Quebra de safra frustra produtores de soja em MS

Publicado em 15/03/2011 13:42
Grão danificado pelas chuvas deve complicar pagamento de dívidas de agricultores.
A expectativa de colher uma safra recorde de soja em Mato Grosso do Sul já não existe mais. Se antes a previsão era produzir mais de 5,5 milhões de toneladas, por conta das chuvas os agricultores devem retirar no máximo quatro milhões de toneladas do campo. Os reflexos desta quebra já começam a aparecer. Os caminhões que fazem carregamento em São Gabriel do Oeste (MS), que deveriam puxar 20 mil sacas do grão durante o pico da colheita, devem trazer a metade.

– Estou vendo que carrego o mesmo tanto no caminhão, só que o peso fica dois mil quilos abaixo. O grão está muito danificado, está feio – lamenta o motorista Fernando Rodrigues Nascimento.

Volumes maiores ou semelhantes com pesos menores. A explicação para isso é a falta de qualidade da soja que é retirada da lavoura. São grãos danificados, com umidade elevada e baixo padrão, características que não atendem às exigências mínimas estabelecidas pelos armazéns que recebem a produção.

Na classificação, é possível ter uma idéia de como a qualidade dos grãos foi comprometida. Cargas chegam a ter até 28% dos grãos ardidos. Índice muito acima do limite tolerado para não haver descontos ao produtor, que é de 8%.

O problema é que receber cargas com uma quantidade tão elevada de soja ardida se tornou comum nos últimos dias. Poucos estão aceitando o grão com umidade elevada. Até caminhões com mais de 80% dos grãos prejudicados desembarcaram.

– Nós ainda estamos recebendo estes grãos, tantos os bons quanto os ruins. Vamos colaborar com os produtores, mas temos que ver lá na frente o que vamos fazer com este produto – diz Luciano Souza Nunes, gerente de armazém.

Se a situação das armazenadoras é delicada, a dos produtores dispensa comentários. O produtor rural Sebastião Cruciol Filho entregou quase 17 toneladas para uma empresa. Menos de 4% da carga passou na classificação.

– Entreguei mais de 16 mil quilos na semana passada e tive muito desconto por grãos úmidos e ardidos. Me sobrou só 500 quilos, não pagou nem o frete do caminhão – conta o produtor.

Dívidas
Mas a preocupação do agricultor vai além destes descontos. Sebastião conseguiu colher apenas 15% da área de 980 hectares antes das chuvas. Do terreno que ainda falta colher, 300 hectares já estão completamente perdidos. Os outros 520 também estão prejudicados, mas devem ser colhidos mesmo assim. Com a quebra e a baixa qualidade do produto, dificilmente o agricultor terá condições de cumprir os compromissos feitos para a safra. Da produção prevista, 85% já estavam comprometidas em negociações de compra de insumos, financiamentos e arrendamento da área.

– É uma situação complicada. A maior parte das minhas áreas é arrendada. Também tenho financiamento para pagar. Agora não sei o que fazer. Vamos ter que contar com a colaboração dos credores para tentar sair desta situação. Acredito que sejam necessários uns 4 anos para nos recuperarmos disso. Dá muito desânimo, mas não podemos deixar a atividade, senão os credores não receberão mesmo.

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Fonte:
Canal Rural

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