Entenda por que a soja vive momento de fortes altas

Publicado em 04/11/2010 14:13
Por Ricardo Lorenzet, analista de mercado da XP Agro.
Fatos velhos!

E segue firme a soja. Nada mal para um ano em que muitos “experts” do mercado consideravam que preços de U$ 7,00/bushel fariam parte de nossa realidade. O mais interessante a notar em todo este cenário mercadológico é que, após a oleaginosa ter atingido o maior patamar em 15 meses nos últimos dias, já próximo dos U$ 12,50/bushel, várias histórias surgem para justificar:
1. o dólar perde valor perante os principais pares globais dada a expectativa de que as taxas de juros permanecerão baixas por um período mais longo do que se esperava inicialmente, diferentemente do registrado em outras regiões do globo (especialmente em economias emergentes).
2. a demanda chinesa, diga-se de passagem, de países emergentes como um todo, literalmente insaciável, ofusca o crescimento da oferta global registrada nos últimos anos.
3. o mercado de trigo subiu 55% a partir de junho com os problemas de oferta na região do Mar Negro, desestruturando o mercado de grãos em geral, e com isso a soja também estaria encontrando suporte na briga por área.

Pergunto a você neste momento? Dentre estes fatores quais constituem-se fatos novos? Permitam-me, mas a demanda emergente, e a percepção de perda de valor no dólar esta mais com cara de “ano velho” do que de fator de suporte ao mercado de soja nos últimos quatro meses. Embora a alta do trigo tenha contribuído como fator de suporte, nada teria acontecido sem as mais variadas faces da DEMANDA, as quais resumem-se aos pontos 1 e 2 acima emanados.

Em artigos anteriores abordamos a diferenciação dos conceitos de demanda real e demanda especulativa (ou, de acordo com o analista da DTN Darin Newson “paper demand”). Ambas, tem registrado forte expansão nos últimos anos e, efetivamente alteraram os referenciais de preços das commodities agrícolas.

A “paper demand” decorre principalmente do processo de perda de valor do dólar e deterioração das expectativas econômicas e empresariais do chamado “mundo desenvolvido” a partir da crise do subprime. Com a forte injeção de liquidez na economia norte-americana buscando incentivar o consumo interno, o governo depreciou fortemente o dólar desencadeando o processo de corrida para os chamados ativos tangíveis como forma de proteção. Com isso, naturalmente os preços das commodities, especialmente agrícolas, subiram.

Juntamente ao processo de injeção de liquidez nas economias desenvolvidas, o fluxo especulativo não apenas concentrou-se na compra direta de commodities organizados, mas no financiamento a economias em que a demanda por commodities representa maior importância no consumo real da população, ou seja, economias emergentes. Em miúdos, o dinheiro fácil migra para o que dá resultado. Assim sendo, este processo retro-alimentou a demanda real por commodities alimentares, em menor escala as metálicas e por fim as energéticas. Ou seja, a crise do subprime, através da elevação do poder de compra das populações emergentes, acelerou o processo de alteração do padrão de dieta destas economias em direção ao consumo protéico, ofuscando o aumento na oferta global da oleaginosa decorrente das maiores produtividades e áreas cultivadas ao redor do globo. Efetivamente o processo é mais complexo do que aparenta, estando atrelado também a políticas internas destas economias, mas efetivamente uma associação clara é natural, podendo se estender a outros setores da economia. Por fim então, os choques de oferta como fora o caso da safra de grãos no Leste Europeu e, posteriormente uma safra de milho menor nos EUA, geraram um problema a mais ao mercado, ou seja, o risco de que, a crescente recuperação da oferta necessária para atender este processo de proporções “hemisferiais”, possa não continuar na mesma intensidade, temor este que, ganha força pela incerteza com relação a safra sul-americana.

Vejam senhores que, estamos vivenciando a intensificação de fatores já amplamente conhecidos. Assim sendo, é importante considerar que, no mercado há um jargão que refere-se a necessidade de que “os touros” necessitam alimento todos os dias. Assim sendo, esteja atento, pois o “pasto mais próximo pode estar ficando velho para alguns” e,mais importante do que acertar o “olho da mosca” é realizar a comercialização com bons preços médios. Metáforas a parte, embora realizações no curto prazo possam ser perfeitamente plausíveis e saudáveis, a percepção geral é de que o mercado de commodities agrícolas tende, no médio prazo a permanecer muito sustentado, acima dos patamares até então considerados médias históricas, com possíveis picos de volatilidade podendo sim referenciar preços superiores aos atuais.

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Fonte:
Agroblog

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