Chuvas irregulares ainda em outubro limitam plantio da soja no Centro-Oeste

Publicado em 07/10/2015 13:06

O plantio da safra 2015/16 de soja no Brasil já começou há algumas semanas, mas nestes primeiros dias de outubro ainda se mostra bastante tímido. Consultorias estimam que cerca de 2 a 3% da área já esteja semeada em todo o país e a atenção maior dos produtores está voltada agora para o seu insumo principal: a chuva. 

De acordo com informações do Deral (Departamento de Economia Rural), o Paraná já plantou 23% da área e Santa Catarina com 15%, aproximadamente, conforme informações prévias da Faesc (Federação de Agricultura do Estado de Santa Catarina). O Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) informa que no Mato Grosso o índice era de 1,67% até o último dia 1º; em Goiás, menos de 2%, segundo a Faeg (Federação de Agricultura do Estado de Goiás), no Mato Grosso do Sul, 6,4%, como mostram dados da Famasul (Federação de Agricultura do Estado do Mato Grosso do Sul).

Esses percentuais, no entanto, poderiam não evoluir em um ritmo muito acelerado neste mês, principalmente na região Central do Brasil, em função das condições climáticas atuais, as quais ainda não são completamente adequadas para os trabalhos de campo. 

Segundo explicou Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da Somar Meteorologia, outubro ainda será marcado pela intensa irregularidade das chuvas, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Apesar de mais frequentes do que em relação ao no passado, as precipitações deste ano devem ser irregulares tanto na chegada, quanto nos volumes. 

"O plantio desta nova safra deve continuar atrasado em relação à média, porém, não em relação ao ano passado, quando tivemos cerca de 20 dias de outubro muito secos na região Central do Brasil. A boa notícia deste ano é que não vamos ter aquele veranico de 2014", diz Santos. 

Dessa forma, o agrometeorologista afirma ainda que, nesta temporada, o plantio desta safra será realizado em "doses homeopáticas", com o produtor minimizando seus riscos em um ano de tantar incertezas. Os trabalhos de campo, portanto, deverão ser bem mais parcelados do que em anos anteriores, com os sojicultores aproveitando esses melhores momentos climáticos, com chuvas mais adequadas para a implantação das lavouras. 

A previsão, ainda segundo Santos, é de que na região Central do Brasil, o regime de chuvas se instale de forma mais expressiva a partir de novembro. 

Por outro lado, chove excessivamente no Sul do país. Refletindo as características mais claras do El Niño, que é o mais forte desde o ocorrido entre os anos de 1997/98, as precipitações estão bem concentradas, principalmente, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, mas também chegam ao Paraná, que é o estado onde o plantio está mais adiantado.

Ainda de acordo com informações da Climatempo, nos próximos 7 dias, há possibilidade de temporais nos três estados da região Sul e as chuvas acumuladas deverão ficar entre 125 mm até 150 mm.

Além das boas chuvas no Sul brasileiro, o sul do estado de Mato Grosso do Sul também recebe bons acumulados e, na região, os trabalhos de campo evoluem melhor do que no restante. 

A consultoria Céleres, em seu terceiro levantamento para 2015/16, projeta uma expansão da área plantada de soja de 2,3% no Brasil em relação à temporada anterior, podendo chegar a 32,2 milhões de hectares. A estimativa da consultoria é de uma colheita de 97,08 milhões de toneladas, com produtividade esperada de 3,02 toneladas/ha (50,3 sacas/ha). 

"Vale ressaltar que diante dos custos mais altos nesta temporada e da perspectiva baixista para as cotações em 2016, a ampliação de área na temporada 2015/16 deva ser bastante criteriosa. É fundamental que o sojicultor brasileiro tome cuidado com os possíveis riscos e custos de aberturas de novas áreas e preocupe-se, primeiramente, com a eficiência produtiva nas áreas já consolidadas", informou a Céleres em nota.

Região Centro-Oeste

Já no Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul tem o plantio mais adiantado até esse momento, com 6,4% da área já semeada. Contudo há dois cenários, no sul do estado as chuvas têm sido mais frequentes, o que possibilitou o cultivo em 9% da área estimada para essa temporada. Em contrapartida, no norte onde as precipitações estão bem irregulares, o plantio está próximo de 1%. 

O analista técnico da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul), Leonardo Carlotto, explica que, a situação ainda não representa uma preocupação. "Tradicionalmente, os produtores do norte do estado começam o plantio mais tarde por conta das condições geográficas", completa. Ao todo, a projeção é que sejam colhidas 7,3 milhões de toneladas de soja nesta temporada. A oleaginosa deverá ser cultivada em uma área estimada em 2,4 milhões de hectares, um aumento de 4,5% em relação à safra anterior.

No estado vizinho, o Mato Grosso, o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) indicou o cultivo da soja completo em 1,67% da área até o dia 1º de outubro. Em meio às chuvas esparsas, muitos produtores permanecem cautelosos em iniciar os trabalhos de campo, considerando que essa é uma safra com custos mais elevados. Apenas em áreas de pivô, a semeadura da oleaginosa tem transcorrido com pouco mais de tranquilidade.

Em Tapurah, o ritmo do plantio ainda continua lento, segundo sinaliza o presidente do sindicato rural do município, Silvésio de Oliveira. “Ainda é cedo, mas tudo indica que teremos um atraso no plantio da soja e o maior problema é o impacto que esse cenário terá na safrinha. Podemos acompanhar um atraso também no plantio da safrinha, milho e algodão", reforça.

Nesta temporada, os produtores mato-grossenses deverão colher em torno de 29.067,921 milhões de toneladas de soja, ainda de acordo com Imea. O volume representa um ganho de 3,50% em comparação com a anterior, quando foram colhidas 28.085,262 milhões de toneladas do grão. A área cultivada deverá registrar leve aumento, de 2,06%, totalizando 9.203,560 milhões de hectares nesta temporada.

O quadro é bastante semelhante no estado de Goiás. As chuvas também são esparsas e a semeadura segue lenta e se concentra em áreas de pivô. O assessor técnico do Sistema Senar/Goiás, Cristiano Palavro, até o momento, pouco menos de 2% da área foi plantada. O grão deverá ocupar cerca de 3,4 milhões de hectares, com aumento de 3%, e a safra é estimada em 10,1 milhões de toneladas. 

"Temos uma preocupação, pois as perspectivas para os próximos dias não são de volumes de chuvas significativos. Isso ainda não refletiria em perdas de produção e produtividade para a soja, já que a janela ideal de plantio vai até o dia 15 a 20 de novembro e a semeadura se concentra na 2ª quinzena de outubro. Porém, o atraso na soja pode comprometer o período ideal do plantio do milho em fevereiro", alerta Palavro.

Região Sul

Com chuvas mais regulares, o estado do Paraná lidera o plantio da soja da nova temporada. Na região de Astorga, até o momento, pouco mais de 13% da área já foi plantada com o grão. Segundo o presidente do sindicato rural do município e vice-presidente da Faep (Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Paraná), Guerino Guandalini, se o clima permanecer favorável, o estado poderá colher novamente uma super safra.

Para essa temporada, a perspectiva é que sejam colhidas 17,9 milhões de toneladas do grão, conforme projeção do Deral. No ciclo anterior, os produtores paranaenses colheram cerca de 16,9 milhões de toneladas de soja. Já a área semeada deverá registrar um incremento de 2%, totalizando 5,22 milhões de hectares cultivados nesta safra. 

Ainda no Sul do país, o cultivo da soja já está completo em 15% da área em Santa Catarina. E, por enquanto, o clima permanece úmido devido à influência do El Niño. Na visão do presidente do sindicato rural de Xanxerê e 1º vice-presidente da Faesc (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina), Enori Barbieri, o cenário já preocupa os produtores rurais catarinenses, já que a previsão é de que as chuvas fiquem acima da média nos próximos meses. 
"Sabemos que se as precipitações forem excessivas poderemos ter um reflexo no rendimento das lavouras de soja", ressalta Barbieri.

Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, os trabalhos estão bem no início uma vez que os produtores têm a tradição de realizar o cultivo do grão no começo do mês de novembro. Entretanto, os agricultores que iniciaram o plantio tiveram que interromper os trabalhos de campo em função das chuvas excessivas. 

Região Sudeste

Do mesmo modo, no Triângulo Mineiro, os produtores também estão bastantes cautelosos frente às precipitações irregulares. "A previsão é que a partir do dia 15 de outubro tenhamos chuvas mais fortes e com isso tenhamos a janela para iniciar o plantio, já que a região planeja fazer uma safrinha", afirma o presidente do sindicato rural de Uberaba, Romeu Borges de Araújo.

Efeitos do El Niño

Novos estudos de previsão de similaridade apontam que o El Niño neste ano é semelhante ao registrado nos anos de 1997/98, de acordo com informações do climatologista, Luiz Carlos Molion. O pico de temperatura deve ocorrer nos meses de dezembro e janeiro, causando uma redução de 10% a 20% nas chuvas no Centro-Oeste e Sudeste entre janeiro a fevereiro/16. No período, as lavouras da soja estarão nos estágios R3 e R4, enchimento de grãos e já entrando na formação de grãos.

Por outro lado, os estados do Norte e Nordeste como Ceará, Pará, Maceió e Piauí devem presenciar uma redução severa de até 50% no volume de precipitações durante praticamente todo o verão. Paralelamente, as chuvas devem continuar no Sul do Brasil. A partir de janeiro, os estudos indicam uma diminuição no volume de precipitações, mas não serão reduções significativas, ainda conforme explica o climatologista.

 

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Tags:
Por:
Carla Mendes e Fernanda Custódio
Fonte:
Notícias Agrícolas

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