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Resiliência hídrica: Café ganha 1ª linha de crédito para melhoria da gestão de água no Cerrado Mineiro

Publicado em 06/07/2023 15:38 e atualizado em 07/07/2023 09:59
Fabiane Sebaio - Secretária-executiva do Consórcio Cerrado das Águas
Recurso chega a R$ 1,6 milhão e esse é o primeiro financiamento de impacto voltado à resiliência hídrica da cafeicultura brasileira
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Resiliência hídrica: Café ganha 1ª linha de crédito para melhoria da gestão de água no Cerrado Mineiro

 

Dez produtores de café do Cerrado Mineiro terão acesso, a partir de agosto, a uma linha de crédito para enfrentar os problemas de gestão de água na região. A linha, no valor de R$ 1,6 milhão, é parte de um projeto-piloto idealizado pela Rabo Foundation, braço do banco holandês RaboBank, pela Cofco International e pelo Consórcio Cerrado das Águas (CCA), de Minas Gerais. Esse é o primeiro financiamento de impacto voltado à resiliência hídrica da cafeicultura brasileira.

Os produtores, com propriedades de até 160 hectares, poderão emprestar entre R$ 130 mil e R$ 150 mil, a uma taxa de juros de 9% ao ano. Como contrapartida, terão de cumprir indicadores estabelecidos pelo CCA para a resiliência hídrica na propriedade e na bacia hidrográfica em que esteja localizada.

De acordo com a Rabo Foundation, a linha pró-resiliência hídrica será implementada inicialmente na bacia hidrográfica do Rio Grande, município de Serra do Salitre, onde há 171 fazendas de café e 5.500 hectares plantados. Segundo um diagnóstico realizado pelo Sebrae em 2020, 40% das APPs (Área de Preservação Permanente) da bacia necessitam de recuperação.

Entre os produtores que terão acesso à linha está Eduardo Lana, segunda geração de uma família que está na cafeicultura há 38 anos, e que produz em Serra do Salitre. Para ele, como o Cerrado Mineiro é uma área marcada por uma estação chuvosa e uma seca bem definidas, o manejo dos recursos hídricos é uma condição de sobrevivência dos cafezais.

Lana tem um propriedade de 143 hectares com cerca de 60% de nascentes dentro da fazenda. “Fico vigiando as nascentes. Temos dez hectares de café num talhão, onde já plantei um bosque para protegê-las”, afirma.

A linha de financiamento de resiliência hídrica terá duração de um ano-safra e repassará 85% do recurso aos produtores via Cédula de Produto Rural (CPR), título que assegura a entrega da produção à Cofco, que é a garantidora da operação.

Os outros 15% ficarão com o Consórcio para pagar a orientação técnica ao longo do projeto estruturado pela consultoria Alimi Impact Ventures.

Adubação verde e sementes

Os produtores poderão usar os recursos para investir em economia de água com adubação verde, compra de sementes de plantas para absorção hídrica no solo e tecnologias de irrigação até o fim do ano safra (entre agosto e setembro de 2024).

“O foco dessa linha de financiamento é o produtor médio que está espremido no meio, mas tem potencial de escala para espalhar o impacto ambiental positivo ao pequeno produtor”, afirma Angélica Rotondaro, sócia-fundadora da Alimi.

Segundo a responsável pela amarração financeira, o projeto só foi possível devido a parceria das entidades, porque "uma entra com a orientação técnica, outra com a compra e uma que endossa o financiamento de alto impacto”.

Bom uso da água

Lana, de Serra do Salitre, quer desenvolver ações de bom uso da água, como a arborização e o uso de adubo orgânico, uma vez que “a produtividade despenca por causa das mudanças climáticas”. Com o recurso, ele pretende comprar sementes e produtos biológicos.

Eder Serra, outro beneficiado, considera o crédito essencial para agregar valor e conseguir melhorar os tratos do solo do café e preservar a água. Ele pretende comprar sementes para cobertura do solo para tentar manter o que há de vegetação nativa entre as fileiras do café plantado.

"A estratégia é manter a maior absorção de água e não ter muita transpiração de calor do solo. A minha plantação de café arábica é sequeiro e um gargalo que tivemos nós últimos três anos foi a falta de chuva, causando um déficit hídrico muito grande. As plantam sentem demais", explicou ao Valor o dono da fazenda em Serra do Salitre.

Outro desejo é montar um sistema de irrigação para aproveitar as reservas de chuva na estiagem. Esse investimento, segundo ele, ficará para um segundo momento, se o projeto for renovado.

Reconhecido como uma Denominação de Origem para o café, o Cerrado Mineiro abrange 55 municípios, com uma produção média de seis milhões de sacas por safra. São 4,5 mil produtores espalhados em uma área de produção de 234 mil hectares.

Lygia Freire Cesar, gerente de programa na Rabo Foundation para a América Latina, diz que, no Brasil, “o foco de atuação está no Cerrado por ser um bioma ainda pouco atendido pelo investimento de impacto e por ser crucial sob o ponto de vista de abastecimento de lençóis freáticos e suprimento de água”.

Na visão da Cofco International, o projeto vai acelerar a adoção de práticas de conservação pelos produtores de café, tornando a cafeicultura mais resiliente a longo prazo. Para a secretária-executiva do CCA, Fabiane Sebaio, o projeto é uma forma de estímulo a uma agricultura mais conservativa.

Coração do Cerrado Mineiro

Nas cidades de Serra do Salitre e Patrocínio (MG), há características favoráveis para o cultivo do café devido ao seu clima, solo e altitude. A sazonalidade climática contribui para o desenvolvimento de grãos de café de alta qualidade, com bom teor de açúcares e acidez equilibrada, como contam os produtores.

A região é conhecida pela adoção de boas práticas agrícolas e por ter começado investimentos na implementação de sistemas de irrigação e o uso de métodos de secagem dos grãos mais sustentáveis. A produção de café nessas duas cidades de Minas Gerais tem contribuído para a consolidação do Cerrado Mineiro como uma região produtora de cafés especiais reconhecidos mundialmente.

Técnicas de manejo

Irrigação: Por ter estações bem marcantes, uma chuvosa e uma seca, sistemas de irrigação por gotejamento ou aspersão auxiliam no trato da cultura do café

Sementes de cobertura: O uso de sementes de plantas de cobertura, como nabo forrageiro e trigo mourisco, quando plantadas nas entrelinhas dos talhões de café, ajudam a manter o solo nutritivo e, por isso, com absorção eficiente da água.

Árvores nativas: Bosques de espécies nativas podem ser plantados ou mantidos para ajudar a manter as temperaturas do microclima gerado em um cafezal, contribuindo na fixação de água e nutrientes no solo.

Nascentes: A preservação de nascentes e matas ciliares é necessária para enfrentar as variações e choques relacionados ao abastecimento de água e regulação do ciclo hidrológico.

Terraceamento: Além da cobertura vegetal, técnicas de terraceamento e experiências compartilhadas entre cafezais ajudam na infiltração da água no solo e a recarga dos aquíferos.

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Por:
Virgínia Alves + Cerrado das Águas
Fonte:
Notícias Agrícolas

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