Soja: "China está comprando menos agora para comprar mais depois", diz analista

Publicado em 04/02/2020 12:36

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"Não é um problema de falta de demanda. Mas de logística; e é pontual", diz o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities sobre a atual da situação do comércio da China frente ao surto de coronavírus. A epidemia colocou toda a nação asiática a um momento de isolamento de milhões de pessoas e províncias, além de comprometer severa e agressivamente o ritmo do abastecimento do País-continente. 

Ainda como explica Vanin, os portos na China não funcionam normalmente. Os funcionários estão sendo mantidos em casa, em mais uma medida do governo de tentar isolar o máximo de pessoas para evitar um agravamento da transmissão pelo corona.

 "A China está tentando implementar o maior programa de home office da história", diz Vanin, referindo-se aos trabalhadores impedidos de voltar às suas funções normais, tendo que trabalhar em suas casas. "O tempo de espera dos navios já é maior", completa. 

Os negócios no Brasil também não fluem em ritmo regular. No entanto Vanin acredita que o mercado brasileiro têm potencial para se recuperar, na medida em que a situação for se reestabelecendo e a China for encontrando soluções para o vírus que já matou mais de 400 pessoas e infectou mais de 20 mil.

"A China vai comprar menos agora, para comprar mais depois". 

TUDO BEM, POR ENQUANTO

O Brasil fechou janeiro com exportações de soja de 1,49 milhão de toneladas. Embora o volume se mostre menor do que no mesmo período do ano passado, é maior do que as expectativas iniciais, de 1,2 milhão/t.

Sérgio Mendes, diretor geral da ANEC (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), explica que "o ritmo menor das exportações de soja do Brasil, agora, é reflexo do atraso da safra; a colheita ainda está atrasada, ainda está chovendo no centro-oeste, isso é um fato", diz.

"Em 2018, as exportações de soja foram recordes e limparam os estoques, 2019 também foi um ano forte. Então, por hora, não qualquer razão para se preocupar", completa Sérgio Mendes. 

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Segundo apurou o Notícias Agrícolas, a China comprou sete navios de soja na semana passada, período do feriado de Ano Novo Lunar, e segue buscando mais produto para embarques entre março e abril - mas os compradores chineses encontram dificuldade em conseguir novas ofertas. O line up cobre apenas navios nos portos já nomeados, que já somam 6,33 milhões de toneladas e com potencial para alcançar 8 milhões. 

A imagem abaixo data de 30 de janeiro e mostra, nas setas verdes, navios de soja saindo do Brasil com direção à China. O fluxo é tímido se comparado a outros meses, justamente em função dessa menor disponibilidade de produto no mercado brasileiro. 

Soja navios

Navios com soja da América do Sul para a China em 30 de janeiro de 2020 - Fontes: Refinitiv Eikon + Karen Braun

"O line up brasileiro mostra um ritmo muito mais intenso para fevereiro. Há um ano, em fevereiro de 2019, o Brasil exportou um recorde de 5,3 milhões de toneladas de soja e 84% disso foi para a China", diz a especialista em commodities da Reuters Internacional, Karen Braun. 

A concentração da demanda chinesa por soja no Brasil está na análise também da ARC Mercosul. "Nós acreditamos que essa matriz de demanda de soja chinesa definida no pós guerra comercial será mantida, ou seja, a concentração de novas compras focadas no Brasil, por conta dos preços mais baratos, mais atrativos", diz Matheus Pereira, diretor da consultoria internacional. 

No paralelo, segundo o analista, o que pode mudar efetivamente o quadro de consumo da nação asiática é o agravamento da Peste Suína Africana, que ainda não foi controlada, ou da Gripe Aviária, que já provocou o abatimento de alguns milhares de animais. 

"A PSA não foi controlada em 2019, e com o coronavírus, os chineses podem ter problemas em distribuir operações efetivas de controle; logo, para 2020 isso é um ponto de alerta também", conclui. 

Abaixo, Karen faz um comparativo com imagens do fluxo de navios da América do Sul para a China, mostrando a intensidade das vendas para a nação asiática em 2019. A primeira imagem é de 22 de março e a segunda, de 17 de setembro. 

Fluxo de navios março 2019

Navios com soja da América do Sul para a China em 22 de março de 2019 - Fontes: Refinitiv Eikon + Karen Braun

Fluxo de navios setembro 2019

Navios com soja da América do Sul para a China em 17 de setembro de 2019 - Fontes: Refinitiv Eikon + Karen Braun

PORTOS DA CHINA

Segundo informa o site internacional Seatrade Maritime News, já há 16 portos e grupos portuários que começam a oferecer isenções e reduções de tarifas portuárias na medida em que se intensifica a luta dos chineses contra o coronavírus. Segundo especialistas ouvidos pelo portal, a demanda por estes serviços poderia ser reduzida, já que em muitas regiões o feriado do Ano Novo Lunar foi prolongado até 9 de fevereiro. 

"O transporte marítimo de navios depende da demanda externa, que atualmente permanece um pouco afetada, e uma desaceleração da indústria chinesa, induzida pelo vírus, pode levar a menores exportações de contêineres da China. As principais transportadoras já começaram a deixar mais travessias em branco e a tendência deverá persistir se o vírus continuar a se espalhar", disse a BIMCO (um conselho de operadores de serviço marítimo) ao Seatrade. 

Em contrapartida, os portos chineses criaram um canal de transporte mais rápido e eficiente para a chegada à China de suprimentos para o combate à epidemia. 

Já o site PortStrategy, explica que apesar de uma ordem do Ministério dos Transportes da China de que fossem mantidas as atividades portuárias no país, profissionais do comércio local começam a relatar um ritmo mais lento nos portos, um tempo menor de entrega das embarcações e um processamento também menos rápido das mercadorias nos pátios, já que o número de funcionários na ativa é agora bem menor. 

"Algumas empresas chinesas sofreram graves impactos sobre suas mercadorias e logística e podem não ser capazes de cumprir seus contratos em meio ao surto de coronavírus", diz o comunicado do Conselho de Promoção do Comércio Internacional da China, CCPIT na sigla em inglês. 

Além dos portos chineses, portos de outros países também estão adotando medidas de prevenção, com o objetivo de espalhar ainda mais o vírus. 

PORTOS DO PARANÁ

A assessoria de comunicação da APPA (Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina) informou que em seus terminais as operações seguem normalmente, sem atrasos de qualquer natureza, sem reflexo do surto do coronavírus na China. "Estamos enviando e recebendo normalmente", diz. 

Ainda segundo a APPA, os navios que chegam da China já passaram do prazo de 21 dias para o aparecimento dos sintomas causados pelo vírus, então tudo corre "sem complicação". Além disso, os representantes dos portos se reuniram nesta segunda-feira (3) com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e demais órgãos de saúde para alinhar medidas contra o coronavírus no estado do Paraná. 

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Coronavírus ainda não impactou exportações brasileiras, diz governo brasileiro

Apesar de acompanhar possíveis efeitos do coronavírus nas exportações para a China, o governo ainda não identificou nenhum impacto, afirmou hoje (3) o subsecretário de Inteligência e Estatísticas da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Herlon Brandão. Segundo ele, a automatização das operações nos portos chineses reduz o risco de contaminação.

Milho destacão

O coronavírus prejudicou o rebanho suíno chinês, o que fez com que, em janeiro, caíssem as vendas do milho brasileiro para o país asiático - Elza Fiuza/Arquivo/Agência Brasil

“Conversamos com alguns exportadores, e não há relato de impacto nas operações”, disse Brandão. Ele explicou que, além de os contratos de exportações serem fechados com alguma antecedência, o desembarque das mercadorias por meio de sistemas automatizados diminui o contato com os chineses. “Por um procedimento padrão, os tripulantes são orientados a não deixar o navio durante o descarregamento”, acrescentou.

Mesmo com o pouco contato de tripulantes brasileiros com chineses, o subsecretário admitiu que, no médio prazo, o coronavírus pode reduzir as exportações brasileiras. Isso por causa de uma eventual desaceleração da segunda maior economia do planeta, que é o principal parceiro comercial de sete em cada 10 países. “[O coronavírus] pode ter um efeito espalhado por todos os países e afetar o Brasil”, disse.

Em janeiro, as exportações brasileiras para a China caíram 9,3% em relação ao mesmo mês do ano passado, pelo critério da média diária. O recuo, no entanto, deve-se principalmente à doença que prejudicou o rebanho suíno chinês, que diminuiu as vendas de soja e de milho, usados como ração para porcos. Outro produto cujas exportações caíram em janeiro foi a celulose, também afetada pela redução do preço internacional e pelo menor consumo dos chineses.

Segundo Brandão, o Brasil sofreria menos com o impacto do coronavírus sobre as exportações porque o país vende produtos agropecuários aos chineses. As exportações de minério de ferro e de insumos industriais, no entanto, poderiam ser afetadas por uma possível desaceleração na economia do país asiático.

Câmbio

Sobre o impacto da alta do dólar nas exportações brasileiras, Brandão disse que a valorização da moeda norte-americana, por enquanto, tem se refletido mais na rentabilidade dos exportadores do que em um possível aumento do volume de exportações. Isso porque a queda nos preços internacionais de muitas mercadorias tem amenizado os ganhos (para os exportadores) com a subida do dólar.

O subsecretário explicou que processo semelhante ocorre com as importações. A queda nos preços internacionais de diversos bens tem compensado os efeitos da alta do dólar nos preços das mercadorias importadas no Brasil. “Ainda é preciso esperar algum tempo para analisar o efeito do câmbio sobre o comércio externo. Os dados de apenas um mês são insuficientes”, declarou Brandão.

Reuters: Conforme repercussão de vírus aumenta, China prepara mais medidas para estabilizar economia

Porto China

Porto de Qingdao na província de Shandong - Foto: Reuters 

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Por Kevin Yao

PEQUIM (Reuters) - As autoridades chinesas estão preparando medidas para sustentar sua economia abalada pelo surto de coronavírus, que deve ter um impacto devastador sobre o crescimento no primeiro trimestre, disseram fontes.

As fontes disseram que o governo está debatendo se deve reduzir a meta planejada de crescimento econômico para 2020, de cerca de 6%, que muitos economistas do setor privado veem como bem além do alcance da China.

Com o número de mortos pela epidemia do vírus subindo para mais de 420 e os riscos para o crescimento se acumulando, o banco central da China provavelmente reduzirá sua principal taxa de empréstimos - a taxa primária de empréstimo (LPR, na sigla de inglês) - em 20 de fevereiro, e reduzirá a taxa de compulsório dos bancos nas próximas semanas, disseram as fontes envolvidas na discussão interna.

"Atualmente, a política monetária está sendo afrouxada, mas o banco central seguirá uma abordagem passo a passo e observará a situação do vírus", disse uma fonte,

O Banco do Povo da China (PBOC) já injetou centenas de bilhões de dólares no sistema financeiro nesta semana, numa tentativa de restaurar a confiança dos investidores, à medida que os mercados globais estremeciam sob o impacto potencialmente prejudicial do vírus sobre o crescimento mundial. Nos últimos dois dias, o banco central injetou 1,7 trilhão de iuanes (242,74 bilhões de dólares) através de operações de mercado aberto.

Para minimizar a perda de empregos, os líderes obcecados por estabilidade da China provavelmente aprovarão mais gastos, isenção de impostos e subsídios para setores atingidos pelo vírus, além de maior afrouxamento monetário para estimular empréstimos bancários e reduzir os custos de empréstimos para as empresas, de acordo com as fontes.

As medidas de apoio serão concentradas nos setores de varejo, abastecimento, logística, transporte e turismo, que provavelmente serão atingidos com força e ficarão especialmente vulneráveis à perda de empregos, disseram.

O aumento dos gastos do governo pode elevar a relação do déficit orçamentário anual para 3% este ano, de 2,8% em 2019, e os governos locais poderão emitir mais dívidas para financiar projetos de infraestrutura, disseram as fontes.

As autoridades consideram as medidas direcionadas mais eficazes do que a flexibilização irrestrita do crédito nesse estágio, dado que o surto pesou sobre as atividades industriais e de investimento devido ao feriado prolongado em algumas regiões, disseram.

Embora Pequim tenha implementado uma série de medidas de apoio nos últimos dois anos, principalmente na forma de maiores gastos com infraestrutura e reduções de impostos, os líderes prometeram não embarcar em estímulos massivos como durante a crise global de 2008 e 2009, que deixou a economia com uma montanha de dívidas

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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