Primeiro posto a hidrogênio de etanol do Brasil e no mundo operará a partir de 2023 na Universidade de São Paulo (USP)

Publicado em 07/10/2022 16:41 e atualizado em 07/10/2022 17:19
Mateus Schreiner - Diretor de Transição Energética e Investimentos da Raízen
Parceria da Shell Brasil, Raízen, Hytron, Universidade de São Paulo (USP) e o SENAI CETIQT. Solução de baixo carbono para transporte pesado será utilizada inicialmente na Cidade Universitária para transporte de estudantes e visitantes, mas pode avançar para escala industrial

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Primeiro posto a hidrogênio de etanol do Brasil e no mundo operará a partir de 2023 na USP

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A Shell Brasil, Raízen, Hytron, Universidade de São Paulo (USP) e o SENAI CETIQT assinaram um acordo de cooperação para desenvolvimento de plantas de produção de hidrogênio renovável (H2) a partir do etanol. A parceria tem como foco a validação da tecnologia através da construção de duas plantas dimensionadas para produzir 5 kg/h de hidrogênio e, posteriormente, a implementação de uma planta 10 vezes maior, de 44,5 kg/h.

O acordo inclui também uma estação de abastecimento veicular (HRS - Hydrogen Refuelling Station) no campus da USP, na cidade de São Paulo. Um dos ônibus utilizados pelos estudantes e visitantes da Cidade Universitária deixará de utilizar diesel e os tradicionais motores a combustão interna para começar a utilizar hidrogênio produzido a partir do etanol e motores equipados com células a combustível (Fuell Cell). Com início da operação prevista para 2023, a iniciativa surge como uma solução de baixo carbono para transporte pesado, incluindo caminhões e ônibus, com o primeiro posto a hidrogênio de etanol do Brasil e no mundo.

O hidrogênio a partir de etanol será produzido de forma inovadora com o biocombustível fornecido pela Raízen e a tecnologia desenvolvida e fabricada pela Hytron, que atualmente pertence ao grupo alemão Neuman & Esser Group (NEA Group), com suporte do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras do SENAI CETIQT, com financiamento da Shell Brasil. “Estamos empolgados em ver que um projeto que se iniciou como um sonho de estudantes dentro da universidade agora se torna uma solução de alto impacto para a transição energética do País e do mundo”, aponta o CEO da Hytron, Marcelo Veneroso.

Atualmente, o hidrogênio tem uso predominante na indústria química e é produzido em unidades industriais próximas a refinarias a partir do gás natural. No futuro, existe a expetativa que o H2 produzido a partir de energia elétrica renovável, como solar e eólica, terá um papel importante para a descarbonização de vários setores industriais e de transporte pesado. Porém, o transporte deste produto é complexo, pois exige a compressão ou liquefação para armazenamento em cilindros ou em carretas, encarecendo a logística. Neste cenário, a produção do hidrogênio via conversão do etanol representa um avanço na disponibilidade de combustíveis renováveis por meio de uma nova rota tecnológica para expansão de soluções sustentáveis no País e no mundo. “Esta iniciativa é pioneira na produção de hidrogênio renovável, em grande escala, a partir do etanol” sintetiza Julio Romano Meneghini, diretor-executivo e científico do Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI) da USP.

“A produção local, descentralizada e de baixo investimento de hidrogênio renovável por meio da reforma do etanol, é uma alternativa interessante para setores como o de transporte pesado, que tem uma perspectiva de crescimento expressiva na utilização dessa solução, cuja disponibilidade e escalabilidade são essenciais. Além de transporte pesado, neste momento, estamos buscando por parceiros que possuem interesse em aplicar esta tecnologia para a descarbonização de outros setores”, aponta Mateus Lopes, diretor de Transição Energética e Investimentos da Raízen. A empresa será, ao lado da Shell, a responsável pela liderança do desenvolvimento do mercado de H2 a partir de etanol.

Por meio deste acordo para a produção de hidrogênio verde, as empresas iniciam uma nova etapa na produção de renováveis, contribuindo com a descarbonização da economia e ampliando seus portfólios de produtos. “A tecnologia pode ser facilmente instalada em postos de combustíveis convencionais, o que não exigiria mudanças na infraestrutura de distribuição, garantindo que o hidrogênio estará pronto para abastecer os veículos de forma rápida e segura”, explica Alexandre Breda, gerente de Tecnologia em Baixo Carbono da Shell Brasil e vice-diretor executivo do RCGI. “O uso do hidrogênio não está restrito ao setor de transporte e beneficiará outros segmentos no país, no que diz respeito à substituição de fontes de energia fóssil.”, afirma. O projeto será financiado pela Shell Brasil, por meio da cláusula de Pesquisa e Desenvolvimento da ANP, com investimento de aproximadamente R$ 50 milhões.

Com a produção de hidrogênio a partir de etanol, as empresas e instituições parceiras iniciam uma nova etapa na produção de combustíveis renováveis, contribuindo com a descarbonização não só no setor de transportes, como também na siderurgia, mineração e agronegócio. “A trajetória do etanol no Brasil começa na década de 1950, mas tem um grande incentivo entre os anos 1980 e 2000, quando diminuímos nossa dependência da gasolina”, aponta Marcos Buckeridge, pesquisador do RCGI, considerado uma autoridade internacional em bioenergia. “Entre 2000 e 2020 começamos a produzir o etanol de segunda geração e entramos em uma segunda fase. Agora, devemos iniciar uma nova fase dessa história de sucesso”.

"A USP se transformará em um grande laboratório de pesquisa na área de energias renováveis e no desenvolvimento sustentável. Nesse projeto, estudaremos a viabilidade energética da extração do hidrogênio a partir do etanol e seu uso em ônibus circulares e as soluções encontradas poderão ser transferidas para nossas cidades. Tem sido fundamental para a USP a parceria com empresas que valorizem a pesquisa científica como modo de transformação social", aponta Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP.

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1 comentário

  • Francisco Leme Galvão São José dos Campos

    Acredito que melhor ainda seria se investir em pesquisas visando se obter célula de combustivel direta do tipo DEFC (Direct Ethanol Fuel cell) operacionasi nas quais não só os eletrons produzidos pela oxidação do atomos de hidrogenio mas tambem os obtidos pela oxidação dos atomos de catrbono do etanol poeriam ser usados, dispensando assim o reformador e aumentando a corrente produzida.

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    • Carlos Massayuki Sekine Ubiratã - PR

      A maioria das montadoras tem planos de substituir os carros com motores a combustão interna por outros com motores elétricos nas próximas décadas, reduzindo drasticamente a demanda por petróleo e consequentemente a emissão de CO2, pelo menos em tese. Recentemente tive a curiosidade de fazer um comparativo entre um carro a gasolina com um elétrico cujas baterias são carregadas com energia gerada por termelétricas. Levantei alguns dados interessantes que gostaria de compartilhar.

      Tomando como base um Chevrolet BOLT que tem uma bateria de 66 kwh (quilowatt hora) e uma autonomia de 400 km, vamos aos seguintes cálculos:

      Um carro a gasolina queimaria 40 litros de combustível para fazer o mesmo trajeto. Cada litro de gasolina produz 2,3 kg de CO2, ou seja, 92 kg de CO2 no trajeto de 400 km.

      Uma usina termelétrica a carvão emite cerca de 1,2 kg de CO2 para cada kwh produzido, ou seja, 79 kg para produzir os 66 kwh necessários para carregar a bateria do bolt.

      A princípio, parece que 79 é menos que 92, certo?

      Errado. Essa energia tem que ser transmitida da origem até o destino e depois tem que ser transferida da tomada para a bateria, acarretando perdas em torno de 25%, o que elevaria a emissão para algo em torno de 105kg de CO2 para fazer o trajeto de 400 km com o carro elétrico.

      Esse negócio de carro elétrico em países cuja geração de energia é feita a partir de termelétricas a carvão ou gás natural (o que inclui quase todo mundo) é pura conversa fiada. O nosso etanol, utilizado diretamente nos motores a combustão interna ou na forma de hidrogênio é uma alternativa muito mais limpa e sustentável.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Estamos ainda numa fase de encontrar uma saida--- O seu comentário já exclui uma das alternativas, é com certeza o mundo enxergara isso--- As dificuldades atuais é produzir baterias mais baratas, é produzir energia elétrica adicional para substituir o petroleo-- Por exemplo a França produz quase toda a sua energia elétrica com centrais nucleares e pode em pouco tempo ampliar o sistema para suprir todos os veículos, mas ninguém sabe se essa será a solução por motivo de custo--- A Alemanha está apostando no hidrogênio, que atualmente alguém já descobriu armazena-lo em pó----Os sistemas híbridos brasileiros utilizando álcool em células eletrica já conseguiu fazer 20 Km por litro de alcool-- Eu acho que esse sistema híbrido brasileiro leva a pouco custo das baterias, é ainda mais vantajoso com relação ao custo do petróleo atual, mas a ideia de oxidase adicionalmente as células de carbono é um contra-senso pois gera CO2

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