Prêmios elevados amenizam efeito do dólar para preços da soja no Brasil

Publicado em 05/04/2016 11:45

Em março, o dólar fechou o mês com uma baixa acumulada de 8,75%, deixando os R$ 3,94 do dia 1º para trás e voltar à casa dos R$ 3,60, testando, em determinados momentos, valores abaixo desse patamar. A movimentação da moeda norte-americana impactou diretamente na formação dos preços da soja no Brasil, motivou a saída dos produtores de novos negócios e ajudou a travar o mercado nacional. 

Por outro lado, como um colchão para essa baixa da divisa, os prêmios pagos pela oleaginosa brasileira dispararam no último mês e têm sido, ao lado de referências ligeriamente melhores para a commodity no mercado de Chicago, o principal fator de suporte para os valores praticados no Brasil. 

Para Ênio Fernandes, consultor em agronegócios, essa disparada dos prêmios vem, justamente, como uma forma de compensação pela queda do dólar e como mecanismo para estimular vendas por parte dos produtores brasileiros que, neste momento, seguem retraídos. Afinal, apesar desse 'bônus', os atuais preços ainda não são atrativos, mantêm os sojicultores afastados do mercado, enquanto a demanda segue forte. 

No porto de Paranaguá, por exemplo, a posição de entrega abril/16 registrou um aumento de 124% em março, saltando de 24 cents para 46 cents de dólar; enquanto isso, maio/16 subiu 70,37% - de 27 para 45 cents - e o junho/16 passou de 33 para 43, registrando uma elevação, portanto, de 36,36%. 

Nesse mesmo período, confirmando a demanda internacional ainda bastante ávida pela soja brasileira, os números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, somente no primeiro trimestre do ano, foram exportadas 10,77 milhões de toneladas. O voluma é 65% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. Em março, o total de embarques - 8,37 milhões de toneladas - foi recorde na história do Brasil. 

"Com os produtores tanto brasileiros, como norte-americanos, fora das vendas, os compradores vão tentar garantir seu produto via prêmio, principalmente com essa queda do dólar no Brasil", explica Fernandes. "Quando o dólar voltar a subir, podemos ver os prêmios se amenizando", completa. 

Além disso, o consultor lembra ainda que devido ao atraso registrado no início da safra 2015/16, a chegada da nova soja aos portos também atrasou, atrasando os embarques e, portanto, aumentando os lineups nos portos nacionais. "Assim, também via prêmio, os compradores tentam originar alguns volumes nos portos para agilizar seus embarques", explica. 

Além da baixa do dólar, a retração vendedora do produtor brasileiro também é combustível para os prêmios. Com mais de 60% da safra negociada, o sojicultor brasileiro evita novas vendas no atual cenário, não só pelos preços mais baixos, mas pelas inúmeras incertezas no horizonte diante da eletrizante cena política nacional e, consequentemente, das incertezas sobre a movimentação do câmbio. 

"A alta dos prêmios é uma tentativa de atrair o produtor para o mercado, para que venda, que participe. A alta dos últimos dias em Chicago, nem de longe, compensou as perdas no câmbio. Então, por isso, o mercado vai mostrando uma solução possível, que é, aos poucos ir aceitando a alta de prêmios", explica o analista de mercado e economista da Granoeste Corretora de Cereais, Camilo Motter.

O avanço dos prêmios, portanto, ainda segundo o analista, poderia se dar até que o preço final do produtor brasileiro volte a ser competitivo, afinal, "no momento em que nosso preço fica mais alto, outros concorrentes entram no jogo, como Estados Unidos e Argentina", completa Motter. 

Por hora, os produtores dos Estados Unidos, como relata o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, também não se sentem atraídos por novas vendas. Os prêmios para a soja dos EUA estão, atualmente, abaixo dos 40 cents de dólar para embarques curtos, o que, portanto, não estimula os negócios. 

"A soja brasileira está pagando mais, há um interesse maior dos grandes players internacionais em puxar mais soja brasileira neste momento, há uma disponibilidade de navios maior na nossa costa para carregar a nossa soja e isso favorece também", diz. "Assim, o mercado mundial vem sendo abastecido com a soja daqui e esses são fatores que limitam um pouco os negócios por lá", completa.

E a China continua bastante presente nas compras de soja do Brasil. "Os chineses estão batendo recorde em levar soja, eles não estão comprando grandes volumes nos EUA nesse momento, mas os embarques brasileiros, desde fevereiro, com destino à China, são muito grandes, estão superando todos os anos anteriores. Então, a China não parou de comprar, ela continua levando produto brasileiro, as compras no Brasil estão aceleradas", relata o consultor.    

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Por:
Carla Mendes e André Bittencourt Lopes
Fonte:
Notícias Agrícolas

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário