Soja: Após semana volátil, mercado fecha semana em baixa no Brasil com pressão do câmbio

Publicado em 09/10/2015 17:42

A semana foi toda marcada por volatilidade para o mercado da soja, tanto no Brasil quanto na Bolsa de Chicago, e terminou com a chegada do novo boletim mensal de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura nesta sexta-feira (9). As mudanças, mantendo o conservadorismo da instituição foram poucas. 

"O boletim veio muito em linha com o esperado. Eu só ressaltaria a menor área na soja, a produção do milho, e os estoques de trigo, mas isto também, vamos dizer, está dentro das variações que sempre ocorrem. Isto é, no geral, tivemos poucas surpresas", disse o analista de mercado e economista da Granoeste Corretora, Camilo Motter. 

Enquanto a espera e a divulgação dos números do USDA foram os principais direcionadores do mercado internacional, no Brasil, o foco dos negócios continua sobre a taxa de câmbio. Nos últimos dias, o dólar recuou expressivamente frente ao real e, no acumulado de outubro, a divisa já têm queda de 4,35%. Nesta sexta, o dólar fechou com 0,9% de queda  e valendo R$ 3,7588. 

Diante dessa desvalorização da moeda americana, as vendas voltaram a perder ritmo internamente. "O volume de negócios ficou bem retraído, mas isto tem mais a ver com a queda do câmbio do que com espera pelo relatório", relatou Motter. "No spot rodaram alguns negócios, ainda que em menor volume. Mas, para a safra nova, a paradeira foi um fenônemo geral", completa.

Assim, o balanço semanal ficou negativo para os preços da soja nos portos - tanto no mercado disponível quanto a futuro - e também no interior do país. O reflexo do dólar foi imediato e anulou a semana positiva registrada em Chicago, onde os principais vencimentos subiram mais de 1%.

No terminal de Rio Grande, o produto disponível caiu 3,21% fechando em R$ 81,30, enquanto em Paranaguá perdeu 2,41% para encerrar a semana com R$ 81,00 por saca. Já a soja da nova safra, com entregas respectivas em maio e março/16, ficaram com R$ 79,20 e R$ 80,00 por saca, caindo 3,53% e 3,61%. 

No interior do país, as principais praças de comercialização fecharam com baixas variando de 0,81% a 4,11%, e os destaques voltam a ser o Mato Grosso do Sul, onde o preço foi de R$ 73,00 a R$ 70,00 em São Gabriel do Oeste, e na Bahia, em Luís Eduardo Magalhães, onde a cotação da soja caiu de R 82,00 para R$ 80,00, segundo um levantamento feito pelo Notícias Agrícolas juntos aos sindicatos rurais e cooperativas.

Nas praças do Paraná, os preços perderam o patamar dos R$ 70,00 e em Cascavel, Ubiratã e Londrina terminaram a semana com R$ 68,50 por saca. No Rio Grande do Sul, em Não-Me-Toque, a baixa foi mais amena e o valor foi de R$ 73,00 a R$ 72,50 por saca, o mesmo pôde ser registrado em Jataí, em Goiás, com a cotação variando de R$ 65,40 a R$ 64,87/saca.

A exceção foi registrada em Mato Grosso, com alta de 1,49% para R$ 68,00 por saca em Tangará da Serra e de 3,85% para Campo Novo do Parecis, que ficou com R$ 67,50 no fechamento semanal. 

Em um artigo publicado no Notícias Agrícolas nesta sexta-feira, o analista de mercado Flávio França Junior, da França Junior Consultoria, reafirmou a forte influência do dólar na formação dos preços da soja no Brasil e nos atuais resultados da paridade de exportação. Com as recentes oportunidades criadas pela forte valorização da moeda norte-americana, as vendas foram fortes e já há cerca de 40% da safra 2015/16 do Brasil comercializada antecipadamente. 

"Considerando que o mercado interno é influenciado em boa parte do tempo pelos preços do mercado de exportação, e que o preço de exportação é dado pela composição das cotações na CBOT e do prêmio de exportação, que são precificados em US$ cents/bushel, para internalizarmos esses referenciais, precisamos aplicar a taxa de câmbio", diz França Junior.

Leia o artigo na íntegra:

>> Como entender a paridade de exportação, por Flávio França Jr

A nova safra brasileira já começou a ser plantada há algumas semanas, porém, os trabalhos de campo seguem tímidos. Consultorias estimam que cerca de 2 a 3% da área já esteja semeada em todo o país. 

Enquanto a região Central do Brasil sofre com uma forte irregularidade das chuvas que deve se estender até novembro, como mostram as últimas previsões, no Sul do país, a semeadura está parada diante dos elevados acumulados registrados em importantes áreas produtoras. Nesta quinta-feira (8), o município de Santa Maria/RS registrou o segundo maior volume de chuvas do mundo.

Leia mais:

>> Chuvas irregulares ainda em outubro limitam plantio da soja no Centro-Oeste 

Lembrando que, na próxima segunda-feira, 12 de outubro, em função do feriado em comemoração ao dia de Nossa Senhora Aparecida, o mercado não funciona no país. 

Mercado Internacional

Os futuros da soja, na sessão desta sexta-feira (9), fecharam em campo positivo depois da chegada do novo boletim mensal de oferta e demanda do USDA e de uma semana extremamente volátil. Assim, o vencimento novembro/15 encerrou com alta de 1,30% no balanço semanal, valendo US$ 8,85 por bushel, enquanto o maio/16, referência para a safra do Brasil, terminou os negócios valendo US$ 8,99 e subindo 1,44%. 

Assim como esperavam os traders e consultorias privadas, o departamento norte-americano trouxe uma redução na produção, produtividade e estoques norte-americanos da safra 2015/16 no reporte de outubro. Esse novos números, no entanto, ainda ficaram ligeiramente acima das expectativas médias do mercado. 

A produção atual foi estimada em 105,81 milhões de toneladas, contra as 107,09 milhões do reporte de setembro. A expectativa média dos traders era de 105,74 milhões de toneladas. A produtividade da soja, no entanto, foi revisada para cima e passou de 53,4 para 53,52 sacas por hectare, isso enquanto os traders apostavam em uma redução para cerca de 53,17 sacas. 

O USDA trouxe alterações ainda nas áreas plantada - que passou de 34,12 milhões para 33,67 milhões de hectares - e colhida - a qual foi reduzida de 33,79 milhões para 33,35 milhões de hectares. 

Os estoques finais da oleaginosa também foram reduzidos e passaram de 12,25 para 11,57 milhões de toneladas. O número, no entanto, ficou ligeiramente acima da média entre as expectativas, que era de 10,83 milhões de toneladas. 

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>> Soja: USDA reduz estimativas para exportações dos EUA e aumenta para o Brasil

"Eu acreditava que a soja, com a força da safra americana, teria potencial para testar os US$ 8,50, não testou até agora, e na semana que vem vamos estar com mais de 50% colhido (nos EUA), ela ainda não testa, e isso é um suporte muito forte", diz o consultor em agronegócio Ênio Fernandes. "Como ainda não testamos esse suporte, podemos ver, depois de 70 a 80% da área americana colhida, números ligeiramente acima dos US$ 9,00", completa. 

A atualização das informações sobre os trabalhos de colheita e as condições das lavouras norte-americanas serão atualizadas na próxima segunda-feira (12), quando o USDA traz um novo reporte semanal de acompanhamento de safras. Até o último domingo (4), os EUA já tinham 42% da área colhida. 

Além dos fundamentos da nova safra norte-americana, o mercado observa ainda a influência das últimas informações da demanda e, principalmente, da postura do produtor norte-americano em relação às suas vendas. Neste momento, os sojicultores locais evitam novos grandes negócios neste momento com cotações que se mostram bem abaixo dos custos de produção. Nem mesmo os prêmios fortes têm levado as cotações a patamares que compensem as vendas. 

Paralelamente, a nova safra da América do Sul começa, lentamente, a ganhar um peso maior no andamento dos negócios. O plantio no Brasil e na Argentina devem ser os acompanhados mais de perto já que são esperados, respectivamente, um aumento e uma redução de áreas nos dois principais produtores do continente sulamericano. O USDA estima a safra brasileira em 100 milhões de toneladas e a da argentina em 57 milhões. 

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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