanos caiu com força. O juro do papel de 10 anos recuou a 2,74%, menor leitura desde novembro do ano passado.

Segundo o estrategista de renda fixa da Coinvalores, Paulo Nepomuceno, esses indicadores de atividade mais fraca sugerem inflação mais moderada no futuro, algo que pode ajudar o Banco Central (BC).

Mas, diz o especialista, apesar da queda nominal das taxas, a diferença de prêmio entre os diversos vértices se manteve, ou seja, a inclinação da curva não mudou. E ela continua sugerindo algum nervosismo do mercado.

Ainda de acordo com Nepomuceno, em função da agenda externa, que tem dívida americana e europeia na pauta, o mercado se mostra bastante focado no curto prazo. Mas olhando para 2012, por exemplo, os desafios continuam, como o reajuste do salário mínimo e outras indexações que podem deixar a inflação local mais pressionada.

Avaliando os próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom), Nepomuceno acredita que o ciclo de alta da Selic, iniciado em janeiro, de fato chegou ao fim. A percepção é reforçada pelos acontecimentos recentes no quadro internacional.

Antes do ajuste final de posições na BM&F, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em setembro de 2011 apontava estabilidade 12,40%. Outubro de 2011 devolvia 0,01 ponto percentual, a 12,42%. E janeiro de 2012, o mais líquido do dia, projetava 12,44%, queda de 0,02 ponto.

Entre os contratos mais longos, janeiro de 2013 apontava baixa de 0,08 ponto, a 12,62%. Janeiro de 2014 registrava queda de 0,11 ponto, a 12,69%. Janeiro de 2015 tinha desvalorização de 0,14 ponto, a 12,68%. Janeiro de 2016 caía 0,13 ponto, a 12,63%. E janeiro de 2017 projetava 12,58%, também baixa de 0,13 ponto.

Até as 16h10, foram negociados 695.417 contratos, equivalentes a R$ 59,51 bilhões (US$ 383,26 bilhões), alta de 22% sobre o registrado no pregão anterior O vencimento janeiro de 2012 foi o mais negociado, com 231.285 contratos, equivalentes a R$ 22,01 bilhões (US$ 14,15 bilhões).

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Fonte:
Valor Online

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