Governo Trump não tem plano de ajuda ao campo em 2019 por impacto com guerra comercial

Publicado em 26/10/2018 16:04

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A China já está esperando pela soja que o Brasil ainda está plantando e esse sentimento parece estar sendo reforçado pelas últimas manchetes. A agência internacional de notícias Bloomberg informou que o governo Trump não tem planos, por enquanto, par estender o auxílio aos produtores norte-americanos em 2019 em meio ao embate comercial entre China e Estados Unidos. 

Segundo o secretário de agricultura norte-americano Sonny Perdue, essa falta de novas ações se dá diante da confiança do governo na recuperação do mercado mesmo com a continuidade da guerra comercial. Em julho, Washington anunciou um pacote de medidas de auxílio aos agricultores de US$ 12 bilhões. 

"A guerra comercial impactou os produtores depois que eles tomaram decisões sobre o plantio 2018. E o mercado irá se equilibrar depois de um período de tempo. Assim, não há expectativas ou antecipação de um programa de facilitação do mercado para 2019", disse Perdue em uma coletiva em Champaign, Illinois. 

Ao lado da demanda mais fraca por produtos americanos por parte dos chineses, o ano favorável à produção a uma série de cultivos americanos, como a soja, por exemplo, que está no coração da disputa. Com uma oferta maior e as exportações mais fracas, os preços já recuaram de forma siginificativa nos Estados Unidos, reduzindo drasticamente a renda dos produtores locais. 

O gráfico a seguir, da Bloomberg com informações do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), mostra a redução dos resultados líquidos do agronegócio norte-americano nos últimos oito anos. 

Renda agrícola EUA - Fonte: Bloomberg

Ainda na coletiva, Perdue não estimou quanto tempo mais a guerra comercial pode durar e voltou a afirmar que o ônus é da China. No entanto, uma análise feita pela Reuters Internacional relacionou a desaceleração da economia dos Estados Unidos no último trimestre às menores exportações de soja do país, entre outros fatores. 

Ainda assim, porém, o crescimento norte-americano mantém o ritmo forte. Embora mais lento do que no segundo trimestre, o avanço deste terceiro ficou acima da média esperada de 2% ao registrar 3,5%, ainda segundo a Reuters. As vendas de soja dos EUA para a nação asiática apresentam uma baixa de 97% nesta temporada em relação à anterior. 

Nos Estados Unidos, os produtores rurais constituem uma das maiores bases de apoio ao presidente Donald Trump, entretanto, a questão da guerra comercial e da possibilidade remota de acordo entre as duas maiores economias do mundo estão abalando esta relação. No início do mês, tentando reestabelecer a força da confiança, Trump informou a chegada do E15, que permite a mistura de 15% de etanol na gasolina e que irá ajudar a aumentar a demanda interna por milho no país. 

E apesar desse apoio, produtores rurais de diversos setores da agropecuária norte-americana já temem uma nova crise na atividade. Muitos chegam a comparar os tempos atuais com a "epidemia de falências" que devastou fazendas americanas nos anos 1980.

As tarifações que vieram junto da disputa comercial estaria, todavia, ao lado de outros fatores que vêm tirando a força da renda do campo americano, entre eles o aumento no custo da energia, da água e dos agroquímicos. 

Para o Brasil

Enquanto China e Estados Unidos não se acertam, o Brasil continua vendendo soja para a nação asiática e construindo perspectivas de uma demanda ainda consistente para o ano que vem. Para 2018, segundo uma perspectiva da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), as exportações brasileiras da oleaginosa podem superar as perspectivas da indústria nacional, de 77 milhões de toneladas. No entanto, no acumulado deste ano, o Brasil já embarcou 73 milhões de toneladas do grão. 

Com informações da Bloomberg, Reuters Internacional e portal Fredericks.com

Na Reuters: Indústria de soja do Brasil já vê exportação em 2018 acima do esperado

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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - As exportações de soja do Brasil em 2018 deverão ficar acima das expectativas da própria indústria brasileira da oleaginosa, com a demanda da China derivada da disputa comercial com os Estados Unidos mantendo elevados os embarques do país nos últimos meses do ano, um período em que tradicionalmente minguariam, afirmou a associação do setor Abiove.

Isso está sendo possível também porque o Brasil nunca colheu tanta soja como na safra 2017/18. Além disso, há avaliações de alguns operadores de que a última colheita tenha sido ainda maior do que o estimado, disse à Reuters o gerente de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Amaral.

A Abiove estimou no início de outubro exportações de 77 milhões de toneladas para o ano calendário de 2018, e o volume embarcado no acumulado de 2018 até meados deste mês já atingiu 73 milhões de toneladas no ano.

"E tem mais a soja que está no 'line-up' para este mês... Já chega ao final de outubro perto da projeção da Abiove para o ano", afirmou Amaral, sem apontar um novo número para os embarques do principal produto de exportação do Brasil, o maior exportador global da oleaginosa, que vai exportar mais de 30 bilhões de dólares em 2018 só do grão.

Ele ponderou que as projeções da Abiove, feitas com base em associados como ADM, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus, Amaggi e Cofco, foram "pensadas" com expectativas de uma "retomada" das relações dos EUA com a China.

"Mas este cenário está um pouco distante de acontecer, a China continua fazendo compras no Brasil...", afirmou ele, referindo-se a fato de os chineses terem praticamente abandonado o mercado norte-americano após Pequim ter imposto em julho uma tarifa de 25 por cento sobre a soja dos EUA, em retaliação a medidas de Washington.

As exportações de soja do Brasil, com cerca de 80 por cento indo para a China este ano, seguem relativamente fortes na entressafra apesar de o país já ter exportado no acumulado de 2018 cerca de 5 milhões de toneladas a mais do que o volume de 68 milhões de toneladas embarcado em 2017, quando o país havia marcado um recorde.

Muitos integrantes do setor se perguntam até quanto poderia ir a exportação neste ano, especialmente porque alguns acham que a safra foi efetivamente maior do que a estimada. A Abiove estima a produção 2017/18 em 119,5 milhões de toneladas.

"Pode ser que a safra tenha sido um pouco maior, existem estimativas de associados indicando que talvez a oferta doméstica tenha sido um pouco maior", disse ele. A consultoria Datagro, por exemplo, estima uma safra de 120,2 milhões de toneladas.

Já com a colheita finalizada, as exportações do Brasil foram recordes para o mês de setembro, o que já pode ser dito também de outubro (cerca de 4 milhões de toneladas), com base em dados do governo levantados pela Reuters.

COMPROMISSOS HONRADOS

As grandes exportações do grão, no entanto, não impedirão a indústria brasileira de atender os clientes de farelo e óleo de soja --se deixasse de processar certos volumes, poderia sobrar a matéria-prima para exportação.

"Do ponto de vista doméstico, as empresas têm compromissos de entrega de farelo e óleo. E esses compromissos vão ser atendidos", disse Amaral.

Ele admitiu, contudo, que o processamento poderia ficar um pouco abaixo dos 43,6 milhões de toneladas previstos para 2018, com algumas empresas enviando um pouco mais de soja à exportação.

"Pode baixar um pouco, mas sempre em linha com o compromisso de honrar contratos para abastecer o mercado interno."

O gerente não quis especular se alguma companhia multinacional poderia atender seus clientes com exportação de farelo de outros países, o que liberaria as empresas para exportar mais soja do Brasil para a China.

Ele também disse não acreditar que haja importação de farelo de soja fora dos volumes usuais para atender ao mercado brasileiro --nos últimos anos, praticamente não existiram.

"Eu já vi trader comentar sobre isso, eventualmente ter alguma importação de farelo, mas não é usual, 2008 foi o último ano em que importamos mais de 100 mil toneladas de farelo."

Ainda que alguma colheita da nova safra (2018/19) possa chegar um pouco antes, em dezembro, com um plantio antecipado, Amaral não vê chance de maiores exportações em janeiro.

"A tendência é que janeiro seja um mês de estoque apertado, após estoque de passagem mais baixo. A colheita estará no início...", comentou.

Ele disse ainda esperar um "estresse" de mercado em função da baixa disponibilidade de soja esperada para o final do ano, de 1,46 milhão de toneladas, o menor estoque final estimado pela Abiove em pelo menos dez anos.

Os preços internos, que se aproximaram de 100 reais por saca em setembro, agora estão menos pressionados, a 88 reais, após o dólar ter recuado, aponta um indicador do Cepea, da USP.

(Por Roberto Samora)

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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