Com mercado aquecido, indústria de produtos biológicos deve viver novos ciclos de inovação

Publicado em 12/08/2019 14:31

“Estamos vivendo um novo momento. O controle biológico deixou de ser agricultura alternativa. Evoluiu em conceitos e abordagens e está cada vez mais integrado às estratégias de gestão produtiva. Isso demanda cada vez mais profissionalização na área”. A avaliação é do pesquisador e professor da Escola Superior Luiz de Queiroz (Esalq/USP), José Roberto Postali Parra, que apresentou a conferência de abertura do 16º Simpósio de Controle Biológico (Siconbiol), em Londrina, PR. O evento é promovido pela Sociedade Entomológica do Brasil, Embrapa Soja e Universidade Estadual de Londrina.

Durante a conferência, Parra mostrou a evolução do mercado de biológicos no Brasil e no mundo, apontando mitos, mudanças e oportunidades de inovação na área. O professor destacou que há uma mudança de cultura do produtor, o que torna o mercado mais favorável, embora exija também maior profissionalização da indústria. De acordo com o professor, o conceito de controle biológico se ampliou nos últimos anos. Não se trata apenas de controlar um inseto como ocorria nos primeiros anos. O conceito hoje também abrange outras abordagens de manejo, com os biofertilizantes, bioestimulantes e bioagentes. “É um mercado que está aumentando na ordem de 10 a 15% ao ano no mundo”, destaca.

Como a agricultura brasileira é muito complexa e há pressão da sociedade por formas mais sustentáveis de produzir, os sistemas de produção demandam novas abordagens.  “Nosso desafio é consolidar um modelo de controle biológico para a agricultura tropical. Não se pode simplesmente comparar com modelo europeu de agricultura, onde se trabalha em condições controladas, como casas de vegetação, com a agricultura brasileira que é realizada em campos abertos e extensos. O controle biológico não resolve nada isoladamente. É um componente das estratégias que compõem o Manejo Integrado de Praga”, explica.

O pesquisador destaca que houve uma grande mudança entre o primeiro ciclo de produtos biológicos, conhecido por controle biológico clássico e os procedimentos que vêm sendo adotados atualmente. “Conhecimentos multidisciplinares estão permitindo formar nova massa crítica para soluções biológicas”, avalia. De acordo com Parra, a agregação de conhecimentos de outras áreas, além da biológica, está permitindo uma revolução no segmento. Anteriormente, por exemplo, a liberação de insetos era feita em pequenas quantidades e as populações de inimigos naturais aumentavam lentamente. As culturas agrícolas tinham que ser perenes ou semi-perenes.

Hoje, o volume de produção de insetos produzidos nas biofábricas, associado às novas tecnologias de liberação, como uso de drones e técnicas de georeferenciamento, permite uma ação muito mais rápida, precisa e com resultados reais. “A tecnologia permite adotar o que chamamos de New Aproach, ou seja, novas abordagens, como o caso do manejo externo à lavoura”, explica o pesquisador. O controle biológico passa a integrar uma estratégia que reduz a pressão no ambiente, ampliando inimigos naturais em regiões com forte presença de hospedeiros da praga. O caso do greening do Citrus  é um exemplo de como o manejo externo pode contribuir decisivamente para produção com sustentabilidade.

De acordo com o professor, é preciso quebrar mitos do controle biológico. Um dos aspectos é cultural: as gerações de produtores vêm de uma tradição de uso de químicos e resiste em incorporar novas estratégias. Outro mito apontado pelo pesquisador é de que a tecnologia é fácil de produzir e seu custo deveria ser menor do que o químico, sem se observar outros aspectos sociais e biológicos envolvidos, além dos econômicos. “É preciso técnica e treinamento adequado para utilizar o controle biológico”, afirma.

De acordo com Parra, a entrada de grandes players no segmento confirma a tendência de crescimento da área. Além do alto custo de desenvolvimento de novas moléculas químicas e da pressão da sociedade contra o uso de produtos de alto impacto ambiental, a resistência a princípios ativos e maiores exigências de mercados internacionais em relação à redução de resíduos, criam o novo momento dos biológicos. “O desenvolvimento de novos químicos custa cerca de US$ 350 milhões e há desconhecimento para sínteses de novas moléculas que atendam as exigências de mercado”.

O mundo está olhando para o potencial de inovação dos biológicos. “A China, por exemplo, anunciou investimentos da ordem de US$ 340 milhões em produtos biológicos”, aponta. No Brasil, os investimentos também estão crescendo, com projetos financiados pela Embrapii e pela Fundação Fapesp junto às empresas privadas, assim como maior incentivo às startups. Além disso, a associação do conhecimento agronômico e biológico com as novas tecnologias habilitadoras da agricultura 4.0 devem propiciar avanços rápidos.

“O uso de drones já é realidade na liberação dos inimigos naturais. Mas temos que avançar mais”, entusiasma-se. “Estamos evoluindo em indicadores de monitoramento e sistemas de zoneamento climático de pragas e inimigos naturais, que irão facilitar ainda mais o processo de tomada de decisão por parte de técnicos e produtores”. Novas formas de amostragem de pragas, uso de sensores e métodos de reflectância, logística de armazenamento de insetos e inimigos naturais e métodos mais eficientes de transporte em um país com dimensões continentais são exemplos de áreas com grandes oportunidades de inovação e alto potencial no mercado. “Há conhecimento sobre inimigos naturais com potencial de aplicação em grandes culturas. E temos inúmeros desafios de ajustes de escala da produção em laboratório para a produção industrial. Também há demandas de automatização de etapas e rotinas das biofábricas”, explica.

O pesquisador mostra-se bastante otimista com a evolução do mercado. “Há uma abertura maior por parte do setor produtivo para incorporar novas tecnologias e um ambiente bastante propício para novos saltos de inovação, com a aproximação entre universidade, grandes empresas e startups”.  Um avanço e tanto, considerando que o mercado mundial saltará de US$3 bilhões em 2019, para a US$5 bilhões nos próximos anos.

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Embrapa Soja

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