Soja despenca em Chicago com forte influência do financeiro. A sinalização de alta dos juros nos EUA deixa dólar forte e pressiona commodities

Publicado em 22/04/2022 17:05
Eduardo Vanin - Analista de Mercado da Agrinvest
Vendas antecipadas nos EUA atingem 10 milhões de toneladas e mostram que China está de olho na soja mais barata do segundo semestre, o que pode ser ruim para o Brasil

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Entrevista com Eduardo Vanin - Analista de Mercado da Agrinvest sobre o Fechamento de Mercado da Soja

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O último pregão desta semana teve forte influência do mercado financeiro e os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago terminaram o dia com perdas de mais de 30 pontos nos contratos mais negociados. A pressão do mercado sobre o Federal Reserve para um controle efetivo da inflação sinaliza a possibilidade de uma continuidade da valorização do dólar frente a uma série de moedas emergentes, diante de um provável aumento da taxa de juros norte-americanos. 

Assim, com perdas de 28,75 a 32,25 pontos nos principais vencimentos, o maio terminou o dia com US$ 17,16 e o julho com US$ 16,88 por bushel. A alta forte do dólar deixa os produtos dos EUA menos competitivos, o que também acaba sendo um fator de pressão para as cotações em Chicago, como explicou o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities. 

"O movimento de sell off generalizado das commodities nessa sexta-feira traz fortes perdas às moedas dos países emergentes, e com o real não é diferente. Como a disparada recente nos preços das matérias-primas vinha impulsionando fortemente nossa moeda em relação à divisa norte-americana, quando os preços das commodities tombam, há um movimento contrário, de depreciação do real", afirma a consultoria.

Frente a isso, somente nesta sexta-feira, ainda de acordo com Vanin, rodaram negócios no Brasil para um milhão de toneladas de soja. "O dólar fica forte, o Brasil vende, os EUA não, e Chicago cai", diz o analista. 

ALTA DO ÓLEO X BAIXA DO GRÃO

A disparada do óleo de soja na Bolsa de Chicago reflete as preocupações do mercado, segundo analistas e consultores de mercado, a proibição das exportações de óleo de palma - o óleo mais consumido no mundo - a partir do próximo dia 28. Segundo a agência de notícias Reuters, o presidente indonésio Joko Widodo afirmou que o objetivo é interromper as vendas externas de forma a conter, ao menos em partes, os preços internos do derivado. 

“Vou acompanhar e avaliar a implementação desta política para que a disponibilidade de óleo de cozinha no mercado interno se torne abundante e acessível”, disse Widodo, líder do maior exportador global de óleo de palma.

Vanin lembra que a Indonésia e a Malásia vêm de dois anos de perda de produtividade nas palmeiras em função do La Niña, com o excesso de chuvas, resultando em uma produção bem menor. Em um acumulado de 12 meses, a produção indonésia é 19% menor. Além disso, ainda tem sua política de elevada mistura do biodiesel com o B30, possibilidade de se alcançar o B40, o que também influencia suas decisões.

Ao lado da situação destes países, há ainda um quadro de menor produção de óleo de soja na Argentina, no Brasil, uma demnada interna forte nos Estados Unidos e o gap deixado pelo Leste Europeu para o óleo de girassol, o que deixa o cenário de fundamentos ainda mais forte para os óleos vegetais todos. 

"Os óleos estão, estruturalmente, em um cenário de muito aperto (...) E alta do óleo tem mais força para segurar os preços da soja se o farelo não caisse tanto, e hoje o farelo caiu mais do que o óleo subiu e o farelo tem um peso maior dentro do valor do grão. 

SAFRA 2022/23 DOS EUA

O clima para o Corn Belt é mais um ponto de atenção forte a partir de agora para o mercado de grãos, com uma ansiedade muito grande sobre o tamanho da oferta norte-americana que chegará ao mercado. 

As chuvas previstas para abril e maio são positivas, além de um aumento das temperaturas por agora, porém, para mais a frente - julho e agosto - as temperaturas podem subir ainda mais, pode haver menos chuvas, e isso pode trazer mais preocupações para o mercado. 

MERCADO BRASILEIRO

Para Eduardo Vanin, o ponto de atenção para o mercado nacional é a perda do timing das vendas por parte do produtor brasileiro. 

"A soja brasileira está cara e os compradores, até mesmo a China, estão comprando em outros lugares, principalmente nos EUA. E os EUA já fizeram seu programa de exportação. Nós ainda não e temos duas barreiras: primeiro, o produtor não quer vender e a China está comprando mais barato de outros. E a trading está no meio desse caminho", explica o analista. 

Na sequência, a janela de exportação se fecha, as tradings se voltam mais para o milho - que deve ter seu programa de exportação começando mais cedo este ano - o que pode acender sinais de alerta para o produtor em diversas regiões do país. 

"E nas regiões onde não há processamento de soja a liquidez vai se perder e esse é um ponto de alerta para os produtores, onde o canal único é de exportação", afirma. 

DEMANDA CHINESA

A China continua fazendo suas compras, mas em volumes menores e em ritmo mais lento do que em anos anteriores. As margens ruins de esmagamento e os lockdowns pesam sobre a força da demanda, e assim as aquisições de soja 2021/22 estão bem lentas. 

Já para a safra 2022/23, onde os preços são mais atrativos, as compras são mais fortes, o que faz com que as vendas antecipadas dos EUA sejam recordes para o período. São mais de 10 milhões de toneladas. "Se esse ritmo continuar, o programa americano pode começar bem grande", diz Vanin. 

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Por:
Aleksander Horta e Carla Mendes Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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