Terceiro ano consecutivo de quebra de safra: Adversidades climáticas comprometem a produção de trigo no Brasil
As adversidades climáticas levarão a uma quebra de safra no Brasil pelo terceiro ano consecutivo. Após duas safras em que o excesso de chuva na colheita resultou em perdas, principalmente na qualidade, a safra atual está sendo prejudicada pela escassez hídrica e por geadas. Vale lembrar que menos de 10% das lavouras brasileiras foram colhidas, e apenas após o término da colheita será possível consolidar os números. Com grande parte dos grãos ainda no campo, novas perdas não podem ser descartadas.
As lavouras plantadas mais cedo (em Minas Gerais, Goiás, Bahia, Mato Grosso do Sul, São Paulo e parte do Paraná) enfrentaram uma severa estiagem. Muitas áreas ficaram mais de 40 dias sem precipitações. Excluindo o Paraná (para uma análise separada), a produção nesses estados caiu 25,4%, de 1,400 milhão de toneladas para 1,045 milhão de toneladas, interrompendo uma sequência de cinco aumentos na produção. Em 2019, esses estados colheram apenas 548 mil toneladas. Em um quinquênio, essas unidades da federação aumentaram sua produção em 155,5%. A redução estimada de 355 mil toneladas nesta temporada exigirá que a indústria moageira dessa região importe mais trigo.
As perdas significativas nos estados mencionados anteriormente, contudo, representam apenas 37% das estimativas para o Paraná. O potencial produtivo das lavouras de trigo no Paraná está sendo fortemente impactado pelas condições climáticas adversas. A área plantada foi de 1,153 milhão de hectares, uma retração de 19% em relação à safra passada, devido à perda de espaço para o milho safrinha e à forte estiagem. Além de reduzir a área plantada, a estiagem também afetou significativamente o desenvolvimento das lavouras, principalmente no norte, centro e oeste do estado. Em agosto, duas frentes de ar polar – uma no final da primeira quinzena e outra no início da última semana – trouxeram frio intenso e fortes geadas, atingindo as lavouras em estágios sensíveis (floração e enchimento de grãos). Estima-se que o potencial produtivo do estado, inicialmente previsto em cerca de 3,8 milhões de toneladas, fique em torno de 2,688 milhões de toneladas. Se confirmada essa quebra, a produtividade terá uma redução de 9,5% em relação à safra anterior (quando o excesso de chuva causou perdas significativas na região dos Campos Gerais). A redução em relação ao potencial inicial de produtividade será de 26%. Esta será a terceira safra consecutiva de perdas significativas no Paraná, com a diferença de que, nas duas safras anteriores, as perdas foram causadas por excesso de chuva, resultando em perdas qualitativas. As geadas, especialmente durante a floração e espigamento, causam perdas quantitativas.
Os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul ainda mantêm seu potencial produtivo inicial. Em Santa Catarina, com uma área de 130 mil hectares (-11,5%), estima-se uma produção de cerca de 400 mil toneladas (+33,3%). No Rio Grande do Sul, com 1,280 milhão de hectares plantados (-11,7%), o potencial produtivo é próximo a 4,0 milhões de toneladas (+27%). Nesses dois estados, as perdas (em especial da qualidade) na temporada anterior foram próximas a 80%. Na safra atual, após um leve atraso devido ao excesso de chuvas (no Rio Grande do Sul), as lavouras encontram condições climáticas favoráveis. A ocorrência de geadas entre 12 e 14 de agosto, seguida pelo aumento das temperaturas, proporcionou condições favoráveis para o desenvolvimento vegetativo das lavouras no Rio Grande do Sul, especialmente as semeadas no final da janela recomendada de plantio. As geadas da última semana de agosto não causaram danos significativos ao potencial produtivo dos estados. Segundo a Emater/RS, mais de 80% das lavouras estavam em desenvolvimento vegetativo, fase em que o frio é benéfico. As baixas temperaturas não foram inferiores a -11ºC, não causando clorose ou queima das bordas foliares. De maneira geral, as condições para o desenvolvimento e crescimento do trigo no estado são consideradas adequadas. As plantas estão emitindo mais folhas e ocupando melhor os espaços com perfilhamento dentro da normalidade, com folhas novas de coloração verde-escura e vigorosas. A sanidade das lavouras está satisfatória, e a baixa umidade, combinada com baixas temperaturas no início do período, desacelerou o progresso de doenças, em particular o oídio. Com quase todas as lavouras catarinenses e gaúchas no campo, o risco climático ainda não pode ser descartado. No entanto, até o momento, apenas esses dois estados mantêm seu potencial produtivo inicial.
No total, a área plantada no Brasil foi de 2,940 milhões de hectares, uma queda de 13,9% em relação à safra anterior. A produção estimada é de 8,133 milhões de toneladas, contra 8,500 milhões de toneladas da safra anterior (-4,3%). Se essa safra se confirmar, o total de trigo nacional disponível para os moinhos será de 5,672 milhões de toneladas, superior aos 4,931 milhões de toneladas do ciclo comercial anterior (quando 2,819 milhões de toneladas de trigo de baixo padrão foram exportadas). Com uma moagem estimada em 12,560 milhões de toneladas e a necessidade de recompor estoques, a importação de trigo em grão precisará ser de pelo menos 6,5 milhões de toneladas (na temporada anterior foram 5,676 milhões de toneladas). As exportações também devem recuar. No ciclo passado, as vendas foram de trigo feed, enquanto na atual, se o Rio Grande do Sul colher uma safra cheia de trigo milling, o excedente de quase 2 milhões de toneladas poderá ser destinado em boa parte aos moinhos paranaenses, que processam mais de 3,8 milhões de toneladas, volume que supera a produção local em cerca de 1,2 milhão de toneladas (sem contar outros usos além da produção de farinha).
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