Soja: Divergência entre previsões para América do Sul será chave do mercado

Publicado em 03/01/2018 12:19

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As divergências para o clima na América do Sul começam a ficar cada vez mais evidentes e poderão ser um ponto-chave para o mercado internacional da soja. As incertezas ainda não se tornaram ameaças, porém, as melhores chances de chuvas para a Argentina, por exemplo, são esperadas somente para a segunda quinzena do mês. 

"Até o dia 14 de janeiro, as precipitações estão bem escassas para a Argentina, com as melhores chances de chuvas generalizadas somente a partir do dia 15. E mesmo assim, nem todos os modelos climáticos têm confirmado tais projeções", explica o analista de mercado da AgResource Mercosul (ARC), Matheus Pereira. 

A consultoria internacional trabalha com três principais modelos climáticos: americano, europeu e canadense. E entre eles, nos intervalos dos próximos 1 a 5, 5 a 10 e 10 a 15 dias, as informações são diferentes, como mostra a imagem abaixo, com nove mapas. 

Mapas AGR

Os volumes esperados de chuva, principalmente para o período de 7 a 12 de janeiro, devem ser reduzidos intensamente, além das precipitações poderem chegar atrasadas às regiões produtoras do país. 

Clima Agr

"As previsões possuem grande divergência, diminuindo a confiança. Além do mais, assim como ressaltado pela ARC, com a presença do La Niña em janeiro, as projeções meteorológicas tenderiam para um cenário mais árido sobre a Argentina e o Rio Grande do Sul', diz. 

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Com essas condições, e as chuvas ainda muito irregulares Argentina a fora, o plantio da soja e do milho seguem bastante atrasados, com cerca de 5 milhões de hectares ainda a serem cultivados. 

Previsões do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) do país trazem previsões que mostram boas chuvas chegando às áreas produtoras da Argentina em 10 dias. No entanto, o boletim da organização dá conta ainda de que essas precipitações seriam insuficientes para melhorar o balanço hídrico deficitário em várias regiões.

"Há poucas chances de chuvas para sexta-feira ou sábado e, se há, estas seriam deficitárias", disse Pablo Mercuri, diretor do Centro de Pesquisa de Recursos Naturais do INTA ao La Nación. 

Porcentagem de água útil nos solos argentinos em 02/01/2018 (Fonte: La Nación)

Porcentagem de água útil nos solos argentinos em 02/01/2018 - Fonte: La Nación

Porcentagem de água total nos solos argentinos em 02/01/2018 (Fonte: La Nación)

Porcentagem de água total nos solos argentinos em 02/01/2018 - Fonte: La Nación

Nas últimas 24 horas, de acordo com informações do Inmet apuradas pelo Commodity Weather Group (CWG), as chuvas não cobriram 10% da área de soja e milho da Argentina, ao mesmo tempo em que chegaram a algo entre 30% e 40% no Brasil, com os menores volumes sendo registados no sul do Rio Grande do Sul e na área do Matopiba. 

24 horas

Entre as previsões do CWG, o período mais crítico será o que mostra chuvas bem abaixo da média entre os próximos 1 a 5 dias, como mostram as figuras abaixo. "A umidade do sul do Brasil e da Argentina cai de forma considerável na primeira metade da semana que vem", diz o boletim diário do instituto. 

Mapas CWG

Previsões de chuvas do Commodity Weather Group

Ademais, o Commodity Weather Group afirma que "cerca de metade da área de soja e milho da Argentina e, aproximadamente, 15% da brasileira irão necessitar dessas chuvas do meio de janeiro, porém, o alívio é esperado, até esse momento, somente para a região de Buenos Aires". 
 
Na previsão mais alongada - dos próximos 16 a 30 dias - as chuvas ainda seguem escassas na Argentina, abaixo da média nas principais regiões produtoras. 

16 a 30 dias - CWG

Chuvas previstas para os próximos 16 a 30 dias na América do Sul - Fonte: CWG

No Brasil, um dos pontos de mais atenção entre os traders é o sul do Brasil, especialmente o excesso de chuva que foi registrado no Paraná nos últimos dias. O acumulado das precipitações, somente nesta terça-feira (2), passou de 100 mm e algumas partes do estado. Nos últimos 10 dias, esse número passa de 300 mm em pontos do oeste paranaense. 

Chuvas 2 de janeiro

Chuvas acumuladas em 2 de janeiro no Brasil - Fonte: Inmet

Acumulado 10 dias

Chuvas acumuladas nos últimos 10 dias no Brasil - Fonte: Inmet

Entretanto, segundo o meteorologia do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), Luiz Renato Lazinski, as chuvas começam a diminuir de forma considerável nos próximos dias no Paraná, trazendo tempo mais firme nos próximos 4 a 5 dias. E essa é uma condição, de acordo com o especialista, que deverá ser observada em toda a região Centro-Sul do Brasil. 

Como explica Lazinski, essa irregularidade das chuvas é uma característica típica de anos de La Niña e deverá ainda ser observada durante todo o desenvolvimento da safra brasileira de verão. "Durante novembro e os primeiros 20 dias de dezembro as chuvas ficaram bem abaixo da média no Paraná, por exemplo, e essas chuvas vieram depois", diz. 

Um boletim da Climatempo mostra que "na metade sul do Rio Grande do Sul, a ausência de chuvas regulares e, sobretudo, em bons volumes, já tem causado perdas localizadas em várias lavouras de soja".

Impacto sobre os preços e os negócios

Nesse quadro, a orientação de analistas e consultores de mercado é de que o produtor brasileiro siga atuando com cautela e sem tirar os olhos dos mapas climáticos, que são atualizados, em cada modelo, mais de uma vez por dia. A volatilidade, afinal, tende a continuar e deve se acentuar entre o caminhar das cotações na Bolsa de Chicago nos próximos dias.

"Entramos na parte mais importante do clima na América do Sul. Temos a safra brasileira plantada, a Argentina praticamente concluída em termos de soja", diz Ginaldo Sousa, diretor da Labhoro Corretora. "Temos essa soja que foi plantada no tarde e que vai precisar de chuvas em fevereiro, por exemplo", completa. 

As variáveis a se observar para concluir novos negócios serão inúmeras e, por isso, a recomendação de Sousa é de que as vendas ainda a serem feitas sejam retidas um pouco mais na espera de uma definição de algumas delas. 

"Acho que o produtor brasileiro deveria ter aproveitado preços acima dos US$ 10,00 em Chicago, como tem que aproveitar (se voltarem a alcançar esse valores), e o dólar na faixa dos R$ 3,33 aos R$ 3,35 também. Então, temos que esperar um pouco mais. Eu recomendaria ao produtor que ainda não vendeu que, se Chicago fizer um rally, subir 10 ou 15 centavos, ou se o dólar se recuperar, o produtor deve ir fazendo média", orienta o diretor da Labhoro.

Historicamente, ainda segundo afirma Sousa, a dependência do mercado, nesse momento, é exclusivamente do clima. "Por isso é importante acompanharmos as previsões diárias - as chuvas das 24 horas passadas e as chuvas das próximas 24 horas, porque as previsões para os próximos 5, 7 dias não têm sido confiáveis", conclui. 

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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