Últimas baixas da soja travam negócios no Brasil e nos Estados Unidos

Publicado em 20/08/2015 09:45

As notícias da última semana que incluíram um baixista relatório mensal de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) e desvalorizações do yuan pelo governo da China continuam repercutindo no mercado nos últimos dias - embora de forma mais amena nesta semana - e influenciam diretamente no ritmo dos negócios com a soja nos dois principais  produtores e exportadores da commodity: Brasil e Estados Unidos. As vendas travaram nos dois países. 

Segundo informações de analistas e traders internacionais, já há cerca de 50 a 60% da nova safra norte-americana comercializada, contra uma média de pouco mais de 70% para esse período do ano. No Brasil, de uma temporada em que o plantio ainda nem foi iniciado, as vendas estão em algo entre 30% e 35%, segundo informou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. Para ele, a nova safra brasileira, com condições favoráveis de clima, poderia chegar a um volume de 98 a 100 milhões de toneladas. 

E esses percentuais são reflexo de boas vendas registradas em ambos os países, quando os preços, em Chicago, se aproximavam dos US$ 10,00 por bushel e nos portos do Brasil superavam os R$ 80,00 por saca, tanto para a soja da safra nova quanto para a disponível. 

Em 11 de agosto, antes da chegada do último boletim de oferta e demanda do USDA, o vencimento setembro/15 era cotado a US$ 9,81 por bushel e o novembro/15, referência para a safra americana, a US$ 9,71. De lá pra cá, os preços já cederam mais de 6% na CBOT. As baixas foram de 7,9% e 8,03%, respectivamente, até esta quarta-feira (19). Nesta quinta (20), as cotações já perdiam o patamar dos US$ 9,00 por bushel. 

Acompanhando a movimentação do mercado futuro norte-americano e enfrentando um dólar estável no período, sem oscilações que pudessem provocar mudanças muito significativas, os preços da soja nos principais portos de exportação do Brasil também recuaram entre 4,32 e 6,22% até o último dia 19, e trabalham agora na casa dos R$ 76,00 a R$ 77,00 por saca. 

Vendas nos EUA

Segundo relatou o site internacional Farm Futures, as vendas por parte dos produtores norte-americanos exibiram uma "parada abrupta" na última semana e os negócios nesta também seguem bastante lentos. Os agricultores, segundo explicou Bob Burgdorfer, analista e editor do portal, estavam vendendo apenas pequenos volumes de milho antes do último relatório do USDA e agora até mesmo essas operações foram paralisadas. Afinal, os preços do cereal também cederam de forma expressiva desde o dia 12 de agosto.

"As vendas dos produtores simplesmente pararam. os últimos dias foram de ofertas bastante escassas. Eles estão na 'fase da esperança', acreditando e esperando por algum tipo de rally nos preços", disse um dos mais importantes negociadores de grãos do estado de Iowa. 

Entretanto, os rallies entre os grãos negociados na Bolsa de Chicago têm sido muito raros após o boletim, o qual trouxe um aumento - não esperado pelas consultorias e traders internacionais - na nova safra norte-americana, levando o mercado a testar novas mínimas a cada nova sessão. 

Nos Estados Unidos, os produtores contam ainda com um outro agravante. Nessa época do ano, as indústrias processadoras tradicionalmente entram em sua fase de manutenção pré-colheita, reduzindo, portanto, a demanda pela matéria-prima e, consequentemente, os prêmios pagos por ela. "Nós perdemos de 30 a 40 cents nos prêmios da soja só na semana passada. Não tem sido uma semana agradável para os produtores", informou um negociados de Illinois ao Farm Futures. 

E apesar de ainda positivos - com valores na casa de 80 cents de dólar sobre os valores praticados em Chicago, os prêmios para a soja norte-americana pagos no Golfo do México, principal canal de exportação da oleaginosa, também começam a ser pressionados, sentindo, principalmente, a migração, ou concentração, da demanda internacional na América do Sul e a proximidade da colheita no país, bem como a bom desenvolvimento das lavouras no Corn Belt. 

Como explicou Vlamir Brandalizze, o produtor norte-americano precisaria de preços próximos de US$ 10,50 entre Chicago e prêmios para vender sem ter muitas preocupações, cobrindo seus custos. "Assim, com os atuais patamares de preços, os vendedores sumiram nos Estados Unidos e no Brasil, e o mercado ainda é muito comprador", disse.

Vendas no Brasil

No Brasil, ainda de acordo com Brandalizze, as vendas entre 30% e 35% "não estão nem adiantadas e nem atrasadas, estão na média". E apesar de terem registrado um início com ligeiro atraso, as boas oportunidades trazidas pelo mercado e pelo dólar - com preços chegando a registrar os R$ 84,50 nos portos - foram bem aproveitadas pelos produtores, compensando esse atraso relativo. 

Assim como aconteceu nos EUA, o ritmo se desaqueceu após a chegada dos últimos números do departamento agrícola norte-americano. "Os negócios não pararam por completo, mas houve uma boa redução no ritmo. O relatório do USDA trouxe relativa tranquilidade ao mercado, assim, do lado do comprador, os números permitem que se diminua o ritmo das compras", explicou Mársio Ribeiro, consultor da TRINI Consultoria. 

De 11 a 19 de agosto, período dessa baixa nos negócios, o dólar apresentou bastante volatilidade, vem testando altas e baixas, porém, em sua variação acumulada no período, mostra que as mudanças foram poucas, com uma baixa de 0,30%. 

Entretanto, a formação dos preços no Brasil, por outro lado, conta com uma alta significativa dos prêmios para exportação pagos nos portos. inclusive os que se referem às posições de entrega em 2016, como o contrato março em Paranaguá. O movimento de avanço dessas referências, ainda segundo explicam os analistas, reflete a retração dos vendedores, as baixas em Chicago e a boa demanda pela soja brasileira nesse momento. 

Nos últimos dez dia, as posições agosto e setembro/15 registraram um ganho de mais de 11% - para US$ 1,00 sobre os preços praticados em Chicago - e o março/16 subiu mais de 130% para 35 cents de dólar. "Conforme caem os preços na Bolsa de Chicago, há um amortecedor, que são os prêmios para exportação e que subiram nos últimos tempos para embarques deste final de safra brasileira", explica Mário Mariano, analista de mercado da Novo Rumo Corretora. 

Mariano explica ainda que, nesse momento, e no planejamento da nova safra que deve começar a ser plantada nos próximos meses, os produtores estão mais preocupados em entender a tendência e os movimentos que serão desenhados pelo dólar em relação ao custo dolarizado das suas lavouras. 

"Nesse momento, o produtor vem fazendo suas contas e com bastante capacidade de solução vendeu já soja antecipada ou em reais, os números estão bastante elevados. Tanto que a queda na Bolsa de Chicago após o relatório diminuiu muito o volume negociado da safra futura aqui no Brasil", diz o analista. 

E a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar tem sido um fator importante para elevar a competitividade da soja nacional em detrimento da norte-americana frente a uma demanda ainda aquecida. "Nós ganhamos um mercado que os Estados Unidos estão perdendo. E temos ainda um outro concorrente também ganhando mercado, que são os argentinos. Eles têm um parque industrial bastante grande e por isso, óleo e farelo têm sido mercado que eles também estão tirando da América do Norte", afirma Mário Mariano.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário