Soja: Vazio sanitário termina em MT e MS nesta 3ª. Mercado apreensivo com falta de chuvas

Publicado em 15/09/2020 10:34 e atualizado em 15/09/2020 15:19

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Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. É nestes dois estados que termina o vazio sanitário da soja neste 15 de setembro. As perspectivas são de boas safras para ambos, porém, a preocupação é maior neste início dos trabalhos de campo dada a falta de chuvas. As previsões deste começo de semana são um pouco melhores para o Brasil Central, mas continuam indicando a chegada de melhores precipitações apenas no final do mês.

De acordo com informações do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), há duas massas de ar que podem derrubar as temperaturas no Sul e Sudeste do país, porém, sem força para romper o bloqueio atmosférico observado na região central. E por isso, o presidente da Aprosoja MS, André Dobashi, acredita que menos de 5% dos produtores sul mato-grossenses poderão dar início à semeadura da oleaginosa. 

No entanto, Dobashi explica ainda que o plantio da oleaginosa tem ser feito até 25 de outubro para garantir, principalmente, a janela ideal para o milho safrinha. A Aprosoja MS estima um aumento de 7% de área - chegando a 3,6 milhões de hectares - todavia, espera ainda uma média menor de produtividade. No link abaixo, veja a íntegra de sua entrevista ao Notícias Agrícolas:

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Para Mato Grosso, a situação é semelhante. Ainda falta umidade suficiente para dar início ao plantio da safra 2020/21, que deverá ocupar uma área de 10,207,667 milhões de hectares, 2,23% maior do que a anterior e 8,49% se comparada à média das últimas quatro safras, de acordo com números do IMEA (Insituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária). E também como em Mato Grosso do Sul, a média de produtividade no estado deverá ser menor do que a do ano safra anterior em 2,79%, projetada atualmente em 57,45 sacas por hectare. E ainda assim, confirmada seria 3,69% maior do que a média. A estimativa para a safra de soja de Mato Grosso, portanto, é de 35,183,661 milhões de toneladas, 0,62% a menos do que na temporada 2019/20, mas 12,51% a mais do que a média, também segundo o IMEA. 

"Não bastassem os trabalhos atuais de preparo, correção e adubação do solo, compra e recebimento de insumos, revisão de máquinas, estratégia de posicionamento de cultivares de soja e análise do clima, o sojicultor de MT necessita também estar atento ao mercado, para que não perca toda a estratégia e esforço do campo em negociações “erradas”. Com isso, quando oportunidades de venda de soja a preços atrativos surgem, o agricultor procura aproveitar para cobrir parte de seus custos atuais e futuros, podendo trabalhar e investir mais na produção", explicam os especialistas do IMEA. 

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As previsões do Inmet mostram que as precipitações entre setembro e novembro para as regiões produtoras, de fato, se mostram mais limitadas, como mostra o mapa abaixo:

Chuvas setembro - novembro - Fonte: Inmet

Na sequência, um mapa do modelo americano GFS mostra as previsões de chuvas até 20 de setembro confirmando a falta de chuvas até o final do mês, como já vinha sendo noticiado pelo Notícias Agrícolas. 

Chuvas B 14 a 20/09 Modelo GFS- Fonte: NOAA

O mapa seguinte, que mostra as condições para o período de 21 a 27 e setembro já sinalizam precipitações um pouco melhor distribuídas, mas ainda muito limitadas no Brasil Central. 


Chuvas BR 21 a 27/09 Modelo GFS - Fonte: NOAA


"Uma nova safra brasileira está prestes a começar e alguns pontos de alerta já pairam no radar. O padrão climático para o Centro do Brasil continua seco para os próximos 10 dias, seguindo a Normal Climatológica e sem surpresas", explica o diretor da ARC Mercosul, Matheus Pereira. "Já para o Sul do país, as chuvas começam a chegar até o dia 21 de setembro. Índices pluviométricos entre 6 e 20mm acumulados são esperados para o sul de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para a maioria dos estados beneficiados, a rodada de chuvas só servirá como repositor hídrico. Assim, ainda será necessário aguardar mais alguns dias/semanas para adequar um bom período de plantio", completa.

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MERCADO X CLIMA

E estes alertas que a nova safra de soja do Brasil traz em seu início também chama a atenção do mercado e tem sido, inclusive, importante fator de suporte para as cotações da oleaginosa negociadas na Bolsa de Chicago. Os futuros da commodity registram seu mais longo rally em 40 anos e volta a operar acima dos US$ 10,00 por bushel. Afinal, além das questões climáticas e de trabalho de campo, há quase 60% da nova temporada já comprometida com a comercialização. 

O Notícias Agrícolas ouviu quatro analistas para entender como o mercado está observando e refletindo o início da nova safra do Brasil, estimada para registrar um novo recorde e superar as 130 milhões de toneladas.  

Matheus Pereira, ARC Mercosul
"Problemas climáticos no Brasil em um ano como este vai deixar o mercado muito mais reativo, muito mais agressivo. E em um ano como este, quando há muito já comercializado a futuro e boa parte dessa comercialização destinada às exportações, qualquer problema climático deixa ainda mais estressado o lado comprador quando oolhar por uma potencial falta de oferta, uma vez que já temos quase 55% da safra comercializada, o que é três vezes mais do que a média dos anos anteriores. De fato, vemos que os problemas climáticos que já existem - já temos a forte possibilidade de um La Niña aqui para o Brasil, que vai intereferir negativamente o padrão climático no Sul do país - vão deixar a reação positiva dos preços ainda mais forte em 2020, então, podemos ter grandes e bons momentos de oportunidades nos próximos meses", diz o diretor da consultoria. 

Assim, é esperado que o produtor brasileiro neste momento diminua, como já vem fazendo, seu ritmo de novos negócios para a safra nova, o que pode ser o principal gatilho para novas altas no mercado nacional. "Porque o lado comprador, para estimular o lado vendedor, vai ter que adicionar ainda mais prêmios para incentivar novas vendas diante de tantas incertezas. Há muita questão para ser respondida e certeza climática só com a colheitadeira no campo", conclui. 

A ARC estima uma área de soja em 38,43 milhões de hectares, com um aumento de 3,81%, e uma produção de 129,15 milhões de toneladas, confirmada seria 3,44% superior a 2019/20. 

Steve Cachia, Cerealpar
Focando nas reações do mercado, o consultor da Cerealpar, Steve Cachia lembra que as especulações e a volatilidade serão bastante intensas nesta temporada. "A corrrida para a primeira soja em 2021 será muito acirrada, principalmente, se o clima continuar se mostrando irregular. Haverá especulação neste sentido e até temores de quebra de safra principalmente se o quadro de La Niña se fortalecer nas próximas semanas", explica. "O mercado brasileiro de soja continua vivendo um momento de otimismo em meio a preços recordes e perspectivas de bons preços tambem para 2021 e 2022. O foco do produtor é, obviamente, o plantio, mas o mercado mundial está de olho tambem nas cotações na Bolsa de Chicago, que reagiram e se encontram no melhor nível em pouco mais de dois anos".

Ainda sobre os preços, Cachia lembra que a CBOT pode sentir alguma pressão sazonal da colheita nos EUA, que se aproxima, todavia, acredita também que essas incertezas climáticas para o Brasil - e algumas também para a conclusão da nova safra americana - poderiam limitar o potencial baixista, principalmente em um momento de demanda tão intensa. "O dólar não dá sinais de que poderia se fortalecer muito nos próximos meses, portanto, o desempenho da safra da América do Sul passa a ter papel fundamental na formação dos preços futuros", afirma o consultor.

Luiz Fernando Gutierrez, Safras & Mercado
Apesar dos atuais problemas climáticos que vêm sendo observados neste momento, o analista afirma que é muito cedo para se falar em perdas, mesmo diante da confirmação de um La Niña para o Brasil. "Temos que continuar trabalhando com um clima de normal a bom, e por isso mantemos a estimativa de uma safra recorde 132,2 milhões de toneladas e as perspectivas são positivas ainda. Vamos ajustando ao longo do caminho quando for se confirmando atrasos no plantio e falta de chuvas. E perdas começam a se consolidar mesmo no final do ano, quando algumas coisas são irreversíveis naquele período", diz. As produtividades são esperadas para ficarem um pouco menores do que no ano anterior - que foi uma temporada de rendimentos excelentes, também diante dessas perspectivas de um clima bom a regular. 

Gutierrez afirma que esta será uma "safra bem cautelosa" para todo o Brasil e, assim, para o mercado o "alerta fica mais forte porque já se antecipou muito das vendas da safra, principalmente no Brasil Central, e assim o ritmo diminui agora, os produtores têm que ter uma garantia de que vão colher para avançar com novas vendas". Para o Sul, o alerta é ainda mais intenso pelo La Niña e pelas perdas que já foram registradas no ano passado, e isso também pesa sobre a comercialização. "Daqui para frente, o produtor entra em um território que pode vender algo que pode não entregar no pior dos casos e assim ele vai segurar esse ritmo", completa o analista da Safras.  

Ênio Fernandes, Terra Agronegócios
"O mercado, que é extremista por natureza, está bastante inseguro com a safra brasileira", explica o consultor em agronegócios Ênrio Fernandes, da Terra Agronegócios. Com a safra americana já enfrentando problemas, as preocupações climáticas no Brasil ganham ainda mais peso e atenção. "Temos que considerar o imponderável", completa. Fernandes destaca o atraso das chuvas no coração da produção nacional da oleaginosa, o Centro Sul do Brasil, o que já vem sendo observado e refletido pelo mercado na Bolsa de Chicago. 

"Com a possibilidade do La Niña, que pode afetar principalmente o sul do país, é preciso lembrar que o Rio Grande do Sul é o terceiro maior estado produtor de soja do país. Mais do que isso, que Brasil, Argentina e Paraguai produzem 53% da soja de todo mundo", diz. E o consultor afirma ainda que mesmo com a demanda mais forte nos EUA agora, passado esse momento, a questão climática para a América do Sul se torna central. "2021 será um ano muito bom para o produto brasileiro, de mercado muito sustentado. Mesmo que tenhamos, por exemplo, um dólar mais baixo, os prêmios mais altos corrigem essa diferença. Afinal, já temos quase 60% da safra vendida e isso aumenta a apreensão do mercado. Do final de dezembro a fevereiro de 2021 acredito que será um período muito volátil e que pode trazer muita oportunidade para o produtor brasileiro", acredita Fernandes. 

A projeção da Terra Agronegócios é, inicialmente, de uma safra de soja de 132 a 133 milhões de toneladas na safra 2020/21. 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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