Chicago x Dólar: Preços da soja no BR mantêm equilíbrio após dia intenso

Publicado em 21/05/2018 18:06
Carla Mendes, do Notícias Agrícolas+Folha+Estadão

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A intensa alta registrada pelos futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago na sessão desta segunda-feira (21) teve efeito limitado sobre a formação dos preços no mercado brasileiro. A queda do dólar - que vinha acumulando ganhos significativos na última semana - passou de 1% e pesou sobre as cotações. 

No porto de Paranaguá, a soja disponível ficou em R$ 86,50 por saca, recuando 0,46%, enquanto a referência junho/19 terminou o dia com R$ 87,00 e baixa de 0,57%. Já em Santos, estabilidade nos R$ 84,20. Em contrapartida, Paranaguá subiu 1,16% no disponível para fechar nos R$ 87,00. 

No interior, os preços também fecharam os negócios desta segunda-feira sem uma direção comum na maior parte das principais praças de comercialização pesquisadas pelo Notícias Agrícolas. 

Enquanto em São Gabriel do Oeste/MS o preço da saca de soja foi a R$ 73,30 subindo 4,71%, em Tangará da Serra e Campo Novo do Parecis, ambas em Mato Grosso, os indicativos cederam mais de 1%. No Paraná, Castro viu uma baixa de 0,57% para R$ 86,50, enquanto Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, teve alta de 1,36% para R$ 74,02. 

Onde os preços perderam força a pressão veio, principalmente, da baixa do dólar que, nesta segunda-feira, foi de 1,35%, fazendo a moeda fechar os negócios com R$ 3,6890. A divisa passou por uma correção após um ganho acumulado de 5,44% em seis pregões positivos consecutivos. 

"O BC, que foi bastante criticado na semana passada, mostrou as caras para tentar conter a volatilidade do dólar", trouxe a Correparti Corretora em relatório, diz a nota da agência de notícias Reuters. 

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Ademais, as altas fortes - de mais de 2% no fechamento deste pregão na Bolsa de Chicago - pesaram sobre os prêmios pagos para a soja brasileira, que recuaram até 4,62% em Paranaguá em relação à última sexta-feira (18). A posição de entrega junho/18 tem 62 cents de dólar por bushel, enquanto a julho/18 tem 90. 

Os ganhos em Chicago foram motivados, entre outros fatores, pela suspensão da guerra comercial entre China e Estados Unidos, peça que também mexe com o andamento dos prêmios no Brasil. 

"Espera-se mais pressão sobre os prêmios no Brasil, que talvez fiquem abaixo do que estavam antes desse episódio todo", explica Camilo Motter, economista e analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais. "Entendo que o dólar, embora tenha relação com esta negociação por causa do grande déficit externo norte-americano, segue também  outros caminhos e, especialemnte, no caso brasileiro, vai seguir oscilando muito. Aí, entram nossos dramas internos também", completa. 

Além disso, Motter acredita ainda que, no quadro externo, a tendência é de que a moeda siga se valorizando ainda mais se "estas negociações realmente resultarem - em perspectiva- em redução do déficit dos EUA".

Com esses fatores e apesar de toda a efervescência do mercado, os preços da soja no mercado brasileiro pouco se alteraram e mantiveram, em linhas gerais, os patamares deste início de semana muito semelhantes ao do final da anterior. Assim, os negócios no Brasil ainda encontram bom potencial, mesmo acontecendo de forma pontual, depois de uma participação muito intensa dos produtores nos últimos meses. 

"Os produtores vieram participando muito desde o fim de março, tanto que a escala de embarques está alongada. Mas, os preços seguem convidativos. Agora, as variações maiores talvez venham com clima no Meio-Oeste americano", diz o analista. 

Mercado Internacional 

Na Bolsa de Chicago, a segunda-feira fechou com altas de 25,50 a 26,75 pontos - ou mais de 2,5% - entre as posições mais negociadas, que voltaram a atuar entre os US$ 10,25 e US$ 10,33 por bushel. Os futuros da commodity repercutiram a 'suspensão' da disputa comercial entre China e Estados Unidos registrado durante este final de semana. 

"EUA e China chegaram a uma espécie de acordo, pois, eles podem até não gostar um do outro, mas são grandes demais para se ignorarem", diz o diretor de estratégia agrícola do Commonwealth Bank da Australia, Tobin Gorey. 

Mesmo sem as negociações estarem finalizadas, os traders receberam com otimismo a notícia, uma vez que há ainda a informação de que os EUA querem aumentar de forma expressiva suas exportações de itens agrícolas para os chineses neste ano em algo entre 35% e 40%. 

"Embora não tenha havido um compromisso com valores, a China se comprometeu a aumentar as importações de produtos norte-americanos para aliviar o desequilíbrio comercial entre os dois países. Em troca, os dois países se comprometeram, por enquanto, a não aplicar retaliações", explica Camilo Motter.

Ainda segundo o executivo, dado o fato de a China ser uma grande produtora industrial, de fato,as compras do país deverão aumentar entre as matérias-primas, especialmente os produtos agrícolas. 

"Esta informação entrou na formação do preço, suplantando fatores negativos como o bom andamento do plantio e notícias de operações de washout (cancelamentos/recompra de posições) de quase 1 milhão de toneladas dos EUA (observadas na semana passada)", disse Motter.

Ainda hoje, traders atentos também aos números dos embarques semanais de grãos atualizados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) - que vieram bem acima das expectativas do mercado, além do reporte semanal de acompanhamento de safras que traz o avanço do plantio no país. As expectativas do mercado para a soja são de que a semeadura esteja concluída em algo entre 50 e 55% da área. 

Na semana encerrada em 17 de maio, os EUA embarcaram 893,680 mil toneladas da oleaginosa, contra 698,645 mil da semana anterior e frente a um intervalo de projeções de 380 mil a 680 mil toneladas. No acumulado do ano comercial, os EUA já têm embarcadas 45.645,368 milhões de toneladas, contra pouco mais de 50 milhões do ano passado, nesse período. 

Alta do dólar traz renda ao campo, mas enfraquecimento do real traz elevação de custo (por Mauro Zafalon, na FOLHA DE S. PAULO)

A alta do dólar traz renda ao campo, aponta para um novo cenário em 2019, mas requer cuidados e dificulta planejamento no setor.

A valorização da moeda dos EUA afeta não apenas o real mas a divisa de vários países. “A pergunta que deve ser feita é qual será a duração dessa valorização”, diz Fernando Muraro, analista da AgRural.

Se for curta, o mercado agropecuário se ajusta. Se for longa, haverá impacto no mercado de commodities.
Dólar em alta exigirá mais dinheiro dos países importadores na compra de commodities, inibindo a demanda.

“Historicamente, as elevações da moeda norte-americana têm sido positivas para a cadeia agropecuária”, diz Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector. Ele lembra, porém, que o enfraquecimento do real traz elevação de custos para os produtores.

O Brasil é dependente de fertilizantes e de produtos químicos. Pelo menos 60% dos produtores já adquiriram os insumos para a próxima safra. Os outros 40% vão pagar caro por esses produtos.

Dentro da porteira, os agricultores que ainda têm produtos exportFoáveis serão benefícios a curto prazo, segundo Anderson Galvão, analista da consultoria Céleres.

Há uma preocupação, no entanto, porque a alta não é garantia de renda no ano que vem. Assim como o produtor obtém mais reais na venda da soja, do milho, do café e dos demais produtos exportáveis, ele gasta mais reais para a compra dos insumos para a próxima safra.

A alta do dólar vem sendo provocada por motivos externos, e a estabilidade da moeda dos EUA também vai depender de medidas econômicas externas, segundo Galvão.

O pior dos mundos para o produtor seria pagar os insumos importados a R$ 3,70 ou R$ 4,00 por dólar nos próximos meses e vender a produção a R$ 3,10 a R$ 3,20 no próximo ano, segundo ele.

Fernando Cardore, vice-presidente da Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso), concorda que poderá haver o aumento de receitas no curto prazo. Grande parte da safra, contudo, já foi comercializada a um dólar com valores defasados, afirma.

Para ele, essa volatilidade da moeda dos EUA traz uma insegurança no setor. Ela dificulta as operações de hedge (proteção contra oscilações de mercado) e, consequentemente, até o planejamento.

Para Galvão, a mudança de rumo do dólar afeta inclusive as empresas de insumos, principalmente as que não têm estoques. Vão pagar mais pelos produtos nas importações e terão dificuldades nos repasses em uma eventual redução do valor da moeda norte-americana em 2019.

A valorização do dólar poderá mudar o cenário para a agricultura no próximo ano, dizem Silveira e de Galvão.

O primeiro acredita em um 2019 com um patamar de produção maior, enquanto Galvão refez os cálculos de ocupação de área agrícola no país.

Uma remuneração melhor pelos produtos agrícolas poderá elevar a área de plantio de soja em 1,5 milhão de hectares na safra 2018/19. Neste ano, foi de 34,7 milhões. A previsão anterior era de uma evolução de 700 mil a 1 milhão.

A melhora nos preços do milho vai fazer com que os produtores também deem mais atenção ao cereal.
O aumento de área na safra de verão deverá ser de 500 mil hectares. Na de inverno, o aumento poderá atingir 1 milhão de hectares, segundo Galvão.

 

Em alta Após sete semanas de queda, o etanol subiu pela segunda vez. De 14 a 18 deste mês, o preço médio do hidratado praticado pelas usinas foi de R$ 1,62 por litro.

Anidro Os dados são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), que mostra evolução de 6,8% na semana. Já o etanol anidro subiu para R$ 1,74 por litro, 5,5% mais.

(por Mauro Zafalon, na coluna Vaivém das Commodities da Folha de S. Paulo).

Trégua com armas apontadas, editorial do ESTADÃO

O presidente Donald Trump conseguiu atrair o governo chinês para uma tentativa de acordo comercial, mas seria ingenuidade festejar essa trégua

Armado para uma guerra comercial, o presidente Donald Trump conseguiu atrair o governo chinês para uma tentativa de acordo, mas seria uma ingenuidade festejar essa trégua. Em primeiro lugar, o conflito poderá explodir a qualquer momento, porque os americanos mantêm as armas apontadas e prontas para disparar, até porque serão usadas como ferramenta de negociação, como disse o diretor do Conselho Econômico Nacional dos Estados Unidos, Larry Kudlow. Em segundo, exportações de aço e alumínio de outros países continuam sujeitas à imposição de barreiras tarifárias ou cotas nos Estados Unidos. O Brasil é um dos países ameaçados. Em terceiro, o início de um entendimento entre Washington e Pequim, anunciado como avanço importante pela Casa Branca, indica um sucesso parcial, pelo menos até agora, de uma política baseada na truculência e no desprezo a normas multilaterais.

Nem o risco de uma guerra comercial entre os Estados Unidos e vários grandes parceiros está eliminado. Enquanto se preparava a trégua entre Washington e Pequim, autoridades da União Europeia, do Japão, da Índia e da Rússia comunicaram à Organização Mundial do Comércio (OMC) a disposição de impor barreiras a exportações americanas se o governo do presidente Donald Trump mantiver limitações a suas exportações de aço e de alumínio. Essa retaliação conjunta poderá resultar num enorme conflito entre grandes economias, mesmo se houver avanço nos entendimentos entre americanos e chineses.

A participação japonesa nesse movimento é especialmente significativa. O Japão é o mais poderoso aliado dos Estados Unidos no Extremo Oriente e o governo do primeiro-ministro Shinzo Abe tem procurado aproximar-se da atual administração republicana. Mais que isso, tem suportado com paciência pressões americanas sobre comércio bilateral e política regional. O governo japonês cobra isenção de impostos e de cotas para suas exportações de aço e de alumínio e, tudo indica, rejeita a discussão de qualquer acordo.

Neste momento, o governo americano parece concentrado na busca de uma solução para os problemas comerciais com a China, sem cuidar muito das controvérsias com outros parceiros. O presidente Trump cobra dos chineses medidas para reduzir substancialmente o desequilíbrio no comércio bilateral. Para isso seria preciso, segundo cálculos americanos, cortar US$ 200 bilhões do superávit chinês.

O saldo favorável à China atingiu US$ 375 bilhões no ano passado. Autoridades de Pequim concordaram em aumentar as importações de produtos originários dos Estados Unidos, mas, pelo menos segundo as primeiras informações, descartaram metas numéricas. Além disso, rejeitaram discutir o corte de US$ 200 bilhões no saldo chinês. O governo americano também cobra mudanças na política chinesa de absorção de tecnologia, em parte realizada, segundo o representante comercial dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, por meio de “transferências forçadas”.

Se falharem as negociações e começar a guerra comercial entre Estados Unidos e China, os chineses também poderão impor perdas consideráveis ao outro lado. Também por isso o presidente Donald Trump deu preferência à busca de um entendimento. Não estão claros, ainda, os efeitos dessa guerra para os demais participantes do comércio internacional, no curto prazo, mas os danos ao sistema global poderão ser significativos. O quadro ficará bem mais complicado se outras grandes economias entrarem no conflito, aplicando as medidas de retaliação informadas na última semana à OMC.

Por enquanto, prossegue o espetáculo da truculência. O presidente Trump forçou o governo chinês a negociar, a guerra foi suspensa por tempo indeterminado e os países com menor poder de fogo ficam à espera de novos lances. Embora o comércio com a China seja o mais problemático para os Estados Unidos, nenhum outro parceiro estará seguro enquanto o presidente Trump estiver empenhado em cumprir suas promessas de protecionismo. E o sistema internacional, é claro, continuará em risco.

 

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Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas/Folha/Estadão

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