Prejuízos com chuvas na Argentina acendem alerta no Brasil

Publicado em 18/01/2017 18:11
Confira a entrevista com Telmo Amado - Professor Universidade Fed. Santa Maria - RS
Prejuízos na Argentina acendem alerta no Brasil

Diretamente da Showtec 2017, feira de tecnologia para o agronegócio que ocorre em Maracaju (MS), o jornalista João Batista Olivi, do Notícias Agrícolas, conversou com o professor Telmo Amado, da Universidade Federal de Santa Maria, para repercutir as inundações que ameaçam a safra da Argentina, além das ameaças climáticas para a safra brasileira.

Amado destaca que a situação da Argentina preocupa justamente por conta do grande volume de chuvas, que foi de 600mm em um mês. "É a precipitação que a soja demandaria em todo o seu ciclo", diz o professor. 

Com isso, os terrenos planos acabam acumulando um grande perfil de água, devido ao relevo, dificultando o escoamento. O professor lembra que, se a soja ficar um período de algumas horas debaixo de chuva - e, nesse caso, são muitos dias - o fator se torna bastante prejudicial para a planta, com danos irreversíveis de produtividade. Além disso, algumas plantas podem acamar ou morrer, causando uma diminuição no estande de plantas.

O estresse, no entanto, depende do estado fenológico, sendo a fixação biológica de nitrogênio nas raízes a maior preocupação para o momento, uma vez que este nutriente é demandado em maior quantidade pela soja. O tipo de solo atingido pelas chuvas, no pampa úmido argentino, é o "solo mais rico do mundo", como conta Amado. 

A falta de oxigênio no solo também pode ser ocasionada por um problema de compactação, logo, todo o espaço poroso fica preenchido por água e as raízes da soja acabam perdendo o oxigênio necessário. Ele aponta ainda que o acamamento pode ocorrer quando este solo, úmido, não dá o suporte necessário que a planta teria em um solo mais drenado, o que causa maior preocupação para as lavouras em fase de enchimento de grãos, quando as perdas na colheita são inevitáveis.

Algumas estimativas dão conta de que 5 milhões de toneladas estão sob risco na Argentina, além de uma possível perda de 10% da área de plantio para esta safra. Isso, se as chuvas cessarem. Com a previsão de mais chuvas, em meio a um verão atípico, a Argentina poderá ter ainda um grande dano se esse quadro persistir, analisa o professor.

No Brasil, lavouras em estágio mais avançado, como as presentes no Paraná e no Mato Grosso do Sul podem ter risco na colheita, pois o excesso de chuvas também é bastante prejudicial nesta fase. Ele diz que alguns agricultores "exageraram" na população de plantas, logo, o risco de acamamento para essas áreas também pode ser real, além do excesso de umidade afetar a qualidade dos grãos.

Para isso, Amado conta: "quanto pior for o manejo do solo, mais graves serão esses efeitos". As perdas, segundo ele, vão variar de acordo com o manejo que os produtores vêm dedicando para as suas lavouras, em meio a um ano "desafiador e de contrastes em todas as áreas produtivas no perfil de chuvas".

Em outras regiões, como o Matopiba - em especial, o oeste da Bahia, a soja enfrenta o problema do déficit hídrico. No estágio vegetativo, esse problema é de mais fácil recuperação. No entanto, naquelas lavouras que já se encontram em florescimento ou em fase de formação de vagens e enchimento de grãos, a reversão é menos provável. Mais uma vez, a tolerância a essas condições climáticas extremas passa pela condição de solo. "Se o solo tem vida, é bem estruturado e bem manejado, a capacidade que a planta tem em conseguir tolerar a presença do estresse é maior do que em um solo que já está degradado", acrescenta Amado.

Ele recomenda, para os agricultores com grandes volumes de água, que façam uma análise de solo depois da colheita e procurem um consultor para entender quais são os impactos para o solo. Se a lavoura ainda é jovem, a recomendação também se estende a uma análise foliar, que permitirá o diagnóstico do estágio nutricional.

Na preparação para a safrinha de milho, o nitrogênio deverá ser um ponto de atenção, além dos nutrientes móveis, como o enxofre. Além disso, ele conclui: "é preciso acompanhar o desenvolvimento da lavoura e estar preparado para alguma intervenção caso a lavoura não se desenvolva".

Por: João Batista Olivi / Izadora Pimenta

 

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Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Carlos William Nascimento Campo Mourão - PR

    Aqui na região centro oeste do Paraná o tempo está quente e seco. Já tem soja murchando durante o dia, em pleno enchimento de grãos. E não tem previsão de chuvas para tão logo. Fiquem de olho. A safra não está garantida.

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