Açúcar volta a ganhar fôlego na Índia

Publicado em 18/02/2011 06:32
São apenas 200 quilômetros de Nova Déli até Agra, a principal cidade do mais populoso Estado da Índia, Uttar Pradesh. A curta distância, no entanto, é percorrida em quase quatro horas de carro. Não por causa das estradas, pedagiadas - gasta-se, no total, 300 rúpias (US$ 11) ao longo do trecho - e muito bem pavimentadas, mas pelo tráfego intenso.

Aqui, uma única via comporta automóveis, ônibus, caminhões, motos e os tradicionais e pequenos táxis de três rodas, que entrecortam o trânsito, sempre travado. E se no asfalto o movimento dos diversos tipos de veículos é caótico, nas calçadas o vaivém das multidões não fica atrás.Além da proliferação de rodas e pés, no caminho entre Nova Déli e Agra búfalos, vacas e macacos também apertam os passos e tumultuam ainda mais o cenário, com cheiros e sons que se confundem às vozes e escapamentos.

Utta Pradesh é também um dos Estados de maior peso na economia indiana. É verdade que a maior parte de sua população vive na zona rural, onde as benesses do acelerado crescimento do país - que deverá superar 8% neste ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) - costumam chegar com atraso.Mas também é fato que mesmo nas áreas agrícolas mais pobres há perspectivas de melhora, e essa esperança é doce. Utta Pradesch é um dos maiores Estados produtores de açúcar da Índia, com participação de 35% no volume total nacional. Mesmo assim não é fácil aliviar as carências da população rural e conter as ondas que saem do campo em busca de renda nas populosas metrópoles do país.

Há quatro anos, o governo criou uma nova política para garantir emprego e renda na área rural. O Narega, sigla em inglês para Programa de Garantia Nacional de Emprego Rural, assegura ao lavrador pelo menos 100 dias de trabalho por ano e o recebimento mínimo de 60 rúpias por dia, ou cerca de US$ 1,30.

Antes dessa política, os trabalhadores rurais das regiões mais pobres do país, algumas em Uttar Pradesh, recebiam cerca de US$ 1 dólar por dia - sem garantia alguma sobre quantos dias de trabalho teriam pela frente. A nova política vale para todas as culturas agrícolas, não só para a cana, e de fato já está elevando a remuneração e o custo do trabalho no campo.

No caso da cana, desde 2009 a remuneração pelo chamado CCT (corte, carregamento e transporte), que equivalia a 250 rúpias por tonelada (R$ 10), dobrou para valores correspondentes a R$ 20 por tonelada em áreas do Estado de Maharastra, no sul, onde está Mumbai, o centro financeiro do país. "Muitos trabalhadores estão vindo de outras regiões para trabalhar com cana-de-açúcar", diz ao Valor Abinash Verma, principal executivo da Associação das Indústrias de Açúcar da Índia. O grupo de usinas que ele representa é considerado o mais influente do país. A entidade tem 300 unidades associadas, que respondem por 60% do açúcar fabricado nas moendas indianas.

No momento, o custo mais alto no campo não é necessariamente um problema para as usinas que Verma representa. Ao contrário. O segmento parece satisfeito em ver a receita do açúcar crescer e, com isso, conseguir atrair mais mão de obra para os canaviais.

Em tempo de preços elevados do açúcar no mercado internacional, as usinas também estão realizadas por terem conquistado por mais uma safra o interesse de uma parte importante dos produtores rurais da Índia, sempre assediados para migrar para outras culturas, principalmente cereais e grãos.

Na safra atual (2010/11), que termina em setembro, a Índia deverá produzir, segundo a associação, 25 milhões de toneladas de açúcar, ante as 18,5 milhões do ciclo anterior, quando a Índia não só deixou de exportar como foi obrigada a importar para atender a demanda de seus mais de 1,1 bilhão de habitantes.

Na temporada 2009/10, o consumo doméstico total alcançou 21,5 milhões de toneladas, volume que deverá subir para 22 milhões de toneladas agora, conforme a entidade que representa as usinas.

Para a safra que começará em outubro (2011/12), as cartas já foram distribuídas, e a produção indiana deverá pelo menos repetir as 25 milhões de toneladas previstas pela associação para 2010/11 - há estimativas maiores no mercado. "Os preços da commodity darão suporte para que as indústrias continuem ofertando valores atrativos para que produtores plantem cana", afirma Abinash Verma.

Ele visita o passado para justificar sua confiança de que outra grande safra está a caminho. "Historicamente, temos dois ou três anos de alta e o mesmo período de baixa. A questão é se a temporada 2012/13 ainda será boa".

O plantio da cana que será colhida e processada a partir de outubro deste ano já começou na Índia. O secretário para açúcar do Ministério da Agricultura da Índia, Shri N. Sanyal, informa que 1,95 milhão de hectares já foram cultivados até agora, ante 1,92 milhão nessa mesma época de 2010. A expectativa é que esse número alcance níveis parecidos aos 4,85 milhões de hectares totais plantados no país no ciclo em curso.

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Fonte:
Valor Econômico

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