Soja sobe mais de 5% em Chicago e próxima semana ainda conta com força da demanda

Publicado em 25/11/2016 16:14

A estabilidade pelo mercado da soja registrada no início do pregão na Bolsa de Chicago pós feriado de Ação de Graças foi deixada de lado, os preços voltaram a subir e encerraram os negócios registrando, nas principais posições, altas de mais de 10 pontos, com o contrato janeiro/16 buscando o patamar dos US$ 10,50 e o maio/17, referência para a nova safra do Brasil, testando os US$ 10,60 por bushel nesta sexta-feira (25). 

E com os ganhos desta sessão, os principais contratos da oleaginosa acumularam, na semana, altas que variaram de 4,72% a 5,26%. 

E no Brasil, as cotações acompanharam o movimento positivo, porém, fecharam a semana com ganhos um pouco mais tímidos, variando entre 1,23% e 2,92% no interior do Brasil, nas principais praças de comercialização, segundo um levantamento feito pelo Notícias Agrícolas. As referências, assim, fecharam com valores entre R$ 66,00 - como em Campo Novo do Parecis/MT - a R$ 77,00, como é o caso de Ponta Grossa, no Paraná. 

Nos portos, por outro lado, os preços dispararam e encerraram os negócios desta semana com valores para a soja da safra nova de até R$ 86,00, em Rio Grande, onde o ganho acumulado foi de R$ 3,61%, e para o disponível, alta de 6,63% para R$ 82,00 por saca. No terminal de Paranaguá, o preço também é de R$ 82,00 em ambos os casos. 

O mercado brasileiro encontrou espaço para as altas no combinado de altas em Chicago e do dólar que, registrou uma alta semanal de 0,58% para encerrar com R$ 3,4135. Na máxima desta sexta, porém, a divisa foi a R$ 3,4694 diante do agravamento da crise política no Brasil. E o quadro político doméstico deverá ser, segundo o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, o principal direcionador do câmbio na próxima semana.

"O Brasil não está tranquilo. Estamos dependendo da questão política local e tudo aquilo que ainda não pode ser medido", diz. 

Como explicou a analista de mercado Andrea Sousa Cordeiro, da Labhoro Corretora, esse movimento positivo das cotações pré e pós feriado é tradicionnal no mercado de Chicago, precedido por uma curva de liquidação de posições. "Temos, na semana que vem, tês pregões que antecedem o final do mês e os fundos podem realizar lucros para apresentar bons resultados para seus clientes", diz. 

No entanto, Andrea afirma que com o presente momento da demanda esse movimento pode ser amenizado. A analista explica que esse segue como o principal pilar de sustentação das cotações e que, por isso, o movimento de avanço da commodity ainda pode contar com espaço para continuar. A China continua muito agressiva nas compras e os números que refletem a realidade das vendas norte-americanas são surpreendentes. "Até janeiro, pelo menos, os EUA são o único país com soja disponível para entregar para a China", explica. 

Em um reporte divulgado nesta sexta, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) indicou que o total de soja já comprometido com as exportações desta temporada comercial somam 40.370,1 milhões de toneladas, contra 31.974,2 milhões do mesmo período da temporada comercial 2015/16, e corresponde a 72,4% do estimado pelo departamento para ser exportado nesta safra, de 55,79 milhões de toneladas. Somente na semana encerrada no último dia 17, o volume foi de 1,9 milhão de toneladas. 

"Eles estão comprando mais porque a demanda interna é muito forte, há um programa de recuperação dos rebanhos suínos da China, há ua grande melhora nas margens de esmagamento, os preços da carne suína atingiram níveis recordes, é a carne básica da população chinesa e o governo tem grande preocupação em manter essa carne com preços regulados. E essas grandes compras são para garantir o suprimento de farelo de soja. Esse é o motivo real ", afirma o consultor de mercado Carlos Cogo, explicando alguns dos principais motivos que justificam essa demanda cada vez mais intensa. 

Nesse quadro, a tendência é de manutenção e força dessa demanda, uma vez que não só o mercado chinês de proteínas está bastante aquecido, mas o global acompanha. "Os mercados estão fortes em termos de demanda, temos uma projeção para 2017 de expansão de demanda global de carnes, principalmente frango e suínos - que utitilizam farelo de soja e milho - e em países emergentes, principalmente. Então, não é só a China que está comandando essa demanda forte, podemos citar a própria Índia, e todo o continente asiático. A demanda é forte por soja e derivados", diz Cogo. 

E nesta última semana, além das boas informações - e já conhecidas - sobre o farelo, o mercado da soja foi beneficiado ainda pelas novidades no setor do óleo - com uma demanda adicional nos EUA diante da maior utilização de biocombustíveis no país - e que provocou uma forte alta entre os futuros do produto nos mercados internacionais, principalmente na Bolsa de Chicago. Além disso, há ainda a força do óleo de palma - importante concorrente do de soja - que, com os problemas de produção na Malásia em função de adversidades climáticas, também vem registrando suas máximas em anos. 

E nos Estados Unidos, como lembra Andrea Sousa Cordeiro, a demanda interna pelo farelo de soja poderia ainda encontrar também um bom momento diante do tempo frio que chegou mais cedo e poderia trazer a necessidade de mais ração para os granjeiros no país, trazendo ainda mais força para o mercado. Esse, portanto, é mais um ponto a ser observado na próxima semana. 

Os dias seguintes no mercado internacional também deverão sentir a volatilidade trazida pelas especulações sobre o clima na América do Sul. "Algumas adversidades no Brasil e na Argentina já estão começando a ser observadas e precificadas, o mercado já estão prestando atenção nisso também", explica a analista da Labhoro. E, mesmo que essas informações tenham efeito pontual sobre o mercado, devem ser consideradas, já que, ao promoverem novas altas na CBOT, poderiam ajudar a motivar a comercialização nos EUA nas próximas semanas, além da demanda, por exemplo. 

Para Ênio Fernandes, consultor de mercado da Terra Agronegócios, a tendência de alta para os preços, portanto, também se apoia nas consequências que o La Niña ainda poderia, portanto, poderia causar para a safra sulamericana daqui em diante. A mudanças nas notícias, porém, exige cautela e atenção do produtor brasileiro que precisa terminar suas estratégias de comercialização, como orienta o executivo. 

"Dependendo da informação que você tem, você cria sua estratégia. E a estratégia agora é calma nas vendas e parcimônia, deu margens saudáveis, começa a vender. Estamos em ano de La Niña e, em anos de La Niña, é muito difícil não termos nenhum problema na América do Sul, principalmente na Argentina", alerta Fernandes. 

Movimento da comercialização no Brasil

Apesar desse bom momento dos preços em Chicago, a movimentação dos negócios no mercado brasileiro ainda estão lentas, com um índice de comercialização menor do que o registrado no mesmo período do ano comercial 2015/16. Segundo explicam analistas e consultores, essa "ausência de vendedores" vem de uma conjunção de fatores. 

Para Carlos Cogo, as expectativas de um dólar mais alto depois da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos é uma dessas peças. "A política está traçada. Se for colocada em prática, o dólar ficará valorizado nos Estados Unidos e subir em alguns países como o Brasil, que são mais vulneráveis a essa questão", avalia.

Ao mesmo tempo, há ainda a incerteza sobre o clima e os resultados efetivos da safra 2016/17, com a experiência da temporada anterior ainda na memória dos sojicultores, com perdas e a impossibilidade do cumprimento de contratos em muitas regiões produtoras importantes. Segundo explica Camilo Motter, economista e analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais, há avaliações que indicam que haja cerca de 30% a 35% da área brasileira da soja - com estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, partes do Mato Grosso do Sul e São Paulo, sob risco climático nessa safra, área que estaria no foco do La Niña.

"É uma postura lógica do produtor, que recua diante da possibilidade de que a produção se perca. Por outro lado, como ele também já esperou bastante tempo, agora, diante de um fato que pode culminar em uma perda e levar a uma elevação dos preços, o produtor observa para ver o que vai acontecer", explica Motter.

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Neste exato momento o real desvaloriza 0,90% em relação ao dólar, ao mesmo tempo que desvaloriza 0,88% em relação ao yuan chinês. o yuan permanece estável em relação ao dólar com desvalorização de 0,04%. A soja ganhou 1,47% em Chicago. A desvalorização do real é vantajosa para os chineses pois faz o preço aumentar internamente, enquanto para os chineses permanece praticamente estável. A vantagem do aumento em Chicago permanece com os americanos, pois lá o aumento do preço da soja é acompanhado por um aumento dos valores pagos pelos chineses pela soja americana. Nos últimos 30 dias a soja subiu 3,59% enquanto o real perdeu 6,18% de valor frente ao yuan chinês, o real em comparação ao dólar perdeu 8,96% do valor.

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