Mercado do feijão segue em estabilidade, com comercialização limitada e atento para transição de terceira safra

Publicado em 20/06/2025 15:56
Marcelo Eduardo Lüders - Presidente do IBRAFE
Movimento Pró-Feijão compreende que momento é de avanços no setor e de nova interpretação para os agroalimentos
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Mercado do feijão segue em estabilidade, com comercialização limitada e atento para transição de terceira safra

 

Feijão do Brasil: Torna-se matéria prima para concentração de proteína

Por Marcelo Eduardo Lüders
Presidente do IBRAFE – Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses

Quando falamos em segurança alimentar, o desafio vai além de produzir alimentos em quantidade. É preciso entregar qualidade, acessibilidade e, cada vez mais, alimentos com alto valor nutricional e baixo impacto ambiental. Em um mundo onde a população se aproxima dos 10 bilhões de habitantes e a demanda por proteínas cresce em ritmo acelerado, o Feijão desponta como uma alternativa estratégica — especialmente o Feijão brasileiro, com sua diversidade, produtividade e perfil nutricional robusto.

Enquanto na América do Norte a indústria de proteínas vegetais se apoia majoritariamente na ervilha amarela (yellow pea), o Brasil possui em seu portfólio um conjunto de Feijões com teor proteico tão alto ou superior, o que nos coloca em posição de protagonismo diante da próxima onda de industrialização de proteínas vegetais.

É preciso dizer com todas as letras: o Feijão não é apenas um alimento tradicional. Ele é um superalimento.

A nova fronteira: proteína vegetal para a indústria

O avanço tecnológico na indústria alimentícia abre uma avenida de oportunidades para ingredientes à base de plantas. Burgers vegetais, bebidas proteicas, suplementos, snacks e refeições prontas estão sendo reformulados com foco em sustentabilidade, valor nutricional e apelo ético.

Nesse cenário, os Feijões produzidos no Brasil — como o Feijão-carioca, o Feijão-preto, o Feijão-mungo, o Feijão-caupi e até mesmo variedades como o Feijão-roxinho e o Feijão-jalo — oferecem perfis proteicos notáveis. Algumas cultivares alcançam teores de proteína entre 22% e 26%, superando inclusive a média das ervilhas industriais utilizadas nos EUA e Canadá.

Mais do que isso: o Feijão brasileiro tem sabor neutro, baixo teor de gordura, índice glicêmico controlado, boa digestibilidade e concentra aminoácidos essenciais. Isso tudo o torna ideal não apenas para consumo direto, mas como ingrediente funcional em formulações industrializadas, inclusive para mercados exigentes como Europa, Japão e América do Norte.

Importante destacar que uma pesquisa coordenada pela pesquisadora Janice Lima, da Embrapa Alimentos e Territórios (RJ), vem alcançando resultados muito promissores na obtenção de proteína isolada de Feijão com alta qualidade tecnológica e nutricional. Essa linha de pesquisa reforça o potencial brasileiro de liderar o mercado de proteínas vegetais com base em culturas nativas e amplamente consumidas internamente, como o Feijão.

Do campo à indústria: um salto estratégico

A industrialização de proteínas vegetais exige matéria-prima regular, com especificações técnicas consistentes, rastreabilidade, boas práticas agrícolas e padrão de qualidade. E aqui o Brasil tem avançado. O trabalho desenvolvido por produtores, cooperativas e instituições como o IBRAFE em parceria com universidades e centros de pesquisa, tem melhorado a performance agronômica dos Feijões e aberto portas para novos usos industriais.

Além disso, há um alinhamento cada vez maior com práticas sustentáveis — o que inclui plantio direto, uso racional de insumos, controle de resíduos, e trabalho em regiões de baixo risco ambiental, como o MATOPIBA, que junto com o Mato Grosso tem se revelado estratégico na produção de Feijões para exportação.

Oportunidade geopolítica: Brasil pode suprir a nova demanda

O mundo busca hoje alternativas à proteína animal, seja por questões ambientais, de saúde ou por custo. A guerra na Ucrânia, os conflitos no Oriente Médio, as quebras climáticas recorrentes e a fragilidade de algumas cadeias globais impulsionaram o debate sobre autonomia alimentar e produção descentralizada de proteínas.

Neste novo tabuleiro, o Brasil se posiciona com vantagem competitiva:

  • Temos diversidade genética de Feijões, o que permite personalização de cultivares para usos específicos;
  • Podemos produzir em duas ou até três safras por ano, com ampla distribuição territorial;
  • Já temos infraestrutura agrícola e logística instalada, com potencial para adaptar unidades beneficiadoras à demanda industrial;
  • Contamos com produtores qualificados, empresas especializadas e uma instituição técnica dedicada ao setor — o IBRAFE — que conecta a cadeia do campo ao mercado internacional.

Do prato à inovação

Historicamente, o Feijão sempre foi alimento essencial no Brasil. Agora, ele está prestes a ser também matéria-prima estratégica para o mundo.

Inúmeras startups e indústrias globais já buscam novos ingredientes proteicos para substituir ou complementar soja, ervilha e grão-de-bico. Os Feijões do Brasil entram nesse radar com força. O próximo passo é desenvolver protocolos técnicos, padrões de fornecimento industrial e, principalmente, comunicação internacional efetiva, mostrando ao mundo o que temos.

Precisamos trabalhar para que Feijão também seja sinônimo de tecnologia alimentar, de sustentabilidade e de futuro.

Um novo ciclo começa

Enquanto muitos países discutem como alimentar suas populações com qualidade, o Brasil já pode oferecer uma resposta prática, escalável e com potencial de impacto global. O Feijão brasileiro tem tudo para ser parte da solução da segurança alimentar do século XXI — não apenas como comida de verdade no prato do brasileiro, mas como ingrediente-chave da próxima geração de alimentos funcionais, saudáveis e sustentáveis.

Agroalimento para reconectar campo e cidade

Nos últimos anos, o Brasil viu crescer uma divisão silenciosa — mas cada vez mais evidente — entre o campo e a cidade.

A palavra agronegócio, que por muito tempo remeteu a progresso, desenvolvimento e orgulho nacional, passou a carregar um peso negativo para muitos brasileiros. Tornou-se símbolo de algo distante, frio, ganancioso. Em muitos casos, associada à exclusão, à desigualdade ou até à destruição ambiental.

Mas como chegamos a esse ponto?

O problema não está na essência do setor. O agro brasileiro é competente, eficiente e inovador. Produz com qualidade, supera desafios climáticos e logísticos e garante comida no prato de mais de 200 milhões de brasileiros todos os dias.

O problema está na comunicação.

Durante muito tempo, o agro falou para dentro. Os conteúdos, os influenciadores, os eventos e os discursos se voltaram para quem já vive e trabalha no campo. Quem está nas cidades ficou de fora da conversa — ou pior: passou a enxergar o setor com desconfiança.

Isso se agravou com o comportamento de muitos dos chamados “influenciadores do agro”, que passaram a se comunicar com agressividade, ironia e desprezo ao público urbano. Em vez de abrir diálogo, fecham. Em vez de incluir, afastam. Em vez de convidar o brasileiro comum a conhecer e apoiar o agro, acabam rotulando esse mesmo brasileiro como “ignorante”, “manipulado” ou “inimigo do progresso”.

Isso é um erro estratégico.

Um tiro no pé de um setor que depende do apoio da sociedade para continuar avançando.

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## Chegou a hora de mudar o tom

Se queremos reconectar o agro com o Brasil urbano, precisamos mudar a forma de falar. Precisamos de uma comunicação mais clara, empática e respeitosa. E talvez isso comece com uma simples, mas poderosa, mudança de palavra.

Por isso, proponho o uso do termo “agroalimento”.

Simples. Direto. Esclarecedor.

Porque é isso que o agro realmente produz: alimento.

Alimento que nutre, que sustenta, que educa, que forma.

Está na merenda escolar, no restaurante da esquina, na geladeira de cada casa.

Está na cesta básica, na feira, no armazém, no carrinho do supermercado.

Usar “agroalimento” é trazer o agro de volta para perto do consumidor.

É mostrar que o que fazemos tem nome, cheiro, rosto e sabor.

É lembrar que o campo e a cidade estão conectados — sempre estiveram.

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## Comunicação: ponte ou muro

Chegou a hora de parar de falar só entre nós.

Chega de brigar nas redes sociais com quem deveria ser nosso aliado.

Chega de influenciadores que batem boca com o consumidor.

O consumidor é nosso cliente. Nosso público. Nosso parceiro.

Precisamos de vozes que esclareçam, que convidem, que toquem.

Vozes que falem do agro com verdade, mas também com coração.

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## O que está em jogo

Estamos vivendo um momento de redefinição. Ou reconstruímos essa ponte entre o campo e a cidade, ou veremos crescer ainda mais o abismo de desinformação, preconceito e rejeição.

“Agroalimento” é mais do que uma palavra.

É um convite.

É uma chance de mostrar que o agro não é um monstro corporativo.

É um sistema vivo, humano, essencial.

Proponho que iniciemos uma Frente Brasil pelo Agroalimento.

Um movimento nacional baseado em empatia, verdade e comunicação inteligente.

Vamos orientar nossos influenciadores.

Vamos convidar cada entidade do agro a participar imediatamente, identificando vozes preparadas para se comunicar com o Brasil real — e investindo nisso.

Quanto mais a cidade entender o agro como alimento, mais apoio conquistaremos. Sem o olhar crítico, raso e desinformado. Talvez com cumplicidade. Quem sabe, com orgulho.

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