Quem ganhou a eleição? Os números mostram que foi o centrão; quem perdeu?: o PT de Lula, que sumiu!

Publicado em 16/11/2020 15:07 e atualizado em 17/11/2020 06:12
Tempo & Dinheiro - com João Batista Olivi

Apesar de empenho de Bolsonaro, eleições municipais mostram onda conservadora menor, diz a Reuters

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BRASÍLIA (Reuters) - Com os primeiros resultados das eleições municipais confirmados na noite de domingo, o presidente Jair Bolsonaro usou as redes sociais para negar que tivesse se empenhado em campanhas locais e afirmar que a "onda conservadora de 2022" chegou para ficar, enquanto os números da apuração mostravam o óbvio: ao menos nos municípios o poder do bolsonarismo parece ter diminuído.

"Minha ajuda a alguns poucos candidatos a prefeito resumiu-se a 4 lives num total de 3 horas", escreveu, minimizando um empenho que, de fato, foi bem maior que isso. "A esquerda sofreu uma histórica derrota nessas eleições, numa clara sinalização de que a onda conservadora chegou em 2018 para ficar. Para 2022 a certeza de que, nas urnas, consolidaremos nossa democracia com um sistema eleitoral aperfeiçoado."

Depois de dizer por vários meses que não iria se envolver nas campanhas municipais, Bolsonaro passou as últimas semanas empenhando-se na defesa de nomes para prefeitos e até para vereadores, em conversas com apoiadores, em lives e, em alguns casos, recebendo candidatos.

Apesar do tom confiante de Bolsonaro em suas publicações, pessoas próximas do presidente como a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) e o secretário de assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins, mostraram incômodo com um resultado que claramente não foi o esperado pela extrema-direita.

"O que houve com os conservadores? Erramos, nos pulverizamos ou sofremos uma fraude monumental?", escreveu Zambelli em sua conta no Twitter.

Já Martins apontou os erros no próprio grupo bolsonarista. "Enquanto batíamos cabeça para fazer o básico e tentar nos organizar, a esquerda se renovou, assimilou as lições de 2018 e soube usar a internet e a nova realidade política a seu favor. Ou fazemos a devida autocrítica, ou nossos erros cobrarão um preço ainda maior no futuro", escreveu.

Sem partido há um ano, quando brigou e deixou o PSL para tentar fundar um partido próprio, o Aliança pelo Brasil --que até agora não conseguiu avançar--, Bolsonaro pulverizou apoios por diversos partidos, sem identificação com nenhum, apenas com os próprios candidatos.

Em meio a uma pandemia de Covid-19, crise econômica e desemprego crescente, apenas o nome do presidente não parece ter atraído eleitores mais preocupados com o que acontece em suas cidades.

"Eu creio que os resultados eleitorais mostram que a pandemia é uma espécie de freio de arrumação na política nacional. A tendência de antipolítica e de criminalização do sistema político tem perdido força pela incapacidade destes novos quadros de entregarem políticas públicas eficazes", analisa o cientista político Creomar de Souza, chefe da consultoria Dharma Political Risk and Strategy.

"O eleitor acaba compreendendo essa falha de forma intuitiva e busca corrigir a escolha anterior, sobretudo, focado na esperança de que os serviços públicos melhorem", acrescentou.

Os números do Tribunal Superior Eleitoral mostram um crescimento significativo de partidos tradicionais de centro e centro-direita, mas não um avanço da extrema-direita. MDB, com 772 prefeituras, PP, com 682 e PSD com 650 foram até agora os campeões de prefeitos eleitos.

Demonizado pelo presidente, o PT ficou 179 prefeituras, segundo compilação do jornal O Globo. Outras 57 cidades ainda terão segundo turno.

Essa foi a análise feita pelo vice-presidente Hamilton Mourão, que saiu em defesa de Bolsonaro.

"O que foi dado a conhecer até o presente momento, não fiz nenhuma análise aprofundada, é que os partidos de centro tradicionais foram os grandes vencedores", disse Mourão a jornalistas na manhã desta segunda.

"Não pode se debitar nada em relação ao presidente Bolsonaro porque ele não entrou de cabeça nessa eleição. Ele apoiou alguns candidatos, muito poucos. O presidente está sem partido e sem uma estrutura partidária fica difícil você participar de uma eleição."

Réplica de internauta que considera que o resultado foi outro...

Parece que o grande numero da eleição, negligenciado pela mídia é que o PT perdeu 133 municipios (caiu de 257 para 124). Nenhuma capital. Quatro Estados da Federacao sem nenhum município.

Em termos de população, o PT hoje governa 3,64% dos brasileiros. Conseguiu piorar o cenario pós-Dilma. 

O resultado de queda do PCdoB é ainda mais drástico: perdeu 51 municipios e governa apenas 31 (0,42% dos brasileiros).

O PDT perdeu 133 municipios, ficando com 201. O PSOL, queridinho da mídia, tem três municípios (0,69% do eleitorado).

Os outros pseudo-partidos de esquerda (PCO, PSTU etc) nem aparecem nas estatísticas. (Murilo Ferrari).

CRESCIMENTO REAL do centrão (no Poder 360)

PSD, DEM e PP tiveram crescimento real nestas eleições. As 3 siglas são costelas da antiga Arena, partido do regime militar. Tiveram, neste ano, 10,6 milhões, 8,3 milhões e 7,6 milhões dos votos, respectivamente, para prefeito em todo o país (com 94,5% das urnas apuradas).

Olavo de Carvalho culpa os generais "melancias"

O escritor Olavo de Carvalho, tido como o guru intelectual do governo Boslonaro, foi ao Twitter nesta 2ª feira para criticar o desempenho dos políticos apoiados pelo presidente nas eleições municipais de 2020. Ele avaliou que Jair Bolsonaro é o culpado pelo resultado.

“O péssimo desempenho dos bolsonaristas na eleição não tem mistério nenhum. Ludibriado pela conversa mole de generais-melancias, o presidente confiou demais no sucesso inevitável da sua liderança pessoal, sem perceber que ela não passava, precisamente, disso: uma liderança pessoal sem respaldo militante e incapaz, por isso, de transmitir seu prestígio a qualquer aliado”, escreveu Olavo.

“General-melancia” é uma expressão utilizada para se referir a militares que por fora são verdes, uma alusão à farda militar, e por dentro são vermelhos, cor associada a movimentos de esquerda, comunistas.

Esquerda perdeu e 'partidos aliados de Bolsonaro' venceram, diz Ramos (em O Antagonista)

Luiz Eduardo Ramos afirmou há pouco que a “esquerda saiu derrotada” das eleições municipais. Segundo o articulador político do Planalto, os partidos aliados de Jair Bolsonaro foram os vitoriosos.

Nas redes sociais, Ramos limitou a esquerda aos resultados do PT. “Em 2016, o PT elegeu 254 prefeitos. Até o momento, elegeu apenas 178. Esse número mostra que o PT vai governar para 1,86% da população brasileira”, disse.

O ministro destacou os números de partidos do Centrão, como PSD, PP, DEM e MDB, que elegeram mais prefeitos que em 2016.

“Conclusão: esses dados mostram que a esquerda perdeu muito espaço no cenário político. Além disso, os partidos aliados às pautas e ideais do Governo Bolsonaro saíram vitoriosos!”

Quem perde sempre é você, por Mário Sabino (em O Antagonista)

O maior punido nas eleições municipais ocorridas ontem não foi o bolsonarismo, o petismo ou qualquer ismo. Foram as cidades brasileiras, e pelas mãos de quem nelas vive. Os resultados dos municípios que terão segundo turno não mudarão esse quadro geral.

Para ficar apenas nas duas maiores cidades do país, o Rio de Janeiro deu a vitória de primeiro turno ao ex-prefeito Eduardo Paes, que construiu a ciclovia da morte e foi denunciado pela Lava Jato por corrupção.

Marcelo Crivella, o segundo colocado, cometeu a proeza de ser o pior prefeito que os cariocas já tiveram e notabilizou-se nacionalmente por mandar intimidar repórter na frente de hospital, para evitar que a imprensa mostrasse o caos na saúde da cidade.

Em São Paulo, o primeiro colocado, Bruno Covas, é poste do governador João Doria, a quem escondeu durante a campanha de primeiro turno, pelo alto grau de rejeição ao governador. A cidade nunca esteve tão suja, os equipamentos públicos estão em péssimo estado de manutenção (quando existem) e o espaço público virou terra de ninguém.

O segundo colocado, Guilherme Boulos, parece viver às vésperas da Revolução Russa de 1917 e tem como vice Luiza Erundina, a ex-petista que não deixou saudades quando era prefeita. Os perdedores, salvo por uma única exceção em São Paulo, não deveriam candidatar-se a síndico de cabeça de porco.

As melhores cidades do país, de qualquer tamanho, são apenas aquelas que apresentam um pouco menos de precariedades, como Curitiba. Estão muito longe de ser bons lugares para viver. E nada disso irá mudar enquanto a cada eleição só pensarmos em política partidária ou não pensarmos em nada, como faz a maioria dos cidadãos.

Essa discussão sobre derrota de bolsonarismo ou petismo, além de tola (ainda falta chão para 2022 e eleição municipal nunca determinou eleição nacional), mostra um grau de autismo que já ultrapassou o nível de preocupante em relação à única coisa que deveria importar: o de termos cidades habitáveis, com bons serviços públicos.

Deixem os políticos e jornalistas disputando sobre qual corrente ganhou ou perdeu. Nada disso vai mudar o fato de que, no geral quase absoluto, temos cidades indignas deste nome, comandadas por prefeitos que se esforçam apenas para que tudo fique como sempre foi — ou por gente simplesmente biruta. Os vereadores estão incluídos no pacote. Quem perde é sempre você.

Cuidado com os buracos.

(Mário Sabino, em O Antagonista)

 

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Fonte:
NA/Reuters/O Antagonista

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