Farelo de soja do Brasil tem preços melhores e espaço maior no mercado internacional

Publicado em 19/02/2018 13:43

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Os problemas com a safra de soja da Argentina preocupa o mercado não só do grão, mas principalmente dos derivados. Os rallies no farelo de soja foram tão intensos que levaram as cotações na Bolsa de Chicago a acumularem uma alta de mais 17% desde o início do ano até a última sexta-feira (16). O contrato março/18 foi de US$ 317,90 para US$ 373,30 por tonelada curta, com um avanço de 17,43%, enquanto o maio foi de US$ 321,00 a US$ 326,00 no mesmo período, subindo 17,13%. 

Farelo CBOT - Março

Movimentação dos preços do farelo de soja na CBOT - Contrato março/18 - Fonte: CBOT

Farelo CBOT - Maio

Movimentação dos preços do farelo de soja na CBOT - Contrato maio/18 - Fonte: CBOT

No mesmo intervalo, os contratos da soja, por sua vez, acumulam um ganho de pouco mais de 5%. O vencimento março/18 passou de US$ 9,75 para US$ 10,32 e o maio/18 de US$ 9,64 para US$ 10,21 por bushel, com altas respectivas de 5,85% e 5,91%. 

Soja CBOT - Março

Movimentação dos preços da soja na CBOT - Contrato março/18 - Fonte: CBOT

Soja CBOT - Maio

Movimentação dos preços da soja na CBOT - Contrato maio/18 - Fonte: CBOT

A Argentina é hoje a maior exportadora mundial de farelo e óleo de soja e os impactos principais das preocuapações de uma colheita bem menor do que o inicialmente projetado chega, portanto, mais diretamente aos derivados. A boa notícia, por outro lado, é de que o cenário abre espaço para uma maior participação do Brasil neste mercado. Além de uma menor oferta vinda do país vizinho, o produto brasileiro tem ainda melhor qualidade frente a seus concorrentes. 

"Parte dessa brecha que a Argentina vai deixar vai abrir espaço para o Brasil, não só para o farelo, mas também no grão. Então, há duas maneiras de aumentar nossas exportações", explica o consultor de mercado Vlamir Brandailzze, da Brandalizze Consulting. "E além disso, o esmagamento deve aumentar para atender a demanda maior do biodiesel - em cerca de 4 milhões de toneladas - e, com isso, teríamos algo perto de 2 milhões a mais de farelo para exportar a mais", diz. 

Dessa forma, com as expectativas iniciais de uma exportação de 15 milhões de toneladas de farelo, o Brasil poderia aumentar esse volume em cerca de 115%. "E esse é um volume considerável, com o faturamento podendo aumentar em US$ 800 milhões", acredita Brandalizze. 

E se antes o mercado brasileiro de farelo de soja era mais atrelado aos importadores europeus, esse natural crescimento da participação do Brasil começa a chegar a outros compradores com enorme potencial, como a Ásia, a África e até mesmo a América Central. Os números atualizados que a Secretaria de Comércio (Secex) traz no final da tarde de hoje, portanto, podem indicar bons volumes. 

"O mercado mundial está crescendo muito e vem procurar o produto do Brasil. Esse seria um momento mais lento para os negócios com o farelo, mas este ano tem sido diferente. Até mesmo na semana do Carnaval tivemos negócios saindo para a exportação", afirma o consultor, que lembra ainda que a demanda interna também está bastante aquecida - com um crescimento no setor de rações - e que a conjunção desses fatores ajuda a puxar os preços do derivado também no mercado doméstico. 

Os valores do farelo no Brasil, ainda segundo Brandalizze, têm variado de R$ 1180,00 a R$ 1250,00 por tonelada e, "se voltarmos há cerca de um mês estavam de R$ 100,00 a R$ 150,00 menores". Referências apuradas pelo Notícias Agrícolas mostram uma alta, desde o início de 2018 até a última sexta-feira (16), de 1,96% no Rio Grande do Sul - com o preço subindo de R$ 1020,00 para R$ 1040,00 por tonelada - e de 6,04% em Cuiabá, com alta de expressivos 6,04%.  

Não só pelo gap deixado pela Argentina, mas pela maior qualidade do produto do Brasil é que o espaço tem sido maior para o farelo nacional. Como também explica Vlamir Brandalizze, a qualidade do grão e, consequentemente o teor de proteína foram menores nesta temporada. "O teor de proteína da soja americana ficou entre 27% e 28%, o que fez com que o farelo tivesse entre 37% e 38%, enquanto no Brasil foi de 34% a 36% de proteína no grão e de 40 a 48% no farelo". 

Preços x Margens 

Para Soren Schroder, um dos executivos-chefe da Bunge, esse momento de preços melhores para o farelo traz um cenário mais favorável também para o aumento das margens das esmagadoras. Em Chicago, são os níveis mais altos em 19 meses, afinal. 

"O agronegócio enfrentou desafios signficativos de margens diante das médias das margens de esmagamento mais baixas em cerca de US$ 5,00 por tonelada no ano passado se comparadas as de 2016 e de mais de US$ 10,00 em relação as dos últimos três anos", diz o executivo ao portal britânico Agrimoney.  

"Nossa análise, no entanto, sugere que não chegamos lá ainda, que o farelo de soja ainda conta com preços razoáveis e, portanto, tem mais espaço para ir adiante", acredita. Para a Bunge, o último trimestre - de outubro a dezembro - ja foi um bom período para o produto, com um consumo importante acontecendo mundo a fora. "E acreditamos que chegando o segundo e terceiro trimestres deste ano, o mercado do farelo deverá continuar a crescer de uma forma saudável, que não foi o que observamos no ano passado", completa. 

A demanda mais forte, ainda segundo ele, vem de um crescimento consistente do setor pecuário.  

E mais uma boa notícia para o Brasil. Para um dos chefes da Bunge, a presença mais forte do país no mercado internacional do farelo de soja - e ainda com uma qualidade melhor - é uma "coisa muito boa" no momento em que as relações comerciais entre China e Estados Unidos estão estremecidas. 

"Eu espero que isso mostre o significado dos Estados Unidos como um dos mais importantes fornecedores da China e que as coisas se resolvam. Caso não aconteça, temos muita soja no Brasil", diz Schroder. 

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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